segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Mar adentro - " Os Razoilos "


Os "Razoilos" do Sr. Razoilo

O palhabote "Razoilo" a navegar - foto de autor desconhecido
Imagem gentilmente cedida pelo Sr. Delfim Nora / Napesmat

Hoje recordamos momentos da nossa história marítima, relativamente à pesca do bacalhau, nos bancos da Terra Nova e Gronelândia. Dividindo as incursões aos bancos em quatro episódios, acreditamos que o terceiro regresso se ficou a dever ao Consul Português na América do Norte, o Sr. Jacob Torlade Pereira de Azambuja. Escreve Tomaz Augusto Centeno, que o dito Consul em 1829 enviou um relatório para Lisboa, sob o título “Memória sobre a Pesca do Bacalhau”, chamando a atenção dos pescadores nacionais para a pesca nos bancos, historiando-a e mostrando os lucros que auferiam Ingleses e Americanos, que nela empregavam à época 3.000 embarcações pequenas e mais de 100 mil pessoas.

Como resposta a este apelo, a Companhia de Pescarias Lisbonense, armou barcos e estabeleceu secas no Faial e na Trafaria. Acabaria como a maior parte das empresas, que decidiram arriscar neste período, liquidada ruinosamente em 1857, incapaz de tornear os interesses dos comerciantes Lisboetas, que punham e dispunham livremente o preço da compra e venda do peixe, utilizando navios estrangeiros concorrenciais.

Em sentido oposto aos restantes pescadores de países próximos, que recebiam apoio e incentivos dos estados, o governo do reino em aberto conluio com os comerciantes da capital, decide proibir a construção e armamento de navios destinados à pesca. Apenas alguns armadores do Norte ignoram as proibições, mas é dos Açores que a partir de 1866 a firma Bensaúde & Cª., arma na Horta o lugre “Hortense” e o palhabote “Social”, continuando a pesca. De regresso à ilha de S. Jorge, emigrantes locais nos Estados Unidos formam uma segunda empresa, a Mariano & Irmãos, que dispunha de dois navios trazidos da América, posteriormente ali baptizados como “Júlia I” e “Júlia II”. No continente esta indústria somente será tornada livre dando sinais de prosperidade a partir de 1903.

De entre o leque de armadores que ousaram desrespeitar a lei do governo monárquico, encontra-se os nomes do Ílhavense Manuel F.F. Razoilo e do seu sócio Aveirense José Pereira Júnior, que prepararam diversos navios e arrendaram terra na Gafanha, local onde procediam à secagem e tratamento do peixe. Da frota que lhes pertenceu, existe referência aos seguintes navios:

Chalupa “Razoilo & Cª.”, indicativo H.J.R.P., 249 m3 de carga, 87,82 toneladas de arqueação bruta, com registo em Aveiro. Navegou pelo menos durante as campanhas entre 1891 e 1910. Sem rasto após 1911.

Iate “Novo Razoilo”, indicativo H.D.N.W., 131 m3 de carga, com registo em Aveiro. Há registo de presença na pesca. Sem rasto após 1905.

Lugre “Razoilo 1º”, indicativo H.J.P.F., 237 m3 de carga, a navegar entre 1887 e 1912, inicialmente com registo em Aveiro e posteriormente em S. Martinho do Porto. Foi seu capitão o Sr. Tude d’Oliveira da Velha, tendo partido de Aveiro para a campanha de 1911, rumo aos bancos a 3 de Abril, com passagem por Lisboa. O navio é vendido em 1913 a António Henriques, de Lisboa e passou desde então para serviço comercial. Foi depois o

Lugre "Henriques"
Nº Of.: 493 > Iic.: H.J.P.F. > Reg.: Lisboa > 9 tripulantes
Construção: S. Martinho do Porto, 1884
Tonelagens: Tab 202,03 to > Tal 192,26 to
Cpmts.: Pp 31,87 mt > Boca 8,52 mt > Pontal 3,24 mt

Iate “Razoilo 2º”, indicativo H.D.N.V., 150 m3 de carga, 142,89 toneladas de arqueção bruta, com registo em Aveiro. Seguiu a bordo deste navio o Capitão Sr. Francisco São Marcos, tendo saído de Aveiro com destino aos bancos também a 3 de Abril de 1911, com escala por Lisboa. Vendido em 1914 a Paulo N. Guerra, de Aveiro, o navio manteve-se ligado à pesca longínqua. Foi depois o

Iate “Maria Luísa”
Nº Of.: 242 > Iic.: H.D.N.V. > Reg.: Aveiro > 26 tripulantes
Construção: Aveiro, 1900
Tonelagens: Tab 148,27 to > Tal 105,05 to
Cpmts.: Pp 30,19 mt > Boca 8,00 mt > Pontal 3,11 mt

Palhabote “Razoilo”, indicativo H.K.M.D., 459 m3 de carga, 162,28 toneladas de arqueação bruta, com registo em Aveiro. Iniciou a actividade na campanha de 1894, tendo navegado aos bancos até 1913, ano em que foi vendido à Parceria Marítima Ílhavense, de Aveiro. Foi depois o

Palhabote “Sofia”

Nº Of.: 241 > Iic.: H.K.M.D. > Reg.: Aveiro > 26 tripulantes
Cttor.: José Maria Bolais Mónica, Gafanha, em 1893
Tonelagens: Tab 162,28 to > Tal 154,17 to
Cpmts.: Pp 31,26 mt > Boca 7,35 mt > Pontal 3,11 mt


O palhabote "Sofia" a navegar - foto de autor desconhecido
Imagem gentilmente cedida pelo Sr. Delfim Nora / Napesmat

Nota: Tudo indica que este navio terá sido canhoneado por submarino Alemão, quando se encontrava a pescar na Terra Nova, em 1914, pelo menos assim o refere Costa Júnior no seu livro "Ao Serviço da Pátria". Existe contudo uma imprecisão ao mencionar o vapor "Cisne", como tendo sido a primeira vitima da I Grande Guerra Mundial, em 28 de Maio de 1915. Estamos em crer que toda a tripulação pereceu em resultado desse ataque.

É para nós ainda desconhecido qual eclipse determinaria o fim da sociedade, que durante vários anos marcou presença na pesca e que levaria à venda dos navios entre 1913 e 1914. À distancia de um século, podemos somente especular sobre suspeita do falecimento do Sr .Manuel Razoilo, talvez naufrágio de um dos primeiros navios citados, ou ainda anos de safra ruinosos, que os levaria à falência. Por mim esta história não termina aqui.

1 comentário:

José Malaquias disse...

cUm desses navios, o hyate Razoilo, fez a sua primeira campanha em 1908numa parceria entre o Sr. Razoilo, o capitão Manoel Nunes da Graça, o Sr. Alberto Pinto Bastos (da família proprietária das Fábricas de Porcelana Vista Alegre)e o Sr. Mário Duarte (suponho que tio-avô do poeta Manuel Alegre. O capitão era de Ílhavo, assim como parte da tripulação, e chamava-se Tude.