segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Navios de passageiros em Leixões


Setembro, mês dos cruzeiros!


O "Voyager", fez escala no dia 5



O "Celebrity Infinity" fez escalas nos dias 15 e 28



O "Rotterdam" esteve em porto no dia 18



O "Discovery" fez escala no dia 19



O "Hamburg" também fez escala no dia 19



E o "Funchal" completou o trio do dia 19


Continua...

domingo, 29 de setembro de 2013

Beleza pura!


A chalupa “ Lotos “

A "Lotos" ancorada no anteporto de Leixões

Encontra-se de passagem pelo porto esta pequena chalupa holandesa, cujas linhas não passam indiferentes, a quem circula nas áreas próximas à marina de Leixões. Construído em 1910, arqueia 170 toneladas, tem 36,5 metros de comprimento, por 7 metros de boca e navega entre as 6 e as 7 milhas por hora.
Terá certamente sido utilizado ao longo dos anos, para efectuar o transporte de diversos tipos de mercadoria. Actualmente é uma lindíssima embarcação de recreio, a viajar por esse mundo fora, capricho e orgulho dos seus proprietários.

sábado, 28 de setembro de 2013

O encalhe da traineira “Trajano” em Matosinhos


Outra vez?

A traineira "Trajano" encalhada na praia de Matosinhos

Vale a pena ler nas entrelinhas as diversas notícias publicadas, nos mais diversos órgãos de informação, para perceber que há qualquer coisa que não bate certo! Tanto quanto foi possível apurar, nesta última quarta-feira, dia 25, pelas 7 horas e meia da manhã, logo ao raiar do dia e quase no final da viagem o motor da traineira entrou em sobreaquecimento e parou, deixando a embarcação à deriva.
Até pode ter sido isto o que aconteceu, mas é difícil explicar o silêncio, a total ausência de comunicação com as autoridades do porto, no sentido de ser prestada assistência, antes do barco ir à praia. Não vou por em causa a competência do mestre, ou de qualquer elemento da tripulação, encarregue de trazer a embarcação a bom porto. Mas a realidade aponta na direcção literalmente oposta.
E na praia da Aguda, em 12 de Dezembro de 2009, como foi?

A traineira "Trajano" encalhada na praia da Aguda

E antes disso, outra vez em Matosinhos e uma colisão, que felizmente não foi grave, mas podia ter sido. Valha ao menos que os sinistros ainda não provocaram vítimas, mas o excesso de fatalidades normalmente agilizam um mau presságio.
É verdade que ganhar a vida na pesca está cada vez mais difícil! Trabalhar na apanha do polvo, exige muito trabalho, canseira e sacrifício. Exige também um mínimo de descanso e poucos automatismos, se for esse o caso da traineira ter dado à praia, a quem se obriga a zelar pela vida e segurança da campanha. Afinal, após cada acidente vem dias de privação, sem o necessário rendimento, razão fulcral duma luta diária, quantas vezes inglória, que merecia ser melhor recompensada.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

126 anos sobre a visita da família real a Leixões


27 de Setembro de 1887

O rei D. Luiz

Ultrapassou toda a expectativa a excursão que a família real realizou ontem a S. Gens e às obras do porto artificial de Leixões, por convite da respectiva empresa construtora Duparchy & Bartissol. Dos festejos que até hoje se têm realizado em honra da excelsa família, foi este seguramente o mais notável, o mais surpreendente sem dúvida, que muito deve ter penhorado as pessoas que presidem aos destinos da nação portuguesa. Foi mais uma prova evidente, integra, da muita estima e da viva simpatia que o povo consagra aos bondosos monarcas e a seus augustos filhos. Eis a descrição da excursão régia, grandiosa pelas circunstâncias de que foi revestida:
……….
A chegada a Matosinhos
Às 2 horas e 40 minutos dava o comboio entrada naquela ridente povoação da beira-mar. Outro espectáculo soberbo. A população piscatória e a outra que não se emprega nos trabalhos arriscados do mar, os banhistas e os forasteiros, apertavam-se, comprimiam-se em longas filas, por cima dos muros, nos terrenos elevados, nas janelas das casas próximas, que ostentavam colchas de damasco.
Os morteiros e os foguetes faziam um estrondo de ensurdecer, não deixando ouvir nada e pondo medo às crianças, que se achegavam dos pais, timoratas, medrosas. E no entanto, nada mais belo do que aquele entusiasmo febril pelos ilustres personagens que o Porto acolhe.
O comboio real recebeu aí o sr. conselheiro e ministro de Estado honorário Barjona de Freitas, que foi cumprimentar a família real, acompanhando-a no resto da viagem. Sendo necessário fazer uma manobra, o comboio teve ali uma pequena demora e em seguida avançou para o muro de abrigo do sul.

No molhe Sul


O comboio percorreu-o em quase toda a sua extensão, cerca de 700 metros pelo mar dentro. O grande Titã, esse engenho possante de invenção maravilhosa, engalanava-se de bandeiras; uma filarmónica tocava o hino de el-rei, queimando-se muitos foguetes. A família real, saindo da carruagem, assistiu, bem como todos os convidados, à colocação, por meio de um pequeno guindaste, de uma pedra no muro de abrigo, pedra que em letras abertas e douradas tinha a seguinte inscrição: «27 DE SEPTEMBRO DE 1887 – VISITA DE S.M. EL-REI D. LUIZ Iº». Por cima tinha as armas nacionais muito bem lavradas. A pedra foi colocada rápida e perfeitamente.
A Família real dirigiu-se para a extremidade do muro, onde o sr. Bartissol, para satisfazer o natural desejo de el-rei, o informou amiudamente dos trabalhos realizados e a realizar, dos processos usados na construção daquela monumental obra de arte, etc.
Em seguida o Titã mostrou os seus prodígios, levando uma vagonete com grandes calhaus do peso de 10 toneladas métricas, pouco mais ou menos, e arremessou-os ao fundo do mar, espadanando a água a grande altura. São estes os trabalhos do enrocamento, realmente admiráveis. Aqui foi apresentado a el-rei pelo sr. Bartissol o hábil engenheiro director técnico daquelas obras, o sr. Wiriot, com quem el-rei se demorou conversando durante algum tempo.
Retirando-se, o comboio recuou pelo mesmo caminho, assistindo a família real aos interessantes trabalhos da grua, vendo-a mover, levantar facilmente um enorme bloco de pedra e cimento e colocá-lo em cima de uma zorra.

No molhe norte

Imagem do rebocador "Galgo"
Foto de autor desconhecido - colecção de Francisco Cabral

Os trabalhos aqui não foram menos importantes. O comboio percorreu-o também na extensão de uns 700 metros. Eram 3 horas e 25 minutos. A família real, desembarcando, assistiu também à colocação no muro de abrigo de outra pedra em tudo idêntica à que anteriormente fora colocada no molhe sul, isto é, com as mesmas armas e a mesma inscrição. Ao findar este trabalho, um dos empregados da empresa, que tinha no braço esquerdo um laço de fita azul e branca, levantou vivas a el-rei, à rainha, príncipes, incluindo o da Beira, e finalmente a toda a família real.
A banda do Regimento de Infantaria 10 executou o hino real, sendo queimados muitos foguetes. Na extremidade do muro o engenheiro sr. Afonso Joaquim Nogueira Soares esteve explicando a el-rei a forma como eram colocados os blocos, dando-lhe outras informações que S.M. ouvia com vivo interesse.
Uma zorra conduziu para junto do grande Titã deste molhe um bloco que tinha a seguinte inscrição gravada: «BLOCO COLOCADO NA PRESENÇA DE EL-REI D. LUIZ E DE SUA AUGUSTA FAMÍLIA NO DIA 27 DE SEPTEMBRO DE 1887». O prodigioso aparelho levantou-o da zorra por meio de correntes de ferro, ergueu-o ao ar e desceu-o até ao mar, colocando-o em cima dos outros. Mas não se julgue que todo este trabalho, que o braço humano decerto não poderia desempenhar, leva muito tempo. Nada disso: 10 minutos, se tanto, são suficientes para esta operação.
S.M. el-rei ficou tão satisfeito com o que viu, observou tanta ordem e método em todos os trabalhos, que, chamando o sr. Bartissol, comunicou-lhe que o agraciava com o título de visconde de Bartissol.
Por essa ocasião correu o boato de que S.M. dispensaria outras mercês honoríficas a vários cavalheiros do pessoal superior das obras do porto de Leixões. Achamos justas estas distinções ao mérito.
No Leixão grande, que ainda fica a bastante distância dos muros de abrigo, achava-se hasteada a bandeira nacional. Outros rochedos, que demoram perto, conhecidos pelos nomes de «Lajedo», «Salgueiro» e «Galinheiro», destacavam-se pela sua isolação.
Passava das 4 horas da tarde quando a família real se retirou no comboio com os convidados até ao pavilhão levantado fora do muro de abrigo, onde ia ser servido o lanche.

Manifestação marítima
Além das manifestações que em terra se deram, por ocasião da visita da família real ao porto de Leixões, uma outra se realizou, fervorosa e entusiástica. Esta manifestação foi de uma originalidade e de uma espontaneidade características.
Eram perto das 2 horas, quando o possante rebocador “Galgo”, embandeirado em arco, levantou ferro do cais da Estiva e se dirigiu, com vertiginosa velocidade, para a boca da barra.
A bordo do rebocador reuniu-se um grupo distinto da colónia inglesa, alguns alemães, russos e portugueses. Os seguintes nomes darão uma ideia das pessoas que se achavam no vapor: srs. Carlos Coverley, Roger Coverley, Hermann Burmester. A.J. Shore, George Mason, Otto Burmester, Franz Burmester, C.J. Schneider. J.D. Smith, Edouard Rumsey, Carlos Wengorovius, Alberto Kendall, J.S. Johnson, o engenheiro do Lloyd, Ennor; o vice-cônsul da Grã-Bretanha, Honorius Grant; o vice-cônsul da Rússia, Álvaro Smith de Vasconcelos; Ernesto José de Carvalho, Isaac Newton, Ellicot, John Teage, Henrique Delaforce, o engenheiro-civil W.P. Routh, Irineu Pais, Albino Pereira Soares, José Vicente Domingues, o capitão do vapor inglês “Mallard”, sr. Hayes; o capitão do “Minerva”, sr. Burrel; o capitão do “Lisbon”, sr. Mac-Nab; os capitães russos srs. J. Skuja e Noacki, José Luiz Gomes Sá e Carlos Lourenço da Cruz.
O “Galgo” atravessou rapidamente toda a distância que medeia entre o cais da Estiva e a barra. O mar mostrava-se um pouco picado, como se diz em linguagem marítima, mas o possante rebocador sulcava indiferente as ondas mais alterosas, espadanando em volta flocos de espuma que a proa e o hélice faziam surgir constantemente.
Bem depressa a povoação da Foz ficou à ré do vapor, distinguindo-se em seguida as casas de Matosinhos e Leça, assim como os dois molhes do porto de Leixões, em cujas extremidades se viam, na sua imobilidade, os grandes Titãs, semelhantes a dois enormes canhões Krupp. Momentos depois, o “Galgo” fundeava na espécie de enseada formada pelas pedras de Leixões e os dois paredões em construção, junto do molhe sul.
A família real ainda não havia chegado, mas por toda a extensão da praia via-se a multidão movendo-se e girando em todos os sentidos. O aspecto do porto, visto do ponto em que o “Galgo” se encontrava fundeado, era realmente belo e cativante.
Uma multidão de pequenas embarcações, canoas, caíques, botes, guigas, etc., singrava por aquelas águas em todas as direções, com bandeiras multicolores, tremulando agitadas ao impulso do vento. No meio destas embarcações destacava-se, pela real beleza das suas formas, pelo airoso do seu porte, a chalupa pertencente ao sr. Alão Pacheco, a bordo da qual se achava este cavalheiro com sua esposa. A chalupa embandeirava em arco. Além desta chalupa ainda cruzavam o porto dois pequenos vapores, o “Rápido” e o “Ligeiro”, tendo num deles sido visto a bordo o engenheiro sr. Guedes Infante e o lente da Escola Médico-cirúrgica sr. Cândido Augusto Correia de Pinho.
Entretanto, a bordo do “Galgo”, os srs. Roger e Carlos Coverley mandavam servir amavelmente um abundante e bem servido lanche. A brisa marítima, a pequena excursão através daquele limitadíssimo espaço do Atlântico, tornavam altamente amena aquela refeição em que todos mais ou menos fizeram honra às iguarias, ao vinho do Porto e ao Champanhe.
Pouco antes de terminar o “lunch”, o sr. Carlos Coverley brindou pelo rei de Portugal e sua real família, sendo este brinde entusiasticamente correspondido por entre vivas, hurrahs e aclamações. Neste comenos ouviu-se o silvo de uma locomotiva. Era o comboio real que se aproximava e que foi parar perto do Titã do molhe sul. Quando el-rei, a rainha e os príncipes se apearam da carruagem, e se dirigiram para mais próximo do enorme guindaste, todos os que se achavam a bordo do “Galgo”, empunhando taças cheias de Champanhe, irromperam em repetidos vivas e hurrahs, silvando nessa ocasião por três vezes a sirene do vapor. A mesma demonstração deu-se quando SS. MM. E AA., depois de verem trabalhar o gigantesco Titã, se retiraram, tomando o comboio a direcção do molhe norte.
O “Galgo” também se foi postar galhardamente em frente aquele molhe, repetindo as anteriores demonstrações, quando a família real chegou ali.
Por essa ocasião assistiu-se ao desfilar de uma esquadrilha de barcos de pesca que, içando as largas velas latinas que o vento entumecia com gracioso donaire, foi passando por diante da extremidade do molhe sul, fazendo uma longa e pitoresca curva, que maravilhosamente se ia prolongando e tinha todos os encantos de uma verdadeira e original surpresa.
Todos os olhos se haviam fixado naquele pitoresco quadro, formado por grande número de barcos, cujos nomes eram também tão pitorescos como os homens que os tripulavam. Eis alguns desses nomes recolhidos na rápida carreira com que passavam à vista, deixando-lhes a sua textual ortografia: “Aqui estou em Casa de Deus”, “Sra. Da Gonia”, Sra. da Juda”, “Sr. do Alivo”, “Paraiso Rial”, “D. Luiz”, “Erodes de S. João”, Sr. do Soreato”, ”Sra. do Bomsucesso”, etc.
E lá foram todos estes barcos para a sua faina da pesca, e decorridos alguns momentos, na amplidão do Oceano apenas eram uns pontos que se destacavam na nublada faixa do horizonte.
No porto, entretanto, a animação era cada vez maior; a família real passara ao pavilhão onde lhe fora servido o lanche; as pequenas embarcações pululavam e cortavam em todos os sentidos a ampla enseada; um outro vapor, o “Victória”, viera também juntar-se à festiva manifestação marítima; os foguetes estouravam nos ares, as músicas faziam ouvir o hino real; por toda a parte uma enorme expansão de alegria, de fervoroso entusiasmo, de festival júbilo.
Algumas das pequenas embarcações estavam cheias de senhoras, que não receavam arrostar as ondas do mar. E que variedade de formas e tamanhos tinham os barcos que animavam a ampla baía! Ali foi vista a pequena canoa tripulada por um homem só e movida por uma pequena pá; os caíques com dois remadores; um outro movido a rodas; os botes, as chalupas e as guigas, a quatro, seis e mais remos. Uma variedade difícil de descrever. E todos estes barcos se haviam reunido ao longo do molhe norte, e quando a família real deixou o pavilhão para se retirar, era maravilhoso contemplar o aspecto produzido por aquela esquadrilha de pequenas embarcações, donde irrompiam entusiásticos vivas, e donde se viam milhares de lenços brancos acenando, ao mesmo tempo que o silvo do “Galgo” parecia querer superar todos os ruídos com o seu som ronco, sonoro e penetrante.
A família real, no entanto, deixava o porto de Leixões, e a debandada era geral. Na praia via-se um movimento e um fervilhar continuo, de quem queria ainda uma vez ver os régios personagens. Estava finda a grande festa do trabalho, e os barcos que não temiam o embate do mar, preparavam-se para ir em demanda da barra.
(In jornal “Comércio do Porto”, de 28 de Setembro de 1887)

O dia do porto de Leixões


Teve lugar no último sábado o dia do porto de Leixões, que lamentavelmente não teve o entusiasmo retratado anteriormente com a visita da família real, mas nem por isso deixou de ver manifestado igual brilhantismo, repetindo o êxito já alcançado nas edições anteriores.
Parabéns, porto de Leixões!

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

História trágico-marítima (LXXV)


O naufrágio do iate “Dourado”
Não consegui até à data encontrar documentação relativa à construção deste navio, tanto no país como nos registos do Lloyd’s, porque numa primeira análise sustenta-se a possibilidade de poder tratar-se de um iate de pequena tonelagem e reduzidas dimensões. Numa outra notícia encontrada referente ao naufrágio, constata-se que o mestre do navio dava pelo nome José Tavares da Silva e que o sinistro ocorreu pelas 3 horas da madrugada.

Naufrágios
A tempestade de quarta (8) e quinta-feira (9) deve ter produzido grandes sinistros no mar. Além do iate “Dourado” que na noite de 8 para 9 naufragou em frente da barra de Vila do Conde, havendo a lamentar a perda de cinco vidas, entre as quais a do capitão, há já conhecimento de outro naufrágio de mais um navio português na costa da Galiza.
Foi este o do palhabote “Francisco 1º”, pertencente à praça de Caminha, o qual seguia viagem de Gibraltar para Inglaterra, com um carregamento de fava. Uma parte telegráfica recebida de Vigo informa que este navio naufragou no dia 9 a 6 milhas a Oeste das Sisargas. Felizmente pode ser salva a tripulação, que se acha na Corunha.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 11 de Maio de 1861)

O naufrágio do iate “Dourado”
Vila do Conde, 12 – Não tinha havido até agora, a possibilidade de narrar as circunstâncias da causa que originou a perda deste iate, devido às inesperadas condições de mau tempo. Na procura de informações, foram obtidos alguns pormenores a esse respeito. O iate tendo chegado à barra na tarde do dia 8, não pudera entrar por haver já bastante água de vazante, tendo fundeado ali para o fazer no dia seguinte.
Pouco depois do iate estar fundeado, principiou uma trovoada, a qual se foi fazendo mais forte, sendo pelas 10 horas da noite acompanhada de fortes tufões de vento. Com esta tormenta começou o iate a trabalhar bastante sobre o ferro que tinha pela proa, cuja corrente, não conseguindo resistir à impetuosidade do vento e das ondas, rebentou. Esta foi logo substituída por outra, que não tardou muito em ter igual sorte. Acto contínuo largaram o pano, porém o iate, não obedecendo ao governo, foi cair sobre a pedra “Rendufe” na qual, depois de ter batido por algum tempo, a cavalgou, para ir cair sobre a pedra “Cavalo”, onde se desfez.
Às cinco horas da manhã foram vistos por uma sentinela do castelo, os dois náufragos agarrados aos paus de um dos mastros, lutando com o mar; a sentinela correu a dar parte disto ao piloto-mor, que o mais depressa possível embarcou com alguma gente numa catraia, e, para lá se dirigindo, pode recolher aqueles dois infelizes, que estavam prestes a sofrer a mesma sorte dos seus companheiros. A tripulação, à excepção do capitão e de um marinheiro, era de Vila do Conde. O iate estava matriculado em Setúbal e vinha dali carregado com sal e arroz.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 14 de Maio de 1861)

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O " Santa Maria Manuela "


A 1ª escala no porto de Leixões

Nesta última terça-feira, o navio procedente de Vlissingen, na Holanda, onde participou no festival náutico local, com o sucesso habitual, registando um número muito superior a 3 mil visitas a bordo, com passagem por Brest, em 5 dias de viagem, o lugre “Santa Maria Manuela” fez escala em Leixões pela primeira vez, nesta nova fase da sua existência.
Visita breve por cerca de 3 horas, para na oportunidade receber 36 passageiros, que usufruindo das excelentes condições de bom tempo e mar bonançoso, partirem à descoberta da linha de costa nortenha, seguindo com destino a Aveiro.

O navio em porto, durante a estadia em Leixões

Aparte o aparato da partida, com a presença de pelo menos um agente do SEF (para quê?) e a sempre notada representante da Alfândega (porquê?), a viagem terá decorrido dentro da habitual normalidade, cumprindo o tempo previsto, de forma a assegurar a entrada em Aveiro na mesma maré, com água de enchente, o que sempre facilita o acesso e as manobras no porto.
Foi muito agradável ver o lugre em Leixões, cada vez mais a funcionar como embaixada itinerante do país, aqui e no estrangeiro, a lembrar a nossa herança marinheira. Nesta ocasião há que reconhecer, que para uma primeira vez soube a pouco. Porém, fica sempre a esperança que qualquer dia voltará!

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Notícias do paquete “ Funchal “


O regresso ao mar

Já de saída do porto de Gotemburgo, com destino à Escócia, a concretizar o primeiro cruzeiro, após prolongada modernização e terminadas as necessárias reparações. Julgo ser para todos quantos gostam de navios e, mais ainda, em relação àqueles que adoptamos como nossos, ser motivo de forte regozijo saber que os últimos problemas detectados a bordo estão solucionados, encontrando-se o paquete a viajar em perfeitas condições de segurança e navegabilidade.
Por esse motivo aprovo, apoio e felicito Rui Alegre, nas considerações feitas quando soube que o navio ia ter autorização de saída do porto sueco, com as obras feitas e os certificados emitidos por gente supostamente competente, avalizando a já antecipada garantia de sucesso do navio nos próximos anos.

Imagem do "Funchal" na primeira escala no porto da Horta
Foto Jovial, Horta, Açores

Até parece que está tudo bem, quando acaba bem…!
Só que na nossa opinião não está! Alguém no país falhou no resultado das inspecções feitas a bordo, sujeitando o armador e o navio a uma paragem desnecessária e inconveniente, mais despesa, perda de passageiros e mais grave ainda, transmitindo uma péssima imagem do país para o exterior, que não é factual, mas que abre caminho à perda de credibilidade.
Compreendemos Rui Alegre evitando melindrar quem negligenciou as suas funções. Percebemos que o navio terá de repetir inspecções anualmente e o bom senso advoga prudência nos futuros contactos com os certificadores de classe. No interesse da Portuscale e do país é fundamental que nos próximos anos haja exigência e rigor, prevenir antes de remediar.
É bom sentir orgulho em ter o “Funchal” de volta!

Mais notícias sobre as avarias no paquete

Depois de publicado este texto no blog, recebi novas informações, que me obrigam a corrigir detalhes da notícia, por estarem manifestamente incorrectas. Pela necessidade de repor a verdade dos factos, deve ser mencionada a "não existência" de qualquer tipo de negligência por parte dos classificadores, perfeitamente cientes dos problemas que o navio apresentava.
Nesta conformidade, a realidade aponta no sentido de ao evitar novo adiamento à data de saída do navio para o cruzeiro inicial, os classificadores decidiram-se pela emissão de certificados provisórios, por escassos dias, obrigando à realização das reparações no primeiro porto de escala, que como se sabe foram efectuadas com sucesso na Suécia.
A situação configura-se natural, dentro dos padrões normais ao abrigo da legislação internacional, pelo que não se entenderia de forma alguma culpabilizar o armador ou os peritos em causa, cuja actuação proficiente deve em sentido contrário ser elogiada.

domingo, 1 de setembro de 2013

História trágico marítima (LXXIV)


O naufrágio do vapor “Portugal”

Navio mandado construir em Inglaterra, com a finalidade de estabelecer um tráfego regular desde o continente até Moçâmedes, com escalas previstas em diversos portos das ex-colónias. Navegou desde 1881 até 1897, sempre sob a bandeira da Empresa Nacional de Navegação, perdendo-se por encalhe na ilha do Sal, em Cabo Verde, a 5 de Fevereiro de 1897.

O paquete "Portugal" da Empresa Nacional de Navegação
para a África Portuguesa (Desenho do natural por João Dantas)

O paquete “Portugal”
da Empresa Nacional de Navegação para a África Portuguesa
É de há muito reclamada e reconhecida a necessidade de uma navegação regular entre o continente de Portugal e as suas possessões de África, com novos barcos a vapor que satisfação as exigências do serviço, por estarem velhos e em más condições de navegabilidade regular os que existem. A Empresa Nacional de Navegação para a África Portuguesa tratou de adquirir novos navios dos quais um é o paquete “Portugal” e o outro é o “Angola”. O paquete “Portugal” que já entrou no serviço, saindo do porto de Lisboa com destino à África Ocidental Portuguesa, em 5 do corrente, é um navio que tem todas as condições precisas para uma navegação regular, oferecendo as comodidades possíveis aos seus passageiros. Este barco construído pela Earl’s Shipbuilding Co., mede 295 pés de comprimento, 35 de largo, 25 de altura e 1.966 de tonelagem. Tem 6 compartimentos e alojamentos separados, incluindo os da 3ª classe para mulheres e doentes, quartos de banho, botica, camarote independente para o facultativo, depósito de bagagens, salão de fumo, etc. Cada classe tem a sua câmara e a da 1ª classe mede 65 pés de comprimento. Pode dar passagem a 60 passageiros de 1ª classe, 32 de 2ª e 120 de 3ª, para o possui os alojamentos necessários, com todas as comodidades de conforto e higiene. Os aposentos de 1ª classe são especialmente os mais luxuosos no gosto com que estão adornados. Este navio arma em brigue e o seu governo pode ser feito, tanto mecanicamente como à mão. Tem 6 escaleres sendo 4 salva-vidas. O seu andamento é muito satisfatório pois que, nas primeiras experiências deitou 12 milhas, e na sua viagem de Cardiff para Lisboa gastou 80 horas, com vento rijo pela proa. O paquete “Angola” ainda não está em Lisboa, sendo esperado em fins de Novembro, destinando-se à mesma navegação.
(In revista “Ocidente”, Nº102, de 21 de Outubro de 1881)

O navio
Nº oficial: n/t - Iic.: H.G.R.F. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Earl’s Shipbuilding & Engineering Co., Ltd.,
                    Hull, Inglaterra, Setembro de 1881
Arqueação: Tab 1.966,0 tons - Tal 1.803,0 tons - 1.635,78 m3
Dimensões: Pp 88,70 mts - Boca 10,70 mts - Pontal 7,80 mts
Propulsão: Earl’s, 1881 - 1:Cp - 1.250 Ihp - 10 m/h
Equipagem: ? tripulantes e capacidade para 212 passageiros

O paquete "Portugal" - Desenho de Luís Filipe Silva

O sinistro
Correu ter sofrido avaria o vapor “Portugal” da carreira de África. O governador de Cabo Verde mandou sair uma canhoneira à procura do vapor, sabendo que a demora da chegada a S. Vicente fora devido a pequena avaria no hélice, fácil de reparar.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 11 de Fevereiro de 1897)

Naufrágio do vapor “Portugal”
Lisboa, 12 de Fevereiro – O sr. Ministro da Marinha recebeu um telegrama do governador de Cabo Verde, participando que o vapor “Portugal” foi encontrado encalhado, perdido, na ilha do Sal, tendo também perdido parte do carregamento. Foram, porém, salvos os passageiros e os tripulantes.
O “Portugal” era esperado em Lisboa entre 18 e 19 do corrente. A Canhoneira “Rio Ave”, que saíra à sua procura, foi que encontrou o vapor.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 13 de Fevereiro de 1897)

O naufrágio do vapor “Portugal”
Lisboa, 13 de Fevereiro – A respeito do vapor “Portugal” a Empresa Nacional de Navegação recebeu este telegrama: «O vapor “Portugal” encalhado na ilha do Sal. Dois rombos no fundo. Impossível safar. Não há vitimas. Parte da carga salva. A tripulação veio para terra; não há recursos; pedem-se ordens.»
A empresa respondeu: «O “Bissau” fazendo correio levará passageiros e tripulantes disponíveis para levar o “Portugal” para a Praia. Telegrafe se há possibilidades de safar o vapor, indo o material adequado. Consulte o agente do Lloyd’s.»
Esta manhã veio o seguinte telegrama: «Peritos dizem ser impossível safar o vapor».
A Empresa Nacional de Navegação deve perder 10.000 libras com o sinistro do “Portugal”. O vapor era um navio que tinha já 14 anos, servindo efectivamente.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 14 de Fevereiro 1897)