segunda-feira, 31 de julho de 2017

World's Best Fish...!


Nunca a actual expressão “World’s Best Fish”,
fez tanto sentido como outrora


O contra-torpedeiro “Tâmega” aprisionou
catorze traineiras espanholas perto de Aveiro
Quando, ontem, o contra-torpedeiro “Tâmega” navegava com rumo sul, avistou algumas traineiras espanholas, que andavam a pescar nas nossas águas. E, assim, entre a Torreira e Aveiro, aprisionou catorze que andavam naquela faina, sendo a aprisionamento feito entre as 7 e as 11 horas da manhã.
Já há muito tempo que os nossos navios de guerra não faziam um aprisionamento como este, duma só vez.
O contra-torpedeiro “Tâmega” recolheu a bordo os mestres das traineiras, que começaram a dar entrada na barra do Douro, entre as 2 e as 5 horas da tarde, ancorando todas em frente a Massarelos.
Logo que foi conhecida a apreensão das traineiras, afluiu a Massarelos bastante povo, a fim de as presenciar.

Imagem das traineiras apresadas, com as tripulações a bordo

São elas as seguintes: “Polar”, da praça de Baiona, mestre Manuel Pousa Durañ; “Nossa Senhora de Guadalupe”, da praça de Cangas, mestre Rafael Giraldes; “Nuevo Muncho”, da praça de Vigo, mestre Jacinto dos Santos; “Marina”, de Vigo, mestre Vicente Giraldes Cadiño; “António Vieira”, de Vigo, mestre Júlio Vieira; e “Jacobita”, também de Vigo, mestre Manuel Pedrera, todas estas com sardinha, já com sal.
“Conchita III”, de Cangas, mestre Manuel Camiña; “Manuelito”, de Vigo, mestre José Giraldes; “Ondina”, de Vigo, o mestre encontrava-se a bordo doente, sendo substituído por Campio Lemos; “Europa”, de Cangas, mestre José Giraldes; “Angelita Santos”, de Cangas, mestre Maximino Iglésias; “Concepcion”, de Vigo, mestre Luiz Angre Fernandez; “Libertad”, de Vigo, mestre Ramon Fontaiña; e “Cantabria II”, também de Vigo, mestre Marcelimo Maldes, todas sem pescado, em virtude de não terem tido tempo de lançarem as suas redes.
Os autos, que foram levantados contra os mestres das traineiras aprisionadas, devem ser hoje entregues pelo comandante do “Tâmega”, sr. Capitão-de-fragata Fernando Augusto Vieira de Matos, no Departamento Marítimo do Norte, a fim de serem presentes ao Tribunal Marítimo, para procedimento do delito cometido.
O peixe, que as seis traineiras trazem a bordo, será hoje vendido na Afurada. Entretanto, os julgamentos devem durar seis a sete dias, em virtude de serem julgadas duas por dia.
(In jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 8 de Dezembro de 1930)

Vapor de pesca aprisionado
Ontem, às 9 horas da manhã, entrou no Douro a canhoneira “Diu”, comboiando o vapor de pesca belga “Pallieter”, que tinha aprisionado quando, de madrugada, estava a pescar na costa, ao norte de Leixões e muito próximo de terra.
Na ocasião do aprisionamento a canhoneira “Diu” teve de disparar três tiros a fim de o intimar a parar, visto que tentava fugir. Entretanto, um outro vapor de pesca belga, que no mesmo momento estava também a pescar, conseguiu escapar.
O “Pallieter” pertence à praça de Ostende e trás um regular carregamento de peixe, que foi apreendido e que será vendido por conta do Estado, beneficiando, também, algumas casas de caridade.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 9 de Junho de 1933)

Imagem do vapor de pesca “Pallieter”,
no momento em que procediam à descarga do pescado

Características do vapor de pesca “Pallieter”
Armador: N.V. Motor-Visschery Pallieter, Ostend, Bélgica
Nº Oficial: N/d - Iic: N/d - Porto de registo: Ostend
Construtor: Ch. Navals Van Praet & Verschueren, Boom, 1931
Arqueação: Tab 100,00 tons - Tal 39,00 tons
Dimensões: Pp 16,24 mts - Boca 6,27 mts - Pontal 2,13 mts
Propulsão: Sulzer, Suíça - 1:Di - 6:Ci - 134 Nhp

Ainda o aprisionamento do vapor de pesca belga
A descarga do pescado. Julgamento e condenação do capitão
A canhoneira “Diu” aprisionou ante-ontem, de madrugada, ao norte de Leixões e muito próximo de terra o vapor de pesca belga “Pallieter”, quando estava a pescar. Comboiado pela canhoneira “Diu” deu, depois, entrada no rio Douro, ancorando em Massarelos.
A meio da tarde de ontem, procederam à descarga do peixe que transportava, a fim de procederem à sua venda por conta do Estado, beneficiando, em parte, algumas casas de caridade. A descarga foi feita sob a fiscalização do sargento-ajudante em serviço na Capitania do Porto, sr. Alfredo Correia da Silva.
Entretanto, o capitão do “Pallieter”, sr. Verdijn, era julgado no Tribunal Marítimo da Capitania do Porto, sendo condenado na multa de Esc. 13.000$00, além da perda do pescado.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 10 de Junho de 1933)

sábado, 29 de julho de 2017

Concerto jazzístico em Matosinhos!


Cine-concerto “O Naufrágio do Veronese”

Ontem à noite, na praça Guilhermina Suggia, um pouco depois das 22 horas, teve lugar um cine-concerto, patrocinado pela Câmara Municipal, Casa da Música do Porto e pela APDL (Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo).
Esta ideia pensada em 2013, aquando das cerimónias alusivas às comemorações do centenário sobre o naufrágio do paquete “Veronese”, teve como ponto de partida um filme histórico com imagens do trágico naufrágio do navio, ocorrido em 1913, nos rochedos denominados «Baixo do Lenho», em frente da praia da Boa Nova.


O programa apresentado neste cine-concerto, visou aprofundar os pontos de contacto entre a temática do mar e a música, com vista para o Porto de Leixões, sendo preenchido por novas composições e curtas-metragens, nascidas em resultado das parcerias entre compositores e cineastas, a pretexto de encomendas propostas pela Casa da Música, por ocasião do festival Invicta Música Filmes, de 2013.




A projecção dos documentários, e respectivas obras musicais, foram assinados por Luís Tinoco: Costa Muda/ O Naufrágio do Veronese (filme de 1913); Carlos Azevedo: Dive/ filme de Sandro Aguilar; Ohad Talmor: First Étude/ filme de Francisco Moura; Pedro Guedes: Cestas e Garras/ filme de Tiago Guedes; Bernardo Sassetti: Pescaria/ filme de Margarida Cardoso e Mário Laginha: Leixões/ filme de João Canijo, revelaram-se muito do agrado do público que acorreu em considerável número, foi acompanhada ao vivo pela Orquestra Jazz de Matosinhos, sob a direcção do maestro Paulo Guedes, que assim percorre olhares pessoais e inesperados, sobre uma realidade que se apresenta relativamente próxima, e em simultâneo estranhamente distante.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

História trágico-marítima (CXXXII) - Repetição


As chalupas francesas - A pesca ilegal da lagosta

Em Março de 2014 foi abordado este tema no blog, relacionado com o naufrágio da chalupa “Marie Yvone”, que inicialmente julguei tratar-se de um caso isolado, ou quando muito haveria apenas algumas embarcações, poucas, que a coberto da noite, audaciosamente, pescavam próximo da linha de costa.

Imagem da chalupa francêsa "Belle Etoile"
(In blog "Caxinas... a Freguesia), de António Fangueiro

O conhecimento da realidade foi-me logo facultado pelo saudoso colega e amigo Rui Amaro, através do seu comentário, alertando para o facto desta pesca ilegal existir há muitos na nossa costa, como segue:
«Ainda na década de 50 fainavam na costa portuguesa chalupas lagosteiras francesas, à vela e com motor auxiliar, oriundas nomeadamente da Bretanha. O viveiro era o próprio porão cheio de água, com gradeamento no fundo para evitar a fuga das lagostas. Arribavam a Leixões e outros portos para bancas, abrigarem-se do mau tempo, com avarias, apresadas, etc.»
Simultaneamente chamava a atenção para uma publicação, cuja capa reproduzo a seguir, divulgada na Revista de Marinha, cujo texto passo a citar:

Capa do livro referenciado

«As chalupas lagosteiras francesas frequentaram a costa oeste de Portugal a partir de 1909, depois de terem dizimado aquela espécie nas costas atlânticas da França e da Espanha. Eram na sua maioria provenientes de Audierne e Camaret-sur-Mer, na Bretanha, e tinham o porão, através de frinchas, em permanente comunicação com o mar, a fim de conservarem vivas as lagostas pescadas ou compradas (?) localmente.
Estas curiosas embarcações tinham um deslocamento de cerca de 30 toneladas, armavam dois mastros com pano latino, vela de estai e bujarrona, sendo tripuladas por 5 ou 6 homens apenas. Na pesca utilizavam armadilhas, os covos, mais aperfeiçoados e eficazes do que as armadilhas então utilizadas pelos pescadores portugueses.»

O naufrágio da chalupa “Marie Yvonne”
No Cabo Raso afundou-se a chalupa francesa “Marie Yvonne”,
morrendo cinco dos seus tripulantes
No sítio denominado Baía de Prata, a leste do Cabo Raso, naufragou hoje (23.12.1927), pelas 2 horas da madrugada, uma chalupa francesa denominada “Marie Yvonne”, que andava na pesca da lagosta.
Os tripulantes eram em número de seis. Completamente desamparados de socorros lutaram desesperadamente com as ondas. Mas, baldadamente o fizeram; só um deles, de nome Henri Marcel, conseguiu salvar-se a nado. Pode-se fazer ideia do anseio com que levou a cabo a sua dolorosa aventura.
Depois de lhe terem prestado auxílio no Posto de Socorros a Náufragos, o pobre marítimo veio para Lisboa. O seu estado não apresenta gravidade. Dirigiu-se ao consulado do seu país.
O pessoal do posto semafórico de Oitavos solicitou que fossem iniciados os trabalhos necessários para ver se é possível encontrar os cadáveres dos infortunados marinheiros.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 24 de Dezembro de 1927)

O naufrágio da chalupa “Marie Yvone” permitiu-me perceber, que a forma mais segura para detectar estas embarcações seria quando naufragavam. E os sinistros foram-se repetindo, eventualmente sem fim à vista e talvez até aos anos 50, como se encontra acima referido. Outros casos conhecidos são:

Naufrágio em Peniche
Por telegrama recebido no Ministério da Marinha, foi confirmada que por alturas de Peniche naufragou o barco lagosteiro “Ripe”, de nacionalidade francesa, salvando-se a tripulação. O “Ripe”, que conduzia muitas lagostas, considera-se perdido.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 27 de Março de 1928)

Mesmo desconhecida a existência de notícias publicadas em jornais, relacionadas com outros sinistros, consta em documentos oficiais o naufrágio da chalupa “Ty-Onor”, na Papôa, Peniche, em 2 de Junho de 1931. Embarcação com 29,70 toneladas de arqueação bruta, encalhou na costa, por falta de vento.
Uma outra chalupa denominada “Fleur des Eaux”, com 34,00 toneladas de arqueação bruta, afundou-se com água aberta a cerca de 3 milhas a sul do Cabo Carvoeiro, em 9 de Junho de 1933. Os tripulantes foram resgatados com vida por uma traineira.

Como acrescentava no texto anterior, o motivo de tal alheamento que permitia esta actividade piscatória ilegal, passava pela inexistência de meios navais adequados ao serviço de fiscalização, situação entretanto resolvida pela Marinha, depois de uma razoável quantidade de reclamações sistematicamente apresentadas pelos pescadores, sujeitos a insultos e quantas vezes a propiciarem conflitos com dramática gravidade. Tempos difíceis, somente ultrapassados anos depois com a modernização e a renovação das unidades após 1933, decapitando o exagero e a ousadia de explorar os recursos do mar, que nos pertence por herança e por direito.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Navios consagrados pela história!


A viagem inaugural do “Edinburgh Castle” (3)

Southampton, 2 – Partirá brevemente, deste porto, o paquete “Edinburgh Castle”, na sua viagem inaugural, para a África do Sul. Trata-se do segundo paquete fabricado no pós-guerra, pelos srs. Harland & Wolff, Ltd., para a Union Castle Line.
Este magnifico paquete de 28.705 toneladas de registo bruto, é movido a turbinas. As acomodações para passageiros, distribuídas pelas suas seis cobertas, comportam 227 passageiros de 1ª classe e 478 de classe «cabine», tendo, a maioria dos camarotes, de um a três beliches. Ambas as classes possuem espaçosos «decks», com solário, quadras para jogos e recintos para desportos, dança, etc.
Como acontece no “Pretoria Castle”, há, neste novo paquete ar condicionado, em diversas salas e enfermarias, e o sistema de iluminação indirecta usado nos últimos paquetes construídos para a Union Castle, foi prodigamente instalado em todo o navio.

Poster da Union Castle Line com anúncio dos portos de escala
Pinterest - Colecção de Jean Dwulit, "Mer & Bateaux"

Características do navio de passageiros “Edinburgh Castle”
Armador: Cayzer, Irvine & Co. Ltd., Londres
Operador: Union-Castle Mail S.S. Co. Ltd., Londres
Nº Oficial: N/d - Iic: G.O.H.N. - Porto de registo: Londres
Construtor: Harland & Wolff Ltd., Belfast, Escócia, 11.1948
Arqueação: Tab 28,705,00 tons - Tal 16.101,00 tons
Dimensões: Pp 227,82 mts - Boca 25,61 mts - Pontal 9,76 mts
Propulsão: Do construtor, 2 turbinas - 2 veios-hélices - 22 m/h
Acomodações para 705 passageiros

Pintura do navio "Edinburgh Castle", de autor desconhecido
Pinterest - Colecção de Fernando Berenguer

As cabines de 1ª classe foram construídas de forma a todas terem vigia, detalhe muito importante nas viagens em águas tropicais.
Entretanto, muitas das cabines tem casa de banho privativo, e, para os passageiros que necessitem de comodidades especiais, existe um certo número de cabines de luxo, também com casas de banho privativas e ainda duas «suites» igualmente de luxo.
Durante a viagem, haverá sessões de cinema, tanto no salão de primeira como no da classe «cabine». Existem piscinas cobertas e ao ar livre, bibliotecas bem fornecidas, e uma sala de ginástica, com aparelhos de remo, equitação, ciclismo, etc., além de diversas outras atracções. Cada classe tem uma sala de recreio para crianças, com variedade de brinquedos e jogos.
O “Edinburgh Castle” é comandado nesta primeira viagem, pelo capitão T.W. MacAllen, que comandou o “Llangibby Castle”, durante as criticas operações do dia «D», e, bem assim, quando o mesmo paquete foi empregado no transporte de 100.000 soldados de Southampton para França.
(In jornal “O Século”, segunda-feira, 3 de Janeiro de 1949)

Foram entretanto completados 27 anos a navegar entre a Inglaterra e a África do Sul. O navio efectuou a última viagem com início em Southampton, em meados de Abril de 1976, chegando a Durban no dia 10 de Maio, para descarregar toda a mercadoria que transportava. A partir deste porto sairia para cumprir a derrota final, com destino a Kaohsiung, ali chegando a 3 de Junho, onde viria a ser demolido.

sábado, 22 de julho de 2017

Apresentação de livro sobre naufrágios!


Os “Naufrágios no «Mar de Viana»”

O capitão da marinha mercante Manuel de Oliveira Martins apresentou no «Centro do Mar», instalado à face da ré do navio “Gil Eanes”, no último sábado, dia 15 p.p., ao final da tarde, o seu terceiro livro, desta feita subordinado ao tema “Naufrágios no «Mar de Viana»”.
Com esta publicação fica quase completa a história marítima do porto e cidade de Viana do Castelo, tendo em linha de conta os trabalhos anteriormente editados, sobre os «Pilotos da barra de Viana - 1848/1948 -, cem anos de história» e «Viana e a pesca do bacalhau», livros publicados em 2010 e 2013 respectivamente.


Muito embora não se trate de uma pesquisa exaustiva, sobre os sinistros marítimos que abrangem a área definida por «Mar de Viana», tarefa que a meu ver se revelaria complexa e de extrema dificuldade, o livro tal como se apresenta, condensa uma considerável quantidade de ocorrências, algumas das quais ainda muito presentes, naqueles que de alguma forma tem ou tiveram actividades ligadas ao mar.


Presidiu à cerimónia de lançamento do livro o digníssimo presidente da Câmara de Viana do Castelo, Eng.º José Maria Costa, que numa breve saudação, aludiu ao interesse cultural que lhe merecem as obras do autor, em prol da herança marítima que tem vindo a ser preservada através dos seus livros, para memória futura.
O prefácio do livro está assinado pelo presidente da autarquia e pelo Dr. José Carlos de Magalhães Loureiro, do Centro de Estudos Regionais, a quem coube a apresentação do mesmo.
Sobre o livro propriamente dito falou igualmente o autor, que na oportunidade lembrou ter ele mesmo vivido uma situação de naufrágio. Dadas as circunstâncias dessa distante ocorrência, de certa forma comparada com alguns dos sinistros agora retratados, serviram de base e forte motivação para abraçar este trabalho, que visa paralelamente homenagear todos quantos perderam a vida neste mar.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

História trágico-marítima (CCXXVII)


O encalhe e perda do rebocador “Aghios Georgios II”

Um cargueiro de 4.000 toneladas com as luzes acesas e
sem sinal algum de vida a bordo encalhou na Ericeira e os
habitantes da vila assistem surpreendidos ao naufrágio.
Ericeira, 1 (às 3 horas e 30 minutos) – Cerca das 2 horas, alguns habitantes desta localidade viram, com grande surpresa, um cargueiro de umas 4.000 toneladas aproximar-se, com todas as luzes acesas, vindo a encalhar a uns vinte metros da areia desta praia, e a uns dez metros da muralha do hotel da Ericeira.
Assestando luzes de automóveis, sobre o barco, lançando foguetes e disparando pistolas, foi tentado chamar a atenção da tripulação, mas esta, até agora, não respondeu. É de supôr, por isso, que tenha abandonado o barco, ou que qualquer coisa de muito extraordinário se tenha passado a bordo.
Pela maneira como as luzes decrescem de intensidade, é de admitir a hipótese das caldeiras estarem apagadas ou a diminuir a sua pressão. De qualquer modo, o barco, dados o local onde se encontra e a grande rebentação do mar, deve considerar-se perdido, pois é varrido, constantemente, de um lado ao outro, por vagas alterosas.
Quanto à tripulação, se o abandonou e navega em lanchas, corre grande perigo de naufragar. Ninguém por aqui acredita, que se trate de um barco português, pois só um piloto que desconheça completamente a nossa costa cometeria o erro de se aproximar tanto de terra, nesta zona. É no entanto possível, que o piloto, dado o facto do hotel da Ericeira se encontrar fortemente iluminado, por motivo da festa da passagem do ano, se tenha convencido que estava em Cascais.
Enfim, fazem-se muitas conjecturas, mas nada se pode afirmar concretamente senão isto: o barco encontra-se à mercê das vagas, ignora-se o paradeiro da tripulação e não há aqui qualquer meio de salvamento, que lhes possa acudir.
(In jornal “O Século”, sábado, 1 de Janeiro de 1949)

Imagem do encalhe do rebocador publicada no jornal

Não foram encontradas as características do rebocador de alto-mar “Aghios Georgios II”, encalhado e desfeito pelo mar na Ericeira. Por tratar-se de navio idêntico ao rebocador sinistrado, eis as características do “Marigo Matsa”, como segue:

Armador: Loucas Matsas & Sons, Pireu, Grécia
Nº Oficial: N/d - Iic: S.V.A.A. - Porto de registo: Pireu
Construtor: L. Smit & Zoon, Kinderdijk, Holanda, 1900
ex “Poolzee”, N.V.L. Smit & Co., Sleepdienst, Holanda
Arqueação: Tab 304,00 tons - Tal -,- tons
Dimensões: Pp 40,97 mts - Boca 8,38 mts - Pontal 3,86 mts
Propulsão: Maats. de Schelde, 1:Te - 3:Ci - 141 Nhp
Equipagem: 15 tripulantes

O mar está a destruir o barco que encalhou na Ericeira e que foi
abandonado, devido ao temporal, pelo navio que o rebocava
Um pequeno navio encalhou na praia da Ericeira, na madrugada de sábado, facto que provocou ali grande alarme, pois uma parte da população, por ser noite de festa, encontrava-se ainda a pé. Foi do hotel da Ericeira onde, entre outros, se encontrava o ex-rei Humberto de Itália e o sr. engº. Aulânio Lobo, da Sociedade Geral de Transportes, seu filho Artur Lobo e o médico municipal, dr. Franco, que primeiramente notaram o sinistro e logo tomaram providências para socorrerem o barco e os seus tripulantes, pois aqueles senhores avisaram de imediato as autoridades.
Verificaram, porém, que o navio inicialmente pensado ser um vapor de grande tonelagem, não tinha ninguém a bordo, o que levou a crer que se tratasse de um barco que vinha a reboque de outro, tanto mais que todas as luzes estavam acesas, o que está previsto pelo regulamento marítimo, sempre que um navio navega a reboque e sem tripulação.
De terra fizeram sinais luminosos, desfecharam tiros e lançaram foguetes, para atrair a atenção de possíveis tripulantes. Mas de bordo não veio nenhum sinal de vida, e o navio, batido pelas vagas, foi atirado de encontro às rochas e ao areal da praia de banhos, no local denominado “Lago da Baleia”.
De manhã, na baixa-mar, verificaram que o barco – um rebocador de alto-mar de nacionalidade grega – tinha um grande rombo na proa, no ponto em que assentou nos rochedos. Como o navio estivesse apenas a 20 metros da praia e a 10 da muralha do hotel e o mar o consentisse, de manhã foram a bordo os srs. Domingos Leitão Correia, delegado marítimo; João de Deus Oliveira, comandante dos bombeiros locais, que acorreram logo que o navio encalhou; o cabo-de-mar Luís Álvaro Lopes, os quais verificaram que a bordo apenas se encontrava um gato, que trouxeram para terra e que as portas dos beliches estavam fechadas e seladas, sinais evidentes que o navio vinha a reboque e em regime de despacho.
De facto na manhã de ante-ontem entrou no Tejo o rebocador de alto-mar “Marigo Matsa”, de 309 toneladas, da praça do Pireu, com quinze homens de tripulação, sob o comando de Demetrios Polemis, consignado à casa Pinto Basto.
Foi percebido então o que se passara. Este rebocador, que procedia de Southampton, trazia a reboque outro rebocador de alto-mar da mesma tonelagem, o “Aghios Georgios II”, que fora adquirido na Inglaterra, onde tinha o nome de “Trinit” (?) e se destinava ao Pireu, onde iria ser reconstruído, visto tratar-se de um barco já velho.
Os dois rebocadores fizeram escala por Vigo, para o “Marigo Matsa” ser reabastecido e substituir alguns tripulantes. Estes são de nacionalidade inglesa, grega e mexicana. O rebocador com o outro a reboque saíram de Vigo com destino a Gibraltar, onde fariam escala. O “Aghios Georgios II” seguia sem tripulação e, como é da lei marítima, um dispositivo de relojoaria, próprio para o efeito, acendia as luzes a determinada hora e apagava-as ao nascer do dia.
O encalhe do “Aghios Georgios II”
O temporal obrigou o comandante do “Marigo Matsa”
a cortar o cabo que o prendia ao outro rebocador
Ao norte das Berlengas, o temporal assumiu tais proporções, que o “Marigo Matsa” começou a estar em perigo. As vagas cobriam o rebocador, que dificilmente conseguia avançar açoitado pelo mar e pelo vento. Foi então que o comandante, como é de uso ser feito em tais emergências, mandou cortar o cabo que o prendia ao navio rebocado, abandonando-o aos caprichos do mar. Ao mesmo tempo fez um aviso à navegação para se precaver naquelas paragens – a seis milhas das Berlengas – contra o casco abandonado.
O “Marigo Matsa” veio então para Lisboa, onde o seu
comandante deu parte do sinistro às autoridades marítimas.
Atraídas pela notícia centenas de pessoas foram até à Ericeira, para admirar o rebocador encalhado. Este considera-se perdido, não só pelo local onde encalhou, mas também pelos danos que nele está a causar o mar tempestuoso.
Já começaram a dar à praia alguns utensílios de bordo e apareceu no areal um cachorro morto, que se crê ter estado a bordo do barco sinistrado. Este como não trazia tripulantes, também não tinha a bordo roupas ou quaisquer outros objectos usados por pessoas.
Ontem estiveram na Ericeira o comandante do “Marigo Matsa” e o agente do Lloyds, a fim de verificarem a posição do barco. Muita gente dos arredores também afluiu ontem ao local.
(In jornal “O Século”, segunda-feira, 3 de Janeiro de 1949)

quinta-feira, 20 de julho de 2017

História trágico-marítima (CCXXVI)


O encalhe e subsequente naufrágio do vapor "Henry Mory"

Em Peniche
Encalhou um vapor francês de carga
Devido ao nevoeiro que caiu sobre a costa, encalhou, esta manhã, pelas 7 horas, em frente do Forte da Luz, em Peniche, o vapor de carga francês “Henry Mory”.
Levava 30 homens de tripulação e bastante carga.
O comandante do navio, com os recursos de que dispõe a bordo, conta desencalhá-lo de madrugada. Para o local seguiu o vapor-rebocador “Patrão Lopes”, para lhe prestar socorros.
Informam de Peniche, que de bordo do navio francês “Henry Mory”, ali encalhado, foi tirado para a praia, em batelões, o carvão que transporta, esperando ser safo esta madrugada.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 7 de Outubro de 1931)

Imagem do encalhe do vapor "Henry Mory"
Foto da colecção do Sr. João Paulo Leitão
Publicada na página do facebook «Eu sou de Peniche!»

Características do vapor francês “Henry Mory”
Armador: Union Indust. & Maritime et Soc. Française d’Armament
Operador: S.A. de Navegation “Les Armateurs Français”, Rouen
Nº Oficial: N/d - Iic: O.U.G.Y. - Porto de registo: Rouen
Construtor: Ateliers & Chantiers de Bretagne, Nantes, 1920
ex “Martine” - proprietário desconhecido
ex “Thorium”, Société Industrielle de Combustibles, Nantes
Arqueação: Tab 2.564,00 tons - Tal 1.517,00 tons
Dimensões: Pp 89,15 mts - Boca 13,23 mts - Pontal 5,97 mts
Propulsão: Turbina a vapor do construtor
Equipagem: 30 tripulantes

O encalhe do vapor “Henry Mory”
A fim de proceder a trabalhos que se relacionam com o encalhe do navio de carga francês “Henry Mory”, que ante-ontem, devido ao forte nevoeiro, encalhou nuns rochedos próximo de Peniche, seguiu hoje, de automóvel, para ali, o sr. Henry, chefe do armamento da empresa proprietária do referido navio, com cujo comandante conferenciou.
Às 14 horas apenas se avistava parte dos mastros do “Henry Mory”, que se acha adornado a um dos bordos.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 9 de Outubro de 1931)

terça-feira, 18 de julho de 2017

Leixões na rota do turismo! (11/2017)


Na primeira quinzena de Julho

De acordo com a informação prestada no post anterior, apenas quatro navios de passageiros estiveram de visita ao porto neste período. Há a sublinhar a primeira escala em porto do navio "Island Sky", cuja presença tem sido notada com regularidade nos portos do sul do país. Porque os navios de guerra são igualmente atractivos, merece do mesmo modo ser realçada a primeira visita ao porto do navio de assalto anfíbio espanhol "Castilla", principalmente pela novidade que este tipo de navios apresenta e representa.

No dia 3, o navio de passageiros "Oriana"
Chegou de Southampton, tendo saído com destino a Gibraltar

No dia 5, o navio de passageiros "Silver Spirit"
Chegou procedente da Corunha, seguindo viagem para Lisboa

No dia 9, o navio de passageiros "Island Sky"
Chegou procedente de Lisboa, tendo saído com destino à Corunha

No dia 12, o navio de passageiros "Tui Discovery 2"
Chegou procedente de Vigo, tendo também saído para Lisboa

O navio LPD L52 "Castilla"
O navio de assalto anfíbio L52 “Castilla” é a segunda unidade da classe L51 “Galicia”. Foi construído nos estaleiros Bazan, em Ferrol del Caudillo. Encontra-se na situação de serviço activo desde 26 de Junho de 2000. Tem 13.815 toneladas de deslocamento, 160 metros de comprimento, 25 metros de boca e 16,8 metros de pontal. A propulsão assegura uma velocidade de 20 nós e tem capacidade para percorrer 6.000 milhas náuticas, à velocidade máxima de 12 nós. A guarnição é composta por 190 tripulantes.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

História trágico-marítima (CCXXV)


Navio novo
Deve ser hoje lançado à água, em Gaia, o lugre “Luctador”, de 700 toneladas, que acaba de ser construído nos estaleiros do Sr. Alfredo de Fonseca Barros.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 29 de Novembro de 1917)

Na realidade este lugre não foi construído, mas sim reconstruído, sobre o cavername do brigue norueguês “Anna”, que havia sido desmastreado em 1910, para ser adaptado a servir de laita (termo aportuguesado do inglês “lighter”), nos portos do Douro e Leixões, devido à enorme destruição de diversos navios mercantes, fragatas e batelões de carga, durante a grande cheia no rio, que teve lugar entre os dias 22 a 24 de Dezembro de 1909. Apresentava à data as seguintes características: 

Brigue norueguês “Anna”
Armador: A.J. & C. Amundsen, Sarpsborg, Noruega
Nº Oficial: N/d - Iic: N/d - Porto de registo: Sarpsborg
Construtor: N/d, Sannesand, Noruega, Setembro de 1870
Arqueação: Tab 219,00 tons - Tal 199,00 tons
Dimensões: Pp 34,26 mts - Boca 7,45 mts - Pontal 3,66 mts
Propulsão: À vela

Gravura de galera não identificada em situação de naufrágio
Desenho de Charles Dixon - (Ilustração Portuguesa Nº736 - 29.3.1920)
Sem correspondência ao texto

Lugre portugues "Luctador"
Não há informação completa sobre as características do lugre após a reconstrução, excepto em relação aos novos proprietários, identificados por Alfredo da Fonseca Barros em sociedade com a Companhia Agrícola e Comercial dos Vinhos do Porto.
Esteve matriculado na Capitania do Douro, com o nº de registo B-105, com as letras H.L.U.T., do Código  Internacional de Sinais e arqueava 314,00 toneladas liquidas.

O lugre “Luctador” naufragou no dia 10 de Agosto de 1918, por motivo de incêndio a bordo, quando se encontrava a cerca de 110 milhas náuticas do porto de São Luiz do Maranhão, Brasil, em viagem para o Porto. Não há notícia sobre os náufragos.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 21 de Agosto de 1918)

quinta-feira, 13 de julho de 2017

História trágico-marítima (CCXXIV)


Com um rombo no porão atracou no porto de Leixões o navio
de carga “Borba”, após colidir com rochedos na Boa Nova

Às 20 horas de ontem (04Jan49) chegou a Leixões o vapor “Borba”, de 7.000 toneladas, pertencente à Sociedade Geral de Transportes, com 6.000 toneladas de carvão para a firma lisbonense Harold, Lda., e destinado à C.P.
Recentemente lançado à água em Inglaterra, pois foi construído nos estaleiros de Sunderland, o “Borba” fazia a sua primeira viagem. Logo à partida daquele país suportou um violento temporal, aguentando-se magnificamente.
Ao chegar a Leixões, como o mar estava agitado e era grande a cerração, o comandante, sr. José Matos Neves, verificando que não podia entrar no porto, pediu piloto, tendo-lhe sido respondido, da respectiva corporação, que o prático da barra só podia dar entrada ao navio às oito horas.
Cerca das quatro horas, porém, o “Borba” aproximou-se demasiadamente da terra devido à agitação do oceano (a) e foi bater contra os rochedos da Boa Nova. Com um rombo no porão Nº, o navio começou logo a ficar inundado. Vendo-se impotente para esgotar a água com os recursos de que dispunha, a tripulação fez, durante três horas, repetidos toques de sirene, pedindo socorros, mas sem resultado.
Então às 7 horas, verificando que os pilotos não acorriam ao seu chamamento, o capitão do “Borba” resolveu entrar no porto com diligente sucesso.

Foto do navio "Borba" em Leixões
Imagem da Fotomar - Matosinhos

Características do navio “Borba”
Armador: Soc. Geral de Comércio, Indústria e Transportes, Lisboa
Nº Oficial: H-378 - Iic: C.S.I.Y. - Registo: Lisboa, 25.Abril.1949 (?)
Construtor: Wm. Doxford & Sons, Ltd., Sunderland, Inglaterra, 1948
Arqueação: Tab 4.457,25 tons - Tal 2.620,93 tons - Pm 7.145 tons
Dimensões: Ff 129,66 mts - Pp 123,99 mts - Bc 16,38 mts - Ptl 7,04 mts
Propulsão: Do construtor - 1:Di - 4:Ci - 3.800 Ihp - 13,5 m/h
Equipagem: 23 tripulantes

Solicitados os socorros dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça, compareceram estes, a bordo do navio com duas moto-bombas, e iniciaram o trabalho de esgotamento da água, enquanto os tripulantes procediam à rápida descarga do navio. Mas as duas bombas não conseguiam esgotar a água entrada a bordo e, então, foi pedido o auxílio dos Bombeiros Voluntários Portuenses, que acudiram rapidamente com uma moto-bomba que tira 3.000 litros de água por minuto. Simultaneamente, um mergulhador desceu para avaliar a extensão do rombo.
Logo que o “Borba” esteja vazio será reparado, visto não ser aconselhável a sua partida para Lisboa com o rombo produzido pelo choque.
Assim que tiveram conhecimento do sinistro, vieram de Lisboa, num avião especial, os srs. engº Aulânio Lobo, comandante Otero Ferreira e engº.s Rodrigues dos Santos e Sousa Mendes, respectivamente, administrador, secretário-geral, director dos serviços técnicos e engenheiro dos estaleiros da C.U.F. Ao mesmo tempo vieram, em camionetas, duas bombas para serem utilizadas no esgotamento da água, se fosse necessário.
O “Borba” trouxe de Inglaterra 23 homens, incluindo o comandante; o imediato, sr. Manuel Piorro, de Buarcos; 2º piloto, sr. António Ribeiro da Silva, de Miranda do Corvo, e 1º maquinista, sr. José Júlio Duarte, de Lisboa. Como passageiro vinha o sr. Henrique Duarte, superintendente de máquinas da Sociedade Geral de Transportes.
O “Borba” é a terceira unidade de uma série de quatro navios do mesmo tipo, que a Sociedade Geral de Transportes mandou construir em Sunderland.
Ao fim da tarde, o “Borba”, aliviado de parte da carga, atracou à doca velha, em Leixões. No local compareceram as corporações dos Bombeiros Voluntários Portuenses e de Leixões, a fim de, com as suas moto-bombas, esgotarem a água dos porões inundados. Os trabalhos prosseguiram durante a noite e devem prolongar-se até de madrugada.
(In jornal “O Século”, quinta-feira, 6 de Janeiro de 1949)

(a) Numa situação de forte agitação marítima, por norma mais agressiva próximo da linha de costa, os navios devem afastar-se para o largo, onde encontram ondulações passiveis de assegurar melhores níveis de navegabilidade e segurança.
(?) De acordo com a Lista dos navios mercantes nacionais, referida a 1 de Julho de 1949, constata-se que o navio efectuou transporte de mercadorias, abriu um rombo, de acordo com a notícia supra, e muito provavelmente completou a necessária reparação, antes de ter realizado a respectiva matricula na Capitania de Lisboa!

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Navios consagrados pela história!


O navio de passageiros italiano "Rex"

Em Itália
Um transatlântico assombroso

Imagem do lançamento à água do navio "Rex"
Foto de autor desconhecido
Colecção Pinterest - Todd Neitring

Foi lançado à água, pela sociedade italiana Ansaldo, em Sestri-Ponente, um dos maiores paquetes que o mundo tem visto. É o “Rex”.
Ao acto de lançamento, que assumiu foros de acontecimento sensacional, assistiram os reis de Itália e uma multidão espantosa. Na verdade, houve razão para tudo isso. O “Rex” fica sendo talvez o primeiro paquete do Atlântico.

Cartão postal do navio com as datas da conquista da flamula azul
Colecção Pinterest - Ted Tidious

É um gigante assombroso, cujas proporções, aspecto, velocidade, conforto e segurança são, por si sós, uma afirmação magnífica do que pode o engenho humano. Calcule-se: As dimensões do seu elegante casco são de 268,25 metros de comprimento e 31 de largura, tendo uma altura, desde a quilha à ponte de comando 36,50 metros. É vapor de 50.000 toneladas, tem onze cobertas e quinze porões estanques!
Bastava dizer isto para aos olhos de quem sabe o que é um vapor, o “Rex” aparecer logo como um gigante fabuloso!

Poster da empresa armadora, Génova-Nova York em 6 dias e meio
Colecção Pinterest - Anna Hall

Características do navio de passageiros “Rex”
Armador: Itália Flotte Reunite, Génova, Itália
(Navegazione Generale, Cosulich Line e Lloyd Sabaudo)
Nº Oficial: N/d - Iic: P.E.L.O. - Porto de registo: Génova
Construtor: S.A. Ansaldo, Sestri Ponente, Génova, 09-1932
Arqueação: Tab 51.062,00 tons - Tal 30.823,00 tons
Dimensões: Ff 268,15 mts - Pp 254,13 mts - Bc 29,57 mts - Ptl 9,32 mts
Propulsão: Ansaldo - 12:Tv - 22.082 Nhp - 4 hélices - 27 m/h

Postal ilustrado da empresa armadora do navio
Minha colecção

Mas há mais: Este vapor deve atingir uma velocidade de 27 milhas por hora, qualquer coisa como 50 km, - de modo que, assim, será capaz de chegar da Itália a Nova York em 7 dias!
Vai ser esse, mesmo, o seu destino. Estabelecer, entre a Itália e os Estados Unidos uma linha rápida, - podendo o monstro levar, dentro de si, o número espantoso de 2.000 passageiros, ou mais, distribuídos por quatro classes distintas!

Pintura do navio "Rex" a navegar da autoria de Robert LLoyd
Colecção Pinterest

Como dados curiosos do novo “Rex” é possível adiantar que, na sua construção, entraram nada menos de 28.000 toneladas de materiais metálicos; que o casco pesa mais de 200 toneladas, uma caldeira completa, 180 toneladas; uma turbina de baixa pressão, 80, e que toda a aparelhagem de governo pesa umas 100 toneladas, pesando 160 toneladas as âncoras e as correntes!

Foto do navio com registo da firma detentora da mesma
Colecção Pinterest

As hélices têm 5 metros de diâmetro. E a superfície de conjunto dos alojamentos, salões e corredores é de uns 40.000 metros quadrados!
Na construção do “Rex”, ocuparam-se, trabalhando ao mesmo tempo, mais de 2.000 operários! Tal é, em breves palavras, o arcaboiço deste monstro que a Itália acaba de ver concluído nos seus estaleiros – para assombro do mundo e consolação do génio humano!
Que Deus abençoe o “Rex” – em nome e proveito dos que têm de andar pelas águas do mar!
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 8 de Outubro de 1931)

Foto do ataque ao navio da Força Aérea Inglesa
Colecção Wikipedia

Baía de Capo d'Istria, Triestre, Itália, 8 de Setembro de 1944.
O paquete italiano "Rex" da Itália Line, apesar da tentativa de ser mantido escondido durante a II Grande Guerra Mundial, não conseguiu evitar ser avistado por aviões ingleses da R.A.F., que procederam ao bombardeamento, até à sua completa destruição.
A imagem que documenta o desenrolar do ataque aéreo, regista um lamentável episódio provocado pela irracionalidade governativa de países europeus em conflito, outro momento trágico para lembrar, na história contemporânea das nações.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Leixões na rota do turismo (10/2017)


Na última semana de Junho

Apenas um navio de passageiros esteve de visita ao porto, no período correspondente à última semana deste mês. Antecipamos que o mês de Julho promete da mesma forma ser parco no número de escalas, com diversos navios conhecidos, de regresso a Leixões.

No dia 27, o navios de passageiros "Saga Pearl II"
Tendo chegado procedente de Castellon e saído com destino a Dover

sábado, 1 de julho de 2017

História trágico-marítima! (CCXXIII)


O naufrágio do vapor "Mourão", na barra do rio Douro

– Na restinga do Cabedelo, encalhou ontem o vapor “Mourão”
Os 18 homens da sua tripulação foram salvos por meio do cabo
de vai-vem - As mil toneladas de carvão que constituíam a sua
carga,e o vapor consideram-se perdidos - Momentos de ansiedade
O valor dos pescadores da Afurada
O sinistro deu-se pouco depois das 4 horas. E não obstante, poucos minutos depois, toda a cidade tomava conhecimento dele por informes incompletos, é certo; mas que ainda mais exageravam a sua gravidade.
De que se tratava? Um vapor naufragado à entrada da barra - dizia-se. E acrescentava-se com ar terrificante, que a tripulação não podia ser salva, dada a posição em que o navio se encontrava, e a dificuldade de estabelecer socorros eficazes.
No posto de pilotos, construído na barra, vai uma azáfama própria da ocasião. Fora, olhando o Cabedelo, o enorme banco de areia que se estende ao largo, à distância de umas centenas de metros, vê-se um formigueiro de gente; do outro lado do recife, isto é no mar, encontra-se o vapor naufragado, do qual apenas se divisa a mastreação. O povo junta-se na Foz, a ver o salvamento dos náufragos.

Como encalhou o vapor “Mourão”
O vapor “Mourão”, pertencente à firma desta cidade Guilherme Machado & Cª., da rua da Nova Alfândega, vinha de Cardiff com uma carga de mil toneladas de carvão. O navio é de mil e duzentas toneladas e tinha 18 homens de tripulação.
Depois de ter metido o piloto, preparava-se para entrar a barra. Ao largo estavam outros vapores também para entrar. Próximo da embocadura, o leme falhou, por motivo de se ter partido o «galdrope» (1), e o navio, já sem direcção, começou a ser batido pelo mar, a inclinar para a direita, sobre a restinga, até que encalhou, ficando a uma distância da praia de cerca de 40 metros.
Entretanto, o mar era cada vez mais forte. As ondas encrespavam-se, alagavam o vapor de lez a lez, que imobilizado pelo encalhe, constituía já um perigo para as pessoas que dentro dele estavam.
(1) Cabos de aço ou correntes ligados ao leme, nos navios de maior porte, que transmitem o movimento da roda de malaguetas ao leme, para governo do navio. Também é utilizada a designação gualdrope.

O salvamento dos náufragos
Era urgente cuidar da sua salvação. Foi o que fizeram. De bordo tinham já içado a bandeira de socorro.
Do posto de pilotos saiu o pessoal respectivo, com cabos e foguetões. As lanchas depressa alcançaram a restinga. E então, com o auxílio dos pescadores da Afurada, que afluíram em número considerável, a prestar os seus serviços, foram feitas as primeiras diligências para a montagem do cabo. Todos estes trabalhos foram executados prontamente, rapidamente, conforme as circunstâncias o exigiam.
Foi lançado o primeiro foguetão. Nada! O vento arrastou-o para a esquerda, fê-lo cair na água. De bordo a tripulação havia lançado à água bóias com cabos; as ondas arrastaram-nas até à praia, sendo conseguido por este meio fazer a ligação com o vapor. Assim, o cabo de vai-vem foi estabelecido. A cesta foi puxada de bordo, girando suavemente pelo cabo. E começou o salvamento dos náufragos – os 18 homens da tripulação, e mais um, o piloto que conduzia o navio.
O processo pelo cabo de vai-vem é conhecido. Uma grossa corda liga o vapor a terra. Sobre a corda fica uma cesta onde os náufragos se metem; essa cesta é puxada por meio de outro cabo, e neste serviço, que demanda esforço, é que se utilizam bastantes homens.
Quando os primeiros náufragos tomaram lugar na cesta, as pessoas da terra, pescadores da Afurada, gente da Foz, num admirável gesto de altruísmo e de solidariedade, agarrada ao cabo, a pulso, começou a puxar a cesta. O pequeno saco de lona, com os náufragos dentro, aproximava-se de terra. Mais um impulso – e estavam salvos. Todos acorreram para eles. Os náufragos estavam extenuados, e nos olhos estampava-se-lhes o espanto que o perigo da morte lhes causara.
Afagaram-nos, emprestaram-lhes roupas; meteram-nos numa lancha e seguiram com eles para a Foz, onde outros socorros lhes seriam prestados. E a cesta de salvação continua na sua faina. Outros náufragos vieram para terra; os mesmos socorros, os mesmos desvelos, os mesmos abraços. E assim sucessivamente, até final.
O penúltimo homem a sair do vapor foi o piloto da barra, sr. Manuel Pinto da Costa. Quando saiu da cesta foi logo rodeado por muitos dos seus colegas e pelo capitão do porto, sr Lencastre.
O piloto explicou, em duas frases simples, a origem do encalhe: - Não havia nada a fazer. O «galdrope» quebrou e o vapor ficou sem leme. Não havia nada a fazer!
Foi por motivo dessa avaria que o “Mourão”, tocado pelo mar embravecido e alteroso, que fazia, descaiu para a restinga do Cabedelo, ficando com a proa em frente da praia, encalhado e metendo água em grande quantidade.
Depois do piloto foi salvo o capitão – o sr. João Fernandes Matias Queijeira, de 54 anos, natural de Ílhavo. Quando chegou a terra este velho marinheiro, de rosto tostado, aliviou-se do colete de salvação que trazia vestido, e pediu apenas que lhe dessem água:
- Dêem-me água, estou a morrer de sede. Deram-lhe água. Como os outros náufragos, o capitão do “Mourão” foi conduzido para a Foz, numa lancha, sendo acompanhado por muitos amigos, que o abraçavam e felicitavam pelo salvamento dele e da sua gente.

Foto do encalhe do vapor "Mourão", na barra do rio Douro
Imagem de autor desconhecido

Características do vapor “Mourão”
1923-1928
Armador: Guilherme Machado & Cª., Lda., Porto
Nº Oficial: B-175 - Iic: H.M.O.U. - Porto de registo: Porto
Construtor: Nv Werft Gusto, Schiedam, Holanda, 24.06.1918
ex “Zeehond”, Willem van Dam, Roterdão, 1918-1919
ex “Hoogvliet”, Soetermeer Fekkes, Amesterdão, 1919-1923
Arqueação: Tab 743,72 tons - Tal 467,00 tons
Dimensões: Pp 57,35 mts - Boca 9,15 mts - Pontal 4,50 mts
Propulsão: 1 motor compósito - 10 m/h
Equipagem: 18 tripulantes

Outros pormenores
No banco de areia, que é a restinga do Cabedelo, juntou-se uma enorme multidão. Apesar da agitação das águas do rio, na entrada da barra, os caíques conduziram muitas pessoas. O pessoal dos Bombeiros Voluntários Portuenses foi transportado para o local pela lancha gasolina da capitania, não tendo trabalhado, por não ser necessário.
Na Foz, junto ao posto dos pilotos, compareceram também os Bombeiros Voluntários e os Municipais, bem como a Cruz Vermelha.
No Cabedelo assistiu aos trabalhos de salvamento o sr. dr. Mourão, sócio da firma proprietária do vapor. Alguns dos náufragos, como estivessem encharcados e prostrados, foram conduzidos ao hospital da Misericórdia, pelos Bombeiros Voluntários Portuenses, recolhendo à sala de observações. Os outros foram uns para suas casas, outros para casa de pessoas amigas e um deles, por ordem dos proprietários do vapor, para o restaurante Malhão.
Houve, na Foz, varias pessoas ali residentes que ofereceram roupas aos náufragos. Uma dessas pessoas foi a sra. Dª Maria Valado.

Quem são os tripulantes do vapor encalhado
José Fernandes Matias Queijeira, 54 anos, de Ílhavo, capitão; Carlos Domingos Regano, de Ílhavo, imediato; Salustiano Ferreira de Oliveira, o «brasileiro», da Bahia, 1º fogueiro; Abel, do Porto, 2º fogueiro; Filipe Vicente, do Porto, 3º fogueiro; António Francisco, do Porto, chegador; Manuel D. Monteiro, da Madalena, Gaia, chegador; João Fernandes Pinto, de Ílhavo, despenseiro; José Francisco do Bem, de Ílhavo, contra-mestre; Francisco Fernandes Mano, de Ílhavo, marinheiro; João Fernandes Parracho, de Ílhavo, marinheiro; A. Martins, de Viana do Castelo, marinheiro; Mateus Passos, de Viana do Castelo, marinheiro; Augusto Teixeira da Rocha, do Porto, 1º maquinista; Domingos A. Martins, do Porto, 2º maquinista; Laureu, do Porto, 3º maquinista; Domingos Marta, da Vila da Feira, cozinheiro; e Carlos Jaime Martins, da Ilha de S. Miguel, telegrafista.
Os tripulantes que deram entrada no hospital da Misericórdia, com forte comoção e pequenos incómodos são: Parracho, Passos, Mano, Fernandes Pinto e Vicente. O maquinista Teixeira da Rocha, que sofreu fractura nas costelas, foi ali socorrido, recolhendo a casa. Todos estes náufragos foram assistidos pelo sr. dr. José Aroso.

Notas várias
Os livros de bordo foram salvos. Trouxe-os para terra, por incumbência do capitão, o imediato. Também, na oportunidade, foram salvos alguns aparelhos náuticos. Na restinga viam-se latas de bolachas arrojadas à praia, pelo mar.
No banco de areia em frente do qual o “Mourão” está encalhado, era opinião dos técnicos que o vapor estava perdido. Com efeito, a água já o cobria de lado a lado, e o enorme cavername do navio carvoeiro, dava a impressão dum paquiderme estatelado.
Na Foz a multidão era enorme. Foi um verdadeiro espectáculo, em que se misturou o interesse, a ansiedade e a alegria do salvamento.
O “Mourão” e a sua carga estão cobertos pelos seguros.
O salva-vidas de Leixões chegou a sair para a Foz – mas não trabalhou por não ser preciso utilizá-lo. 

O “Mourão” está coberto de água
À meia-noite chegou a informação, recebida do posto de pilotos, que o vapor “Mourão” se encontra coberto de água, mantendo-se no mesmo ponto onde encalhou. É natural que durante a noite a posição do navio se modifique.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 11 de Abril de 1928)

O naufrágio do vapor “Mourão”
Não se modificou ainda a posição do vapor carvoeiro “Mourão”, que ante-ontem encalhou na restinga do Cabedelo, devido a ter-se quebrado o «galdrope» do leme. Salva a tripulação, em número de 18 homens, pelo cabo de vai-vem, o vapor ficou inteiramente abandonado, entregue à maresia, com a água a cobrir-lhe o convés, mantendo apenas a mastreação à vista. O “Mourão”, vencido pela procela, parecia estatelado, aguardando o seu fim. Supõe-se que o navio possa estar arrombado pelo fundo. Considera-se o vapor completamente perdido, devendo o seguro, caso o mar o não destrua, tomar conta dos seus destroços.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 12 de Abril de 1928)

O naufrágio do vapor “Mourão”
O navio continua na mesma posição
Os tripulantes foram ontem a bordo retirando dali as suas roupas
O “Mourão” considera-se perdido
Não se modificou, durante as ultimas 24 horas, a posição do vapor carvoeiro “Mourão”, que na passada terça-feira encalhou na restinga do Cabedelo, quando pretendia demandar a barra, em virtude de uma forte volta de mar lhe ter quebrado o «galdrope» do leme.
Ontem foi ainda muita gente à Foz e ao Cabedelo presenciar o espectáculo do vapor encalhado, e cuja posição em nada se modificou. Na praia, onde se encontrava a Guarda-fiscal, viam-se alguns despojos do vapor, arremessados ali pelo mar, tais como várias peças de madeira, sobretudo carvão que fazia parte da carga. O “Mourão” estatelado no seu encalhe, completamente paralisado, está à mercê do mar, que por vezes o cobre de lado a lado, inundando-o. De mais, o vapor deve estar fortemente arrombado, pelo que se perdeu toda a esperança de o salvar.
A não ser destruído pelo mar, terá de o destruir a mão humana, para lhe aproveitar os destroços.
* * * * * * *
Houve quem estranhasse que os «galdropes» do leme rebentassem, dizendo por isso que não houvera cuidado em verificar o estado do vapor.
Esses reparos caem porém por terra, perante as declarações peremptórias da tripulação do navio. Este fôra reparado em Cardiff, e só depois da vistoria que o deu pronto a navegar, e que ele meteu carga, fazendo-se depois ao largo com rumo ao Porto. A partida de Cardiff foi efectuada no dia 5.
A quebra dos «galdropes» deu-se pela volta de mar, imprevista e violenta, fazer arribar o vapor para a direita, sobre a restinga, sem que houvesse tempo de evitar o encalhe. De resto a tripulação fez tudo para frustrar o sinistro. A avaria foi reparada – mas era tarde, pois nessa altura já o “Mourão” estava assente na areia. Foi então que se cuidou de salvar as vidas.
* * * * * * *
Ontem à tarde, o capitão do “Mourão” sr. João Fernandes Matias Queijeira, acompanhado de alguns tripulantes, como o mar tivesse amainado, conseguiu ir a bordo numa bateira dos pescadores da Afurada, demorando-se ali o tempo necessário para retirar do navio as roupas dos tripulantes e vários objectos de bordo.
Da restinga foi a manobra presenciada por muitas pessoas, sendo os tripulantes que foram a bordo felicitados pelo bom sucesso dos seus esforços, tanto mais que a arriscada proeza já na véspera havia sido tentada, sem resultado, devido ao mar embravecido que fazia.
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O relatório do sinistro, apresentado pelo capitão do “Mourão”, foi já entregue no Departamento Marítimo do Norte.
Os tripulantes do navio naufragado, ainda se encontram no Porto.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 13 de Abril de 1928)

O vapor “Mourão"
O vapor carvoeiro “Mourão”, encalhado no Cabedelo, continua no mesmo lugar.
A tripulação do navio, com o respectivo capitão, sr. Queijeira, voltou ontem a bordo, a fim de retirar os restantes haveres, que ainda lá se encontravam, principalmente diverso vestuário.
A tarefa decorreu sem incidentes, conseguindo os tripulantes o seu objectivo. Na retrete de bordo, onde se tinham refugiado, foram encontradas, vivas, duas aves, um galo e uma galinha, que os tripulantes também trouxeram para terra.
Ao Cabedelo e Foz ainda tem ido bastante gente observar o vapor.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 14 de Abril de 1928)