terça-feira, 29 de outubro de 2013

História trágico-marítima (LXXXV)


O vapor “ City of Glasgow “
1866 - 19??

Ocorrência marítima
Ontem, pelas 10 horas da manhã, quando entrava a barra o vapor “City of Glasgow”, rebocado pelo vapor “Veloz”, tocou nas pedras próximo da «Forcada», desgovernando. Largou a amarreta que o prendia ao rebocador e seguiu até acima da Meia-laranja onde largou ferro.
Pouco depois o “Veloz” passou-lhe novamente a amarreta e puxou-o para o centro do canal, seguindo rio acima, sem outra novidade. Ignora-se se o vapor sofreu alguma avaria no casco, o que só se poderá verificar com segurança quando lhe for feita a costumada vistoria.
(In jornal “O Comércio do Porto”, terça, 5 de Dezembro 1882)

Foto do vapor "City of Glasgow" (I)
Imagem da colecção Photoship.Uk

Identificação do navio
Nº Oficial: N/t - Iic.: W.Q.H.D. - Porto de registo: Glasgow
Armador: C. Connell & Co., Glasgow, 1867-??
Construtor: G. Smith & Sons, Glasgow, 02.1867
Arqueação: Tab 1.168,00 tons - Tal 1.106,00 tons
Dimensões: Pp 69,49 mts - Boca 10,36 mts - Pontal 6,77 mts
Capitão embarcado: Burrell (1882)

Anúncio do movimento de navios no porto do Douro
consignados pela firma Carlos Coverley & Cª.

O vapor “City of Glasgow” chegou ao rio Douro procedente dos portos de Glasgow e Greenock, em 4 dias de viagem, sob o comando do capitão Burrell. Transportava fazendas diversas, vindo consignado a Carlos Coverley & Cª., do Porto.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

História trágico-marítima (LXXXIV)


Vapor “Isle of Bute“

Acerca deste vapor, que ainda há pouco sofreu um rombo ao entrar a barra do rio Douro, consta na lista do Lloyd’s o seguinte telegrama expedido de Shields, com data de 13 do corrente:
«O vapor “Isle of Bute”, capitão Sutherland, de viagem para o Porto, arribou neste porto. Refere que, quando ontem se achava à altura de Souter Point, foi encontrada água a entrar no castelo da proa por uma fenda, que se manifestara num dos costados e por uma chapa que havia junto à água. Entrando no rio, abalroou com uma boia, ficando a hélice avariada.
Por essa ocasião garrou, caindo sobre alguns rebocadores, o “Lady Trejedar”, o “Restless”, o “Victoria”, o “Contest” e outros. Foi contratado um rebocador para o arrastar para fora, conseguindo levá-lo para a amarração mais próxima, mas foi de encontro ao vapor “Petersburgo”, batendo-lhe na quadra da popa, fazendo-lhe um pequeno rombo, e sofrendo ele próprio também uma avaria na parte posterior do casco».
(In jornal “O Comércio do Porto”, segunda, 22 de Janeiro de 1883)

Identificação do navio
Armador: T. Danzell, Liverpool, 1875-18??
Nº Oficial: N/t - Iic.: N.T.S.J. - Porto de registo: Liverpool
Construtor: Desconhecido, Port Glasgow, Escócia, 03.1875
Arqueação: Tab 929,00 tons
Dimensões: Pp 63,89 mts - Boca 10,46 mts - Pontal 6,31 mts
Capitão embarcado: Sutherland (1882)

O encalhe do vapor “ Isle of Bute “
O vapor inglês “Isle of Bute” ao demandar a barra do rio Douro encalhou na restinga do Cabedelo; momentos depois safou, seguindo rio acima, sem novidade.
O vapor entrou na barra do rio Douro no dia 28 de Novembro, procedente de Newcastle, em 8 dias de viagem, com um carregamento de carvão consignado a M.F. Rosas.
(In jornal “Comércio do Porto”, segunda, 29 de Novembro 1882)

Vistoria
Vai ser levado para a praia de Vila Nova de Gaia, a fim de ser vistoriado, o vapor inglês “Isle of Bute”, que como previamente noticiado, encalhou na restinga do Cabedelo quando entrava na barra do rio Douro, presumindo-se que o casco se ache um pouco danificado em resultado daquele incidente.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 2 de Dezembro 1882)

domingo, 27 de outubro de 2013

História trágico-marítima (LXXXIII)


Vapor inglês “Kate Forster”

Naufrágio a sul de Aveiro
Por telegrama oficial recebido no Porto, soube-se que naufragou ontem (13.10.1882) ao sul da barra de Aveiro o vapor inglês “Kate Forster”, procedente de Shields com um carregamento de carvão, consignado aos srs. D.M. Feuerheerd Júnior & Cª., com destino às minas do Braçal.
Ignoram-se por enquanto quaisquer pormenores com respeito ao estado em que se encontra o vapor, ao modo como se deu o sinistro e à sorte da tripulação.
Presume-se apenas que ao tentar a barra de Aveiro, de pouca água e poucas condições de navegabilidade para vapores de certa lotação, encalhasse no Cabedelo.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 14 de Outubro de 1882)

Identificação do navio
Armador: Fisher, Renwick & Co., Ltd., Newcastle
Construtor: Tyne Iron Shipbuilding Co., Newcastle, 09.1879
Arqueação: Tab 580,00 tons - Tal 373,00 tons
Dimensões: Pp 51,66 mts - Boca 8,29 mts - Pontal 3,84 mts
Propulsão: NEME, Sunderland - 1879 - 1:Cp - 2:Ci - 85 Nhp

Naufrágio
Com respeito ao vapor inglês “Kate Forster”, que ante-ontem naufragou a sul da barra de Aveiro, há ainda as seguintes informações:
Procederam desde logo à descarga do carvão que transportava; e se o mar continuar bom, há esperanças de salvar o navio. A fim de o fazer desencalhar e pôr a nado deve sair hoje do Porto, em direcção ao local do sinistro o rebocador “Victória”, levando a bordo o capitão náutico José Cláudio de Mesquita. A tripulação nada sofreu.
O “Kate Forster” vinha consignado aos srs. Carlos Coverley & Cª. e a carga aos srs. D.M. Feuerheerd Júnior & Cª., como anteriormente referido.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 15 de Outubro de 1882)

Naufrágio
Relativamente ao naufrágio do vapor inglês “Kate Forster”, o jornal “Campeão das Beiras” noticiou o seguinte:
O vapor “Kate Forster” não entrou na quarta-feira como se esperava. Apenas ontem se aproximou da barra pela 1 e meia da tarde. Da torre dos sinais perguntaram-lhe a que horas tinha passado em frente do Porto. Responderam de bordo, que tinha sido às 10 horas e meia da manhã. Depois disseram-lhe de cá que a maré era só às 3 horas. Mas o vapor continuou a navegar, passou para o sul, e foi encostar-se à praia, onde se acha e de modo que só por milagre se poderá desenrascar.
Agora os pormenores que parecem ser os mais importantes:
De Aveiro partiu há dias para o Porto o piloto de número Ouvídio Lourenço, a fim de dirigir a manobra das aproximações da barra. Esteve no escritório de Belomonte, tendo ido com um empregado da Companhia das Minas do Braçal para a estação de pilotos da Cantareira. De bordo, porém, não quiseram recebê-lo.
Os pilotos ao avistarem o vapor dirigiram-se nas catraias à praia de S. Jacinto. Levavam uma bandeira e dali fizeram sinal para que o navio se fizesse ao mar. Também de bordo não fizeram caso. As manobras do vapor foram todas por conta do capitão. O resultado foi encalhar o navio na praia do sul do canal.
No local do sinistro achavam-se todo o pessoal da pilotagem, o sr. capitão do porto e o sr. engenheiro director das obras do porto. Esta na praia-mar tem mais 5 palmos de água do que a que exigia o vapor para navegar. Se o prático Ouvídio Lourenço, que o capitão não quis receber nas alturas do Porto, dirigisse a manobra, o “Kate Forster” estaria ancorado em porto, e não havia a registar mais um naufrágio por imperícia da tripulação.
O vapor vinha fretado por 500 libras esterlinas e procedia de Newcastle com carvão de pedra para as Minas do Braçal. Parece que se salvará toda a carga, que se acha segura. Só o casco é que se reputa condenado.
No local do sinistro compareceu logo a alfandega e o vice-cônsul inglês a residir em Aveiro. Não se podem deixar de considerar gravíssimas as acusações que faz o correspondente deste jornal em Aveiro, com respeito à origem do naufrágio.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 17 de Outubro de 1882)

O “Kate Forster”
A respeito do casco deste vapor, naufragado em Aveiro, o jornal “Campeão das Províncias”, refere o seguinte:
O navio conserva-se na mesma posição em que pegou na areia. Procedem já à descarga, mas o processo empregue é moroso, quando era mais fácil baldear tudo na praia. Parece tudo muito primitivo. Mas como o carvão estava no seguro, é por conta dele que corre o negócio.
Quanto ao casco, parece que não há esperança de salvá-lo. O mar não o tem deteriorado por enquanto, mas existe o receio que nas águas vivas não se levante, por estar já bastante assoreado, principalmente ao centro.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 21 de Outubro de 1882)

Arrematação de salvados
Aveiro, 8 – do «Campeão das Províncias»: Realizou-se na última segunda-feira a arrematação dos salvados do “Kate Forster”, naufragado ao S (sul) da barra do porto de Aveiro. Foram arrematados todos os lotes, que ainda eram bastantes, sendo adjudicados a diversos negociantes da cidade, do Porto e de Ílhavo. Ignora-se por enquanto a importância total da arrematação.
A requerimento do respectivo consignatário, foi mandada arrematar no próximo dia 10 do corrente toda a carga salvada do mesmo vapor, e que consta de 250 toneladas de carvão.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 9 de Novembro de 1882)

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

História trágico-marítima (LXXXI)


Barca “ Nova Sympathia “ (2)
1897 - 1899
Armador: Vareta, Santos & Comandita, Porto

A barca “Beltana” ancorada em porto Australiano
Foto «State Library - Governo do Estado Sul da Austrália»

Naufrágio
Por telegrama ontem recebido do Pará sabe-se haver naufragado a 17 do corrente, a leste de Salinas, baía na costa norte do Estado do Pará, no Brasil, a barca “Nova Sympathia”, pertencente à praça do Porto, salvando-se a tripulação.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 22 de Novembro de 1899)

Identificação do navio
Construtor: Sir James Laing, Sutherland, 04.1869
ex “Beltana”, W. Stevens, Londres, 1869-1876
ex “Beltana”, A.L. Elder & Co., Londres, 1876-1897
Arqueação: Tab 734,00 tons
Dimensões: Pp 52,58 mts - Boca 10,24 mts - Pontal 5,85 mts
Propulsão: À vela
Capitão embarcado: José de Oliveira da Velha

A barca “Nova Sympathia”
Este navio, que naufragou na costa norte do Estado do Pará (supostamente na Ilha de Caité, próximo da cidade portuária de Bragança), pertencia aos srs. Vareta, Santos & Comandita, da praça do Porto, era construída de ferro e teca, com a 1ª classe do Lloyds Inglês, tinha a capacidade de 1.000 toneladas, e seguia de Cardiff com um carregamento de carvão para o Pará.
Era um dos melhores navios da marinha mercante nacional, o que representa uma perda importante para a depauperada navegação portuguesa.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 23 de Novembro de 1899)

terça-feira, 22 de outubro de 2013

História trágico-marítima (LXXX)


Barca “ Oliveira “
10.1894 - 08.11.1899
Armador: José Domingues de Oliveira, Porto

Gravura com a barca "Oliveira" no cais da Ribeira
Desenho de autor desconhecido

O naufrágio
Ontem, por volta das 5 horas da tarde, na ocasião em que saía a barra a barca “Oliveira”, pertencente aos srs. José Domingues de Oliveira & Cª., da praça do Porto, ficou à mercê das vagas, em virtude de ter rebentado o cabo de reboque, indo depois encalhar no Cabedelo.
Dado o sinal de navio em perigo, compareceu com grande presteza o pessoal e o material do salva-vidas, estabelecendo em seguida um cabo de vai-vem, pelo qual veio para terra toda a tripulação, que se compunha do capitão sr. João Francisco dos Santos, do piloto sr. José António Cachim, do contra-mestre sr. Francisco Fernandes Bio e de 10 marinheiros.
Não há a lamentar nenhuma desgraça pessoal; apenas o marinheiro José Francisco dos Santos se feriu levemente numa perna, sendo conduzido para a Estação de Socorros a Náufragos, onde ficou.
A barca, que levava carregamento de vinho e outras mercadorias, dirigia-se para Leixões, a fim dali ser desinfectada, devendo seguir depois para Lisboa.
Os pilotos da barra trabalharam corajosamente a fim de arrancar a uma morte certa a tripulação da “Oliveira”. Também prestaram bons serviços os srs. Terra Viana, tenente Pedreira, da Guarda Fiscal; Fernando de Almeida, Mateus de Sousa Fino e grande número de pescadores da Afurada. Compareceram no Passeio Alegre o chefe do departamento marítimo do norte, sr. Pereira Viana e o adjunto sr. Carlos Braga.
Os tripulantes do navio estiveram durante a noite trabalhando no salvamento das suas bagagens.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 9 de Novembro de 1899)

Identificação do navio
Nº Oficial: N/tem - Iic.: H.C.S.T. - Porto de registo: Porto
Construtor: -?-, Bideford, (Prince Edward Island), 07.1881
ex “Parthenia”, William Richards, Charlottetown, 1881-1894
Arqueação: Tab 822,15 tons - Tal 749.00 tons - 2.326,710 m3
Dimensões: Pp 54,71 mts - Boca 10,58 mts – Pontal 6,07 mts
Propulsão: À vela
Capitães embarcados neste navio: David Jenkins (1882/83); Holman (1883/84); David Jenkins (1884 a 1886/87); Tennant (1887/88); Holman (1888 a 1889/1890); Davies (1890 a 1894); João Francisco dos Santos (1894 a 1899)

Anúncio que antecede a viagem para o Brasil

A barca “Oliveira”
Durante a noite de ante-ontem para ontem o mar desfez completamente o casco da barca “Oliveira”, que encalhou ante-ontem no Cabedelo quando saía a barra. Os destroços do navio, bem como muitos barris de vinho, que faziam parte do carregamento, têm sido arrojados à praia.
O sr. Conselheiro Malheiro Dias, director da alfândega do Porto, esteve ontem no Cabedelo dando providências sobre a arrecadação dos salvados. O carregamento da “Oliveira” era importantíssimo, pois além de 1.500 pipas de vinho em barris, constava de outras mercadorias, tudo no valor de cerca de 150:000$000 réis.
A perda da barca “Oliveira” não é lamentável só pelos prejuízos imediatos que causa. É também lamentável pelos transtornos que ocasiona ao comércio da praça do Porto, o qual se aproveitara daquele navio para fazer conduzir mercadorias que haviam de levar ao Brasil o primeiro abastecimento de géneros portugueses, depois da crise angustiosa que a praça do Porto tem atravessado.
Quanto mais demora houver na recepção de géneros portugueses no Brasil, mais tempo ficarão abertos os mercados brasileiros aos produtos de outros países, que nos fazem vivíssima concorrência.
É, pois, muito lamentável que se inutilizasse essa prometedora tentativa do comércio portuense, no intuito de restabelecer as exportações para o Brasil.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 10 de Novembro de 1899)

O naufrágio da barca “Oliveira”
Terminou ontem a arrematação dos salvados da barca “Oliveira”, ultimamente naufragada no Cabedelo, como é sabido. O produto total da arrematação foi de 7:500$000 réis.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 24 de Novembro de 1899)

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

História trágico-marítima (LXXIX)


O abalroamento do vapor "Foscolia"
e o naufrágio do iate "Joven Maria"

Abalroamento e naufrágio
Quando ontem, cerca das 5 horas e meia da tarde, estava para fundear em frente da Ribeira o vapor inglês “Fozcalino” (deve ler-se “Foscolia”), procedente de Girgenti (Agrigento, Sicília, Itália), com carregamento de enxofre, abalroou com o iate “Joven Maria”, mestre Vilão, que no Domingo entrara no rio Douro, procedente de Lisboa, com carregamento de sal, e que se achava ancorado em frente da lingueta chamada da Lenha, junto das escadas da Rainha.
A causa deste sinistro foi não haver sido o vapor detido a tempo de estacionar no ponto que lhe estava destinado, caindo por isso sobre a embarcação ancorada na sua frente.
O vapor foi de encontro à popa da “Joven Maria”, lançando-lhe fora a borda falsa, principiando desde logo a meter água. Trataram imediatamente de procurar puxar o iate para terra por meio de cabos e correntes, aparecendo para isso os srs. José Pereira Santo Amaro, Joaquim Soares Marmelada, capitão António Machado e Joaquim Francisco Paredes, acompanhados de alguns agentes.
Nos diferentes pontos do navio foram ligados cabos e correntes e em seguida presos a terra por meio de ancoretas; porém o iate fazia tal esforço para se inclinar para o lado do rio, que em breve parte desses cabos se romperam e muitos se soltaram em virtude de ser muito movediço o terreno em que estavam firmes as ancoretas.
Solta assim a embarcação, inclinou-se cada vez mais rapidamente, afundando-se inteiramente dentro em pouco, arrastando consigo muitas das pessoas que tratavam do salvamento de parte da carga e pondo em risco, segundo informação recolhida no local, as vidas dos srs. Capitão Machado, Joaquim Paredes e Manuel dos Santos Vitorino, que a nado conseguiram por fim vencer o redemoinho produzido nas águas pelo impulso do navio que se afundava. Felizmente, todas as pessoas que foram à água conseguiram salvar-se; e do “Joven Maria” ficou apenas a descoberto uma parte dos mastros.
O iate pertencia ao sr. Francisco da Rocha Coutinho Ferra e não estava seguro. Julga-se difícil o salvamento do casco e o cálculo dos prejuízos apontam em cerca de 3 contos de réis. Com o impulso do choque foi também ao fundo uma barca carregada de enxofre, pertencente ao sr. Joaquim Guedes.
O vapor “Fozcalino” (deve ler-se “Foscolia”) veio consignado ao sr. José Teixeira da Costa Basto e o carregamento de enxofre pertence aos srs. Fonseca & Araújo. Este navio não sofreu qualquer avaria.
Na ocasião em que se deu o sinistro, caíram à água duas mulheres, uma das quais foi prontamente resgatada para uma barca, mas a outra chamada Maria Teresa, afastou-se mais. Nessa ocasião, conforme referido por um dos salvadores, saltaram imediatamente para a água, vestidos como estavam, o intrépido Simão da Costa Neves e José Romar Carneiro, que briosamente salvaram a infeliz, depositando-a na barca.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 28 de Fevereiro 1883)

Identificação do iate “Joven Maria”
1877-1883
Armador: Francisco da Rocha Coutinho Ferra, Caminha
Nº Oficial: n/t - Iic.: H.C.T.M. - Porto de registo: Caminha
Construtor: Desconhecido, eventualmente em Caminha
Arqueação: 105,777 m3
Dimensões: Desconhecidas
Propulsão: À vela
Mestre embarcado: Vilão (1883)

O abalroamento no rio Douro
O comandante do vapor inglês “Fozcalino” (deve ler-se “Foscolia”), o qual meteu ontem no fundo, por meio de abalroamento, o iate “Joven Maria” e uma barcaça carregada de enxofre, declarou que pagaria os prejuízos causados pelo navio do seu comando, e que fossem especificados pelos árbitros. Há esperanças de tirar o iate do fundo do rio.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 1 de Março de 1883)

Identificação do vapor “Foscolia”
06.1879 - 29.05.1898
(naufragou após colisão ao largo da Ilha do Fogo)
Armador: E.H. Watts & Ward & Co., Londres
Construtor: Mitchell & Co., Low Walker, Junho de 1879
Arqueação: Tab 1.573,00 tons - Tal 1.025,00 tons
Dimensões: Pp 76,81 mts - Boca 10,36 mts - Pontal 6,92 mts
Propulsão: 1 motor Cp provavelmente do construtor
Capitães embarcados: Meerdram (1882)

Abalroamento do “Foscalino” (deve ler-se “Foscolia”)
Reuniram ontem, em casa do sr. José Teixeira da Costa Basto, consignatário do vapor inglês “Foscalino” (deve ler-se “Foscolia”), o dono do iate “Joven Maria” e o recebedor do carregamento de sal do mesmo iate, que foi há dias abalroado por aquele vapor, em frente da Ribeira.
Esta reunião teve em vista os interessados estipularem qual a importância dos prejuízos no iate e no carregamento, causados pelo abalroamento do vapor. Segundo consta, foi acordado em satisfazer uma indemnização razoável pelo carregamento do sal, assim como por uma barca de enxofre que também foi metida no fundo; mas quanto à indemnização pelo casco não chegaram a acordo por ter sido considerada exorbitante a reclamação feita pelo dono do iate.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 3 de Março de 1883)

O abalroamento do “Foscolia”
O dono do iate “Joven Maria”, afundado no Douro, propôs ontem ao consignatário do vapor inglês “Foscolia”, o sr. José Teixeira da Costa Basto, a seguinte regulação de avarias:
Receber 3:000$000 réis, deixando o casco à disposição do dono do vapor; receber 2:500$000 réis e o casco; -ou, finalmente, ser o iate posto a nado e em estado de navegar, por conta do proprietário do vapor, recebendo além disso ele, dono do iate, uma indemnização pelos prejuízos ocasionados em consequência do navio não poder navegar.
A propósito temos a dizer que ainda não foi tomada resolução alguma definitiva acerca da regulação das avarias tanto do casco como do carregamento, visto a primeira conferência dos interessados não haver dado o menor resultado.
(In jornal “O Comércio do Porto”, Domingo, 4 de Março de 1883)

O abalroamento do “Foscolia”
Ficou ontem resolvido amigavelmente o modo como vão ser indemnizados os proprietários do casco e carregamento do iate “Joven Maria”, que foi há dias metido no fundo do rio Douro, por efeito de abalroamento do vapor inglês “Foscolia”. Assim o proprietário do iate, o sr. Francisco da Rocha Coutinho Ferra receberá a quantia de 1:800$000 réis e o casco do navio; e o proprietário do sal será indemnizado em conformidade com o preço que este género obtém presentemente no mercado.
O intermediário em tais negociações foi o comerciante da praça do Porto, o sr. José António Ribeiro da Silva.
(In jornal “O Comércio do Porto”, quarta, 7 de Fevereiro de 1883)

Iate “Joven Maria”
Este navio que se afundou no rio, próximo às escadas da Rainha, em virtude do abalroamento do vapor inglês “Foscolia”, já se acha a descoberto no baixo da Porta Nobre.
O processo seguido para o erguer do fundo do rio foi simples. Na vazante colocaram algumas barcaças em volta do iate, às quais estavam seguras correntes de ferro previamente lançadas por um mergulhador sob a quilha do navio. À medida que as barcaças subiam com a enchente do rio, o iate ia levantando do fundo.
Conseguido este pequeno resultado, o iate foi rebocado até próximo do muro dos Banhos e mais tarde levado para a Porta Nobre, onde se acha. Depois de reparado ali provisoriamente, o iate será conduzido para o estaleiro de Vila Nova de Gaia, para ser convenientemente reparado.
(In jornal “O Comércio do Porto”, Domingo,11 de Março de 1883)

domingo, 13 de outubro de 2013

História trágico-marítima (XIV)


O naufrágio da barca “ Lide “, na praia da Apúlia

Por telegrama expedido ontem para o Porto, soube-se que às 6 horas da manhã do dia 31 de Janeiro, naufragara na praia da Apúlia, próximo a Esposende, a barca “Lide”, pertencente à praça do Porto e propriedade do Sr. João José Ribeiro de Magalhães. A tripulação salvou-se; o casco considera-se perdido mas espera-se salvar alguma carga. A “Lide” procedia de Nova Iorque para o Porto, com carregamento de trigo consignado ao Sr. Joaquim Marques da Nova e alguma aduela; trazia 47 dias de viagem.
O casco estava seguro na companhia Confiança; a carga na Bonança e na Indemnizadora e o frete na Lealdade. Para o local do sinistro partiu ontem mesmo o sr. João J. Ribeiro de Magalhães.
(In jornal “O Comércio do Porto”, 1 de Fevereiro de 1883)

Imagem de uma barca, sem correspondência ao texto

Identificação do navio
Nº Oficial: n/t – Iic.: H.C.S.Q. – Registo: Porto, 1881/83
Armador: João José Ribeiro de Magalhães, Porto
Construtor: Não identificado, Lisboa, Maio de 1863
ex barca “Josephina 2ª”, Lisboa, 1863-1874
ex barca “Clotilde”, Lisboa, 1874-1881
Carena metálica aplicada no navio em 1881
Arqueação: Tab 256,00 tons - Cubicagem 310,682 m3
Dimensões: Pp 34,56 mt – Boca 6,89 mt – Pontal 4,18 mt
Propulsão: À vela
Capitão embarcado: Loureiro (?), 1882

O naufrágio da barca “ Lide “
Com respeito ao naufrágio da barca "Lide", confirma-se que não era o casco que estava seguro na companhia Confiança Portuense, mas apenas parte da carga.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 2 de Fevereiro de 1883)

Ainda sobre o naufrágio da barca “Lide”
A barca "Lide" naufragada na praia da Apúlia, próximo a Esposende, ainda ante-ontem se conservava em bom estado, tendo sido possível salvar algum massame, velame, etc.
A carga consta de 3.000 e tantas sacas de farinha de trigo e uma porção de aduela. Receia-se que o muito mar que faz despedace o navio, no entanto empregam-se esforços a fim de se ver se será possível salvar alguma carga.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 3 de Fevereiro de 1883)

Arrematação de salvados
Foram ultimamente rematados na praia da Apúlia o casco e alguma madeira da barca “Lide”, que, como é sabido, naufragou ali em finais do mês passado. O casco foi arrematado por 170$000 réis e a madeira por 60$000 réis. Os arrematadores foram o sr. Ferreira de Faria e outros indivíduos de Barcelos.
(In jornal “O Comércio do Porto”, sábado, 17 de Fevereiro 1883)

sábado, 12 de outubro de 2013

História trágico-marítima (LXXVIII)


O naufrágio da barca “Guadiana”

Maranhão (São Luís), 19 de Fevereiro – A barca portuguesa “Guadiana”, que devia sair deste porto para o rio Douro, encalhou e há probabilidades de ser perda total. A carga consistia em couros salgados, açúcar e algodão, que se está salvando.

Identificação do navio
Barca “Guadiana” - Iic.: H.C.F.T.
Armador: Companhia Aliança Marítima Portuense, Porto
Construtor: Desconhecido
Capacidade de carga: 415,666 m3

Por informações que obsequiosamente foram transmitidas, foi dado conhecimento que o navio encalhou quando saía na «Coroa de Minerva», dentro do porto do Maranhão, e que depois desencalhara com grande avaria, tratando-se de logo procederam à descarga.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 25 de Fevereiro 1883)

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Os Naveiros


Enfim juntos!...


Depois de múltiplas deambulações por espaços acostáveis menos utilizados, finalmente chegou hoje a hora de poder apreciar parte da frota da Naveiro abandonada em Leixões e para tanto nada melhor do que vê-los de braço dado.


Se por um lado o “Viseu” consolidou a posição que ocupa há muito mais de um ano, tem agora a companhia do “Silves”, visto ainda recentemente a mudar de ancoradouro, para junto da ponte móvel, a passear o espantalho deixado no convés, a lembrar que para além de gente a bordo, os navios foram feitos para navegar.


Ao longe, no terminal de cruzeiros, o “Celebrity Infinity” indiferente ao drama, posava garbosamente imponente ao sol quente deste Outono, a cumprir a missão para que foi construído. Decisões, soluções, coragem, precisam-se urgentemente para que este país, que resiste à tentação de continuar marinheiro, possa brevemente recuperar estes navios e de novo cumprir o mar!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

História trágico-marítima (LXXVII)


O encalhe da escuna “ Result “

Numa nota recebida de Viana do Castelo, informa que ante-ontem (22.11.1867) encalhara à entrada da barra a escuna inglesa “Result”, procedente de Newcastle para aquele porto, com carga de carvão.

Identificação do navio
Armador: Alexander & Co., Bristol, Inglaterra
Construtor: Turnbull’s (?), Whitby, Inglaterra, 1862
Arqueação: Tab 242 tons
Dimensões: Pp 30,79 mts - Boca 7,32 mts - Pontal 4,57 mts
Propulsão: À vela
Capitão: W. Barrick, 1864 (?)

O navio bateu nuns baixos ao sul da barra, em virtude do que abriu muita água. Nesta conjuntura, que ameaçava a vida da tripulação, o capitão decidiu demandar a barra, a fim de entrar ou varar.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 24 de Novembro 1867)

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

História trágico-marítima (LXXVI)


O naufrágio do patacho inglês “Zerlina”
próximo a Viana do Castelo
- 2ª Parte -

O naufrágio do “Zerlina”
Acerca do naufrágio do patacho “Zerlina”, que ultimamente se deu em Viana, o “Aurora do Lima”, daquela cidade, refere os seguintes pormenores:
«Há muito que não lembra aqui um acontecimento tão completo em incidentes próprios a prender todas as atenções, a atrair todos os sentimentos de humanidade, e a estigmatizar a incúria dos que não promovem a aquisição dos meios indispensáveis de salvação num porto de mar, como o que ante-ontem nos alcançou o espírito.
Votada a uma morte iminente, no sentir de todos, sofreu as intempéries de uma noite desabrida a tripulação de um navio que o vento deixou desarvorado, a poucas milhas da barra de Viana e à vista de todos.
Era um patacho, que se via já na manhã do mesmo dia, pelas alturas do Montedor, navegando com proa ao NNO (norte-noroeste). Pelas 3 horas da tarde aparecia de novo ao norte da barra, parecendo procurá-la.
Seguia na volta do S (sul), quando perdeu primeiro o pau da bujarrona, e em seguida o mastaréu do joanete e da gávea. Apenas desarvorou, desfez de rumo e dirigiu-se para a praia do N (norte), sem dúvida com a intenção de encalhar; porém o lugar que procurava só podia assegurar à tripulação uma morte inevitável.
Do semafórico foi comunicado imediatamente ao navio que navegasse para o sul, rumo que tomou logo. Seguindo ao longo da praia e já por entre mares de rebentação, veio fundear em circunstâncias desoladoras ao oeste da barra. O vento era então ONO (oeste-noroeste), e se a amarração faltasse, o navio desfazer-se-ia, longe de terra, numa praia eriçada de penedos, onde cada tripulante seria uma vítima.
Urgia providenciar, e fez-se então sinal ao navio para que picasse os mastros, intimação que apenas cumpriu em parte, cortando o do traquete. Foi nesta situação horrível que a noite o surpreendeu, e das pessoas que o viram à última luz crepuscular, nenhuma esperava tornar a observá-lo.
De noite o vento rondou mais para o N (norte), e pelas 2 horas percebia-se, pela deslocação dos faróis, que o navio caminhava para o S (sul). Tinha-lhe faltado uma amarra, e assim veio com um ferro à garra até largar outro ao S (sul), em frente a uma fogueira que, como se lhe dissera, indicaria o melhor sítio para o desembarque da tripulação.
É admirável como ficou num lugar tão conveniente, vendo-se passar pela popa e pela proa montanhas de água, sem que a sua influência lhe causasse dano algum. Em terra não havia socorros que pudessem prestar-se, e apenas do semafórico se faziam sinais que animasse a tripulação.
Ao meio-dia de ontem começou grande movimento a bordo: o navio ia largar a amarração, mas inoportunamente, porque a vazante devia desviá-lo da praia. Felizmente só com a “cozinheira” e com um “triângulo”, que um golpe de mar que salvou sobre o mastro grande lhe levou em momentos, conseguiu encalhar no melhor ponto da praia, duas milhas ao S (sul) da barra.
A tripulação salvou-se toda por um cabo de vai-vem, que com muito custo veio de bordo, primeiro amarrado a uma pipa, e como quebrasse, foi de novo trazido por uma jangada, ultimo recurso de salvação que os tripulantes haviam construído quando fundeados.
O capitão e o piloto foram os últimos a abandonar o navio. No local do encalhe compareceram as autoridades competentes, muita gente da cidade e das povoações marginais.
O navio é o patacho inglês “Zerlina”, da praça de Liverpool, capitão Tibbits; arqueia 238 toneladas e trazia de New-York a feliz viagem de 28 dias. Carregava trigo, com destino à praça do Porto. O casco só pode salvar-se se o mar cair completamente.
Cumpre registar entre as pessoas que mais se interessaram pela salvação da tripulação o despachante de Viana, sr. João José de Castro, a cuja actividade incansável se deve a saída de Vigo de um rebocador, o “Mastler”, navio inglês, e que nunca desamparou os náufragos na deplorável situação em que se encontraram; o capitão da escuna inglesa “Margareth”, fundeada junto ao cais, John Castell e mais tripulação, cuja boa vontade os não deixou abandonar os lugares mais convenientes para desenvolverem a sua proveitosa actividade em favor dos seus infelizes companheiros; José Fernandes, tripulante do caíque “Nossa Senhora da Conceição”, que foi quem primeiro lançou mão ao cabo lançado de bordo; Benjamim do Espírito Santo, de Viana, a cargo de quem ficou a iluminação da costa, cujo serviço desempenhou com inteligência, correspondendo com muito acerto aos sinais feitos de bordo; José Martins, marinheiro, António da Silva Moreira, sapateiro, Manuel do Rego e José Fernandes, marinheiros, que com Benjamim, se arrojaram denodadamente ao mar para amarrar o cabo e estabelecer o vai-vem.
O navio e a carga consideram-se perdidos.
Na praia permanece o pessoal da fiscalização e durante o resto do dia de ontem concorreu ali muita gente.»
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 19 de Janeiro de 1883)

Salva-vidas em Viana do Castelo
O facto de há dias se ter achado em perigo na barra de Viana do Castelo um patacho inglês e o de ter sido necessário reclamar para esta cidade o barco salva-vidas avivaram por forma tal os sentimentos generosos tantas vezes revelados pela briosa e prestimosa Associação dos Bombeiros Voluntários daquela cidade, que desde logo se abalançou ao empreendimento de reclamar para aquele porto um barco salva-vidas, ficando o serviço inerente a esta aquisição constituindo uma secção da referida Associação.
Nesse intuito dirigiu uma representação ao governo, solicitando ou um barco salva-vidas ou um subsídio para o adquirir; e ao apresentar ao digno governador civil de Viana essa representação recebeu de sua excª. o mais cordial acolhimento e a promessa franca de que a faria chegar ao governo acompanhada não só da recomendação oficial que merecia, mas ainda seguida de uma recomendação particular daquele funcionário.
Depois dirigiu-se à câmara municipal de Viana e esta corporação, compreendendo igualmente o alcance do pensamento que se tem em vista realizar, acolheu-o com a máxima aquiescência, prometendo secundar a representação e contribuir com um subsídio para a fundação do posto do salva-vidas naquele porto.
Depois de invocar esta protecção oficial, restava-lhe a cidade, que soube secundar briosamente a fundação da Associação de Bombeiros Voluntários. Esta, confiando ainda na generosidade dos seus protectores de outrora, vai realizar em Viana um peditório para auxílio ao empreendimento que tentou realizar e que, sem dúvida, realizará.
Nem só Viana do Castelo aproveita com a montagem de uma estação de salva-vidas ali; no mar os socorros não devem conhecer nacionalidades nem conhecer portos; e assim, ficando aquele porto tão perto do Porto, muitas embarcações que para aqui se dirijam ou daqui saiam podem, em caso de perigo, encontrar um valimento nos salva-vidas de Viana. E, sendo assim, a Associação Humanitária dos Bombeiros entendeu, e não entendeu desarrazoadamente, que esta cidade deveria receber bem o pensamento que a animava, por um impulso generoso, digno de todo o elogio.
Foi por isso que veio ao Porto o digno 1º secretário daquela distinta corporação, o sr. José Maria Caldeira, e dirigindo-se já ontem a alguns dos principais comerciantes e armadores de navios, viu a sua missão coroada do maior êxito porque recebeu promessas de importantes donativos destinados a fundos de construção da estação do salva-vidas. Tenciona ainda procurar outros cavalheiros, que sem dúvida corresponderão com igual generosidade à pretensão briosa e louvável da Associação Vianense.
Pela nossa parte, não cessaremos de aplaudir o auxílio prestimoso que essa distinta corporação pretende estabelecer para socorro aos náufragos nas costas do norte de Portugal.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 19 de Janeiro de 1883)

Notícias do reino
Do jornal “Aurora do Lima”, Viana do Castelo, 19 – «Acerca do naufrágio do patacho inglês “Zerlina”, há a acrescentar os seguintes pormenores:
A carga que se compõe de 3.700 sacas de trigo e 6.000 paus de aduela, pertencia à casa comercial da praça do Porto, do sr. Joaquim Marques da Nova, e estava segura em três Companhias, que, dizem ser a Garantia, a Probidade e a Segurança. O seu valor é calculado, aproximadamente, em 21.000$000 réis.
Ontem pela manhã teve início a remoção da carga e foi encontrado ainda algum trigo em bom estado. O navio considera-se perdido.»
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 21 de Janeiro de 1883)

Notícias do reino
Do jornal “Aurora do Lima”, Viana do Castelo, 24 - «Continuam a proceder com toda a actividade ao salvamento da carga que conduzia o patacho inglês “Zerlina”, naufragado ao sul da barra de Viana do Castelo.
O bom tempo que há oito dias tem feito concorreu para esse resultado, porque o mar tem-se conservado sossegado, permitindo assim a extracção de uma grande parte da carga, que, como foi dito, compõe-se de trigo ensacado e aduelas.
O casco do navio, que se acha enterrado na areia e fica completamente a descoberto nas marés baixas, ainda se conserva em bom estado, atenta a sua boa e sólida construção, e, segundo consta, é possível que, tirada toda a carga, se o tempo continuar bonançoso, possa o casco do navio ser posto a nado por meio de pipas.
O trigo salvo está pela maior parte avariado e impróprio para ser entregue ao consumo, no fabrico de pão.»
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 26 de Janeiro de 1883)

Notícias do reino
Do jornal “Aurora do Lima”, Viana do Castelo, 7 - «Na alfândega da cidade procederam ante-ontem e ontem à arrematação da carga do patacho “Zerlina”, naufragado ao sul da barra.»
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 9 de Fevereiro de 1883)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

História trágico-marítima (LXXV)


O naufrágio do patacho inglês “Zerlina”,
(15.01.1883) próximo a Viana do Castelo
- 1ª Parte -

Identificação do navio
Armador: H. B. Bailey & Co., Liverpool, Inglaterra
Construtor: (não identificado), Liverpool, 11.1872
Arqueação: Tab 238,00 tons
Dimensões: Pp 33,53 mts - Boca 8,38 mts - Pontal 3,72 mts
Equipagem: 7 tripulantes
Capitães embarcados: W.H. Freelock (1882) e Tibbits (1883)

Navio em perigo
Ante-ontem, a uma milha a S.O. (sudoeste) da barra de Viana do Castelo estava em perigo um patacho inglês. A tripulação, compreendendo o perigo iminente que corria, lançou ferro e picou os mastros.
Como o vento era fortíssimo e o mar estava muito agitado, as numerosas pessoas que se achavam em terra desesperavam de salvar os tripulantes.
Ontem, porém, segundo constava de um telegrama enviado aos srs. Visconde de Moser e J. Henrique Andresen, pelo sr. governador civil de Viana, a marinhagem do barco, composta de 7 homens, pode ser salva por um cabo que de terra puderam lançar para bordo.
Os srs. Visconde de Moser e J. Henrique Andresen, proprietários de um excelente barco salva-vidas, tencionavam fazer seguir este para Viana, num comboio expresso, a fim de ver se conseguia a salvação dos tripulantes. Em virtude do referido telegrama, foi suspensa a partida do salva-vidas, que ainda chegou a ser conduzido até à estação de Campanhã.
O casco e a carga do patacho consideram-se totalmente perdidos.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 17 de Janeiro de 1883)

Navio em perigo
Com relação à notícia publicada ontem assim epigrafada, narrando sucintamente diversos factos que se relacionavam com um patacho inglês que, ante-ontem, na barra de Viana, corria iminente risco de afundar-se com a tripulação, recebemos do sr. Visconde de Moser a seguinte carta, na qual esses factos são claramente expostos, ampliados e esclarecidos:
«Sr. redactor – Tenho de rectificar uma notícia, que apareceu ontem no seu acreditado jornal, acerca do naufrágio de Viana, na parte que me diz respeito.
Ontem cerca da meia hora depois do meio-dia, o exmº chefe do departamento mandou-me um telegrama, que recebera da Póvoa de Varzim, a pedir o salva-vidas daquela praia, para saber se haveria alguma objecção em deferir ao pedido dele imediatamente seguir para Viana, aonde se achava em perigo de vida a tripulação dum navio.
Na qualidade de membro da comissão do salva-vidas respondi que da minha parte não havia, e de bom grado assumia a responsabilidade que me coubesse, vista a urgência do caso.
Imediatamente depois fui procurado pelo meu colega o sr. Andresen, que me mostrou a demora, que teria o salva-vidas em ir por terra da Póvoa para Viana, e que seria preferível mandar daqui, por um expresso, o que está na Foz.
Concordei; lembrei, porém, que achando-se outro, pertencente à mesma comissão, detido na alfândega, para pagamento de direitos, de que ela esperava ser aliviada, como de razão e justiça, se pedisse ao exmº. conselheiro director daquela casa, que desse licença, para ir esse barco, o que faria mais prontamente, poupando-se muito tempo, que era urgente.
O meu colega logo foi para a alfandega, e seguindo para ali no seu encalce, quando ali cheguei, não só soube que o sr. conselheiro logo tinha atendido a petição verbal, mas encontrei o sr. Andresen dando as devidas ordens, e fazendo as maiores diligencias, para o barco seguir com a menor demora possível, para a estação do Pinheiro, mandando-se recado telegráfico ao patrão na Foz para o acompanhar pelo caminho.
Entretanto, fomos ambos procurar o sr. Governador civil. Expusemos-lhe o ocorrido, e sua exª. prontificou-se a acompanhar-nos até à estação, para se organizar o expresso que devia levar o barco, o meu colega e o patrão. A condução do barco no carro de bois foi inevitavelmente morosa. Chegou só às 2 e meia quando veio parte de Viana, que o navio em perigo, partira as amarrações, e vinha garrando para a costa.
Pouco tempo depois, «que da praia se conseguira passar-lhe um cabo, e salvar 5 homens»; e quando o expresso estava para partir, à pergunta que tivemos a honra de dirigir ao exmº governador civil de Viana, veio a resposta com a feliz nova de «que estava salva toda a tripulação, e era desnecessário o salva-vidas».
Eis a simples narração do que se passou. Fez-se o que era humanamente possível; manda porém a justiça que se diga que foi inexcedível a boa vontade e energia com que o sr. Andresen desempenhou o papel que lhe coube neste incidente, em que não afrouxaria quando mesmo outros sacrifícios dele fossem reclamados. Sua boa alma é conhecida; e muita honra cabe às autoridades, que dão seu valioso apoio aos esforços dos particulares para o bem. (ass.) Visconde de Moser»
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 18 de Janeiro de 1883)

- continua -

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Navios de passageiros em Leixões


Setembro, mês dos cruzeiros (2)


O "Seven Seas Voyager" fez escala no dia 20



O "Deutschland" também fez escala no dia 20



O "Artania" esteve em porto no dia 22



O "Black Watch" fez escala no dia 24



E o "Dolphin" regressou ao porto no dia 26



A cumprir a segunda viagem, depois da escala no dia 15, os passageiros do "Celebrity Infinity", não foram felizes com o tempo, no dia 28, justamente na celebração do dia mundial do Turismo.