terça-feira, 22 de março de 2011

Notícias dos Açores (III)


O naufrágio do “ Quatre Frérès “

A praia de porto Pim, na Horta
(imagem do sítio das cidades.pt)

A 17 de Julho de 1918 encalhou na baía de porto Pim, na cidade da Horta, o patacho francês supra referido, com 350 toneladas de arqueação bruta e 10 tripulantes, procedente da Terra Nova e carregado com 300 toneladas de bacalhau.
Aquando do naufrágio, que aconteceu por motivo de mau tempo, puderam salvar-se o velame, a bagagem dos tripulantes, mantimentos, dois canhões e seus acessórios, mastros e vergas, bem como parte do carregamento. O patacho “Quatre Frérès”, que navegava com destino a França, trazia 20 dias de viagem até dar à costa na ilha Faialense.
In (Jornal “O Século”, de 11 de Setembro de 1918).

domingo, 20 de março de 2011

Notícias dos Açores (II)


O n/m “Ponta da Barca”
1998 - (em serviço)
Transp. Marítimos Graciosenses, Lda.
Santa Cruz da Graciosa

O n/m "Ponta da Barca"

Nº Of.: -?- - Iic.: C.S.X.H.3 - Registo: Santa Cruz da Graciosa
Cttor.: Ulstein Mek. Versted A/S, Ulsteinvik, Noruega, 1967
Histórico comercial: ex “North Star” (1967-1972); ex “Porto Star” (1972-1974); ex “North Star” (1974-1975); ex “Oborg” (1975); ex “Lindheim” (1975-1977); ex “Alkali” (1977-1987); ex Canary” (1987-1989) e ex “Chyntia” (1989-1998)
Arqueação: Tab 630,00 tons - Tal 230,00 tons - Pm 580,00 tons
Dimensões: Ff 49,79 mtrs - Boca 9,25 mtrs - Pontal 5,69 mtrs
Propulsão: Caterpillar, 1978 - 1:Di - 542 Bhp - 10 m/h

Visto a descarregar no dia 17 de Março, no cais do porto de S. Roque, na ilha do Pico.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Notícias dos Açores (I)


O navio-escola “ Soerlandet “

O navio visto sobre a marina da Horta

Entrou ontem no porto da Horta, em visita para descanso dos instruendos embarcados, numa escala prevista até sábado, dia 19 do corrente. O navio encontra-se fretado por uma escola Canadiana, transportando um considerável número de estudantes da mesma nacionalidade, com interesses ligados a actividades científicas de vocação marítima. Depois da Horta, o navio-escola tem escalas previstas em Espanha, Bélgica, países escandinavos, finalizando o ciclo de ensino no regresso ao Canadá.

Imagens de autor conhecido
(naturalmente aprendiz de fotografo)

Construído no estaleiro Hoeivolds Mek. Verksted, de Kristiansand, Noruega, em 1927, o “Soerlandet” mantém o registo no porto de origem. Tem uma Tab de 499 tons, com comprimentos de Ff 57 metros e Pp 65 metros. Disponibiliza uma capacidade de ocupação para 70 instruendos ou 150 passageiros. Navega com uma equipagem permanente de 15 tripulantes.

domingo, 13 de março de 2011

História trágico-marítima ( VIII )


Incêndio

Nos porões do vapor alemão “Lisboa”, surto no rio Douro, em frente à Alfândega, manifestou-se há dias um violento incêndio, ardendo toda a carga, que constava de carvão, arroz e açúcar. Os prejuízos ascendem a 100 contos de reis.
In (Jornal “O Nauta”, Nº 442, de 9 de Outubro de 1913).

“ Lisboa “ (2)
1911-1943
Armador: Oldenburg Portuguiesche Dampshiffsahrts Reederei,
Oldenburgo, Alemanha

O nm "Pasajes" cerca de 40 anos depois do incêndio do "Lisboa",
no rio Douro, também a descarregar em circunstâncias identicas
e sensivelmente no mesmo local.

Nº Oficial: -?- - Iic.: N.H.C.G. – Porto de registo: Oldenburgo
Construtor: Schiffsw. Henry Koch, Lubeca, Alemanha, 04.1911
Arqueação: Tab 1.799,00 tons - Tal 1.090,00 tons
Dimensões: Pp 84,64 mtrs - Boca 11,95 mtrs - Pontal 5,46 mtrs
Propulsão: Ottensener, 1911 - 1:Te - 3:Ci - 163 Nhp - 9,5 m/h
O navio foi capturado por The Shipping Controller, de Londres, em 1920, passando a navegar com registo inglês. Foi readquirido pela O.P.D.R. em 1921, regressando ao serviço comercial. Torpedeado pelo submarino inglês H.M.S. ”Unruffled”, ao largo de Sousse, Tunísia, em 31.01.1943

= Grande incêndio a bordo =
Cerca das dez horas da noite de ontem (19 de Setembro de 1914), manifestou-se um incêndio a bordo do vapor alemão “Lisboa”, entrado durante o dia no rio Douro, procedente de Hamburgo via Lisboa, encontrando-se ancorado em frente a Monchique. O vapor, de 1.090 toneladas, vinha consignado à firma H. Burmester & Cª., societária da respectiva companhia, trazendo diverso carregamento, entre os quais géneros, como açúcar, arroz, etc., tecidos e outras mercadorias.
O fogo, cuja causa se ignora, irrompeu com certa violência no porão nº 3, da popa, onde estavam procedendo à descarga, que devia prolongar-se por toda a noite, diversos trabalhadores, entre eles Alfredo Morais Carvalho, de cima do Muro dos Bacalhoeiros; Ramiro da Fonseca, da rua de Miragaia; José Espada, do Barredo; Nestor Ferreira, João e Domingos , todos de Gaia. Esses homens, conseguiram fugir apressadamente, pelos porões nºs. 4 e 5, que felizmente estavam abertos, pois de contrário corriam perigo de perecer asfixiados.
No momento de se dar o incêndio houve grande borborinho e pânico a bordo, silvando as sirenes do navio e dos vapores ancorados no rio. Como constasse logo o sinistro, propalando-se ter sido ocasionado por explosão, afluíram a Monchique numerosíssimas pessoas, bem como piquetes de cavalaria e de infantaria da guarda republicana e policia civil. O Sr. Gerhard Burmester, que na ocasião estava na sua residência, à Foz, sendo prevenido por telefonema desde a Alfândega, pelo seu empregado Sr. Alvaro da Fonseca Rosa, compareceu pouco depois, indo e conservando-se a bordo toda a noite. Também esteve a bordo o vogal da comissão administrativa municipal de Gaia, Sr. Manoel Pereira Mathias, vereador do pelouro de incêndios.
Os trabalhos de ataque, iniciados com valentia pelos bombeiros municipais de Gaia e do Porto e voluntários da cidade, sob a direcção dos respectivos comandantes e inspectores, uns a bordo e outros em barcaças atracadas ao vapor incendiado, foram fatigantes, devido ao intenso calor produzido pelo fogo que lavrava no porão, de onde a princípio irromperam intensas chamas e espessos rolos de fumo e que depois foi fechado. As labaredas saíam então pela vigia do porão, sendo assestadas mangueiras para esse e outros pontos do navio. Uma das bombas a vapor foi colocada numa das aludidas barcaças, ficando outra na margem direita do rio. Por vezes foram dados sinais nas torres, chamando reforço dos bombeiros, por isso que, pelas duas horas da madrugada, o fogo continuava a lavrar com intensidade.
A fim de facilitar mais os trabalhos de extinção e pôr o vapor a coberto de maior perigo, foram requisitados os rebocadores “Águia” e “Minho”, para rebocar o “Lisboa” para a margem esquerda do rio, em Santo António do Vale da Piedade, para o vapor ficar mais próximo daquele local, do que podia conseguir na margem direita. Na ocasião em que trabalhavam a bordo ficaram feridos, no rosto e numa mão, o estivador Izauro e o barqueiro Virgílio da Costa Florim, no pé esquerdo, sendo esse pensado no hospital da Misericórdia. No local conservou-se, durante a noite, o pessoal e material da delegação da Cruz Vermelha, a fim de prestar os seus serviços.
O “Lisboa”, que devia seguir durante o dia de hoje para as ilhas Canárias, teve de adiar a viagem para dia indeterminado, dependendo isso das reparações que terá de sofrer por motivo do sinistro. Dizem-nos que o valor do casco do navio é superior a 130 contos de reis. A carga é também superior a 600 toneladas.
A estibordo do “Lisboa” fundeou, depois de já estarem a trabalhar os bombeiros, o vapor “Lusitânia”, que trabalhou com o estanca-rios metendo água no porão do navio incendiado. Às duas e meia da madrugada estava sendo colocada a bordo de uma barcaça mais uma bomba a vapor dos bombeiros municipais do Porto e no cais de Monchique estava de prevenção uma outra bomba a vapor, pronta a funcionar, se porventura a que estava em terra avariasse. O bombeiro municipal nº 68 foi atingido nos queixos com a junção metálica de uma mangueira, ficando bastante ferido. Os bombeiros municipais tinham montadas em terra sete agulhetas, havendo além destas as agulhetas dos bombeiros voluntários do Porto e municipais de Gaia. Às três horas e meia da madrugada ainda os trabalhos estavam muito demorados.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 20 de Setembro de 1914)

= O incêndio a bordo =
Ampliando a notícia acerca do grande incêndio ocorrido na noite de ante-ontem, no porão nº 3 do vapor alemão “Lisboa”, ancorado no rio Douro, em frente a Monchique, juntamos mais os seguintes pormenores:
O navio construído há dois anos na Alemanha, é uma embarcação magnifica, de tipo moderno, tendo importado em cerca de 180:000$000 e feito viagens para os portos portugueses e Marrocos, destinando-se ao transporte de mercadorias e de passageiros.
Antes de ancorar, pelas cinco horas da tarde, no rio Douro, o vapor havia descarregado em Lisboa carga diversa, no valor de uns 200:000$00 réis. O restante carregamento, na totalidade de 628 toneladas, constava, na maior parte, de arroz e açúcar (três mil e tantos sacos); fardos de papel, linho, seda, cânhamo, goma, tintas preparadas, salitre, produtos químicos, adubos químicos para a agricultura, maquinismos, quinquilharias, pianos, etc. Está averiguado que o sinistro ficou a dever-se ao arrombamento de uma caixa de verniz, derramando-se o liquido pelo pavimento do porão nº 3 e inflamando-se ao pretenderem com uma luz, verificar a causa do acidente. O fogo, alimentado pelo verniz de outras latas, que rebentaram na ocasião, produzindo pequenas detonações, comunicou-se rapidamente a todo o porão, tomando a breve trecho extraordinário incremento, danificando tudo quanto continha, bem como parte da carga acomodada no porão nº 4, que ficou deteriorada pelo excessivo calor e abundância de água. O carregamento dos porões nºs. 1 e 2, constante, em grande parte, de arroz, ficou intacto.
Pelo mesmo motivo, também a maquina do vapor carece de reparação, contando os engenheiros de bordo, auxiliados por oficiais técnicos de terra, faze-la a funcionar por toda a próxima semana. As caldeiras estão incólumes, mas o leme a vapor, o convés e a coberta sofreram grandes avarias, tendo ficado as chapas metálicas que revestem exteriormente o navio, bastante amolgadas, no sitio do foco do incêndio. Calculam-se os prejuízos no vapor e carregamento, em 50:000$000, cobertos por varias companhias estrangeiras. A carga estava segura em cerca de 80:000$000. Os oficiais de bordo ficaram sem os seus haveres, tendo-se perdido todos os mantimentos do vapor.
Os trabalhos de extinção, contínuos e fatigantes, terminaram pelas oito horas da manhã, tendo sido muito apreciados os serviços das corporações de bombeiros intervenientes. Também prestou excelente serviço o vapor “Lusitânia”, trabalhando com o possante estanca-rios, introduzindo enormíssima porção de água no porão incendiado. Este vapor, requisitado pelo capitão do “Lisboa”, Sr. M. Nissen, foi mantido de prevenção próximo ao navio. Além do Sr. Gerhard Burmester, que conforme foi dito se conservou toda a noite de ante-ontem a bordo, também ali compareceram o chefe do departamento marítimo, o Sr. Tenente Queiroz, da Marinha e diversos pilotos do serviço de pilotagem. Também esteve presente o Sr, Franz Burmester.
Pelas duas horas da tarde de ontem apareceu fogo no compartimento do carvão, originado por combustão espontânea, que foi prontamente extinto pelas mangueiras de bordo do vapor, cujas bombas estiveram, durante o dia, a trabalhar no esgotamento da água, devendo prosseguir hoje nesse serviço, com o auxílio de uma bomba dos bombeiros municipais, requisitada pelo Sr. Gerhard Burmester. Como medida de precaução, ficou a bordo do “Lisboa”, na noite passada, um piquete dos mesmos bombeiros.
Amanhã, de manhã, deve continuar a descarga das mercadorias, que ficarão arrecadadas num armazém especial da Alfândega as que estiverem em perfeito estado de conservação, até serem reclamadas pelos respectivos donos e removidas para as barcaças as que ficaram inutilizadas, a fim de se lhes dar o conveniente destino. Foi reforçada a fiscalização da marginal, com o pessoal disponível, a fim de evitar descaminho das mercadorias que, antes do incêndio, tinham sido recolhidas em barcaças. Logo que fiquem concluídos os trabalhos de reparação provisória, a que se vai proceder imediatamente, o vapor seguirá para a Alemanha, onde será devidamente reparado. O navio pertence à frota da companhia Oldenburg Portugiesiche Dampschiffs.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 21 de Setembro de 1914)

Nota: Informação posterior confirma a saída do vapor do rio Douro, no dia 29 de Setembro com destino à Alemanha, via Setúbal.

sexta-feira, 11 de março de 2011

História trágico-marítima ( VII )


Colisão

No passado dia 4, próximo ao Cabo da Roca, o paquete francês “Lutetia”, abalroou com o vapor grego “Dimitrios”, metendo-o a pique. Não há desgraças pessoais a lamentar.
In (Jornal “O Nauta”, Nº 460, de 19 de Fevereiro de 1914)

O paquete francês "Lutetia" a navegar
Postal da companhia - minha colecção

“ Lutetia “
1913 - 1938
Armador: Compagnie de Navigation Sud-Atlantique, França

Nº Oficial : - ?- - Iic. : O.L.Z.T. - Porto de registo: Bordéus
Cttor: Chantiers de l’Atlantique, St. Nazaire, França, 10.1913
Arqueação : Tab 14.654,00 tons - Tal 5.599,00 tons
Dimensões: Pp 176,48 mtrs - Boca 19,54 mtrs - Pontal 11,19 mtrs
Propulsão: Chant. de l’Atlantique, 1913 - 4:Tv - 8:Ci - 20 m/h
Demolido em Blyth, Escócia, em 21 de Janeiro de 1938

“ Dimitrios “
1900 - 1914
Armador: E.C. Embiricos, Piréu, Grécia

Nº Oficial: -?- - Iic.: -?- - Porto de registo: Piréu
Cttor: Ropner, Stockton, Inglaterra, 01.1900
ex “London Bridge”, 1900- -?-
Arqueação: Tab 3.033 tons
Dimensões: Pp 99,10 mtrs - Boca 14,70 mtrs
Propulsão: 1:Te - 10 m/h

Sinistro marítimo – Lisboa, 5 de Fevereiro de 1914

Procedente dos portos do Brasil e Argentina, entrou ontem em Lisboa o paquete francês “Lutetia”, de 175 metros de comprimento e com a deslocação de 15.000 toneladas. Depois de receber alguns passageiros, levantou ferro com rumo a Bordéus. Na ocasião em que navegava por alturas do Cabo da Roca, apareceu na sua frente o vapor grego “Dimitrios”, que seguia em direcção ao Mediterrâneo, conduzindo um carregamento de carvão, sendo a sua tripulação constituída por 19 homens.
O “Lutetia” abalroou o “Dimitrios”, pelo lado de estibordo, cortando-o ao meio, fazendo com que se submergisse dentro de minutos. Ao dar-se o embate, o pânico foi enorme a bordo dos dois vapores, sendo lançados ao mar de bordo do “Lutetia”, alguns escaleres, devidamente tripulados, no intuito de salvar a tripulação do “Dimitrios”. O “Lutetia”, depois de receber diferentes náufragos, veio novamente para Lisboa, fundeando em frente da Alfândega, onde desembarcou os náufragos, que foram recolhidos num hotel.
Aquele vapor vai para a doca de Alcântara, a fim de ser reparado, pois também sofreu um rombo na extensão de oito metros. Quanto aos passageiros, vieram para terra, esperando outro vapor que os conduza ao seu destino. Os comandantes dos dois vapores foram presos. Das baleeiras lançadas ao mar por ocasião do desastre, uma delas veio parar a Cascais. Consta que faltam 9 homens, mas a informação carece de fundamento.
O “Lutetia” pertence à Compagnie de Navigation Sud-Atlantique, de que são agentes em Lisboa os Srs. Orey, Antunes & Cª. Por sua vez o “Dimitrios” procedia de Cardiff.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 6 de Fevereiro de 1914)

Ainda o sinistro marítimo – Lisboa, 6 de Fevereiro de 1914

Ao norte da Ericeira naufragou uma lancha com cinco tripulantes, que não puderam ser salvos. Parece que é a lancha que se supunha ter desaparecido por ocasião do desastre com o “Lutetia”.

Seguiram hoje no “Sud-express” para Paris, 40 passageiros do paquete francês “Lutetia”, que ontem de madrugada abalroou com um vapor de carga à entrada da barra, metendo-o no fundo. Seguiram igualmente no rápido 70 passageiros, com o mesmo destino, os quais tomarão de manhã o comboio nº 9 do norte de Espanha. Estão previstos seguir amanha mais 45 passageiros no “Sud-express”, onde já tem lugares reservados.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 7 de Fevereiro de 1914)

sábado, 5 de março de 2011

História trágico-marítima ( VI )


O incêndio a bordo do vapor "Catania"
1894 - 1904
Armador: Etnea di Catania, Catania, Itália

Construtor: R. & J. Evans & Co., Liverpool, Inglaterra, 05.1893
ex "Bernina", Richard Mills, Liverpool, Inglaterra, 1893-1894
Arqueação: Tab 1.483,00 tons.
dp "Ausonia", G. Savona, Itália, 1904-1917
Torpedeado e afundado por submarino próximo ao Cabo Tortosa, em 14 de Setembro de 1917.

Provável foto do vapor italiano "Catania"
Imagem Photoship.Uk

Incêndio a bordo - Cerca das 4 horas da tarde de ontem foram as povoações de Leça da Palmeira e Matosinhos alvoraçadas pelo alarme dado pelo vapor italiano “Catania”, surto na bacia de Leixões, por motivo de fogo a bordo. Numerosas pessoas afluíram logo aos dois molhes do porto, enquanto outras seguiram embarcadas à força de remos para aquele navio. O incêndio manifestara-se num dos porões da proa, o mais próximo da casa das máquinas e lavrava com intensidade no carregamento do enxofre transportado.
Os primeiros socorros a chegar foram os dos bombeiros voluntários de Matosinhos-Leça, que metendo uma das máquinas numa barcaça, seguiram com ela para junto do vapor, aprestando-se para o combate. Pelo telefone foram requisitados os socorros dos bombeiros municipais e voluntários desta cidade, que imediatamente se puseram a caminho, depois da devida autorização do sr. presidente da câmara municipal. Chegados ali, os bombeiros municipais foram para bordo do vapor incendiado, ficando os voluntários de prevenção no molhe norte. O ataque começou desde logo e com a maior energia, sendo lançada água a jorros para dentro do porão onde lavrava o fogo. Nesta faina foram os bombeiros coadjuvados pelos tripulantes dos vapores inglês “City of York” e italiano “Brento”, que indubitavelmente prestaram bom serviço.
Os bombeiros municipais fizeram uso do respirador “Conig”, sendo mandadas abrir as escotilhas do vapor para melhor lhes facilitar os trabalhos de extinção do incêndio. Esses trabalhos foram dificílimos e penosos pela densa fumarada, que era verdadeiramente sufocante. A despeito desta contrariedade e mesmo do perigo, todos se mantiveram nos seus postos não afrouxando os esforços para debelar o incêndio.
A bordo compareceram os srs. Joaquim de Freitas Vasconcelos, aspirante da alfândega em serviço na delegação de Leixões, o guarda-mor de saúde sr. dr. António Gonçalves de Azevedo e o patrão de remadores sr. Leonardo Ferreira Viseu, que ao ser dado o alarme do sinistro prestaram também excelentes serviços, montando mangueiras e auxiliando noutros trabalhos de preparativo para a extinção. Estiveram igualmente ali, além do chefe do departamento marítimo do norte, o sr. Aristides Pais de Faria, capitão de fragata e do porto, o patrão-mor sr. Manuel Esteves do Vale e os pilotos da barra em serviço no porto de Leixões, acorrendo ainda pescadores, catraieiros e muitas outras pessoas, que se afadigaram em secundar os esforços dos bombeiros.
O vapor “Catania” entrou em Leixões no dia 20 do corrente, vindo de Catania, por Gibraltar e Lisboa, com um carregamento de 31.667 sacos de enxofre ou sejam 1.825 toneladas, para a firma Fonseca & Araújo limitado a A.M. Faria Couto & Cª., Sucessores e consignado a H. Burmester & Cª. É seu capitão o sr. Francisco Costanze e tem 23 homens de tripulação. O vapor tem 1.850 toneladas de registo, obstando o seu enorme calado a que pudesse entrar na barra do rio Douro. Havia já descarregado para bordo do iate “Dinorah Costa”, com destino à Figueira da Foz, 5.000 sacos de enxofre, bem como mais 220 toneladas para a barca “Jesset”, com destino ao Porto. Depois de aliviado da carga, devia o “Catania” entrar na barra do Douro, para proceder ao resto da descarga. A barcaça que conduziu o material dos bombeiros voluntários de Leça, foi levada para junto do “Catania” pelo rebocador “Mindelo”, da Empresa do porto de Leixões.
O trabalho dos bombeiros foi dirigido pelo inspector sr. capitão Arthur Ramos, pelo ajudante Nogueira e pelo chefe de companhia sr. Henrique. A forte ventania e abundante chuva que caiu dificultou por vezes o serviço de extinção, tornando arriscada a travessia nas aguas revoltosas do porto, sendo por isso a condução dos bombeiros e mais pessoas feita com as maiores precauções. Cerca das 9 horas da noite seguiu do Porto para Leça um reforço de bombeiros municipais. Além do material da estação principal, seguiu para o local do sinistro o da estação de Lordelo do Ouro. Às 2 horas da madrugada ainda trabalhavam na extinção do incêndio todos os bombeiros da localidade e do Porto. Não consta que se tenha dado qualquer desastre pessoal.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 28 de Março de 1903).

Incêndio a bordo - Cerca da 1 hora da tarde de ontem ficou extinto o incêndio que se manifestou ante-ontem a bordo do navio italiano “Catania”, fundeado em Leixões. Na noite de ante-ontem para ontem, os bombeiros suspenderam os trabalhos de extinção e retiraram; depois de haverem sido fechadas as escotilhas do porão. Assim o determinou o inspector dos incêndios sr. Arthur Ramos, por entender que melhor serviço se faria de dia. No entanto, a bordo do “Catania” ficaram de prevenção alguns bombeiros municipais do Porto e voluntários de Matosinhos-Leça. Ontem às 6 horas da manhã, sob a direcção do ajudante sr. José Joaquim Nogueira, os bombeiros das duas corporações recomeçaram a faina da extinção, aliás muito dificultosa por ser impossível suportar por muito tempo a densa fumarada asfixiante. Os trabalhos foram poderosamente auxiliados pela excelente bomba estanca-rios do rebocador “Lívio e Flávio”, do sr. Ambrósio dos Santos Gomes, que despejou grande quantidade de agua para o porão onde estavam os sacos de enxofre incendiado.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 29 de Março de 1903).

sexta-feira, 4 de março de 2011

História trágico-marítima ( V )


O naufrágio do rebocador “ Tejo “

Armador: Empresa Nacional de Navegação, Lisboa
Nº Oficial: 373-D - Iic.: H.G.M.S. - Porto de Registo: Lisboa
Construtor: J.P. Rennoldson & Sons, South Shields, 09-1901
ex “Jupiter”, (proprietário não identificado)
Arqueação: Tab 160,90 tons - Tal 1,02 tons
Dimensões: Pp 31,80 mtrs - Boca 6,30 mtrs - Pontal 3,70 mtrs
Propulsão: Motor do construtor - 1:Cp - 2:Ci - 97 Nhp - 8 m/h
Equipagem: 6 tripulantes

Segundo notícias de Vila do Conde, afundou-se procedido de encalhe entre as praias de Vila Chã e Mindelo, devido a avaria na máquina, um rebocador da praça do Porto, que rebocava uma laita (lighter) cuja mercadoria transportada era composta por um importante carregamento de vinhos. A tripulação saltou para um barco de bordo (baleeira), que, voltando-se, originou a morte a dois tripulantes. A laita acabou igualmente por submergir, por ter seguido desgovernada de encontro aos rochedos no local.
In (Jornal “O Século”, de 26 de Setembro de 1918).

Acerca do naufrágio ocorrido no Mindelo, Vila do Conde, que ocasionou duas mortes, acresce informar que pelas 7 horas e meia da tarde do dia 24, o rebocador “Tejo”, vindo de Lisboa, com destino a Bordéus, rebocando uma laita, com um importante carregamento de vinho e conservas, bateu contra o penedo denominado “Aguilhada”, naufragando a laita com a carga, vendo-se os cascos de vinho a boiar. No rebocador vinham 10 homens e na laita 4. Com excepção de 2, que morreram afogados, os restantes salvaram-se com grande dificuldade, devido ao estado do mar, que se encontrava muito agitado. Os mortos foram um 2º piloto e um marinheiro, tendo os cadáveres sido arrojados à praia de Vila Chã. Os pertences dos pobres náufragos, comestíveis, louças, etc. tudo foi roubado após o naufrágio, devido à pouca vigilância das autoridades. A tripulação salva foi acolhida no posto fiscal do Mindelo. Já noite a laita encontra-se encalhada, tendo rebentado larga quantidade de cascos de vinho. Restam esperanças no sentido de ser possível vir a salvar o rebocador.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 27 de Setembro de 1918).

O rebocador “Tejo”, que se encontrava encalhado na praia da “Aguilhada”, próximo de Vila do Conde, desde o dia 24 de Setembro último, foi posto a flutuar e salvo no dia 20, encontrando-se fundeado no interior da barra de Vila do Conde. Os trabalhos de salvamento foram feitos pelos srs. José Gomes da Silva, capitão da marinha mercante e pelo construtor naval Jeremias Martins Novais, sob a superintendência do sr. capitão Arthur Correia, na qualidade de fiscal marítimo das companhias de seguros.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 24 de Outubro de 1918).