domingo, 29 de maio de 2016

Leixões na rota do turismo!


Mais escalas de navios de passageiros em porto

Nos últimos dias deste mês, continuaram as visitas de vários navios de passageiros, sendo que dois deles foram recebidos com tempo instável, principalmente em função da chuva, que a espaços caiu copiosamente.
Por esse motivo, a opção foi não ter realizado a habitual memória fotográfica, no que respeita aos navios "National Geographic Orion" e "Berlin". Porém, lembrando a escala destes navios, registo que ambos estiveram em porto no dia 23. O "National Geographic Orion" chegou procedente de Lisboa e saíu com destino ao porto de Villagarcia de Arosa.
Quanto ao "Berlin", cumprindo um percurso idêntico ao navio anterior, veio também proveniente de Lisboa, para continuar a presente viagem de cruzeiro, com destino ao porto da Corunha.



Entretanto, no dia seguinte, foi possível rever em porto o luxuoso navio de passageiros "Sea Cloud II", que tal como os anteriores cumpriu escala em Lisboa, continuando a navegar para norte, com destino ao porto de Vigo.



O último navio de passageiros desta série a visitar o porto de Leixões, no dia 25, foi o "Nautica", ainda e também procedente de Lisboa, continuando, como vai sendo hábito, a viagem de cruzeiro com destino ao porto da Corunha.

sábado, 21 de maio de 2016

História trágico-marítima (CXCI)


Devido a nevoeiro e agitação do mar, o vapor português “Monte
Brasil” colidiu, a 24 km da costa americana, com o cargueiro “Cape
Martin”, mas há esperanças de salvá-lo. Não se registaram vítimas.

Foto do navio "Monte Brasil" ao largo de Leixões
Imagem de arquivo da Fotomar, Matosinhos

Características do navio português “Monte Brasil”
11.10.1948 - 11.12.1972
Nº Oficial: 940 - Iic: C.S.L.P. - Registo: Ponta Delgada, 11.10.1948
Armador: Companhia de Navegação Carregadores Açoreanos
Construtor: A. Vuijk & Zonen, Capelle a/d Ijssel, Holanda, 08.1948
Arqueação: Tab 2.394,03 tons - Tal 1.303,35 tons - Pm 3.800 tons
Dimensões: Ff 106,44 mt - Pp 100,44 mt - Bc 14,58 mt - Ptl 5,11 mt
Propulsão: Sulzer Bros., Ltd., 1944 - 1:Di - 3.900 Ihp - Veloc. 14 m/h
Transferido para a Empresa Insulana de Navegação em 11.12.1972
Transferido para a Comp. de Transportes Marítimos em 04.02.1974
Vendido para demolir em Lisboa em 1981. Demolido em Maio, 1982

Nova Iorque, 27 – O navio de carga português, “Monte Brasil”, foi abalroado às 3 horas e 30, ao largo de Atlantic City, Nova Jersey, pelo cargueiro americano “Cape Martin”. A tripulação embarcou nos escaleres. O mar está muito agitado e o nevoeiro torna a visibilidade quase nula. Um navio patrulha de vigilância da costa partiu para o local do acidente. Uma mensagem do “Cape Martin” não fala de vítimas.
Nova Iorque, 27 – Os tripulantes que tinham abandonado o navio de carga português “Monte Brasil”, depois de este ter sido abalroado pelo “Cape Martin”, regressaram a bordo e parece que o navio já não corre perigo. O “Cape Martin” tinha anunciado, esta noite que, depois do abalroamento, o cargueiro português começava a afundar-se. O capitão e os oficiais ficaram a bordo para tentarem salvar o “Monte Brasil”, tarefa que, aparentemente, levaram a bom termo.
Nova Iorque, 27 – Contrariamente às primeiras notícias recebidas nesta cidade, o navio de carga português “Monte Brasil” não se afundou. O capitão esforça-se por mantê-lo a flutuar, ajudado por alguns tripulantes que ficaram a bordo. O cargueiro americano “Cape Martin”, com o qual abalroou, não parece estar em dificuldades.
Atlantic City, 27 – O capitão e alguns oficiais do cargueiro português “Monte Brasil” transmitiram pela rádio que continuavam a bordo do navio danificado na esperança de o salvarem se se pudessem manter até de madrugada. A guarda-costeira citou o capitão como tendo dito que se o navio continuasse a flutuar tentariam alcançar Filadélfia. O cuter “Sassafras” da guarda-costeira, foi enviado para o local do sinistro.
Atlantic City, 27 – Foi a 24 quilómetros da costa de Nova Jersey que se deu o acidente com o navio português “Monte Brasil”. As causas da colisão devem encontrar-se no intenso nevoeiro que fazia naquela zona e na agitação do mar.
(In jornal “Comércio do Porto”, segunda, 28 de Abril de 1952)

Foto do rombo sofrido pelo navio "Monte Brasil"
Imagem da Photoship.Uk
Legenda na foto, como segue:
Chester, P.R., Abril, 28 – Rombo no casco devido a colisão
Trabalhadores do estaleiro local inspeccionam um rombo no casco do lado de estibordo no cargueiro português “Monte Brasil”, depois do mesmo ter dado entrada em doca seca, hoje, na sequência de abalroamento com outro cargueiro. O “Monte Brasil” foi abalroado pelo cargueiro americano “Cape Martin”, a este de Atlantic City, N.J., na madrugada do último sábado. Dois terços da tripulação do “Monte Brasil” abandonaram o navio, mas depois regressaram, conseguindo trazer o cargueiro até este porto, com o auxílio de rebocadores.

Foto do navio americano "Cape Martin"
Imagem da Photoship.Uk

Características do navio americano “Cape Martin”
1944-1975
Nº Oficial: N/t - Iic: K.W.0.1. - Porto de registo: Los Angeles
Armador: United States War Shipping Administration, Los Angeles
Construtor: Consolidated Steel Corp. Ltd., Wilmington, 05.1944
Arqueação: Tab 6.71,00 tons - Tal 3.931,00 tons - Pm 9.000 tons
Dimensões: Ff 127,30 mt - Pp 120,83 mt - Bc 18,31 mt - Pt 7,77 mts
Propulsão: Joshua Hendy Iron Works, Sunnyvale - 2:Tv - 14 m/h
Vendido para demolir à empresa de sucatas Nicolai Joffe Corp., de Richmond, Califórnia, em Abril de 1975

O cargueiro português “Monte Brasil” foi abalroado por um
cargueiro americano, em águas dos Estados Unidos, mas o
capitão tem esperanças de salvá-lo
Nova Iorque, 27 – O navio de carga português “Monte Brasil”, pertencente à Companhia de Navegação Carregadores Açorianos, com carga geral para Lisboa e em rota deste porto para Cuba, onde ia carregar açúcar para o mesmo destino, encontrava-se, na noite passada a 24 quilómetros ao largo de Atlantic City, Nova Jersey, quando, devido ao intenso nevoeiro e à agitação do mar, foi abalroado pelo cargueiro americano “Cape Martin”, de 6.711 toneladas.
As primeiras notícias diziam que o navio se afundara pela popa e que a tripulação saltara para os escaleres. Soube-se, depois, que esta informação não correspondia, felizmente, à verdade: o “Monte Brasil” não só flutuava, como o capitão, sr. Amadeu Calisto Ruivo, se esforçava para conduzi-lo para Filadélfia, com o auxílio de alguns tripulantes, entre eles todos os oficiais, que tinham ficado a bordo.
Este pormenor indicava que outros homens da equipagem haviam abandonado o navio. Efectivamente, nova notícia referia que estes últimos voltaram para bordo, que parecia já não correr perigo.
Partiu para o local um navio patrulha da guarda-costeira – o cuter “Sassafras” – de bordo do qual foi emitido um rádio dizendo que o “Monte Brasil” não estava em risco de se afundar e que o capitão declarara que se o navio se aguentasse tentaria levá-lo para Filadélfia.
Uma comunicação transmitida directamente de bordo do navio sinistrado anunciou, depois, que o capitão e oficiais tinham esperança de salvar a unidade, se pudessem mantê-la a flutuar até de madrugada. Para lhe prestar auxílio, saiu de Nova Iorque um rebocador.
O “Cape Martin” que sofreu alguns danos, vem a caminho deste porto.
(In jornal “O Século”, segunda, 28 de Abril de 1952)

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Leixões na rota do turismo!


O regresso do "Silver Whisper" e do "Horizon"

Ontem, dia 18, confirmou-se o regresso ao porto de Leixões destes navios de passageiros, que por cá tem passado com significativa regularidade. Está inclusivamente perspectivado que o "Horizon", volte em novas escalas, no decorrer deste ano.




Fotos do navio de passageiros "Silver Whisper", que chegou a Leixões vindo proveniente de Lisboa, e tendo saído com destino ao porto da Corunha.




Também algumas fotos do navio de passageiros "Horizon", que acompanha o "Silver Whisper" em percurso idêntico, escalando em simultâneo os mesmos portos, neste périplo ibérico.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

História trágico-marítima (CXC)


Acidente à entrada da barra
O encalhe do vapor inglês "Elfstone"

Ontem, cerca das 14 horas, ao entrar a barra o vapor inglês “Elfstone”, auxiliado pelo rebocador “Mars II”, rebentou o cabo de reboque a este último, resultando o vapor guinar um pouco para o sul, correndo sobre as vagas, indo encalhar num banco de areia.

Foto do navio inglês "Elfstone" - Imagem da Photoship.Uk

Características do vapor inglês “Elfstone”
1924-1937
Armador: Crete Shipping Co. (Stelp & Leighton, Ltd.), Londres
Construtor: Swan, Hunter & Wigham Richardson, Ltd., Wallsend, Newcastle, 08.1924 Arqueação: Tab 1.371,00 tons - Tal 791,00 tons
Dimensões: Pp 71,65 mts - Boca 11,00 mts - Pontal 4,65 mts
Propulsão: J. Abernethy & Co., Aberdeen - 1:Te - 3:Ci - 120 Nhp - 9 m/h
Vendido em 1937, mudou o nome para “Mortlake Bank”
1937-1970
Armador: McLiwraith & McEacharn, Ltd., Sydney, Nova Escócia
Conservou as características de origem
Vendido para demolição em Sydney, no primeiros meses de 1970, à empresa Goldfields Metal Traders

Momentos depois, com o auxílio das próprias máquinas e as vagas do mar, conseguiu o vapor desencalhar, entrando no rio Douro, sem mais novidade. Se as vagas, ao deslocar o vapor, o não tivessem feito em direcção ao canal da barra, teríamos a lamentar, de novo, um acidente de maior gravidade, idêntico, talvez, aos dos vapores alemão “Deister” e norueguês “Inga I”, encalhados nas proximidades daquele local.
O navio chegou ao Porto procedente de Barry, na Inglaterra, com carga de carvão.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado,14 de Novembro de 1936)

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Histórias do mar português!


O patrão do salva-vidas “Carvalho Araújo” vai ser substituído

Algumas notas biográficas
António Rodrigues Crista, valoroso patrão do Posto de Socorros a Náufragos, de Leixões, foi demitido do cargo que, há três anos, exercia, com zelo e abnegação.
Homem do mar, humilde mas decidido, autentico herói que, muitas vezes, deu provas do seu saber e da sua audácia na missão de vencer as vagas - por vezes alterosas -, pondo a vida em risco para acudir às vidas dos outros em marés de temporal e de perigo, vai deixar o lugar que, acertadamente, lhe fora confiado. A notícia propagou-se, seca, em quatro palavras apenas.
António Rodrigues Crista, aureolado por uma brilhantíssima folha de serviços, não poderia sair do seu posto sem que o público soubesse.
António Rodrigues Crista, que nasceu em Matosinhos e conta 38 anos, está ao serviço do Posto de Socorros a Náufragos, em Leixões, há cerca de 10 anos.
Como tripulante, tomou parte em muitas dezenas de salvamentos, destacando-se entre eles, o da tripulação do lugre dinamarquês “Felix”, naufragado em 1922. No seu salvamento, foi tão notável a acção do pessoal do Posto dos S.N., que o seu patrão, José Rabumba, mereceu do Governo o Colar da Torre e Espada.
Como sota do salva-vidas a remos “Porto”, tomou parte no naufrágio do “Gauss”. Desta vez, o “Porto”, bem como o “Carvalho Araújo”, voltaram-se, tendo morrido seis homens da tripulação. Rodrigues Crista e os restantes companheiros salvaram-se a nado.
Como patrão, destacou-se, especialmente, no naufrágio do “Inga I”, conseguindo trazer no “Carvalho Araújo” os seus 16 tripulantes, que corriam grave perigo.
Por este feito mereceu uma homenagem, no Palácio da Bolsa, onde foi condecorado pelo ministro da Noruega, com a medalha de prata do rei desse mesmo país.
Possui diversos diplomas e medalhas, tendo recebido, ainda, outras recompensas e dinheiro como prémio à sua audácia e ao seu heroísmo.
-x-
Segundo informação recebida, particularmente, está aberto concurso na Capitania de Leixões para preenchimento do lugar citado, caso tenha de haver substituição.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 8 de Agosto de 1936)

Rebocador do serviço de pilotagem de Leixões
"Comandante Afonso de Carvalho"
Imagem publicada na imprensa diária.

Um nome, três notícias...
Foram publicadas recentemente no blog duas outras notícias, onde são relatados episódios da vida e da reconhecida competência do arrais do salva-vidas de Leixões, sr. António Rodrigues Crista, já falecido, principalmente nas difíceis circunstâncias em que foi feito o salvamento da tripulação do vapor norueguês "Inga I", na barra do rio Douro.
E não foi um caso isolado!...
Isto porque a notícia, felizmente, não corresponde à realidade dos factos. António Crista não foi demitido, nem despedido, tendo-se mantido por mais dois anos no seu posto de abnegado timoneiro na Estação do Salva-vidas de Leixões, e revelando-se de suprema importância através do seu desempenho no violento temporal que assolou a área portuária, em 27 e 28 de Janeiro de 1937.
Por esse serviço viria a ser novamente condecorado, tanto pelo governo Belga como pelas autoridades nacionais, em função da quantidade de salvamentos realizados às tripulações de diversos navios, que se encontravam em serio risco de naufrágio, tal como se veio a verificar.
António Rodrigues Crista acabou por interromper a sua actividade nos Socorros a Náufragos em 1938, por ter recebido o convite para trabalhar como mestre do rebocador "Comandante Afonso de Carvalho", que pertenceu à Corporação de Pilotos de Leixões, até à sua venda para Inglaterra.
Depois, durante alguns anos, esteve ao leme de duas traineiras, para lhe permitir assegurar o sustento da esposa e filhos, até ao momento em que decidiu não continuar ligado à pesca. Mas mesmo assim, já com idade considerável, ainda regressou ao salva-vidas, secundando um novo arrais, a quem transferia os conhecimentos e a experiência, de muitos anos passados no mar.
Li a notícia e lembrei-me do tempo em que o vi, já com muita idade, com as pernas a carregar o corpo em passos lentos e cansados. Ele foi mais um daqueles homens, entre tantos outros, que compõe a lenda dos heróis deste país...

sábado, 14 de maio de 2016

Leixões na rota do turismo!


A visita ao porto do "Sea Adventurer"

Porque este navio de passageiros não apresenta linhas modernas, falha-me a memória quanto à possibilidade de terem acontecido escalas anteriores à actual, que decorreu durante o dia de hoje.



As fotos acima publicadas registam a passagem do "Sea Adventurer" por Leixões, chegando ao porto esta manhã procedente da Corunha, tendo saído ao final da tarde com destino a Lisboa.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Histórias do mar português!


No mar, em frente a Aveiro, o salva-vidas a motor
“Carvalho Araújo” teve um acidente – Os socorros

Ontem, pela 1 hora e meia da madrugada, entrou no porto de Leixões o vapor de pesca belga “Charles Henri”, conduzindo a reboque o barco salva-vidas “Carvalho Araújo”, que tinha sofrido um acidente por alturas de Aveiro.
Este acidente foi motivado por ter-se ensarilhado no hélice do barco salva-vidas, um cabo que servia de reboque aos nove barcos de pesca de Buarcos, que há tempo, devido ao temporal, tinham arribado a Leixões e que agora eram levados pelo “Carvalho Araújo”, para aquela praia.
O percalço deu-se pelas 5 horas de ante-ontem, estando durante a manhã e parte da tarde sem assistência, tendo por esse motivo de pedir socorro.
Como, por força da agitação do mar, não pudesse sair qualquer embarcação de Aveiro, para o socorrer, pelas 13 horas, um hidro-avião da Base de S. Jacinto levantou vôo seguindo em direcção ao mar à procura de qualquer navio que pudesse prestar auxílio ao salva-vidas “Carvalho Araújo”.

Foto do salva-vidas "Carvalho Araújo"
Imagem da Foto-Mar, Matosinhos

Avistando na sua faina o vapor de pesca belga “Charles Henri”, lançou-lhe uma mensagem acompanhada por uma bóia, a qual, foi apanhada por aquele vapor de pesca, que, imediatamente seguiu para o local que lhe foi indicado, passando um cabo de reboque ao salva-vidas “Carvalho Araújo”, conduziu-o para Leixões.
As tripulações que seguiam nos nove barcos de pesca que o “Carvalho Araújo levava a reboque, por intermédio de um daqueles barcos, passaram-se para bordo do salva-vidas, vindo nele para Leixões, deixando ficar abandonados no mar os referidos barcos que ficaram fundeados.
Quanto à traineira “Santa Rita”, que tinha saído de Leixões em socorro do salva-vidas “Carvalho Araújo”, quando chegou ao local já ele vinha a reboque do vapor de pesca belga, motivo pelo que não foram necessários os seus serviços.
O capitão do vapor de pesca belga Charles Lambregt, declarou às autoridades marítimas não querer nada pelo seu serviço, não só por ter cumprido com a sua obrigação, como ainda, às boas relações existentes entre os dois países.
O vapor de pesca “Charles Henri” é da praça de Ostende, e como nota curiosa pertence à mesma empresa proprietária do vapor de pesca “Konig Albert”, que também em 16 de Outubro de 1934 tinha entrado em Leixões conduzindo a bordo 7 tripulantes de um barco de pesca de Vila do Conde, que tinha naufragado nas alturas de Aveiro.
-x-
O rebocador “Tritão” saiu ontem, pelas 11 horas e meia, de Leixões, levando a bordo as tripulações dos barcos que ficaram abandonados no local do acidente, a fim de, caso ainda fossem encontrados, levá-los a reboque para Buarcos.
-x-
O vapor de pesca “Charles Henri”, depois de ter dado conhecimento do sucedido ao sr. cônsul da Bélgica, que compareceu em Leixões, e ao capitão do porto, seguiu ao seu destino, tendo saído de Leixões pelas 19 horas.
-x-
Este acidente, que alarmou a classe piscatória de Matosinhos, perante os boatos, um tanto desencontrados, felizmente, não teve consequências de maior, dada a rápida intervenção, não só, do hidro-avião da Base de S. Jacinto, que prestou um excelente serviço, como da assistência do referido vapor de pesca, que teve de abandonar a sua faina. (a)
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 24 de Abril de 1936)

(a) Este acidente na realidade serviu, também, para que fosse identificado pelo comando dos serviços de vigilância da Marinha Portuguesa, uma muito provável actividade de pesca ilegal, nas nossas águas territoriais, por diversos vapores de pesca de nacionalidade Belga. Essa situação foi confirmada através da captura de um vapor encontrado a pescar na zona de Aveiro, logo apreendido e multado de acordo com a legislação em vigor, no decorrer desse mesmo ano.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Memórias de um passado recente!... (4)


O lançamento à água do aviso de 2ª classe "João de Lisboa"
ex aviso de 2ª classe "Infante D. Henrique"

O novo aviso “Infante D. Henrique”
Foi entregue à casa construtora a 3ª prestação do armamento
Foi entregue à casa Vicker’s Armstrong um cheque na importância de £13.777,10 correspondente à terceira prestação do armamento do aviso de 2ª classe “Infante D. Henrique”
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 31 de Janeiro de 1936)

Ressurgimento da Armada Portuguesa
O lançamento ao mar do aviso “Infante D. Henrique”
O aviso “Infante D. Henrique” em construção no Arsenal de Marinha, será lançado ao mar no dia 21 de Maio, pelas 10 horas e meia. O sr. ministro da Marinha vai convidar para assistir a essa cerimónia os srs. Presidente da República, chefe do Governo, ministros e autoridades civis e militares.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta,16 de Abril de 1936)

As provas das unidades navais
Pelo Ministério da Marinha vai ser publicada uma portaria determinando que ao aviso de 2ª classe, em construção no Arsenal de Marinha, até agora designado “Infante D. Henrique”, receba o nome de “João de Lisboa”, recordando deste modo o ilustre e notável piloto que, no começo do século XVI escreveu o ”Livro de Marinharia com o «tratado da agulha de marear»” e foi contemporâneo de Pedro Nunes, que por sua vez deu o nome ao aviso gémeo, também construído no Arsenal de Marinha.
Deu motivo à escolha deste nome o relatório do capitão de mar-e-guerra Quirino da Fonseca.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 26 de Abril de 1936)

Imagem do aviso de 2ª classe "João de Lisboa"
Foto previamente publicada no blogue NRP Alvares Cabral F336

O ressurgimento da Armada Portuguesa
O lançamento ao mar do aviso “João de Lisboa”
Foi determinado que para o lançamento ao mar do aviso de 2ª classe “João de Lisboa”, que se realiza no dia 21 do corrente, só será nesse dia permitida a entrada no Arsenal de Marinha, das 13 às 17 horas, exclusivamente às pessoas munidas de bilhetes. Os oficiais do exército e da marinha que pretendam assistir a essa cerimónia deverão requisitar os respectivos bilhetes na intendência do Arsenal para si e pessoas de família.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 13 de Maio de 1936)

O ressurgimento da Marinha de Guerra
O lançamento à água do aviso “João de Lisboa”
O sr. ministro da Marinha vai convidar o sr. Presidente do Ministério e restantes membros do Governo, bem como o governador civil, governador militar, major-general do Exército, presidentes da Câmara Municipal e da Assembleia Nacional e outras autoridades civis e militares a assistir ao lançamento do novo aviso “João de Lisboa”.
A madrinha do novo navio será a neta do sr. Presidente da República, que será acompanhada pela esposa do Chefe de estado.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 14 de Maio de 1936)

O lançamento ao mar do aviso “João de Lisboa”
Foi determinado que para o lançamento ao mar do aviso de 2ª classe “João de Lisboa”, que se realiza no dia 21 do corrente, só será nesse dia permitida a entrada no Arsenal de Marinha, das 13 às 17 horas, exclusivamente, às pessoas munidas de bilhetes. Os oficiais do exército e da marinha que pretendam assistir a essa cerimónia, deverão requisitar os respectivos bilhetes na Intendência do Arsenal para si e pessoas de família.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 16 de Maio de 1936)

A nova esquadra
O lançamento ao mar do “João de Lisboa”
O sr. ministro da Marinha foi hoje convidar o sr. presidente do Ministério e ministros a assistir ao lançamento do navio “João de Lisboa”.
Foi publicado pelo Ministério da Marinha um folheto com as características do referido navio.
O pessoal dirigente do Arsenal que colaborou na sua construção foi o seguinte: Capitão-de-fragata engenheiro construtor naval Sousa Mendes, autor dos planos do navio; 1º tenente do mesmo quadro Valente de Almeida, que dirigiu a sua construção; agente-técnico Manuel Simões dos Santos, operário chefe das oficinas de construções navais de ferro; Manuel da Silva Reinaldo, operário chefe das oficinas de máquinas; Silvestre da Silva Tavares, operário chefe da carpintaria de banco; José Dias, operário chefe das oficinas de instalações eléctricas e Teodoro Marques Muller.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 19 de Maio de 1936)

Aviso “João de Lisboa”
O aviso “João de Lisboa”, que vai ser em breve lançado à água tem as seguintes características:
1.048,350 toneladas; comprimento entre perpendiculares 71,42; boca na flutuação 10 metros; imersão em 84; aparelho motor, 2 motores de 1.200 cavalos; velocidade 16,5 milhas; armamento 2 peças Vicker’s Armstrong T.R.150/50; 4 metralhadoras Vicker’s Armstrong anti-aéreas 40/20.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 20 de Maio de 1936)

A recepção ao sr. Presidente da República
a bordo do aviso colonial “João Lisboa”
Realiza-se na próxima quinta-feira o lançamento à água do aviso de 2ª classe “João de Lisboa”. Os oficiais generais da Armada comparecerão às 15,45 horas de grande uniforme na sala de visitas do sr. ministro da Marinha, a fim de acompanharem o sr. comandante Ortins de Bettencourt na recepção do sr. Presidente da República, que entrará no Arsenal pela porta do Ministério da Marinha.
As oficinas do Arsenal fecham ao meio dia ficando o pessoal dispensado do ponto da tarde. A guarda de honra ao sr. Presidente da República formará às 15,30 horas, no Arsenal de Marinha.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 20 de Maio de 1936)

O lançamento ao mar do aviso “João de Lisboa”
O sr. ministro da Marinha foi hoje convidar o seu colega das Colónias a assistir ao lançamento ao mar do aviso “João de Lisboa”.
No momento em que este navio entrar na água todos os navios embandeirarão nos topes, conservando o embandeiramento até ao pôr do sol e salvando, os que o possam fazer, com 21 tiros.
A construção deste navio desde o seu início tem sido dirigida pelo engenheiro construtor naval sr. Vicente Almeida.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 21 de Maio de 1936)

Imagem do aviso de 2ª classe "João de Lisboa"
Desenho previamente publicado no blogue dos navios e do mar

O aviso “João de Lisboa” foi hoje lançado à água com
a assistência do Chefe de Estado e do Governo
O Arsenal regurgita. Estão milhares de pessoas arrumadas por toda a parte. Há bandeiras a flutuar, vasos e festões de verdura. Por sobre um mar de cabeças eleva-se o casco do aviso “João de Lisboa”, que vai ser solenemente lançado à água. As tribunas, forradas de bandeiras e galhardetes estão cheias: muitas senhoras, oficialidade, centenas de convidados. Cá em baixo, ao nível das carreiras, mal se pode andar. O director das construções navais, capitão-de-fragata engenheiro Sousa Mendes, autor dos planos do navio e o seu camarada Valente de Almeida, que dirigiu a construção, recebem cumprimentos afectuosos.
Às 15 horas e 55 minutos, o sr. Presidente da República, seguido pelo Chefe do Governo, e por quase todos os ministros, e pelos almirantes, entra no Arsenal, pela porta de dá acesso ao Ministério da Marinha, sendo recebido e saudado pelo intendente do estabelecimento, sr. almirante Castro Ferreira e por toda a oficialidade.
O navio deslizou inesperadamente pela carreira,
antes do Chefe de Estado chegar à tribuna
Entretanto, um funcionário das Construções Navais vinha a correr avisar de que era conveniente chegar depressa à tribuna, pois o navio, ao retirarem-se as primeiras escoras começava a dar de si, ameaçando deslizar de um momento para o outro. Todos apressaram a marcha a caminho da tribuna, mas já era tarde: o “João de Lisboa”, às 15 horas e 58 minutos descia velozmente pela carreira, arrastando algumas escoras e ameaçando apanhar um operário, que se salvou por milagre. Houve um momento de emoção.
A guarda apresenta armas e a banda rompe com a «Portuguesa». Os clarins soam estridentemente com a marcha de continência. Estrugem as manifestações populares e o novo navio de guerra entra elegantemente nas águas. A meio do rio, divisa-se o fumo das salvas: as unidades da esquadra saúdam com 21 tiros o novo navio.
Quando as pessoas já saíam do Arsenal, o Chefe do Estado dirigia-se para a intendência do estabelecimento, a fim de observar os planos do navio. Ao largo, dois rebocadores pegam no “João de Lisboa” e levam-no para uma bóia. E a multidão começou a debandar…
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 22 de Maio de 1936)

Características do aviso “João de Lisboa”
Nº Oficial: F477 - Iic.: C.T.B.V. - Registo: Lisboa
Construtor: Arsenal de Marinha, Lisboa, 1936
Arqueação: Tab 990,49 tons - Tal 232,41 tons
Deslocamento: St 1.107,00 t - Mx 1.238,10 t - Nm 1.217,90 t
Dimensões: Pp 71,42 mts - Boca 10,00 mts - Pontal 5,00 mts
Propulsão: Man, Alemanha - 2:Di - 8:Ci - 2x1200 Bhp - 16 m/h
Guarnição: 139 tripulantes
A nova esquadra
Estão a decorrer trabalhos em curso no Arsenal, no acabamento do novo aviso de 2ª classe “João de Lisboa”, ali lançado à água há meses. O navio entrou agora em doca seca, a fim de meter as hélices.
Interior e exteriormente todos os trabalhos de conclusão se encontram muito adiantados. Dentro de dois a três meses ser-lhe-ão instalados os motores e a artilharia.
O aviso “João de Lisboa” deverá ser incorporado no efectivo da esquadra em princípios do próximo ano.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 25 de Agosto de 1936)

O navio “João de Lisboa” foi classificado como aviso colonial de 2ª classe, e integrado como a segunda e última unidade da classe “Pedro Nunes”. Entrou ao serviço da Marinha Portuguesa em 1936, tendo navegado com as características de origem até 1961. A partir deste ano e até 1966, alterou o Nº Oficial para A2000, passando à classe auxiliar para continuar a navegar como navio hidrográfico.
Em 1966 foi abatido às unidades da Marinha e posteriormente, após completa transformação, foi-lhe aproveitado o casco para operar como batelão no porto de Lisboa.

domingo, 8 de maio de 2016

Leixões na rota do turismo!


Nova escala em porto do "Ocean Endeavour"

Ontem, o dia cinzento e muito chuvoso, voltou a não ser agradável para brindar o regresso deste pequeno navio de passageiros, que repetiu as visitas realizadas a Leixões, nos meses de Maio e Agosto de 2012, seguramente com melhores condições atmosféricas.





Acima, algumas imagens do "Ocean Endeavour", que chegou a Leixões procedente de Lisboa, prosseguindo a actual viagem de cruzeiro com destino ao porto francês de Brest.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

História trágico-marítima (CLXXXIX)


O encalhe e posterior destruição do casco do vapor "Inga I",
na barra do rio Douro, em 29 de Março de 1936

Outro sinistro na barra do “Douro”
O vapor norueguês “Inga I”, quando demandava a barra, bateu contra um rochedo e foi encalhar próximo do cais de Felgueiras.
Ocorreu, no Domingo, um novo sinistro na barra do Douro, que trouxe ao Porto mais umas horas de inquietação e de ansiedade. A barra maldita, no seu fatalismo de sempre, parece comprazer-se em afugentar a navegação. Tem já a sua história trágica, a barra. Ainda há pouco tempo aconteceu o naufrágio do “Gauss”, em que pereceram alguns homens. A tragédia do “Deister”, em que perderam a vida 26 homens, apesar de decorridos 7 anos, não se apagou ainda da memória de todos. Mas a história dramática da barra é um rol maior e mais extenso de angústias inenarráveis.
O sinistro de Domingo não teve, felizmente, consequências trágicas. A tripulação do “Inga I”, o vapor encalhado ao demandar a barra, foi salva pelos bravos tripulantes do salva-vidas “Carvalho Araújo”. À coragem indómita desses homens, e à sua audácia que desafia o mar na sua temerosa luta, devem esses 16 noruegueses as suas vidas. Os tripulantes do “Inga I” não esconderam, nem ocultaram a sua admiração e o seu reconhecimento pelos nossos homens do mar.

O encalhe do “Inga I”
O vapor norueguês “Inga I”, saiu, na última terça-feira, de Cardiff, com destino ao rio Douro, carregando 1.500 toneladas de carvão, consignadas à firma Gomes de Almeida & Guimarães, da rua Infante D. Henrique, 15. Vinha sob o comando do capitão Georges Bugge, e trazia como primeiro piloto o sr. Strandberg, e como segundo piloto o sr. Korsnes: como chefe de máquinas o sr. B. Ellinasen, e como segundo maquinista, o sr. C. Foss. Tripulavam também o “Inga I” os srs. E. Isaksen, O. Ikvalvik, M. Borge, O. Kristiansen, H. Michaelsen, G. Anderson, N. Lerso, H. Markussen, O. Icleiveland, A. Aase e K. Frisvold.
Ante-ontem, de manhã, o “Inga I” apareceu a certa distância da barra. O mar estava um pouco picado, e o vapor norueguês ficou muito ao largo, aguardando melhor ocasião para entrar. Em sua volta estavam, também uns 6 vapores, que esperavam demandar, no momento próprio, a barra do Douro.
O piloto-mor, como o mar estivesse mau, ordenou que seguissem para Leixões dez pilotos, a fim de tomarem uma lancha que os havia de conduzir para bordo dos vapores, que baloiçavam ao largo. Os pilotos assim fizeram. Introduziram-se nos respectivos vapores, para orientarem nas manobras de entrada da barra e as amarrações dos barcos. No “Inga I” entrou o piloto sr. Francisco Soares de Melo, que se pôs logo em contacto com a tripulação.
Às 16 horas e 35 foi içado no mastro do Castelo da Foz o sinal convencional para a entrada dos vapores, em relação aos seus calados de água. Depois de terem entrado os vapores noruegueses “Douro”, “Cresco”, “Grana” e o português “Shell 15”, coube a vez ao “Inga I”, que começou a fazer o enfiamento do canal da barra. Ao aproximar-se da «Ponta do Dente», o vapor, fraquejando à corrente do rio, desgovernou, indo bater numa pedra pelo oeste, produzindo um rombo. O “Inga I”, atravessado à corrente do rio, foi pela mesma arrastado na distância aproximada de 500 metros, indo encalhar num banco de areia ao sudoeste da barra, próximo do local onde, há 7 anos, naufragou o vapor alemão “Deister”. O vapor “Inga I” largou, nessa altura, os dois ferros.

Momento de pânico – Os primeiros socorros
A tripulação do “Inga I”, vendo a má situação em que estava o vapor, tratou de preparar os escaleres de bordo, ao mesmo tempo que envergava os coletes de salvação. Enquanto era desenvolvida esta actividade, com compreensível nervosismo, o capitão pedia socorro por meio do apito de bordo. Estabeleceu-se grande alarme, correndo a notícia célere pela cidade.
Acorreram para o local, de todos os pontos, milhares de curiosos, servindo-se de todos os meios de transporte. Ao longo dos cais e avenidas próximas a multidão, cheia de inquietação e ansiedade, tomava as suas posições, para ver os trabalhos de salvamento da tripulação do navio encalhado.
Da barra do Douro partiram para o local os rebocadores “Mars II”, “Vouga I”, “Tritão”, “Neiva” e “Lusitânia” e os salva-vidas, a remos, da Foz e da Afurada, que se dirigiram para as imediações do vapor encalhado. Momentos depois saíam de Leixões, a toda a pressa, o salva-vidas a motor “Carvalho Araújo” e uma lancha-motor dos pilotos daquele porto.
Por terra compareciam, ao mesmo tempo, as corporações dos Bombeiros Voluntários do Porto, Portuenses, Municipais, Voluntários de Matosinhos-Leça e de Leixões.
O momento era impressionante. Havia em todos uma emoção profunda, que se justifica plenamente, atendendo à tragédia do “Deister”, que se desenrolou, mais ou menos, naquele ponto onde o “Inga I” estava na mais critica situação.
Os Bombeiros Voluntários do Porto, sob o comando do sr. Capitão Miranda, e instalados no cais de Felgueiras, prepararam um foguetão, que lançaram, pelas 18 horas e 10, em direcção ao “Inga I”. O foguetão não atingiu o vapor, devido à grande distância a que ele se encontrava de terra.
A sirene de bordo continuava a fazer-se ouvir, denunciando a gravidade da situação do vapor norueguês.
De bordo, os tripulantes vendo que o foguetão não atingira o vapor, e que os salva-vidas não podiam aproximar-se, lançaram por meio de uma pipa, uma espia ao mar, no intuito de alvejar qualquer das embarcações que se encontravam próximas, e estabelecer contacto com o navio. Não conseguiram, porém, o seu intento, pois a corrente de água fez mudar de direcção a referida pipa, para um lugar onde não podia ser apanhada. A situação tornava-se, assim, mais angustiosa.

O salva-vidas “Carvalho Araújo” em plena luta
com o mar, consegue salvar a tripulação
O salva-vidas “Carvalho Araújo”, tripulado pelos bravos homens do mar, srs. António Rodrigues Crista (patrão), Aristides Moleta da Silva (maquinista), Jaime Serafim Bessa, António Francisco da Silva e Ricardo Rodrigues da Costa, começou a rodear o vapor, procurando manobrar no sentido de o poder abordar.
O momento é de uma emoção singular. A multidão, silenciosa, fixa os seus olhos no pequeno barco, que, em plenas vagas, luta temerosamente para atingir o “Inga I”.
Há momentos em que parece que o “Carvalho Araújo” vai submergir-se. Mas em breve, o salva-vidas endireita-se, como triunfante numa luta formidável e vai direito ao vapor norueguês, fazendo a abordagem. Os corajosos homens, habituados ao mar, afeiçoados a esta luta sem igual, nada temendo, nem a própria morte, não largaram o local, pouco convidativo, enquanto não tiveram a bordo da sua frágil embarcação as 17 vidas que estavam a bordo do “Inga I”.
Pelos milhares de pessoas passou uma sensação de alívio e de singular admiração pelos bravos e indómitos homens do “Carvalho Araújo”.
Havia, porém, outra grande dificuldade a vencer. A situação do “Carvalho Araújo” não era boa, porque estava um pouco encostado ao vapor norueguês e as vagas eram alterosas, e por vezes saltavam a popa daquele vapor, correndo sobre o casco. O patrão do salva-vidas, senhor do leme, lutando contra os vagalhões, fez-se a terra. Foi um momento de heroísmo.
O barco tomou, depois, rumo em direcção à barra, trazendo a bordo os náufragos. Ao entrar a barra, triunfante na guerra dos elementos, a multidão, emocionada, acenava milhares de lenços, e batia palmas de contentamento e de admiração pelos bravos marítimos.
Foi um espectáculo empolgante e grandioso. Os homens do “Carvalho Araújo”, olhavam a multidão com aquela simplicidade e rudeza que lhe são peculiares. Para eles fora apenas um serviço feito com certa felicidade, e que lhes dera satisfação por poderem salvar aqueles 17 vidas – aqueles companheiros das mesmas fainas do mar.
O barco seguiu até ao cais do Marégrafo, onde já se encontravam os srs. Carlos Gonçalves Guimarães e José Gomes de Almeida, aos quais vinham consignados o vapor e a respectiva carga.
Desembarcaram ali os náufragos, alguns dos quais traziam sacas com as suas roupas. Outros nada traziam, porque não tiveram tempo de salvar as suas coisas.
O último a saltar para terra foi o comandante do “Inga I”. O sr. capitão Bugge, embora um pouco extenuado, teve palavras de exaltação e simpatia para a acção dos tripulantes do “Carvalho Araújo”, «a quem – acentuou - todos nós devemos a vida».
Apareceu ali, também, uma camioneta com guardas da P.S.P., sob o comando do sr. tenente Rogério Abranches. Os tripulantes do “Inga I”, seguiram, naquela camioneta para o Hotel da Boavista, onde ficaram hospedados. Os tripulantes do “Carvalho Araújo”, acompanhados pelo seu arrojado patrão António Crista, dirigiram-se para a Capitania de Leixões, a fim de se apresentarem ao sr. Capitão do Porto.
A notícia do salvamento dos tripulantes do “Inga I”, espalhada pelos cartazes noticiosos, causou a mais agradável sensação.

O reconhecimento dos tripulantes do “Inga I”
Estivemos no hotel onde estão hospedados os náufragos. Tinham passado os maus momentos, e, entre novos e velhos, havia grande satisfação e uma viva alegria. O 1º piloto, sr. Strandberg, um rapaz alto e louro, cheio de vida e de bom humor, acolhe-nos com um sorriso franco.
Perguntamos-lhe se estavam satisfeitos com os socorros rápidos que lhes foram prestados, ao que nos declarou:
- Estamos contentíssimos. Não podemos esquecer o que os tripulantes do “Carvalho Araújo” fizeram por nós. A sua bravura impressionou-nos profundamente, e nunca os esqueceremos. São uns grandes camaradas.
Os outros tripulantes acompanhavam e aprovavam as expressões de simpatia que o sr. Strandberg teve para com os tripulantes do salva-vidas “Carvalho Araújo”.
O capitão do vapor, que fora expedir telegramas, ao chegar ao hotel, manifestou-nos, também, a sua grande admiração pelos bravos homens daquele barco salva-vidas.

Outros pormenores
O “Inga I” foi construído em 1918, nos estaleiros Mosse, e pertence à Sociedade Eliassen, de Bergen, Noruega. Desloca 1.183 toneladas brutas e 689 toneladas liquidas. Mede 226 pés de comprimento e 36.6 de pontal.
O vapor norueguês manteve-se, durante a noite, na mesma posição. Ontem, durante o dia pouco se alterou a sua situação, havendo ainda esperança do seu salvamento.
Os tripulantes do “Inga I” andaram ontem pela cidade. O sr. Cônsul da Noruega visitou-os, logo após o salvamento, e ontem, de manhã.
Apesar da fraca visibilidade, na Foz, afluíram, ontem, ali, numerosas pessoas, a fim de verem o “Inga I”.
A entrada da barra está, ainda, livre, pois o “Inga I” não estorva o seu acesso, pela distância a que se encontra.
(In jornal “Comércio do Porto”, segunda, 30 de Março de 1936)

Desenho de navio do tipo idêntico ao "Inga I"

Características do vapor “Inga I”
1919-1936
Armador: A/S D/S “Inga I”, (Johan Eliassen), Bergen, Noruega
Nº Oficial: N/t - Iic: M.S.J.B. - Porto de registo: Bergen
Construtor: A/S Moss Vaerft & Dokk, Moss, Noruega, 07.1918
ex “Inga I”, Helleso’s Rederi II, Bergen, Noruega, 1918-1919
Arqueação: Tab 1.183,00 tons - Tal 689,00 tons
Dimensões: Pp 69,01 mts - Boca 11,13 mts - Pontal 4,75 mts
Propulsão: Moss Vaerft & Dokk - 1:Te - 3:Ci - 97 Nhp - 9,5 m/h
Equipagem: 16 tripulantes

Ainda o encalhe do vapor norueguês “Inga I”
A chegada de vapores salvadegos
O vapor norueguês “Inga I”, que no Domingo, ao demandar o porto, encalhou próximo da barra, mantém-se no mesmo lugar. A sua posição é, também, a mesma, embora esteja um pouco mais submerso. O mar, ainda um tanto agitado, cobriu por vezes, com as suas vagas, todo o convés do vapor norueguês. Não lhe produziu avarias de maior, não estando de todo afastada a ideia de salvamento, embora exista um rombo devido ao embate com o rochedo.
Ante-ontem, o salva-vidas “Carvalho Araújo, saiu de Leixões, conduzindo o sr. capitão Bugge e outros tripulantes do “Inga I”, para retirar do vapor algumas roupas, documentação e o gato de bordo. Ao fim da tarde o “Carvalho Araújo” entrava de regresso a Leixões, sem novidade.
Procedente de Setúbal, chegou a Leixões o vapor salvadego dinamarquês “Geir”, da mesma companhia a que pertence o vapor “Valkyrien”, que vem sondar o “Inga I”, a fim de ser estudada a possibilidade do seu salvamento. Em tal caso, serão apresentadas propostas à firma a que vêm consignados o vapor e a sua carga. Com o mesmo fim é esperado o vapor salvadego alemão “Max Berendt”.
Ontem afluíram à Foz do Douro numerosas pessoas, que ali foram ver o navio sinistrado. A meio da tarde, sobrevoou aquele vapor um hidro-avião da base de S. Jacinto, que provocou viva curiosidade.
Os tripulantes do “Inga I” já tem a sua documentação legalizada, e aguardam instruções da Noruega para regressarem àquele país.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 1 de Abril de 1936)

Ainda o encalhe do “Inga I”
A barra do Douro
O vapor norueguês “Inga I” está um pouco adornado a bombordo. O mar, na maré da noite de ante-ontem, levou-lhe a ponte de comando. Agora, do “Inga I” só se vê a chaminé e os mastros. Pode, por isso, considerar-se perdido.
A barra do Douro não deu, ainda, movimento às embarcações que estão ao largo, devido à forte corrente da água. No entanto, o volume do rio é menor. É, pois, provável que entrem hoje no Douro alguns dos nove vapores que estão ao largo a aguardar ocasião para demandarem a barra.
O rebocador “Vouga Iº”, andou ontem, com pilotos a bordo, a fazer sondagens à entrada da barra.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta,3 de Abril de 1936)

Ainda o encalhe do “Inga I”
O vapor norueguês “Inga I”, encalhado num banco de areia a sudoeste da barra, continua na mesma situação, mas um pouco mais submerso.
O “Inga I” considera-se perdido. Embarcaram, ante-ontem, em Vigo, no vapor alemão “Cap Norte”, com destino a Hamburgo, 14 tripulantes do “Inga I”. Outro tripulante seguiu para Valencia, para tomar parte na tripulação dum vapor que se encontra ali fundeado.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 4 de Abril de 1936)

A Noruega distinguiu com medalhas a tripulação
portuguesa do salva-vidas “Carvalho Araújo”
Oslo, 30 – O conselho de ministros concedeu medalhas de salvamento à tripulação do barco salva-vidas português “Carvalho Araújo” que, em 29 de Março, ao largo do Porto, salvou a tripulação do navio norueguês “Inga I”, em condições extremamente difíceis.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 1 de Maio de 1936)

Ainda o encalhe do “Inga I”
Este vapor encalhado há meses à entrada da barra do Porto, está hoje ligado ao Cabedelo, por um banco de areia, que em breve dará acesso a pé enxuto, entre o Cabedelo e o referido vapor; e, se agora, não causa dificuldades de maior, devido à quadra actual geralmente de bom mar e tempo, não é de esperar que ao aproximar-se o Inverno, esta situação se mantenha, mas sim que se agrave, tornando o acesso à barra do Porto muito perigoso, motivo pelo que a destruição do casco do “Inga I” se impõe sem demora, para que também o banco de areia em que assenta se vá dissipando, com a ajuda dos ventos de Norte e Noroeste, predominantes neste período.
A direcção da Associação Comercial considerando esta situação resolveu, perante as entidades respectivas, instar novamente pela destruição a dinamite do casco do “Inga I”. Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a sessão.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 12 de Junho de 1936)

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Leixões na rota do turismo!


A segunda escala em porto do "Corinthian"

Hoje aconteceu ter faltado o sol da nossa simpatia!
O dia esteve cinzento, molhado, triste, e pouco propício para conseguir boas imagens deste pequeno, mas luxuoso navio de passageiros. A primeira visita ao porto teve lugar há sensivelmente um ano atrás, com melhores condições para proporcionar aos turistas um agradável passeio pelo corredor Património da Humanidade.




Dentro do possível apresentamos algumas fotos do "Corinthian", que pertence à Grand Circle Cruise Line e que habitualmente navega nas águas geladas próximas à Antartida.
Actualmente, encontra-se num cruzeiro à procura de sol e melhores temperaturas, vindo procedente de Lisboa, e iniciado a continuação da viagem, já noite, com destino ao porto de Vigo.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Leixões na rota do turismo!


A segunda escala em porto do "Mein Schiff 1"

Como já tinha antecipado, e desde que se confirmem os respectivos avisos de chegadas, vai acontecer por diversas vezes durante este mês «o dia de S. Navio», e hoje, ao quarto dia, somam-se três visitas, e a tendência é aumentar, porque há mais para amanhã.





Imagens do navio de passageiros "Mein Schiff 1", esta manhã em Leixões, tendo chegado procedente de Lisboa e, como a grande maioria de navios de passageiros que por cá fazem escala, saiu com destino ao porto da Corunha.

terça-feira, 3 de maio de 2016

Divulgação


Congresso Internacional Construção Naval
Arte Técnica e Património



Congresso Internacional Construção Naval
Arte, técnica e património

Vila do Conde irá acolher nos próximos dias 23 a 25 de maio, no Teatro Municipal, um congresso internacional “Construção Naval. Arte, Técnica e Património”, dedicado à construção naval em madeira, ao património e turismo e às memórias sociais e comunidade.
Destinado a quem procura saber mais sobre esta técnica e à ligação secular a Vila do Conde, nomeadamente professores, alunos e investigadores da área, bem como ao público em geral, procurará contribuir com novos conhecimentos e proporcionar debate em torno dos temas supra mencionados, contando com a intervenção de académicos, políticos com responsabilidades na área patrimonial e agentes económicos. As línguas oficiais do congresso serão o Português e o Inglês, com tradução simultânea.
A realização deste congresso insere-se no macro projecto “Vila do Conde. Um Porto para o Mundo”. Vila do Conde é sede de um município com uma longa tradição marítima, que desempenhou um papel assinalável no decurso da expansão ultramarina portuguesa. A cidade é também conhecida pela sua longa tradição de construção naval. Hoje, em Vila do Conde estão sediados os únicos estaleiros portugueses, em escala empresarial, especializados em construção naval em madeira. Aqui foram construídas réplicas de caravelas e naus, estando um exemplar destas últimas ancorada junto à Alfândega Régia/ Museu da Construção Naval e CEDOPORMAR (Centro de Documentação dos Portos Marítimos Quinhentistas), assumindo-se como parte integrante de um complexo patrimonial que pretende evocar essa tradição marítima.
Tentando preservar essa memória e esse legado vivos, decorre, neste momento, um processo de submissão, pelo Município de Vila do Conde, de um projecto de classificação desse conhecimento como património nacional e espera-se que Portugal o venha a submeter à classificação, pela UNESCO, como Património Cultural Imaterial da Humanidade. O projecto “Vila do Conde. Um Porto para o Mundo” pretende, precisamente, dar sustentabilidade a esse objectivo, combinando pesquisa académica com estratégias de preservação patrimonial e interacção com a Comunidade.

Teatro Municipal Av. Dr. João Canavarro 4480 – 668 Vila do Conde
Telefone: 252 290 050 - E-mail: teatromunicipal@cm-viladoconde.pt
(Texto cedido pelos organizadores do congresso)

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Leixões na rota do turismo!


Mais dois navios de passageiros no primeiro dia de Maio

Os navios de passageiros "Seabourne Quest" e "The World", são os primeiros dois paquetes dos 14 previstos para visitar o porto, no decorrer do presente mês. Não são esperados neste período navios a realizar primeiras escalas em porto, salvo uma ou outra excepção, que ainda não tive oportunidade de confirmar.




Imagens do navio de passageiros "Seabourne Quest", em cruzeiro com turistas americanos, em pleno périplo ibérico. Chegou procedente de Lisboa, tendo seguido viagem para o porto da Corunha.




Também imagens do navio-residência "The World", que se encontra em porto desde ontem e que após uma mais prolongada estadia, deverá continuar viagem a partir de amanhã, terça-feira, cerca da meia-noite. O "The World" chegou proveniente de Lisboa, seguindo viagem para o porto de Santander.