sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Efeméride - 50 anos sobre o encalhe do "Arnel"


O " Arnel " da Empresa Insulana
1955 - 1958
50 anos sobre o naufrágio

Depois do lembrete em comentário recente do amigo e Sr. João Coelho, que agradecemos, quisemos recordar a curta existência deste navio e o respectivo naufrágio, com o seu quê de trágico, enlutando diversas famílias da Ilha de Santa Maria.

O "Arnel" em 1º plano - imagem do site CAM/EIN

Como resultado do deficiente serviço de cabotagem oferecido aos Açoreanos, efectuado por palhabotes no transporte de passageiros e mercadorias, que durou quase até ao início da década de 50, a Empresa Insulana de Navegação optou pela compra de 2 navios, o "Cedros" e o "Arnel", com características específicas para esse mesmo tráfego. Foram encomendados aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e a sua construção terá orçado em 14 mil contos por navio.

O "Arnel em Lisboa" - imagem do site CAM/EIN

Ambos os navios foram registados no porto de Ponta Delgada. O "Arnel" tinha de Tab 1.025,00 to e uma Tal com 551,16 to. O comprimento Ff era de 59,57 mt, entre Pp 53,90 e de Boca 10,10 mt. Estava preparado para transportar 144 passageiros e tinha uma equipagem com cerca de 25 tripulantes. Julgamos que a máquina tenha sido uma Sulzer, com 1 motor diesel que lhe assegurava uma velocidade entre as 12 a 13 milhas por hora.

O "Arnel" encalhado - imagem do site CAM/EIN

Navegando de porto em porto, com escalas curtas e ininterruptas, o "Arnel" dava início a mais uma viagem que o levaria de Vila do Porto, na Ilha de Santa Maria, para o porto de Ponta Delgada, na Ilha de S. Miguel. Sexta-feira, 19 de Setembro de 1958, o navio aproximou-se 300 metros da costa a norte da ilha, numa rota que se revelaria fatal. Logo após as 3 horas da manhã, encalhava no baixio do Anjo, abria um rombo junto à casa da máquina, que lhe paralisou o motor e pior ainda lhe cortou a hipótese de ter pelo menos corrente eléctrica a bordo. Em plena noite, às escuras e com o mar a dar sinais de querer invadir o navio, tinha-se gerado o panico e a confusão perfeitamente normal e comum nessas circunstâncias.
O navio transportava 133 passageiros, muitos dos quais embarcados em Vila do Porto e alguns Micaelenses de regresso a casa. Por exigência dos passageiros o Capitão José Rodrigues Bernardes, velho e experimentado marinheiro Açoreano, concorda em fazer descer uma baleeira. Entram 17 pessoas que esperam chegar a terra e pedir socorros. A baleeira vira-se e nos instantes seguintes naufragos apercebem-se que o Rev. Artur Brandão, Capelão do Aeroporto de Santa Maria tenta acudir a uma mãe com o filho ao colo. Esforço inglório. Apenas 3 tripulantes da baleeira rumam a terra e dão o alarme. O guincheiro de bordo José Joaquim foi uma das vitimas, junto a 2 passageiros Micaelense e 11 residentes em Santa Maria, entre os quais duas crianças, uma com 4 anos de idade, outra com apenas 8 meses.

Chegam 5 helicópteros da base das Lajes, na Ilha Terceira e equipas de socorro de S. Miguel, embarcados no salva-vidas "Almirante Augusto de Castilho", no rebocador "Gazela" e também em dois iates particulares. Já durante o dia os helicópteros resgatam passageiros e tripulantes. Dias depois o navio solta-se das pedras e flutua. Não teve rebocadores na ocasião que o pudessem levar para o largo. Desloca-se alguns metros para o norte e senta-se novamente sobre pedras. Está perdido para sempre.

O "Arnel" - desenho de Luís Filipe Silva

P.S.- Com muita pena minha não consegui encontrar fotos do navio tiradas no norte do país, motivo pelo qual recorri às imagens no trabalho dos amigos Carlos Monteiro e Luís Filipe Silva, com os meus antecipados agradecimentos.

1 comentário:

joão coelho disse...

Mais informações preciosas - as suas - sobre o náufrágio do "Arnel", há 50 anos.
Em Ponta Delgada a noticia do encalhe espalhou-se rápidamente e a reacção foi, à escala, como a dos ingleses perante Dunquerque; tudo o que tinha alguma porte, foi para Santa Maria: o salva-vidas do ISN "Almirante Augusto de Castilho", o pequeno rebocador "Gazela" da Junta Autónoma dos Portos, os iates "Santo António" e "Senhora da Guia", dos Parece (que faziam a ligação P.Delgada/Vila do Porto)..tudo menos um bom e potente rebocador, que não existia em S.Miguel. Na Horta devia estar o holandês da Smit que fazia comissão no Faial, mas não me recordo se estaria em serviço no mar, longe das ilhas e sem possibilidade de intervir. As fotos do "Arnel" encalhado, que conheço, sempre deram a sensação de que, havendo meios, o navio poderia ter sido salvo. Valeram os americanos, felizmente, para resgatar a maior parte dos passageiros.
Como substituto do "Arnel" chegou mais tarde o "Ponta Delgada", o mais famoso "bailarino" dos mares açorianos que acabou os seus dias em Lisboa, há pouco tempo, depois de ter estado a apodrecer no cais, ali para os lados de Xabregas.

Um abraço com

saudações marinheiras

João Coelho