quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Memórias dum passado recente!... (6)


O lançamento à água do contra-torpedeiro “Douro”

Lisboa, 23 de Janeiro – Revestida da maior solenidade, realizou-se ontem a cerimónia do lançamento à água do destroyer “Douro”, fabricado por artífices portugueses no Arsenal de Marinha.
O recinto destinado aos convidados achava-se completamente apinhado de gente. No chamado pátio da administração encontrava-se uma força de 60 marinheiros, sob o comando do oficial Victor Gomes, bando do corpo e um terno de corneteiros. Esta força era destinada a fazer a guarde de honra. O pavilhão dos serviços administrativos era destinado para o governo, corpo diplomático, oficialidade, etc.
O navio que ia ser lançado à água tinha arvorada num mastro a bandeira nacional. Numa improvisada tribuna, à proa, ultimavam-se os preparativos da cerimónia.

Imagem da cerimónia na revista "Ilustração Portuguesa"
Nº 363, Lisboa, 3 de Fevereiro de 1913, pág. 143

Estavam ali o director interino das oficinas do Arsenal, Álvaro Lorens, o 1º tenente maquinista Santos Silva, o guarda-marinha Ferreira, autor de um aparelho medidor da velocidade e resistência do navio a deslizar na calha, e dois desenhadores do Arsenal, Salvador de Almeida e Francisco de Jesus Dias e os agentes técnicos Lamego e Viana. Dentro do navio o sota-patrão-mor Ventura, o patrão-mor e mestre das construções navais Fernando e os marinheiros do troço do mar ultimavam a bordo os últimos preparativos.
Pouco a pouco chegavam convidados e os srs. ministros da guerra, marinha, estrangeiros, fomento, interior e justiça, governador civil, oficialidade de mar e terra e o comandante da guarda republicana.
A entrada do sr. dr. Afonso Costa foi saudada com vivas e palmas. Momentos depois chegava o sr. presidente da república, aguardado à entrada pelos convidados. Fazia-se acompanhar pelos seus secretários e pelo capitão-de-mar-e-guerra sr. Vieira Bastos e major-general da armada sr. Teixeira Guimarães. A banda dos marinheiros executou o hino nacional e o presidente da república foi saudado pela multidão.
Às duas horas, um toque de apito anunciou os primeiros trabalhos do lançamento. Iam ser tiradas as oito escoras que amparavam o navio, quatro de cada lado. Nessa ocasião a multidão precipitou-se para junto do navio. Da tribuna eram feitos sinais com uma bandeirinha vermelha, depois içada no alto de uma placa com um algarismo correspondente à escora a deitar abaixo.
A convite do mestre da construção o sr. presidente da república aplicou ao navio as três palmadas do estilo e pronunciou estas palavras! - Vai “Douro”, em nome da pátria e da república. E que o teu lançamento à água seja o início do engrandecimento da marinha de guerra portuguesa.

Imagem da cerimónia na revista "Ilustração Portuguesa"
Nº 363, Lisboa, 3 de Fevereiro de 1913, págs. 144 e 145

Sobre a extensa calha o navio deslizou velozmente, tremulando no alto do seu mastro a bandeira nacional. A multidão soltou então entusiásticos vivas à república, à pátria, à marinha de guerra e ao exército, prolongando-se por largo tempo uma estrondosa salva de palmas, enquanto a banda dos marinheiros executava a «portuguesa». O sr. dr. Manuel de Arriaga abraçou o agente técnico sr. Lamego.
Os navios de guerra salvaram, os vapores apitavam com as suas sirenes e as guarnições subiam à mastreação e saudavam a república. O “Douro” descreveu uma bela curva, estacionando em frente ao Arsenal de Marinha.
Terminada a cerimónia, o sr. presidente da república foi cumprimentado pela numerosa assistência, sendo alvo de nova manifestação de simpatia à sua saída do Arsenal, bem como os membros do governo.
(In jornal “Comércio do Porto”, 23 de Janeiro de 1913)

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