quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

História trágico-marítma (CXXII)


O naufrágio do vapor "Oldenburg" (II)

O vapor de carga alemão “Oldenburg” encalhou, ontem, de
madrugada, em frente de Esposende, perto dos famigerados
Cavalos de Fão.
Na nossa costa marítima, registou-se, ontem (11.05.1936), mais um lamentável desastre – o encalhe do vapor alemão “Oldenburg” – e só devido ao bom estado do mar, que se manteve sensivelmente brando, não há a registar perda de vidas.

Como se deu o desastre
O vapor “Oldenburg”, que iniciou a viagem em Larache, Marrocos, saiu de Lisboa às 21 horas de sábado passado, navegava, normalmente, em direcção a Vigo, transportando um grande carregamento de mercadorias diversas. Porém, devido, talvez, ao nevoeiro, encostou-se demasiadamente a terra e, na madrugada de ontem – 2 horas da manhã, pouco mais ou menos – embateu, violentamente, contra as pedras do baixo do Crasto, próximo dos Cavalos de Fão, em frente a Esposende.
A noite estava escura, sendo grande o pânico que se estabeleceu a bordo, tanto mais que, além dos tripulantes, seguiam para a Alemanha 5 passageiros – três senhoras e dois homens. O vapor naufragado, apesar de ser um cargueiro de razoáveis dimensões, não possuía posto de T.S.F. Por isso, o alarme foi dado com insistentes toques de sirene, sendo lançados, também, alguns foguetões, para chamar a atenção de qualquer embarcação que navegasse perto.

Foto de autor desconhecido
Imagem da O.P.D.R. - Colecção Schmelzkopf

Identificação do navio
Armador: Oldenburg-Portugiesische Dampfschiff.-Rederei
Nº Oficial: N/t - Iic.: D.N.A.K. - Porto de registo: Oldenburg
Construtor: Schiffswerf. H. Koch, Lubeca, Alemanha, 1900
dp “Oldenburg”, Governo Francês, Bordéus, 1919-1922
dp “Oldenburg”, O.P.D.R., Oldenburg, Alemanha, 1922-1936
Arqueação: Tab 1.316,00 tons - Tal 828,00 tons
Dimensões: Pp 69,01 mts - Boca 9,81 mts - Pontal 5,70 mts
Propulsão: J.F. Ahrens, Altona - 1:Te - 3:Ci - 113 Nhp - 9 m/h
Equipagem: 19 tripulantes
Os socorros
Após o embate com as rochas, registado às duas horas, o “Oldenburg” começou a meter água. Os porões inundaram-se, em poucos minutos, correndo as caldeiras o risco de explodirem.
Os tripulantes e passageiros, acordados em sobressalto, acorreram ao convés, sem se lembrarem, sequer, das roupas e bagagens que a água ia inutilizando. Alguns minutos depois, a luz faltou, servindo-se, os náufragos de pequenas lanternas de bolso.
Entretanto aproximou-se a traineira “Senhora do Carmo II”, da praça do Porto, que andava nas cercanias, na faina da pesca. Munidos com coletes de salvação, os passageiros desembarcaram a custo, devido à agitação do mar, e tomaram lugar num bote do navio, que os conduziu para a traineira, cujo mestre, José Ferreira Neto, prestou aos náufragos a sua mais dedicada atenção. A traineira pairou ao largo, cerca de duas horas, à espera de alguns tripulantes do vapor, seguindo depois para Leixões, onde chegou por volta das 9 horas.
A situação do vapor
O baixo do Crasto fica a duas milhas e meia da praia de Fão. O “Oldenburg” está assente nas rochas, voltado a sueste e bastante inclinado sobre estibordo. A parte mais submersa é a popa, que, do lado de estibordo, é varrida pelas águas, quando o mar entra com investidas de maior violência.
A bordo, na esperança de poderem proceder a trabalhos para salvamento do vapor, ficaram o comandante e cinco tripulantes, que desembarcaram ao fim da tarde, por o vapor estar irremediavelmente perdido.
Os salva-vidas da Apúlia e de Esposende apressaram-se a comparecer no local do sinistro, não sendo, no entanto, utilizados os seus serviços, por se tornarem desnecessários.

Os passageiros
Dos passageiros, quatro andavam em viagem de passeio, tendo passado já por todos os portos do Mediterrâneo. Eram esses: Erich Haese, de Berlim; Gerhard Jastrower e sua esposa Erika Jastrower, de Zopyuz, e Anita Schenk, de Platjenverbe. A outra passageira, Gertrud Schultz, é uma professora alemã residente em Lisboa, e seguia para Hamburgo, em viagem de férias.
Os passageiros ficaram hospedados no Grande Hotel da Batalha, até que a agência do vapor lhes dê destino. Os tripulantes, em número de 19, estão hospedados em diversas pensões na cidade do Porto.
Características do “Oldenburg”
O vapor, que era comandado pelo capitão da marinha mercante W. Brinken Ges, foi construído em 1900. Pertencia, actualmente, à Oldenburg-Portugiesische Dampfschiffahrts-Rederei, GmbH., a apresentava as seguintes características:
Tonelagem bruta, 1.316 e líquida, 828 toneladas. Comprimento, 226 pés e 6 polegadas; largura 32 pés e 2 polegadas; calado, 18 pés e 7 polegadas.

Notas
- Às praias de Fão e da Apúlia foi arrojada grande quantidade de cortiça, que estava na proa do vapor.
- A meio da tarde, apareceu em Esposende o rebocador “Mars IIº”, tendo regressado imediatamente para Leixões, por serem desnecessários os seus serviços.
- O vapor tinha como representante na cidade do Porto, a considerada agência de navegação Burmester & Cª., Lda.
- Recolheu ao Hospital da Misericórdia o marinheiro Ernst Neuhaus, de 21 anos, tripulante do “Oldenburg”, de Altona, Alemanha, que deu uma queda a bordo, no momento do encalhe, tendo sofrido contusões no joelho esquerdo.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 12 de Maio de 1936)

Embarcaram, ontem, em Leixões,
os passageiros do vapor alemão “Oldenburg”
Conforme previsto, embarcaram, ontem (13.05.1936), às 18 horas, no vapor Schiffbek, em Leixões, os cinco passageiros do vapor alemão “Oldenburg”, encalhado na última segunda-feira, próximo dos conhecidos Cavalos de Fão, em Esposende.
Acompanharam os passageiros a Leixões, um empregado superior da casa Burmester & Cª., Lda., e o capitão do vapor naufragado Brinken Ges.
Com os passageiros, que seguem para Bremen, via Havre, embarcaram, também, três tripulantes do “Oldenburg”, escolhidos, à sorte, entre os seus camaradas. São eles: A. Johnsen, primeiro maquinista; K. Lange, criado de bordo, e P. Exnez, ajudante de fogueiro. Os restantes tripulantes, devem sair do Porto amanhã, seguindo por caminho-de-ferro até à Corunha, onde embarcarão no paquete “Oronac”.

O capitão do “Oldenburg”, Brinken Ges, informou não ter ido ontem junto do vapor, devido ao tempo que perdeu com os preparativos para o embarque dos passageiros e dos tripulantes que seguiram no “Schiffbeck”. Tem conhecimento, no entanto, que o mar tem desmantelado os camarotes e levado a carga que estava no convés.
Hoje, de manhã, irá a Fão acompanhado por um representante da casa Burmester, a fim de verem o estado actual do vapor e estudarem o possível salvamento de alguma carga e apetrechos de bordo. O vapor, como foi dito, está irremediavelmente perdido, sendo, portanto, desnecessário tentar o seu completo salvamento.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 14 de Maio de 1936)

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