terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

História trágico-marítima (CXXI)


O naufrágio na Terra Nova do bacalhoeiro “Santa Isabel” (II)

Aveiro, 25 - Esta região foi durante o dia de ontem (24.04.1971) alertada com a triste notícia de que o arrastão “Santa Isabel”, da praça de Aveiro, se tinha afundado na véspera, no Golfo de S. Lourenço, Terra Nova.
Ao saber-se do sucedido, houve cenas de pânico em todas as Gafanhas e na maruja cidade de Ílhavo, de onde é natural quase toda a tripulação. No entanto, pouco a pouco os ânimos começaram a serenar, pois a Empresa de Pesca de Aveiro fez anunciar o telegrama que daquelas paragens piscatórias chegara e que anunciava a infausta notícia. Mas logo dizia que toda a tripulação tinha sido salva pelo arrastão da mesma empresa e gémeo do “Santa Isabel”, o “Santa Cristina”, e pelo arrastão de Viana do Castelo “Vasco d'Orey”, que pescavam muito próximo do arrastão afundado.

O arrastão bacalhoeiro "Santa Isabel" (II), em Leixões
Imagem Fotomar - Matosinhos

Identificação do arrastão “Santa Isabel”
Armador: Empresa de Pesca de Aveiro, Lda., Aveiro
Nº Oficial: A-1764-N - Iic.: C.U.F.D. - Registo: Aveiro, 1965
Construtor: Est. Navais de S. Jacinto, Sarl., Aveiro, 18.03.1965
Arq.: Tab 2.055,95 tons - Tal 1.147,84 tons - Porte 19.926 qts.
Dimensões: Pp 74,15 mtrs - Boca 12,52 mtrs - Pontal 8,08 mtrs
Prop.: Werkspoor, 1965 - 2:Di - 2x6:Ci - 2.520 Bhp - 15 m/h
Equipagem: 70 tripulantes

Navio de arrasto pela popa foi encomendado pelo armador ao construtor em 10 de Outubro de 1963, pela quantia de Esc. 19.650.000$00. A quilha foi assente a 1 de Agosto de 1964 e foi lançado em 18 de Março de 1965. Arrastão com 2 mastros tinha popa de painel com rampa e 2 pavimentos.

O arrastão estava previsto regressar a Aveiro
dentro de quinze dias
O “Santa Cristina” iniciava já a viagem para Portugal com um carregamento de vinte mil quintais de peixe e deve chegar a Aveiro com toda a tripulação salva, do “Santa Isabel”, dentro de oito dias. O navio que se afundou estava praticamente carregado, pois tinha a bordo cerca de vinte mil quintais de bacalhau frescal e ainda uma boa carga de peixe congelado e óleo de fígado de bacalhau.
A pesca tinha decorrido bem e o “Santa Isabel”, segundo afirmou o sr. comendador Egas Salgueiro, proprietário da empresa do arrastão, fez sempre boas safras. Do mal o menos – disse aquele importante industrial –, pois que se salvou toda a tripulação que é o principal, apesar de se lamentar o prejuízo que advém da perda de tão moderna unidade da frota bacalhoeira.

As características do arrastão afundado
O “Santa Isabel” zarpara a caminho da Terra Nova em 26 de Novembro do pretérito ano (de Aveiro) e saíra de Lisboa em 28 de Dezembro, com chegada aos bancos de pesca a 3 de Janeiro do corrente ano. O navio havia sido construído nos Estaleiros de S. Jacinto e entregue à empresa em Janeiro de 1965. É de arrasto pela popa. Dotado dos mais modernos requisitos. O arrastão tinha de comprimento 80,30 mt; boca 12,50 mt; calado 5,50 mt; potencia 2.520 hp; velocidade 15,22 milhas; deslocação 2.715 toneladas. A unidade importara em cerca de cinquenta mil contos.

Um prejuízo total de cerca de 64 mil contos
Para além do prejuízo de cinquenta mil contos, decorrente do custo do arrastão, há ainda a acrescentar a este, o pescado que trazia a bordo. Assim temos: 20 mil quintais de bacalhau frescal – 12 mil contos; 80 toneladas de óleo de fígado de bacalhau – 40 contos; peixe congelado, 150 toneladas – 1.200 contos, com o valor do navio aproximadamente resulta em 64 mil contos. Acrescente-se que a companhia seguradora nunca vem a saldar na sua totalidade os prejuízos à empresa armadora, até porque estará privada de uma unidade durante mais de três anos, tantos quanto demora a construir um navio desta envergadura. E serão setenta famílias que irão passar por algumas dificuldades até que a empresa consiga (se é que o poderá vir a conseguir) o seu emprego noutros navios.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 25 de Abril de 1971)

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