quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Pesca do Bacalhau - Negócios de ocasião


O lugre " Paços de Brandão "
1922 - 1934 - 1951

Os bons negócios normalmente aparecem quando menos se espera. De forma fortuita quantas vezes através de um anúncio no jornal. Relatamos recentemente o nascimento da firma Testa & Cunhas, em Aveiro, desta vez foi a venda de um navio.

Como só descobri o anúncio ontem, lamento ter estado ausente na cerimónia da adjudicação, porém, não me inibo (mesmo à distância) de felicitar o Capitão José Silva Rios, pela excelente escolha e posterior aquisição. De tal forma feliz, que o Capitão Silva Rios fez questão de ser ele mesmo o seu primeiro comandante. Não consigo imaginar o valor do investimento, com a compra do navio, mas sei que o lugre estava avaliado (casco e dóries) em 198.000 escudos, cinco anos depois em 1928.
Apesar de ser um navio praticamente novo, segue para um estaleiro em Vila Nova de Gaia, a fim de receber a necessária adaptação às nossas linhas tradicionais e os melhoramentos necessários para a dureza das campanhas, que o futuro lhe destinava. Os detalhes respectivos contam certamente uma parte dessa história.

O "Paços de Brandão" no rio Douro
Detalhe em foto de autor desconhecido

Armador (1) : José da Silva Rios, Porto (1922)
Nº Oficial : B-178 > Iic.: H.P.A.B. > Registo : Porto
Construtor : J. Forsey, Marystown, Terra Nova, 1920
ex "General Rawlinson", reg. St. John, Terra Nova, 1920-1922
Tonelagens : Tab 187,34 to > Tal 134,71 to
Comprimentos : Pp 33,01 mt > Boca 8,20 mt > Pontal 3,36 mt
Máquina : Não tinha motor auxiliar
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Armador (2) : Veloso, Pinheiro & Cª., Lda., Porto (1934)
Nº Oficial : B-178 > Iic.: C.S.L.L. > Registo : Porto
Tnlgs.: Tab 187,34 to > Tal 134,71 to > Cpc.: 3.000 quintais
Cpmts.: Ff 38,66 mt > Pp 33,01 mt > Bc 8,20 mt > Ptl 3,36 mt
Equipagem : (28) 6 tripulantes e 22 pescadores
Máquina : em 1942 continuava a navegar sem motor auxiliar
Naufragou sob violento ciclone no Virgin Rocks, Terra Nova, durante a pesca, no dia 6 de Maio de 1951.

1 comentário:

Rui Amaro disse...

Olá Reimar
Pois o Paços de Brandão estava a afundar-se no Virgin Rocks e um “ganapo clandestino” de Massarelos, o Ramos, foi dos últimos a abandonar o navio, e ainda subiu a bordo para convencer um velho pescador, que em pânico não se decidia a saltar para o dóri. No Douro, escondera-se na carvoeira do lugre, e só foi encontrado ao largo da costa, pelo que não houve outra hipótese senão seguir a bordo e fazer a campanha, dando uma ajudasita ao cozinheiro. Depois de passar pelo Gil Eanes e pelo Hospital de St. John’s, veio para o Porto no Ana Maria, navio salvador. Boa escola para um futuro mareante de navio de vela, só que há chegada foi recebido festivamente como um herói, mas não deixou de fazer uma pequena visita ao largo Primeiro de Dezembro, vulgo PIDE. O Ramos, julgo que ainda é vivo, emigrou para o Brasil e foi empresário de sucesso, e numa das suas vindas á terrinha, foi entrevistado em programas de rádio e televisão.
Ali em Massarelos, naqueles dois navios de vela, houve várias tentativas de miúdos embarcarem clandestinamente, só que foram apanhados e colocados em terra, mas no passado longínquo alguns conseguiram, está claro com a conivência dos cozinheiros, sempre lhes davam uma folgasita nos descasque das batatas e tratavam de levar o balde com os restos da cozinha para os lançar borda fora, mas sempre para onde soprava o vento, se não tinham azar.
Qualquer dia a história do “ganapo clandestino do Paços de Brandão” há-de ser postada com mais pormenor no meu Blogue Navios à Vista.
Abraço
Rui Amaro