terça-feira, 18 de agosto de 2015

História trágico-marítima (CLVI)


O canhoneamento do lugre bacalhoeiro "Delães"
2ª Parte
Ataque ou retaliação?

Analisando o canhoneamento do lugre “Delães”, tal como aconteceu com o lugre “Maria da Glória”, constatam-se características que os distinguem de todos os outros navios afundados pelos submarinos, ou pela aviação alemã, durante a IIª Grande Guerra Mundial, porque não apresentam qualquer semelhança que os compare com unidades navais inglesas, civis ou militares.
Senão vejamos:
O navio de carga “Alpha” foi construído em Inglaterra, pelo que pode ter sido confundido pelos aviadores alemães como sendo ainda um navio dessa nacionalidade, a navegar a sudoeste da Cornualha, como da mesma forma pode ter sido óbvio confundir o vapor “Catalina”, em função do seu tipo de construção britânica de origem militar.
De igual modo pode considerar-se ter ocorrido uma situação semelhante à anterior, com o vapor de pesca “Cabo de S. Vicente”, também ele de origem inglesa; já os vapores “Ganda” e “Cassequel”, da Companhia Colonial, afundados por submarinos alemães em mar aberto, verifica-se nos relatórios dos ataques realizados, que os capitães dos submarinos optaram por fazer constar terem acontecido de noite, aumentando a dificuldade na identificação desses navios mercantes, decidindo o seu torpedeamento; e o vapor “Corte Real” da companhia dos Carregadores Açoreanos foi afundado por ter sido acusado de transportar mercadoria para portos de países inimigos, caso dos Estados Unidos e Canadá.
Em relação ao vapor de pesca “Exportador Iº”, afundado por um submarino italiano, e ao navio de carga “Maria Irene” torpedeado por um submarino inglês, dificilmente se compreende quais os motivos que justificaram os ataques, ambos seguramente por erro de identificação, mas neste caso agrava-se o episódio pelo comportamento incorreto da tripulação do submarino inglês, que abandonou o local sem providenciar auxílio aos náufragos.
Quanto aos lugres “Delães” e “Maria da Glória”, apanhados a pescar e a navegar em pleno teatro de guerra, num corredor de grande importância, por onde passavam com extrema regularidade os comboios com os abastecimentos vindos dos Estados Unidos para a Europa, e igualmente por onde pairavam as matilhas de submarinos alemães, toda e qualquer quebra de sigilo, a denunciar movimentos de unidades pertencentes a qualquer das partes beligerantes, iria logicamente provocar reações, que têm de ser vistas e entendidas como represálias infligidas pelos intervenientes.
Daí que, muito provavelmente, deve ter sido essa a circunstância que fez irritar ambos os comandantes dos submarinos alemães, considerando ter-lhes sido anulado o factor surpresa, que se antecipa primordial para que pudessem cumprir os seus objectivos. Acresceu ainda o facto de ser facilitada a localização desses navios de guerra, que por sua vez ficavam expostos aos ataques defensivos das forças aliadas.
A terminar, deve ficar muito claro que este comentário não pretende fazer a apologia do comportamento submarinista alemão, inglês ou italiano, relativamente aos processos brutais dos ataques efetuados contra navios dum país que privilegiou a neutralidade no conflito.
Porém, a confirmarem-se as suspeitas de terem sido lançados avisos sobre a presença de submarinos na área onde os lugres se encontravam, levou a que essas atitudes, certamente impensadas, pesassem pela partidarização entre os opositores em conflito, e daí serem interpretadas como um acto de guerra.

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