terça-feira, 30 de julho de 2013

Extreme Sailing Series


Vela
Regatas de alta competição

Poster alusivo ao evento

Decorreram durante o último fim de semana, as provas do périplo mundial de vela, respeitante aos catamarãs da classe "Extreme 40", que tiveram lugar no Porto, pelo segundo ano consecutivo. Estiveram presentes 8 barcos em representação de diversos países, tendo uma equipa portuguesa de Cascais participado a convite da organização pela primeira vez, com prestações plenamente satisfatórias. O público acorreu em larga escala a presenciar as 30 regatas previstas, espalhando-se ao longo de ambas as margens do rio Douro, aclamando efusivamente as melhores equipas e naturalmente os representantes da jovem equipa nacional.

Equipa Roff Cascais Sailing Team (Portugal)

Equipa Alinghi (Suiça)

Equipa Red Bull Sailing Team (Áustria)

Equipa Tilt (Suiça)

Equipa The Wave, Muscat (Omã)
Vencedor da prova

Equipa Sap Extreme Sailing Team (Dinamarca)

Equipa Realteam (Suiça)

Equipa Gac Pindar (Nova Zelândia)

Imagem de algumas das equipas em competição

segunda-feira, 8 de julho de 2013

História trágico marítima (LXXIII)


O naufrágio da escuna “Adolphine” em Sesimbra

Marinheiros, armadores e seguradores protestam; brigadas de voluntários perseguem estes estranhos piratas-salvadores, expressão que reflecte bem a inquietante ambiguidade do mundo marítimo. Há, evidentemente, as leis, os regulamentos, as convenções, mas há também os costumes obscuros e a inextirpável crença: tudo o que flutua, abandonado pelo homem, é pertença de todos. Contrariamente ao dinheiro, o destroço tem um cheiro. Odor dos dons surgidos do mar, odor desses bens cuja própria gratuitidade parece misteriosa, odor tão poderoso e penetrante que atrai tanto os habitantes da beira-mar como as gentes do interior. (1)
(1) de La Croix, Robert, História Secreta dos Oceanos, Bertrand, Amadora, 1979, (pp.200-201)

Já fiz referência no blog a outros naufrágios ocorridos nas proximidades de Sesimbra. Num dos casos, se a memória não me atraiçoa, relatei a heroicidade de pescadores locais, que em absoluto desprezo pela vida, salvaram a tripulação completa de um navio naufragado pela violência do mar. Numa outra situação relacionada com a fragata “Numancia”, também ali naufragada, foi mencionada a canibalização do navio ou seja, a vandalização em grau extremo por pessoas (eventualmente também pescadores), que fazendo uso de pequenas embarcações, tiveram acesso ao casco abandonado.
A pilhagem não é um exclusivo nacional e sabemo-lo ser combatida pelas autoridades, que em épocas remotas gerava confrontos de considerável violência, também já relatados no blog. A fome e a miséria das gentes do litoral era inicialmente sobreposta aos interesses do clero e mais tarde da fazenda nacional, que era quem mais beneficiava com os encalhes e os naufrágios dos navios, principalmente dos estrangeiros.
O naufrágio da escuna “Adolphine” não foi diferente de muitos outros, a que fizemos referência. É apenas mais um capítulo da nossa história trágico marítima.

Naufrágio e pirataria
Na noite de 14 para 15 do corrente, pelas 2 horas, deu à costa na praia de Sesimbra a escuna dinamarquesa “Adolphine”, capitão Hansen, procedente de Barcelona para aquele porto. Salvou-se toda a tripulação, que deitando-se ao mar foi levada para terra pelas ondas. Um dos marinheiros, porém, querendo depois ir a bordo para salvar algumas coisas, foi vítima da sua temeridade, porque sendo sacudido do navio por um forte balanço o mar o envolveu, e nunca mais apareceu.
Diz uma carta de Sesimbra que a pirataria se desenvolveu ali no seu auge. O navio foi invadido por centenas de habitantes de Sesimbra, que tudo roubaram; arrombando as caixas dos marinheiros na presença dos mesmos, e tirando delas o facto que melhor encontravam, sendo estes ameaçados com navalhas por tentarem opor-se a serem roubados.
Diz a mesma carta que na camara do capitão também nada escapou, ficando este apenas com uns calções e camisa que trazia no corpo quando veio para terra, porque o mais tudo lhe foi roubado pelos vândalos sesimbrões. Não escapou também o aparelho e as velas do navio, porque tudo desapareceu, levando cada um o que podia apanhar naquela ocasião de pilhagem. Que vergonha!
Felizmente a autoridade administrativa, que não pode obstar a que se praticassem estes roubos, conseguiu depois fazer entregar a maior parte dos objectos roubados, tanto aos marinheiros como ao capitão.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 23 de Novembro de 1858)

sábado, 6 de julho de 2013

Subsídios para a história da pesca do bacalhau


O 2º aniversário do navio hospital “Gil Eannes”


Dezenas de navios portugueses da pesca do bacalhau
saudarão o navio “Gil Eannes”, na sua chegada à Terra Nova

São João da Terra Nova, 26 – Doze navios de pesca portugueses chegaram a este porto na noite passada, a vanguarda de 40 esperados hoje para saudar o seu novo navio de apoio e celebrar o seu segundo aniversário.
O navio-apoio da frota de pesca dos portugueses nos bancos da Terra Nova, o “Gil Eannes”, chega de Lisboa, na sua primeira viagem com uma imagem de Nossa Senhora de Fátima e oito imagens mais pequenas como oferta à Catedral Católica de São João, que comemora no próximo mês o seu centenário.
Os dois aniversários que os portugueses estão a comemorar são o 500º da descoberta dos bancos da Terra Nova por marinheiros portugueses e o 400º do início da pesca portuguesa nesta região.
Os pescadores portugueses são familiares para os Terra-novenses, visto virem aqui muitas vezes abastecer os seus navios. Porém, São João nunca viu tantos ao mesmo tempo, sendo esperados hoje cerca de 4.000.
São passageiros do “Gil Eannes” o capitão Alan Villiers, escritor australiano e, em tempos, capitão de navios de vela, e o comandante Henrique dos Santos, que representa o Governo português e os interesses da pesca. Serão ambos homenageados pelas autoridades de São João.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 27 de Maio de 1955)

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Subsídios para a história da pesca do bacalhau


Pesca do bacalhau

O alvará de 14 de Outubro de 1506 demonstra, duma maneira evidente, que os portugueses foram os primeiros a fazer a pesca do bacalhau nos bancos da Terra Nova, na América, pois que já para ali iam nesta época.
Só do porto de Aveiro se destinavam àquelas paragens 60 navios por ano. De Viana e de outros portos, outros tantos. Além disto os nomes dos portos na Terra Nova, que são quase todos portugueses, e que ainda os conservam, são um documento que vem em apoio desta verdade.
Em 1578 os portugueses ocuparam ali 50 navios, e os ingleses 30. Uma grande parte do bacalhau que os portugueses iam pescar então na Terra Nova, era vendida para Inglaterra. Hoje é a Inglaterra que no-lo vende. Só a importação deste género pela barra do Porto pode calcular-se anualmente em mais de 100.000 quintais.
No ano económico de 1857-1858 o bacalhau despachado na alfândega do Porto, foi de 105.678 quintais, no valor de 529:243$910 réis, pagando 180:243$910 réis de direitos. No ano económico anterior a importação pela alfândega do Porto ainda foi maior, porque se elevou à cifra de 118.797 quintais, tendo pago 203:762$240 réis de direitos.
(In “Comércio do Porto”, quarta, 17 de Novembro de 1858)

terça-feira, 2 de julho de 2013

Resumo histórico do vapor "Cassequel"


O afundamento
2ª Parte

Foto do vapor "Cassequel" supostamente em Lisboa
Imagem da colecção de Francisco Cabral

O afundamento do “Cassequel”
Funchal, 20 – O segundo piloto do “Cassequel”, sr. José Dias Furtado, esteve esta manhã no Consulado Britânico, onde manifestou ao representante da Grã-Bretanha na ilha da Madeira, a gratidão dos 31 náufragos das duas baleeiras do “Cassequel”, que foram recolhidos pelo vapor português “Maria Amélia”, graças aos grandes esforços empregados pela tripulação de um avião inglês, que localizou as referidas baleeiras.
Os náufragos, interrogados pelo correspondente da United Press, foram unanimes em louvar a admirável coragem e serenidade do capitão do “Cassequel”, sr. Sebastião Augusto da Silva, que com a sua autoridade e saber proficiente consegui restabelecer imediatamente a serenidade a bordo e distribuir eficiente e rapidamente todos os tripulantes e passageiros pelas baleeiras de bordo, sem que se tivesse registado o menor desastre. Se não fosse a rápida e decidida acção do comandante do “Cassequel”, teria lavrado o pânico a bordo e a estas horas teríamos a lamentar perdas pessoais. Para se avaliar como foi a eficaz acção do capitão sr. Sebastião da Silva, basta dizer-se que o “Cassequel” se afundou dez minutos depois de ter sido torpedeado, após ter sido servido o jantar.

Amanhã, comparece na Polícia Marítima o sr. capitão Sebastião da Silva, comandante do vapor “Cassequel” para prestar declarações. Ontem, esteve naquela polícia o estudante Adérito Santos Tavares, um dos náufragos, que seguia para o Lobito ao encontro de seus pais, que não vê há seis anos, e que perdeu tudo o que levava.
Na Polícia Marítima, por ordem do seu comandante, 1º tenente sr. Sales Henriques, deram-lhe do cofre de assistência daquela polícia, dinheiro para as suas maiores necessidades, tendo já comprado vestuário. Aquele náufrago partiu ontem para Távora, sua terra natal, aguardando ali outro navio da C.C.N. para seguir para Angola.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 21.12.1941)

O torpedeamento do “Cassequel”
Os náufragos do vapor “Cassequel”, que foram recolhidos por um navio estrangeiro, que aportou a Gibraltar, onde os deixou, seguiram, ontem, para Espanha, devendo chegar, hoje, a Lisboa, de caminheta ou de comboio.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 23 de Dezembro de 1941)

O afundamento do “Cassequel”
Chegaram ontem a Lisboa 31 náufragos
No paquete “Lima”, da Empresa Insulana de Navegação chegaram, ontem, a Lisboa, os 31 náufragos do vapor “Cassequel”, recolhidos pelo vapor português “Maria Amélia” e conduzidos ao Funchal.
Vêem gratos pela maneira hospitaleira e carinhosa como foram tratados na Madeira, tanto pelas autoridades locais, como pelo povo. Contaram a sua odisseia, e, através da sua narrativa, ficou um ou outro pormenor até agora desconhecido. Depois do primeiro torpedo, o “Cassequel” parou o andamento e, como se tivesse partido o eixo da hélice, a máquina começou a rodar desordenadamente.
- Foi um inferno -, exclamaram eles. O torpedo, apontado para meia-nau, devido ao andamento do vapor, atingira-o na popa, a estibordo, levando, ao que parece, a hélice e o leme. Depois de recolhidos nas baleeiras e de se terem apagado as luzes, subitamente, ouviram novo estrondo. Foi nesse instante que o navio se desfez em chamas. Um clarão enorme iluminou todos, mas, mesmo assim, não conseguiram ver o submarino que os atacou. Devido ao facto das duas baleeiras onde se recolheram terem a bordo gente mais nova e, portanto, com mais forças para remar, perderam-se das duas outras embarcações. Na manhã de terça-feira, os ocupantes dos dois salva-vidas, que andaram sempre mais ou menos juntos, avistaram pelas 11 horas o avião inglês, que se aproximava deles. A tarefa dos tripulantes deste aparelho e de outro que apareceu depois para os localizar não podem eles esquecer, como motivo de gratidão.
Até ali o desanimo tinha-se apossado de todos, mas, daí em diante, sentiram que tinham razão para não perder as esperanças de salvamento. Foi então, perto das 21 horas, com o auxílio de fachos luminosos, lançados do avião, que o capitão do “Maria Amélia” descobriu as duas baleeiras e se aproximou delas, recolhendo os seus ocupantes e levando-os para o Funchal, de onde chegaram ontem.
No cais eram esperados por pessoas de família. Parte dos náufragos embarcou no paquete “Mouzinho”, com destino aos portos da África Portuguesa.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 28.12.1941)

Factos e ocorrência
O neutral e desprotegido vapor “Cassequel”, às 21 horas e cinquenta e sete minutos, do dia 14 de Dezembro de 1941, foi atingido à face da ré por um de dois torpedos disparados pelo submarino alemão U-108, sob o comando do capitão Klaus Scholtz, quando este se encontrava a cerca de 160 milhas a Sudoeste do Cabo de São Vicente. O vapor afundou-se rapidamente depois de atingido por um torpedo definido como o golpe de misericórdia a meio-navio, partindo-se em duas partes, pelas 22 horas e vinte e cinco minutos.
O vapor encontrava-se iluminado, mas não foi vista qualquer bandeira ou sinais identificativos à distância de 1.000 metros, pelo que o comandante do submarino decidiu-se pelo ataque e afundamento do mesmo, quando este se encontrava na posição longitude 35º08´N e latitude 11º14’O, pela impossibilidade de mandar parar um navio suspeito durante a noite.
No dia 15 de Dezembro o submarino alemão U-131, sob o comando do capitão Arend Baumann aproximou-se de duas baleeiras com náufragos do vapor “Cassequel”, tendo-lhes fornecido pão e água. Os sobreviventes nessa ocasião solicitaram ao comandante deste submarino, que os rebocasse até próximo da costa portuguesa, mas o pedido foi obviamente recusado.