quarta-feira, 30 de junho de 2021

Memorativo da Armada - As fragatas da classe F331 “Diogo Gomes” e F332 “Nuno Tristão”


A fragata “Nuno Tristão” vai ser-nos entregue
pelo Almirantado Britânico
Na segunda quinzena do corrente mês, realizar-se-á, na base naval de Plymouth, a cerimónia do hastear da bandeira portuguesa na fragata “Nuno Tristão”, uma das duas unidades que o Governo adquiriu recentemente ao Almirantado Britânico para reforço da Armada.
Estas fragatas, de cerca de 2.000 toneladas de deslocamento e de linhas semelhantes às dos actuais avisos de 1ª classe, são unidades modernas e muito bem apetrechadas. Chamavam-se, na Armada inglesa “Avon” e “Awe”, passando a denominar-se, na nossa Marinha, “Nuno Tristão” e “Diogo Gomes”.
Trata-se de unidades que se podem considerar como novas, não só porque têm pouco tempo de serviço, mas também pela sua robusta construção, boas qualidades de navegação, bom armamento e outro material de que estão dotadas, pois dispõem de radares, asdic, radiogoniometros e todo um conjunto de modernidades.
O armamento de cada um destes navios é constituído por 2 canhões de 101 mm, 6 de 40 mm, lança-foguetões, sistema de lançamento de cargas de profundidade e de morteiros, etc. A guarnição de cada navio será de 170 homens, entre oficiais, sargentos e praças.
A primeira fragata a ser entregue - a “Nuno Tristão” - cujo comando será confiado ao sr. capitão-tenente Horácio Rebordão, já efectuou as provas de mar, regulou agulhas e procedeu à desmagnetização. As experiências de artilharia deram também os melhores resultados, o mesmo se verificando no restante material de guerra. O navio alcançou a velocidade prevista e todas as outras provas satisfizeram.
A segunda fragata - a “Diogo Gomes” - cujo comando será assumido pelo sr. capitão-de-fragata Newton da Fonseca, deverá ser entregue, cerca de um mês depois. Parte das guarnições destes navios encontra-se já em Inglaterra, para trazer as referidas unidades para Lisboa.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 3 de Abril de 1949
Foto da fragata "Diogo Gomes"

Novas unidades da Marinha de Guerra
No dia 11 de Maio realiza-se, na base naval de Plymouth, a cerimónia do hastear da bandeira portuguesa nas fragatas de 2.000 toneladas “Diogo Gomes” e “Nuno Tristão”, adquiridas pelo Governo ao Almirantado Britânico para reforço da nossa Marinha de Guerra.
Assistirão à cerimónia o adido naval em Londres, sr. capitão-de-fragata Conceição Rocha, os comandantes dos dois navios srs. capitão-de-fragata Newton da Fonseca e capitão-tenente Horácio Rebordão, um representante do Almirantado Britânico, etc. Os dois navios devem largar para o Tejo, poucos dias depois da sua entrega ao nosso país.
Por via aérea, seguiu ontem, para Londres, um grupo de sete sargentos de Marinha, destinados à guarnição da nova fragata “Diogo Gomes”.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto, terça-feira, 12 de Abril de 1949

Marinha de Guerra
A aquisição das novas fragatas em Inglaterra
Plymouth, 22 – Estão na fase final os trabalhos de apetrechamento das fragatas “Diogo Gomes” e “Nuno Tristão”, cedidas pelo Almirantado Britânico à Marinha, as quais aprontam nesta base naval para hastearem a bandeira portuguesa, numa cerimónia que se realizará no dia 10 do próximo mês
Falta apenas, na “Nuno Tristão”, completar a instalação do radar e a “Diogo Gomes”, vai ainda realizar as provas de mar, na próxima semana. As guarnições portuguesas, que só passam a viver a bordo depois da entrega dos navios a Portugal, estão instaladas nas «Naval Barracks», de Plymouth, onde mantém a melhor camaradagem com os marinheiros britânicos.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto, Domingo, 24 de Abril de 1949
Postal ilustrado com a imagem da fragata "Nuno Tristão"

Arvorou, ontem, a bandeira portuguesa a fragata “Nuno Tristão”
Plymouth, 11 – Realizou-se hoje, de manhã, nesta base naval, com a maior solenidade, a cerimónia de entrega ao Governo português da fragata “Nuno Tristão”, de 2.000 toneladas, cedida pelo Almirantado Britânico à Marinha do mais velho aliado da Grã-Bretanha. Desejou o Almirantado que essa cerimónia se revestisse de um brilho e aparato militar, que estivesse em harmonia com as relações que unem há mais de cinco séculos as duas Marinhas, e, assim, organizou um programa que se cumpriu inteiramente.
Às 11 e 20 horas, um destacamento da Marinha inglesa, precedido da banda de música da Royal Navy, formou no molhe onde está atracada a “Nuno Tristão”. Quase ao mesmo tempo, vinda das «Naval Barracks», em formatura, chegou a guarnição portuguesa que ia tomar conta do navio. Pouco depois chegaram ao local os oficiais de comando da base naval, e às 11 e 40 horas, apeou-se do seu automóvel, junto do costado daquele navio, o comandante-chefe da base de Plymouth, almirante Burnett, que vinha acompanhado pelo seu estado-maior.
As guarnições prestaram continência e a banda inglesa executou o «Rule Britannia», enquanto as forças apresentavam armas. Momentos depois chegaram, em dois automóveis, os representantes diplomáticos e navais portugueses na cerimónia - o primeiro-secretário da embaixada de Portugal em Londres, sr. dr. Henrique Caldeira Queirós; o cônsul-geral de Portugal em Londres, sr. dr. Miguel de Almeida Pilé, o chefe da Missão Naval Portuguesa, sr. capitão-de-fragata Newton da Fonseca; o adido naval português em Londres, sr. capitão-de fragata Conceição Rocha; o adido militar, sr. tenente-coronel Luís da Câmara Pina e o comandante do novo navio, sr. capitão-tenente Horácio Rebordão, bem como os seus oficiais.
O almirante Burnett, seguido pela oficialidade britânica, foi ao encontro das personalidades portuguesas, às quais saudou, após o que solicitou ao primeiro-secretário da embaixada, que passasse revista aos fuzileiros navais, que faziam a guarda de honra. Em seguida, todas as entidades deram entrada a bordo da “Nuno Tristão”, em cujo convés da popa se realizou a cerimónia da substituição da bandeira.
Antes, porém, o almirante Burnett usou da palavra para dizer que era com uma grande honra que fazia a entrega ao Governo português, em nome do Almirantado Britânico, daquela unidade naval. Fez o elogio da aliança luso-britânica e teve palavras calorosas para a tradição naval dos portugueses e para a sua Marinha de guerra, concluindo por formular votos no sentido de que aquele navio tenha as maiores glórias sob a bandeira que ia, dentro de momentos, ser içada nos seus mastros.
Respondeu em inglês o representante do embaixador de Portugal, que salientou o êxito das negociações, para a cedência de vários navios de guerra ingleses à Marinha portuguesa e as palavras que o almirante Burnett tivera para com a Armada nacional.
Entre os diplomatas e oficiais portugueses e ingleses foram trocados afectuosos apertos de mão e ouviu-se um clarim a tocar a sentido. Todos se perfilaram e fez-se então a bordo, um grande silêncio. Ia ser arriada a bandeira inglesa e içada a portuguesa.
A banda rompeu com o «God save the King», enquanto um marinheiro inglês, à popa, arriava a bandeira do seu país e outro, à proa, fazia descer o «jack» da Armada Real. Momentos depois, a banda tocava o hino português. Um marinheiro da guarnição do navio içava a bandeira de Portugal e outro fazia subir o «jack» da Marinha portuguesa no “Nuno Tristão”. A guarda manteve-se a apresentar armas durante as duas cerimónias, após as quais todos os presentes se dirigiram à câmara dos oficiais, onde foi servido um cálice de vinho do Porto.
Depois do almirante ter saído do navio, a guarnição formou novamente para ouvir a leitura de duas portarias, uma que manda incorporar o navio ao efectivo na Esquadra portuguesa e outra que nomeia para comandante o sr. capitão-tenente Horácio Rebordão. A guarnição desfilou depois em continência perante o comandante e os seus oficiais.
Às 13 horas, o almirante Burnett ofereceu, na «mess» da base naval, um almoço em honra das personalidades portuguesas que assistiram à cerimónia, sendo ali trocadas afectuosas saudações. No próximo dia 16, será procedida a entrega, mas sem qualquer cerimonial, da segunda fragata cedida a Portugal - a “Diogo Gomes” -, cujo comando vai ser assumido pelo sr. capitão-de-fragata Newton da Fonseca.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto, quinta-feira, 12 de Maio de 1949

terça-feira, 29 de junho de 2021

Navios portugueses novos, em 1949


Marinha Mercante
O ministro da Marinha visitou, ontem, os novos navios
“Borba”, “Belas” e “Gorgulho”
Ontem, de manhã, o sr. ministro da Marinha visitou o navio “Borba”, da Sociedade Geral de Transportes, que há dias, durante a sua primeira viagem, ao entrar em Leixões, vindo de Inglaterra, onde foi construído, bateu em rochas sofrendo alguns rombos.
Foto do navio "Borba"

Características
Armador: Soc. Geral de Comércio, Indústria e Transportes, Lisboa
Nº oficial: H-378 - Iic: C.S.I.Y. - Porto de registo: Lisboa, 25.4.1949
Construtor: Wm. Doxford & Sons, Ltd., Sunderland, Inglaterra, 1948
Arqueação: Tab 4.457,25 tons - Tal 2.620,93 tons - Porte 12.596 tons
Dimensões: Ff 129,66 mt - Pp 123,99 mt - Bc 16,38 mt - Ptl 7,04 mts
Propulsão: Do construtor, 1:Di - 4:Ci - 3.800 Ihp - Veloc. 12,7 nós

O sr. comandante Américo Tomás, que chegou ao estaleiro naval da Companhia União Fabril, acompanhado pelos srs. comandante Pereira Viana, presidente da Junta Nacional da Marinha Mercante, e primeiro tenente Guilherme Tomás, foi ali recebido pelos srs. D. Manuel de Melo, Jorge de Melo e engº Aulánio Lobo, presidente do conselho de administração da Companhia União Fabril; engº Vasco de Melo, administrador do estaleiro naval, engºs Sousa Mendes, Almir Martins e João Rocheta, engenheiros-chefes daquele estaleiro; engº Artur Lobo e Henrique Duarte, dos serviços técnicos da Sociedade Geral.
O sr. ministro da Marinha, antes de visitar as instalações do “Borba”, desceu à doca seca onde se encontra o navio e esteve a verificar a extensão dos rombos na nova unidade, cuja reparação, mercê da actividade que vai ser desenvolvida, demorará apenas 40 dias.
Foto do navio "Belas"

Características
Armador: Soc. Geral de Comércio, Indústria e Transportes, Lisboa
Nº oficial: H-377 - Iic: C.S.J.B. - Porto de registo: Lisboa, 25.4.1949
Construtor: Wm. Doxford & Sons, Ltd., Sunderland, Inglaterra, 1948
Arqueação: Tab 4.447,72 tons - Tal 2.614,54 tons - Porte 12.596 tons
Dimensões: Ff 129,77 mt - Pp 124,04 mt - Bc 16,38 mt - Ptl 7,03 mts
Propulsão: Do construtor, 1:Di - 4:Ci - 3.800 Ihp - Veloc. 12,7 nós

Em seguida, o sr. comandante Américo Tomás visitou o navio “Belas”, onde, além daquelas individualidades, aguardavam o titular da pasta da Marinha os srs. marquês de Belas e visconde Botelho, do conselho de administração dos Carregadores Açoreanos. O sr. ministro da Marinha percorreu todas as dependências da nova unidade, cuja construção apreciou. No final da visita foi servida uma taça de champanhe, e o sr. D. Manuel de Melo agradeceu a visita do sr. ministro da Marinha, felicitando a Sociedade Geral de Transportes pela aquisição de mais uma unidade, para ampliação da sua frota e renovação da nossa Marinha Mercante.
Foto do navio "Gorgulho"

Características
Armador: Empresa Insulana de Navegação, Lisboa
Nº oficial: H-376 - Iic: C.S.C.Y. - Porto de registo: Lisboa, 13.4.1949
Construtor: The Grangemouth Dockyard Co., Ltd., Inglaterra, 1948
Arqueação: Tab 1.195,72 tons - Tal 644,58 tons - Porte 1.748 tons
Dimensões: Ff 71,91 mt - Pp 68,08 mt - Bc 10,38 mt - Ptl 3,97 mts
Propulsão: Mirrleef. Bick & Day, 2:Di - 8:Ci - 720 Bhp - Vel. 120 nós

O sr. ministro da Marinha também visitará hoje, às 17 horas, o navio fruteiro “Gorgulho”, nova unidade da Empresa Insulana de Navegação.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 1 de Abril de 1949

sexta-feira, 25 de junho de 2021

O iate “Elettra II”, em Leixões, Douro e Lisboa


Estrou no rio Douro um moderno iate inglês
destinado a experiências rádio-eléctricas
Vindo dos portos de Pasajes (San Sebastian), Bilbao, Santander, Gijon, Ferrol, Corunha e Vigo, onde realizou demonstrações com aparelhagem rádio-eléctrica que traz a bordo, chegou, ante-ontem, ao rio Douro, fundeando em frente a Massarelos, após passagem breve por Leixões, o iate “Elettra II”, da Marconi International Marine Comunications, Co., Ltd., representada no nosso País pela Rádio-Marítima Portuguesa, Lda.
O iate "Elettra II" em Leixões
 
O iate “Elettra II”, tal como o seu antecessor, o “Elettra I”, pertenceram a Guglielmo Marconi, tendo ambos sido utilizados para divulgar os trabalhos de desenvolvimento tecnológico para utilização marítima. Tinha 20 metros de comprimento, e uma modesta construção, em resultado da conversão feita em 1950, a partir do casco dum navio torpedeiro, previamente construído no estaleiro de J. Samuel White, na ilha de White, em Inglaterra. Apesar das muitas visitas feitas a portos de larga quantidade de países, provou ser pequeno para acomodar todo o equipamento a bordo para os fins em vista e o número de pessoas que podia receber, pelo que poucos anos depois foi vendido para sucata. Em sua substituição foi construído o “Elettra III”, em 1962.
 
Verdadeiro laboratório flutuante, o moderno barco, foi visitado, ontem, de manhã, pelos representantes da imprensa, e outros convidados. Além do respectivo comandante, capitão Robothan, e engenheiro Cathie, estiveram a bordo a receber os visitantes, os srs. José Ferreira de Sousa e Orlando Simões, representantes da citada firma, e os srs. D. Luís de Lencastre e António de Castro e Sousa, da agência Kendal, Pinto Basto & Cª., Lda., à qual o “Elettra II” vem consignado.
Tal como aconteceu nos portos espanhois acima referidos, foram feitas demonstrações com a aparelhagem de bordo, toda destinada a facilitar e a dar condições de segurança à navegação marítima. Assim, os visitantes tomaram contacto com novos e aperfeiçoados modelos de radar, radiogoniómetros, receptores e emissores de fonia e grafia, sondas para a pesca, gravadores de som, amplificadores de voz, etc.
No final e na câmara de comando, foi servido um «whisky de honra», tendo o sr. José Ferreira de Sousa saudado todos os presentes, agradecendo a visita a bordo e o interesse demonstrado. O “Elettra II” vai permanecer do rio Douro por breves dias, seguindo depois para Lisboa, onde vai igualmente proporcionar as mesmas demonstrações.
Fonte: Jornal "Comércio do Porto", sábado, 18 de Abril de 1953

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Divulgação


Sociedade de Geografia de Lisboa
Conferência virtual
1.“Como assegurar a utilização sustentável dos oceanos no âmbito
nacional com incidência europeia e internacional”,
que será proferida pelo Dr. José Manuel Marques (DGRM), em 28
de junho de 2021 (2.ª feira), com início às 17h00.
2. Este evento prossegue em 2021 o 5.º ciclo de conferências do
Seminário do Mar dedicado a “Ciência e Sustentabilidade”

 


segunda-feira, 21 de junho de 2021

História trágico-marítima (CCCXVI)


O naufrágio do lugre-motor “Minhoto”

Os náufragos do lugre “Minhoto”, que ante-ontem se afundou ao largo do Cabo da Roca, chegaram ao Tejo a bordo do “Praia da Saúde”
Ao fim da madrugada de ontem, chegaram ao Tejo, os náufragos do lugre-motor “Minhoto”, que se afundou ao largo do Cabo da Roca, ante-ontem, de tarde. Vieram a bordo do lanchão “Praia da Saúde”, da praça de Setúbal que, por feliz acaso, passava a pouca distância do “Minhoto” quando este colidiu com rochedos, ficando sem parte da quilha. Após a chegada a Lisboa, o mestre do navio naufragado, César Martins, apresentou às autoridades a regulamentar participação do sinistro e ficou, com a respectiva tripulação às ordens dos armadores, João Cândido Rodrigues, Sucessora, de Viana do Castelo. O sinistro deu-se às 16 horas e 50 de ante-ontem. O “Minhoto” havia saído de Leixões com 350 toneladas de carvão destinado à União Eléctrica, de Setúbal, e a tripulação mal se apercebeu da gravidade da colisão que provocou o rombo no navio.
Características do lugre-motor “Minhoto”
1946 – 1953
Armador: João Cândido Rodrigues Maduro, Sucra., V. Castelo
Nº Oficial: 54-A - Iic: C.S.S.F. - Porto de registo: V. Castelo, 1.3.1947
Construtor: Francisco Ferreira, Viana do Castelo, 1946
Arqueação: Tab 256,50 tons - Tal 114,84 tons
Dimensões: Ff 41,50 mt - Pp 33,49 mt - Boca 8,40 mt - Ptl 3,93 mt
Propulsão: Burmeister & Wain, 1:Di - 4:Ci - 240 Bhp - 6,5 nós
Equipagem: 9 tripulantes
 
O lanchão “Praia da Saúde” é um pequeno navio de carga pertencente à firma Chaves & Mateus, Lda., de Setúbal, saíra do porto desta cidade com um carregamento de cimento para Viana do Castelo. O mestre João Diogo, que o comandava, vendo a iminência do perigo, aproximou-se do “Minhoto” e passou-lhe um cabo, conseguindo arrancá-lo da crítica posição em que se encontrava. Então, o navio sinistrado começou imediatamente a meter água, obrigando o “Praia da Saúde” a largar o cabo, para evitar o afundamento por arrastamento. O mestre João Diogo tomou imediatas providências para socorrer os náufragos que, no entanto, ainda tiveram tempo para recolher os haveres pessoais. O “Minhoto” levou duas horas a afundar-se.
Os náufragos são, além do mestre, os seguintes: José Gonçalves, contra-mestre; Joaquim da Silva, 1º motorista, ambos de Viana do Castelo; Manuel Oliveira Sande, 2º motorista, do Candal, Gaia; Manuel Rodrigues, Henrique Gonçalves de Araújo, e Higino Pereira, marinheiros; José Gonçalves Viana, moço e Manuel Santos Pedreira, cozinheiro, todos de Viana do Castelo.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 31 de Março de 1953

sábado, 19 de junho de 2021

O afundamento do "Omar" próximo das Berlengas


O criminoso afundamento do iate-motor “Omar”
Um mergulhador vai tentar recolher uma amostra da carga
No caso do afundamento do iate-motor “Omar”, que foi criminosamente metido no fundo, ao largo de Peniche, a fim de ser cobrada a importância do respectivo seguro sobre uma carga falsamente declarada como minério, a Polícia Marítima houve-se com muita perspicácia, iludindo, com a aceitação inicial das declarações da tripulação, uma aparente liquidação do assunto.
Todos os declarantes foram, por isso, então mandados em paz, mas o chefe Baptista dos Anjos coadjuvado pelo sub-chefe Serra e Moura e agente Martins Baptista, exerceram uma cuidadosa vigilância sobre os seus movimentos. Pouco tempo passado, verificava-se que um dos marítimos fazia despesas incomportáveis para os seus proventos: comprou três fatos; gastava dinheiro em recreios custosos e pagava frequentemente «rodas» de bebidas a camaradas, utilizando, para tal, notes de banco de 50, 100 e 500 escudos. O facto confirmou as suspeitas da Polícia, que teve conhecimento completo do caso com relativa facilidade, depois de feitas as duas primeiras prisões.Entre os detidos figura o armador Mário Assis, o único que, até agora, nega terminantemente o conhecimento da burla e das combinações feitas – nesse caso, não se sabendo com quem – para o afundamento do navio.
O chefe Baptista dos Anjos, acompanhado do agente Martins Baptista esteve em casa de vários dos detidos, e apreendeu diversas quantias, resto do dinheiro distribuído para a prática do crime.Aqueles dois funcionários policiais e o referido sub-chefe, partiram ontem de manhã, em automóvel para Faro, a fim de proceder a identica diligência em casa do mestre do navio, João dos santos, que, como os outros tripulantes, se encontra preso em Lisboa.
Obtida a confissão total da trama urdida, da forma como foi praticado o afundamento e, até, acerca da natureza da carga fraudelenta, o caso ficou convenientemente esclarecido. Mas a Polícia Marítima resolveu tentar juntar ao processo o corpo de delito que neste caso, será uma amostra da carga afundada com o navio.
Para o efeito deverá realizar-se, dentro de dias, no lugar do afundamento, a delicada operação de recolha da referida amostra, para o que se utilizarão um mergulhador e os recursos necessários à diligência, que será presenciada pelos três citados funcionários policiais e por entidades marítimas. Por seu turno, a Polícia Judiciária continua as investigações para o completo esclarecimento da criminosa actividade dos «exportadores» de minério.
No decorrer dos interrogatórios efectuados na madrugada de ontem, pelo chefe Amado e pelo agente Carlos Santos, que estão a trabalhar sob a orientação do dr. Luso Soares, os nove detidos, que se encontram agora incomunicáveis na Penitenciária, por ordem daquele magistrado entraram, finalmente, no caminho da confissão. Assim, ficou apurado que quem projectou o afundamento do navio e conduziu as negociações com o armador foi o Godinho e Cunha, que agiu com o conhecimento de todos os seus «sócios» - cada um dos quais entrava com uma cota parte do dinheiro para pagamento do «favor».
O armador Mário Assis recebeu também avultada quantia e foi o primeiro a saber dos planos dos «exportadores». Tornava-se necessário que o pseudo-minério – os arguidos já declararam tratar-se apenas de «areias» e resíduos de «ilimite» - se perdesse, pois de forma alguma poderia chegar ao seu destino. E era indispensável receber o seguro da carga no valor de 8.730 contos. Ficaria, então, combinado que o “Omar” seria metido a pique à saída do Porto. Porém, com grande surpresa e contrariedade dos planeadores da trama o navio chegou ao Tejo. Interrogado a esse respeito pelo Amaral e pelo Godinho e Cunha, o armador Mário Assis teria dito ter sido impossível afundar o navio, devido ao forte temporal que fez durante a viagem e que punha em perigo a vida dos tripulantes.
Foi então combinado, nessa altura, o regresso do navio ao Douro, a pretexto de separar novamente o «minério» e fazê-lo então naufragar – o que aconteceu perto das Berlengas, nas circunstâncias já conhecidas. Mas para a consumação do crime, os «exportadores» tiveram de aumentar a recompensa do motorista Manuel Baptista, para 250 contos e a do contra-mestre Nascimento para 50. Os restantes tripulantes receberam as quantias préviamente prometidas à excepção de um marinheiro que não voltou a embarcar, mas que estava no conhecimento do segredo.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 30 de Março de 1953
Características do iate-motor “Omar”,
agregado ao tráfego costeiro internacional
1944 – 1953
Armador: Mar-Trans-Sul, Lda., Faro
Nº oficial: A-667 - Iic: C.S.S.R. - Porto de matrícula: Faro
Construtor: José Miguel Amaro, Faro, 1944
Arqueação: Tab 91,08 tons - Tal 58,02 tons
Dimensões: Ff 24,85 mt - Pp 20,39 mt - Boca 6,62 mt - Pontal 3,04 mt
Propulsão: Motor Jonkopings - 1:Sd - 2:Ci - 120 Bhp - Veloc.: 8 nós

O afundamento do “Omar”
Estavam 85 contos na cama do mestre do navio
Prosseguem as investigações iniciadas pela Polícia Marítima para o esclarecimento do caso do criminoso afundamento do navio de carga “Omar”. O chefe Baptista dos Anjos, o sub-chefe Serra e Moura e o agente Baptista, que ante-ontem foram a Faro, levando com eles o mestre do “Omar”, apreenderam em casa deste 85 contos, que se encontravam guardados debaixo do colchão da cama. Foi o próprio mestre João dos Santos quem dali retirou o dinheiro e o entregou, dizendo ser o que restava dos 100 contos por ele recebidos.
Anteriormente, a Polícia Marítima apreendera 190 contos dos 200 que o motorista recebera e 21 dos 25 dados ao contra-mestre, somando, até agora, 300 contos apreendidos. A recolha do dinheiro vai prosseguindo e, entretanto, avolumam-se as suspeitas – embora ele o negue – de que foi o armador Mário Assis quem ordenou o afundamento do seu navio e entregou o dinheiro para as gratificações à tripulação.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 31 de Março de 1953

O criminoso afundamento do “Omar”
Foram aplicadas multas de 10 a 500 contos, às entidades
que passaram guias para o falso minério
São já conhecidos novos pormenores da grande burla da «casseterite», investigação que está a ser efectuada pela Polícia Judiciária. Os principais implicados na grande fraude - José Amaral, Baptista Coelho, Godinho e Cunha, Costa Caixeiro, Luciano Costa e Pinto Ribeiro - continuam presos estando agora o chefe Amado a tentar esclarecer a quota parte de responsabilidades de cada um. Na manhã de ontem foram libertados, por já haverem explicado a sua participação no caso e, por isso, não interessarem por ora à elaboração do processo, os detidos Adolfo Ferreira Paiva e Pinto, agente da firma transitária, e Jorge Vítor da Costa Testa.
O chefe Amado, no decorrer das investigações a que procedeu, averiguou ter o José Amaral pensado em fazer uma autêntica exportação de «casseterite» para Espanha, ficando, todavia, de posse das respectivas guias. Utilizá-las-ia depois para garantir os resíduos de «iliminite» destinados a embarcar e... atirar para o fundo do mar. Desta forma, ganharia muito mais. Mas a exportação para Espanha não se fez, afinal, e ele e os seus «sócios» apenas realizaram o «negócio da América».
Àcerca da garantia do pseudo minério embarcado, os «exportadores» utilizaram indevidamente diversas guias, uma vendida ao Godinho e Cunha por um elemento do Fomento Nacional da Indústria, e outras fornecidas por João Tiago Campos Carmo, a cobrir o fornecimento da hipotética «casseterite» em bruto, e mais outras passadas por algumas separadoras de Amarante e Porto, que justificavam as 170 toneladas de «areias» ensacadas como sendo de minério tratado. Por esse motivo, todas as entidades que passaram guias foram já processadas pela Direcção Geral de Minas, que autuou os responsáveis e lhes aplicou multas que variam de 10 a 500 contos.
Terminou cerca das 5 horas da madrugada a acareação feita, na Polícia Marítima, aos tripulantes do “Omar”, em conjunto com o proprietário deste navio, o armador Mário Assis que, até, ante-ontem, se mantinha numa negativa irredutível sobre todos os aspectos da sua intervenção na prática do crime. Porém, com a prisão ontem efectuada, do antigo motorista do “Omar”, Ernesto Vilela Raposo, o armador Mário Assis parece ter entrado no caminho das confissões. A intervenção de Vilela Raposo no caso, foi, segundo ele próprio contou a seguinte:
Quando ainda motorista do “Omar” foi-lhe entregue, pelo José Amaral, que parece ter sido o autor do plano, a quantia de 75 contos, com o encargo de meter o navio no fundo. O Vilela recebeu o dinheiro mas foi, seguidamente, dar parte do acontecido ao Mário Assis, que lhe pediu a quantia que ele havia recebido. E o motorista entregou-lho, recebendo, nessa altura a quantia de 1.000$00 escudos, a título de gratificação.
Posteriormente, o Vilela deu parte de doente, participando que não poderia embarcar. Foi então substituído pelo seu colega Manuel Gonçalves Baptista. Na acareação, o Mário Assis confirmou a versão do Vilela, afirmando que gastara aquele dinheiro em seu proveito, mas que era sua intenção distribuir, depois, igual quantia, pela tripulação do seu navio. Quanto ao que se lhe atribui, de ter dado a ordem para o afundamento do navio, o Mário Assis negou até à hora a que terminou a acareação, embora o mestre João dos Santos continuasse a afirmar que o dinheiro para as gratificações, tinha sido dada pelo Amaral, mas que fôra o Assis quem dera as indicações para o afundamento.
Inesperadamente, o armador declarou, a certa altura, que tinha perfeito conhecimento do que se planeava e que, para isso, o Amaral e um outro indivíduo tinham entrado em contacto com a tripulação. O Mário Assis recolheu, depois, à prisão, onde continua incomunicável. Entretanto, o chefe Baptista dos Anjos e o agente Baptista, deslocaram-se ontem para a província, a fim de ouvirem um antigo tripulante do “Omar”, que está a cumprir o serviço militar.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 1 de Abril de 1953

Nota: «Casseterite» designa um mineral tetragonal de que se extrai o estanho, abundante no norte do país. Por sua vez «ilmenite» é um mineral que cristaliza no sistema trigonal e é minério de titânio (quimicamente, trata-se dum óxido de ferro e titânio). No caso de ser este o minério referido no texto, obviamente a palavra citada está escrita incorretamente.

O afundamento de um navio com falso minério
A Polícia Marítima foi a Setúbal apreender a quantia de três mil escudos, importância que ainda restava dos dez contos que o contra-mestre do navio recebera, como pagamento da sua colaboração no afundamento do iate “Omar”.
O armador Mário Assis vai ser ouvido novamente, a fim de esclarecer qual a sua actuação no afundamento do navio. A Polícia Judiciária já esclareceu toda a meada referente à burla da carga do “Omar”, estando agora a determinar a responsabilidade de cada um. Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 2 de Abril de 1953

O criminoso afundamento do “Omar”
Quase trezentos contos foram entregues
por um dos detidos à Polícia
Na Polícia Judiciária têm prosseguido os interrogatórios aos seis indivíduos que estão detidos como implicados no caso do afundamento do iate “Omar”, tendo sido agora sujeitos a acareações. Ante-ontem, um deles, José Amaral, que é acusado de ter planeado o afundamento, entregou voluntariamente, ao chefe Amado a quantia de 294.685$00 escudos, parte dos seis mil contos levantados num banco de Lisboa pela firma Godinho e Cunha, para pagamento do falso minério.
Hoje, a Polícia Judiciária deve fazer novas revelações acerca do caso – e que se julga serem sensacionais. Por sua vez, na Polícia Marítima, também prosseguem as investigações, tendo o agente Martins Baptista ouvido o proprietário e capitalista sr. Belchior Martins Galego, de S. Brás de Alportel, acerca de um encontro que teve há tempos, num «café» da baixa, com o arguido Mário Assis, sócio da firma proprietária do navio. O sr. Belchior declarou que ele o procurara para lhe pedir que ficasse como fiador do grupo dos indivíduos do minério, na importância de mil contos, para estes fazerem um determinado negócio. O sr. Belchior disse então, que não lhe interessava o negócio, pois já não estava em idade para entrar em aventuras.
Supõe o investigador que a fiança pedida pelo acusado seria para se garantir com o dinheiro, que os carregadores lhe haviam prometido, para deixar afundar o “Omar”, pois não é pessoa, como já foi averiguado, que se fie em promessas e só se envolveria na negociata «com a certeza de receber o dinheiro».
Vai ser efectuada uma acareação entre o arguido Mário Assis , o sr. Belchior e o sr. José Martins, de Faro, primo da mulher do primeiro, que está de relações cortadas com ele, mas que se julga saber bastantes pormenores do caso.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 3 de Abril de 1953

O caso do “Omar”
Na Polícia Marítima foi ontem novamente ouvido o armador Mário Assis, sócio-gerente da Empresa Amizade, proprietária do navio “Omar”. O Assis começou a cair em flagrantes contradições, ao mesmo tempo que afirma ter determinado aos seus tripulantes que não deviam meter o navio no fundo, mas declarou ter conhecimento do facto e que não queria ser delator dos seus empregados.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 3 de Abril de 1953

O afundamento do “Omar”
O armador do navio continua a negar a sua participação no crime
O chefe Baptista dos Anjos e o agente Martins Baptista, da Polícia Marítima, foram ao Torel com os tripulantes do navio “Omar”, a fim destes serem acareados com os indivíduos que ali se encontram, detidos como autores do embarque do minério no mesmo navio.
O detido Sousa Amaral fez larga descrição de negociações que teria entabulado com o armador Mário Assis, declarando que desde Setembro se pensava em afundar o “Omar”, para o que o armador receberia mil contos. O Sousa Amaral afirmou ainda que não tendo essa elevada importância daria uma garantia do mesmo valor, sobre uma parte da apólice do seguro do minério, dizendo-lhe o armador Mário Assis que não queria o seu nome envolvido no caso, figurando nele um amigo de sua confiança.
Sucede que esse amigo recusou a sua participação no caso, segundo afirmação do mesmo Sousa Amaral, ficando então assente afundar-se o navio na viagem de regresso do Norte, combinação esta feita entre o mestre João dos Santos e o motorista Gonçalves Baptista, para o que ele Amaral despendeu 365 contos.
As declarações de Sousa Amaral foram confirmadas por todos os presos, somente as negando o armador Mário Assis. A Polícia Marítima não acredita na boa fé do armador Mário Assis, pelo que vai ainda prosseguir nas investigações.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 12 de Abril de 1953

O caso do navio “Omar”
Comunicado
A firma A.J. Gonçalves de Moraes, Lda., tem a satisfação de comunicar aos seus Excelentíssimos Clientes e Amigos e ao Comércio em geral que o seu sócio-gerente, sr. António Peres Ferreira, foi completamente ilibado de qualquer responsabilidade criminal no caso do navio “Omar”, por não haver fundamento para o acusar nos autos de instrução preparatória, que foram distribuídos ao 3º Juízo Criminal depois de organizados pela Polícia Judiciária.
E porque, só depois de proferido despacho de pronúncia provisória contra os arguidos indiciados como responsáveis, foi possível conhecer os termos em que foi judicialmente apreciada a actuação do nosso referido sócio, dos quais é reconhecida a sua absoluta inocência, só agora surgiu a oportunidade que ansiosamente esperavamos, no legítimo desejo de defender a reputação do nosso sócio, de fazer esta comunicação, aproveitando o ensejo para agradecer, reconhecidamente, todas as provas de estima, consideração e confiança que lhes foram dadas por inúmeros Clientes e Amigos.
E mais uma vez, convictamente, podemos afirmar que as nossas normas de trabalho usadas neste caso como, aliás, em todos os que nos sejam afectos, não sofreram de qualquer deficiência ou incorrecção, não tendo havido motivo sério para que, fosse quem fosse, alguma vez duvidasse da isenção e honestidade que há cerca de 60 anos são timbre e inalteráveis regras da actividade comercial desta firma, escrupulosamente mantidas pelos seus actuais Sócios, netos do seu honrado Fundador, muito tendo a lamentar que tão injustamente um deles tivesse sido envolvido neste caso.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 31 de Maio de 1953

terça-feira, 15 de junho de 2021

Divulgação


Conferência virtual
"Engenharia Hidrográfica em Portugal
das origens ao final do século XX"
Uma evocação no centenário da
Organização Hidrográfica Internacional
21 de Junho - 18 horas
Orador: Comandante Miguel Bessa Pacheco

sábado, 12 de junho de 2021

História trágico-marítima (CCCXV)


O encalhe do vapor “Sofala”, em Leixões

O vapor “Sofala” embateu nas pedras do esporão de Leixões,
sofrendo um rombo à proa, daí resultando ficar sem governo e
com os porões alagados
Mais um sinistro à entrada do porto de Leixões, que não teve, felizmente, consequências trágicas, mas a verdade é que provocou alarme. Se bem que, de momento, não é conhecido a quem atribuir responsabilidades, a realidade é que, cerca das 6 horas e meia da manhã, o “Sofala”, da Companhia Nacional de Navegação, embateu contra as pedras do esporão no molhe norte de Leixões, sofrendo um enorme rombo à proa, que o impossibilitou de entrar no porto.
É certo que o navio, que saíra de Lisboa pelas 16 horas de ontem, sob o comando do sr. Gustavo Peixe e tendo como oficial imediato o sr. Francisco Ramos Gonçalves, não perdeu a nevegabilidade, mas o primeiro e o segundo porões ficaram inundados, e devido ao sinistro abincou de proa, perdendo o governo, visto que o leme e a hélice ficaram fora da água.
Perante a impossibilidade de navegar e enquanto na capitania eram tomadas providências, o comandante do navio ordenou que fosse lançado um ferro no local, até que chegassem socorros. Entretanto, a bordo – e por ordem das autoridades marítimas – apareciam os bombeiros locais, que trabalharam no sentido de evitar que os outros porões fossem atingidos.
O “Sofala” que tinha previsto carregar em Leixões, três mil toneladas de carga diversa, contava dentro de breves dias largar com destino a Luanda. Construído na Alemanha e adquirido pela companhia proprietária, em 1942, desloca 12.000 toneladas. A fim de seguirem, de perto, os trabalhos de escoamento da água no navio sinistrado, que deve ser comboiado até ao Tejo pelos rebocadores “D. Luís” e “Aveiro”, vieram de Lisboa os srs. comandantes Celestino Ramos e Noronha de Andrade, administradores da Companhia Nacional de Navegação. O rombo, segundo consta, é de fácil reparação, pelo que o “Sofala”, em breve, seguirá viagem.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 15 de Outubro de 1950
Foto do vapor "Sofala - Postal ilustrado
 
Características do vapor “Sofala”
Armador: Companhia Nacional de Navegação, Lisboa
Nº oficial: G-456 - Iic: C.S.K.E. - Porto de registo: Lisboa 4.9.1943
Construtor: Bremer Vulkan, Vegesack, Alemanha, 1927
ex “Aller”, Norddeutscher Lloyd, Bremen, 1927-1942
Arqueação: Tab 7.820,83 tons - Tal 4.777,44 tons
Dimensões: Ff 160,92 mt - Pp 154,06 mt - Boca 19,24 mt - Ptl 8,62 mt
Propulsão: Bremer Vulkan, 1:Te - 4:Ci - 5500 Ihp - Veloc. 13 nós

O “Sofala” chega hoje, a Lisboa, a fim de reparar o rombo que sofreu
Os rebocadores de alto mar “Aveiro” e “D. Luís”, que eram esperados durante a madrugada, de ontem, para rebocarem o navio da marinha mercante “Sofala” para Lisboa, só chegaram ao largo do porto de Leixões por volta das 7 horas e meia, depois de terem feito a viagem na máxima velocidade.
Entretanto, o pessoal de bordo, sob a orientação superior dos engenheiros e técnicos da companhia armadora, procederam ao reforço, por meio de barrotes, da diversa carga que transportava nos porões, enquanto as corporações dos bombeiros, continuavam na tarefa de escoar a água que entrava nos porões um e dois, pelo rombo que o navio sofrera, na proa, abaixo da linha de flutuação.
Os referidos rebocadores depois de passaram amarras ao “Sofala”, seguiram viagem para o porto de Lisboa, às 9 horas e meia, levando a bordo algum pessoal dos bombeiros, bem como o piloto da barra, sr. Luiz Ventura. Segundo notícias recebidas, ao final da tarde, da empresa proprietária do navio, o “Sofala” estava a navegar a uma milha por hora, estando prevista a chegada a Lisboa, ao meio dia, de hoje, desde que a viagem continue a decorrer normalmente, durante a noite.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, segunda, 16 de Outubro de 1950

Pelo trabalho que realizou, porque a ele se deve o salvamento do navio, venho lembrar o piloto Luiz Ventura, amigo da família, um notável Figueirense, com carreira feita, tal como o capitão do navio, muitos anos na pesca do bacalhau. Ainda, para dizer o que não ficou dito, a melhor forma, senão única, para rebocar o navio, foi ter sido puxado pela ré, o que explica o largo tempo utilizado para chegar a Lisboa.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

História trágico-marítima (CCCXIV)


O encalhe do navio “Conceição Maria” em Inglaterra

O navio “Conceição Maria” encalhou na manhã de ontem
a cinco quilómetros da costa inglesa, mas foi posto de novo
a flutuar pelos rebocadores de Dover
Deal (Kent), 6 – O navio “Conceição Maria”, de 1.700 toneladas, pertencente à praça de Lisboa, encalhou hoje em Goodwin Sands, o baixio perigoso que fica a cinco quilómetros da costa.
O navio-farol que fica ao sul de Goodwin Sands disparou dois tiros de canhão quando o navio português se aproximava dos destroços dum navio americano do tipo «liberty», o “Laurey Victory”.
Do navio-farol informaram que o navio português estava numa situação perigosa e que havia pouca visibilidade. Entretanto, um salva-vidas e um rebocador aproximaram-se logo do “Conceição Maria”. Ao cabo de vários esforços, o navio foi posto a flutuar, ao fim da tarde, Foram os rebocadores de Dover que conseguiram safá-lo.
Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 7 de Abril de 1949
Foto do navio "Conceição Maria"

Características do navio “Conceição Maria”
Lisboa, 8 de Julho de 1948
Armador: Soc. Geral de Comércio, Indústria e Transportes, Lisboa
Nº Oficial: H-360 - Iic: C.S.I.U. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Companhia União Fabril, Lisboa, 1947
Arqueação: Tab 1.735,64 tons - Tal 931,59 tons
Dimensões: Ff 93,32 mt - Pp 86,40 mt - Boca 12,84 mt - Ptl 4,55 mt
Propulsão: Burmeister & Wain, 1:Di - 7:Ci - 2.500 Bhp - 12 nós

Está salvo o “Conceição Maria”, que encalhou na costa inglesa
Por notícias recebidas em Lisboa, sabe-se que o “Conceição Maria”, que esteve encalhado junto à costa inglesa, num banco de areia, saiu pelos seus próprios meios da posição em que se encontrava, encontrando-se a prosseguir a viagem. A tripulação está bem.
Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 7 de Abril de 1949

O encalhe do “Conceição Maria”
A Sociedade Geral de Transportes recebeu do capitão do “Conceição Maria”, um telegrama em que informa que aquele navio segue, pelos seus próprios meios para Newcastle, e que a tripulação se encontra bem.
Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 8 de Abril de 1949

quinta-feira, 3 de junho de 2021

História trágico-marítima (CCCXIII)


O naufrágio do rebocador “Aveiro”

O rebocador “Aveiro” afundou-se ontem, em frente de Cabo Ruivo,
tendo-se salvo a tripulação com dificuldade
Ontem de manhã, no Tejo, em frente de Cabo Ruivo, deu-se um acidente que, felizmente, não ocasionou desastres pessoais, por ter submergido, em parte, o rebocador “Aveiro”, da Companhia Nacional de Navegação, adquirido há pouco tempo nos Estados Unidos.
Cerca das 8 horas e meia, o “Aveiro” e mais dois rebocadores, estavam a proceder à manobra para fazer sair do cais da «Atlantic», em Cabo Ruivo, o navio-tanque norueguês “Marathon”, chegado há dias de Puerto de la Cruz, com combustíveis líquidos, que já descarregara.
O rebocador da Companhia Nacional de Navegação tinha um cabo amarrado à popa do navio, e, ao que parece, no decorrer da manobra, não foi solto o cabo tão rapidamente quanto necessário, adernando e começando a meter água, até submergir. Isso levou a que o “Aveiro” tivesse ficado com a popa submersa e a proa fora da água.
Os tripulantes lançaram-se à água, sendo recolhidos, com dificuldade, pelo rebocador “Rata”, da Companhia Italo-Portuguesa. São eles o mestre Pablo Muciano, o contra-mestre João Francisco de Almeida, marinheiros Eduardo dos Santos, José Fino da M. Catita, e moços José Salvador P. Gonçalves, e Luciano Domingos R. Damaso, motoristas Jaime Baptista e Viriato Francisco Borges; ajudantes de motoristas Quirino da Costa Arruda e Francisco Fernandes Nunes Constante.
Ficaram feridos o moço Luciano Damaso e o ajudante de motorista Francisco Constante. O motorista Jaime Baptista quase morreu afogado, por ter bebido muita água, pelo que o seu estado chegou a ser considerado grave.
Chamados os socorros, com o intuito de salvar o “Aveiro”, não o deixando afundar por completo, logo compareceram vários rebocadores da Companhia Nacional de Navegação, o “Cabo Raso” da Administração Geral do porto de Lisboa, a cábrea da Administração Geral, e mergulhadores, começando logo os trabalhos de salvamento. Para o efeito, os mergulhadores fixaram cabos de arame em volta do “Aveiro”, para a cábrea erguer o rebocador e depois as bombas escoarem a água. Os trabalhos continuam, por enquanto, sem resultados práticos.
Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 16 de Abril de 1949
Foto do rebocador “Aveiro” de Luís Miguel Correia
(lmcshipsandthesea.blogspot.com)

Características do rebocador “Aveiro”
Armador: Companhia Nacional de Navegação, Lisboa - (24.Jul.1948)
Nº Oficial: H363 - Iic: C.S.T.M. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Montreal Drydocks., Ltd., de Montreal, QC, Canadá, 1944
ex HMCT “Alberton” (W48 – class British Norton) Marinha do Canadá
Arqueação: Tab 242,22 tons - Tal 47,40 tons
Dimensões: Ff 33,68 mt - Pp 31,90 mt - Boca 8,13 mt - Ptl 3,41mt
Propulsão: Dominion Eng. Works Ltd., 1:Di - 9:Ci - 1.000 Bhp - 12 nós
Adquirido pela Companhia Nacional de Navegação, Sarl, em 1947, e matriculado na Capitania de Lisboa em 24 de Julho de 1948, para operar no serviço portuário de apoio à sua frota de navios de longo curso e batelões; vendido em 1972 à firma Navegação Fluvial e Costeira de Rui da Cruz e Júlio da Cruz, Lda., de Lisboa, mantendo o mesmo nome; 2004 entrou em “laid up”; 2005 vendido para sucata à firma Baptistas, de Alhos Vedros; 2008 foi desmantelado.

Os trabalhos para pôr a flutuar o rebocador “Aveiro”
Recomeçaram ontem os trabalhos para reflutuar o rebocador “Aveiro”, que ante-ontem de manhã se afundou em frente de Cabo Ruivo. No local do sinistro encontra-se material da Administração do porto de Lisboa e vários técnicos, sob a direcção do cmdte. Eduardo Correia, adjunto dos serviços marítimos daquele departamento do Estado.
As operações, por serem difíceis, devem demorar muito tempo. A Polícia Marítima vai proceder a averiguações sobre as causas do acidente, a fim de determinar as responsabilidades.
Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 17 de Abril de 1949

Os trabalhos para o reflutuamento do rebocador “Aveiro”
Apesar da neblina que caiu sobre o Tejo, recomeçaram ontem de manhã os trabalhos para o reflutuamento do rebocador “Aveiro”, afundado há dias em frente a Cabo Ruivo.
O sr. comandante Correia, da Administração do porto de Lisboa, dirigiu os trabalhos. As cábreas “Engenheiro Loureiro” e “Engenheiro Aguiar” fora levadas para o local do sinistro, a fim de, com o seu auxílio, ser conseguido pôr a flutuar o “Aveiro”, que se encontra com toda a popa fora de água. Os trabalhos prosseguem, sendo esperado que o “Aveiro” fique hoje a flutuar.
Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 19 de Abril de 1949

O rebocador “Aveiro” foi retirado da posição em que se encontrava
Durante o dia de ontem prosseguiram os trabalhos de salvamento do rebocador “Aveiro”, que há dias se afundou em frente a Cabo Ruivo.
Os técnicos que empregaram diverso material flutuante nas referidas operações, dirigidas pelo sr. engenheiro Sá Nogueira, administrador geral do porto de Lisboa, conseguiram levantar um pouco a proa do rebocador e retirá-lo da posição em que se encontrava.
Ao começo da madrugada de hoje o “Aveiro”, foi finalmente retirado da situação em que se encontrava, prosseguindo os trabalhos durante a noite para tratarem do esgotamento da água.
Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 20 de Abril de 1949

O afundamento do rebocador "Aveiro"
Na capitania do porto de Lisboa, foi lida ontem a sentença que condena a empresa proprietária do rebocador norueguês "Maraton", em 1.466 contos, pelo afundamento do rebocador "Aveiro", da Comp. Nacional de Navegação, em Abril do ano findo, em frente de Cabo Ruivo.
Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 24 de Junho de 1950

terça-feira, 1 de junho de 2021

História trágico-marítima (CCCXII)


O encalhe do vapor “Almanzora”, ao norte do Cabo Espichel
Pouco depois da 1 hora da tarde, no Arsenal de Marinha foi recebido um telegrama de S. Julião da Barra, participando que se encontrava encalhado ao norte do Cabo Espichel o paquete inglês “Almanzora”. O agente da Mala Real Inglesa, a que o “Almanzora” pertence, deu ordens no sentido de que fossem prestados os indispensáveis socorros, partindo para o local do sinistro.
Até à presente hora, apenas se sabe que o paquete encalhou em frente da lagoa de Albufeira. Para ali partiram oito barcos, a fim de prestar socorros, tendo também acorrido ao local o aviso “5 de Outubro”, que anda em viagem de instrução.
O “Almanzora” é um dos melhores navios da Mala Real Inglesa, tendo mais de 15.000 toneladas. A bordo vêm cerca de 1.200 passageiros, de nacionalidade espanhola, inglesa, brasileira e portuguesa. Esperam que, na maré da madrugada, o vapor seja salvo.
Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 8 de Setembro de 1921
O paquete “Almanzora” continua encalhado,
tendo desembarcado os passageiros
Desembarcaram hoje, pela 1 hora da tarde, no Posto de Desinfecção 308 passageiros, que com destino aos portos de Lisboa, Vigo, Cherbourg e Southampton seguiam viagem a bordo do paquete “Almanzora”, da Mala real Inglesa, que ontem encalhou na areia, ao norte do Cabo Espichel, entre o sítio da Fonte Velha e Cabo Malha.
Esta manhã, cerca das 10 horas, foram realizadas novas tentativas para safar o navio, tendo sido todas inuteis. Foi depois disso que resolveram tratar do desembarque dos passageiros e respectivas bagagens. O transporte foi efectuado pelos rebocadores “Júpiter”, “Tejo” e “Josefina”, logo a seguir às 10 horas. Junto ao “Almanzora” estão vários rebocadores, entre os quais o “Minho”, o “Castor”, o “Ferra”, o “Bico”, o “Argentina” e o “Pátria”.
Ainda não estão perdidas de todo as esperanças de que o paquete se consiga salvar, visto que apesar do “Almanzora” se encontrar profundamente enterrado na areia, o mar não tem sido muito violento nestes últimos dias, pelo que é possível que os rebocadores consigam desencalhá-lo.
Além dos rebocadores encontram-se no local do sinistro quatro fragatas, que para ali seguiram às 9 horas de hoje, a reboque do vapor “Milhafre” da agência, a fim de para elas ser baldeada a carga, contribuindo para aliviar o navio.
Para Lisboa vinham apenas 85 passageiros, sendo que a maioria veio com destino a Vigo, procedentes de Montevideu, Buenos Aires, Baía e Pernambuco. Os passageiros para Lisboa são na sua maioria trabalhadores, que regressam dadas as dificuldades encontradas no Brasil para conseguirem empregos. Entre eles notam-se muitas mulheres, quase todas das províncias do Minho, Beira e Trás-os-Montes.
Os passageiros em transito foram hospedados em vários hoteis por conta da agência e amanhã seguirão por terra todos os passageiros que se destinam a Vigo. Os outros vão esperar que o “Almazora” se safe, e, em caso contrário embarcarão noutro navio da Mala Real Inglesa, ou em alternativa seguirão também por terra. Todos os passageiros se mostram muito reconhecidos para com a oficialidade do paquete e em especial ao comandante Frigge, o qual é o segundo em antiguidade na escala dos capitães da Mala Real Inglesa. Um dos passageiros disse que a viagem foi sempre excelente, não se tendo registado o mais pequeno incidente a bordo, de tal forma que o encalhe do “Almanzora” passou despercebido, pois quase todos os viajantes se encontravam ainda nos seus camarotes.
O dia havia amanhecido bastante claro e só perto do Cabo Espichel um denso nevoeiro rodeou o navio, a ponto do piloto não distinguir sequer a proa do navio. Quando o choque se deu, para a maioria dos passageiros, as sereias de bordo do “Almanzora” deram o sinal de alarme, e, mesmo muito tempo depois do sinistro era desconhecido a bordo o ponto em que o acidente se dera, não tendo sido interrompida a vida normal dos passageiros, que permaneciam entregues às suas diversões habituais.
Para essa tranquilidade contribuiu a atitude da oficialidade do navio e a serenidade do mar. Na noite passada, ainda o «bar» do “Almanzora” esteve repleto, reinando sempre a maior animação. Espera-se que o navio consiga safar-se esta noite ou amanhã de manhã.
Entretanto, a descarga dos porões foi iniciada ontem à tarde, sendo o carregamento constituido, em grande parte, por sacos com milho.
O capitão do porto de Cascais comunicou às autoridades de marinha que o capitão do paquete “Almanzora” não aceitou o oferecimento do navio “5 de Outubro” para puxar e desembarcar os passageiros, a fim de conduzi-los para Cascais. São esperados amanhã em Lisboa três rebocadores ingleses, que vem tratar dee salvar o “Almanzora”.
Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 9 de Setembro de 1921
O paquete “Almanzora” continua encalhado
Os seus passageiros
Não se modificou ainda a situação do paquete inglês “Almanzora”, encalhado nos bancos de areia junto ao Cabo Espichel, estando a ser aguardada a chegada de quatro poderosos rebocadores ingleses, que vem tentar salvá-lo. Hoje continuaram a descarga das mercadoria que conduzia.
O inspector dos serviços de Socorros a Náufragos fez constar à Mala Real Inglesa, que tinha todo o material de salvamento pronto a seguir, caso fosse necessário. Todos os serviços que estão a ser efectuados correm por conta e responsabilidade da companhia.
Esta noite seguiram, por terra, os passageiros que se destinavam ao Porto, Vigo e França. Os restantes aguardam a chegada de outro navio da Mala Real Inglesa, para seguirem aos seus destinos, caso o “Almanzora” não se salve.
Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 10 de Setembro de 1921

O paquete “Almanzora”
Não se modificou a sua situação
No dia de hoje fizeram várias tentativas para desencalhá-lo, mas ainda sem resultado. Para libertar o navio aguardam uma preia-mar mais forte, havendo esperança que os dois poderosos rebocabores ingleses, que chegaram de Gibraltar, o consigam.
De bordo do navio foi hoje atirado ao mar carga de açucar e milho, que se destinava a Lisboa.
Os passageiros que não seguiram por terra, embarcaram esta tarde no “Orcana” (?), da Mala Real Inglesa, que deve saiu poucas horas depois de entrar no Tejo.
Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 11 de Setembro de 1921
O paquete “Almanzora”
Não mudou de situação
Continua encalhado o paquete inglês “Almanzora”, sendo esperado que dentro de breves dias, as marés vivas sejam o melhor auxílio para retirar aquele vapor da posição em que se encontra. Aguardam também a chegada do terceiro rebocador inglês, para auxiliar no trabalho dos outros dois que já cá estão.
Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 13 de Setembro de 1921

O paquete “Almanzora”
Foi hoje salvo, tendo entrado no Tejo
Foi hoje posto a flutuar o paquete “Almanzora”, da Mala Real Inglesa, que há vários dias esteve encalhado próximo de Cascais, entrando hoje mesmo no Tejo.
O desencalhe deve-se aos esforços do grande rebocador inglês “Salvater”, conjugados com os dos outros dois da mesma nacionalidade e os dois portugueses, que desde o princípio se encontravam no local onde o “Almanzora” encalhou.
Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 14 de Setembro de 1921

O “Almanzora” levantou ferro hoje
Às 17 horas levantou ferro o paquete “Almanzora”, da Mala Real Inglesa, que esteve encalhado ao norte do Cabo Espichel.
Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 15 de Setembro de 1921