sexta-feira, 28 de abril de 2017

Memorativo da Armada


O lançamento à água do cruzador “Rainha D. Amélia”

Foto da cerimónia do bota-abaixo do cruzador "Rainha D. Amélia"
Imagem previamente publicada no blog «Restos de Colecção»

Lisboa, 10 de Abril – Efectuou-se hoje, com a presença da família real, do ministério, corpo diplomático, altos funcionários e grandíssimo número de oficiais do exército e da armada, o lançamento à água do novo cruzador “D. Amélia”. Acudiu a presenciar essa cerimónia enorme multidão de povo, que enchia o Arsenal de Marinha e suas dependências, começando de manhã a afluir para ali, havendo grande movimento nas ruas próximas do Arsenal, a cuja entrada se viam milhares de pessoas.
A família real chegou ali cerca das 2 horas da tarde, sendo recebida próxima do estaleiro pelo ministério, vice-almirantes, oficialidade de patente superior da armada, generais da 1ª divisão e dignitários.
Os trabalhos preparativos do lançamento já haviam principiado e SS.MM. dirigiram-se, com o seu séquito, para o pavilhão, às 2 horas e 10 minutos, para assistirem à cerimónia. Quando chegaram eram cortadas as últimas escoras que especavam o novo navio. Terminados os preparativos, o inspector do Arsenal, sr. Croneau informou el-rei de que estavam concluídos os trabalhos, dando em seguida o corte final na escora de proa.
S.M. a rainha disse então nesse momento: «Vai» e os operários tiraram as primeiras cunhas de sob a quilha do cruzador. S.M. repetiu «Vai», e novas cunhas foram tiradas. Quando tiraram as últimas, S.M. a rainha pronunciou estas palavras: «Em nome de el-rei, vai com Deus».
Neste momento foram soltados vivas unânimes e estrondearam entusiásticas salvas de palmas, executando a banda dos marinheiros o hino real e salvando os navios de guerra. O espectáculo no seu conjunto era imponente, fazendo palpitar de júbilo todos os corações.
O novo navio de guerra começou a deslizar com serenidade pelas calhas da carreira e metendo triunfalmente pelo Tejo dentro, descreveu um curva magnífica, tendo as esquadrilhas, compostas de rebocadores, guigas, caíques, lanchas, etc., de desviar-se rapidamente para não sofrerem algum abalroamento.
A canhoneira “Zaire” ainda roçou nessa ocasião pelo cruzador, chegando a produzir bastante susto entre as muitas pessoas que se encontravam a bordo; felizmente não se deu nenhum prejuízo.
O novo cruzador foi por fim rebocado pelo vapor “Bérrio” para a bóia em frente do Arsenal, e aí dar entrada no dique para procederem à montagem da máquina, mastreação e restantes apetrechos.
SS. MM., que permaneceram algum tempo no pavilhão, voltaram à casa da superintendência, onde receberam os cumprimentos do corpo diplomático e de outros personagens. A senhora D. Amélia, ao despedir-se da oficialidade de marinha, dirigiu felicitações em particular ao sr. engenheiro Croneau.
No cruzador, quando entrou no Tejo, levava a bordo apenas o engenheiro naval Carvalho, o patrão-mor do Arsenal João Sampaio, o sota patrão-mor Reynol, o mestre da armada Jorge Bartolomeu, um contra-mestre e os marinheiros de serviço.
O aspecto do Arsenal de Marinha, onde tudo estava apinhado de gente, pavimento, janelas e telhado, era de um efeito soberbo gozado do Tejo; mas a vista do mar, onde se viam as canhoneiras “Diu” e “Zaire”, o vapor “Rei de Portugal”, os rebocadores “Bérrio” e “Lidador” e muitos vaporzinhos particulares, barcos e lanchas, cheios de convidados e famílias, oferecia, apreciado de terra, um espectáculo pitoresco.
No Tejo, a bordo dos navios, houve o mesmo entusiasmo que em terra quando o “D. Amélia” entrou na água, sendo levantados vivas à família real e à marinha, de todos os pontos e por gente de todas as classes.
Achavam-se decorados com bandeiras todos os palanques construídos para os deputados e pares, altos funcionários, etc., etc. As janelas das oficinas e dependências do Arsenal estavam cheias de senhoras, vendo-se muita gente também nos telhados dos edifícios do Arsenal e do ministério da marinha. Junto das vedações e próximo da carreira conservaram-se centenas de pessoas, sob um sol abrasador, para assistirem à cerimónia. Calcula-se em 20.000 o número das pessoas que assistiram ao lançamento do navio.
Infelizmente, deu-se um desastre: na ocasião em que era solta uma das escoras que seguravam o navio, a escora caiu sobre um operário, deixando-o em estado grave. Amanhã deve ficar assente a lista dos agraciados com mercês honoríficas por motivo da construção do novo cruzador.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 11 de Abril de 1899)

Foto do cruzador "Rainha D. Amélia", em Lisboa
Postal ilustrado de «Martins & Silva» - Minha colecção

O lançamento à água do cruzador “D. Amélia”
O sr. contra-almirante Fernandes da Cunha, inspector do Arsenal de Marinha, fez publicar uma ordem do dia elogiando o director das construções navais sr. Croneau, chefes, engenheiros e mais pessoal das oficinas, por terem contribuído para levantar o bom nome daquele estabelecimento com a construção relativamente rápida do novo cruzador. Entretanto, agravou-se o estado de saúde do operário ferido por ocasião do lançamento do cruzador “Rainha D. Amélia”.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 12 de Abril de 1899)

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Memorativo da Armada


A chegada das novas fragatas "Pacheco Pereira" e "Álvares Cabral"

Os escoltadores oceânicos “Álvares Cabral” e
“Pacheco Pereira”, chegam ao Tejo dentro de dias
As fragatas “Álvares Cabral” e “Pacheco Pereira”, compradas por Portugal à Inglaterra, devem chegar a Lisboa em princípios de Dezembro.
A cerimónia de entrega ao Governo português foi celebrada em 11 de Maio, em Devonport, na presença do embaixador do nosso País, do 4º Lord do Almirantado britânico, e de outras individualidades.
Foram nomeados comandantes, da “Álvares Cabral” o sr. Capitão-de-fragata Fernando Ornelas Vasconcelos, e, da “Pacheco Pereira”, o sr. Capitão-de-fragata José Pimenta Simões Godinho.
Os navios tem 136 metros de comprimento, estão dotados de dez peças de artilharia e demais armamento moderno, equipamento de radar, etc.
Os navios, cujas provas de mar decorreram satisfatoriamente, ficarão a constituir o grupo de escoltas oceânicos Nº 1 da Marinha de Guerra.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 27 de Novembro de 1959)

Dois navios da Armada portuguesa em Leixões
Entraram, ontem, em Leixões, pelas 17 horas, as fragatas “Álvares Cabral” e “Pacheco Pereira”, recentemente adquiridas na Inglaterra e destinadas aos comandos navais de Angola e Moçambique. Esses navios, que ultrapassam as 2.000 toneladas, estão fortemente artilhadas para o combate contra submarinos.
Estão patentes ao público, hoje e amanhã, das 15 às 17 horas.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 29 de Novembro de 1959)

Foto da fragata F337 NRP "Pacheco Pereira", à chegada a Leixões
Imagem da Fotomar, Matosinhos

Entraram em Leixões os dois novos escoltadores
oceânicos da nossa Marinha de Guerra
Cerca das 17 horas, entraram no porto de Leixões, fundeando a meio da bacia, os dois novos escoltadores oceânicos da nossa Marinha de Guerra “Álvares Cabral” e “Pacheco Pereira”, adquiridos recentemente em Inglaterra, Estas duas unidades navais atracarão na segunda-feira no cais da doca nº1, onde serão visitadas pelo sr. Ministro da Marinha.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 29 de Novembro de 1959)

Foto da fragata F338 NRP "Álvares Cabral", à chegada a Leixões
Imagem da Fotomar, Matosinhos

Os novos escoltadores da Armada portuguesa fundeados em
Leixões foram, ontem, visitados pelo Ministro da Marinha
Dois navios de guerra, apetrechados para o combate anti-submarino e anti-aéreo, em especial, vieram, agora, da Inglaterra, para robustecer o quadro da Armada portuguesa. São navio de soberba estrutura, na ordem dos 100 metros de comprimento, com guarnição efectiva, cada um, de cento e oitenta homens, incluindo oficiais, sargentos e praças.
Os engenhos de combate são quatro peças de quatro polegadas, em reparos «binados», seis peças «Bofors» de 40 milímetros, duas calhas para lançamento de cargas de profundidade, sistema de instrumentos de detecção e quatro morteiros lança-bombas; um «ouriço», arma particularmente anti-submarina. Este volume de motivos tem de funcionar e alimentar-se pela qualidade e têmpera dos marinheiros.
Ambos recheados de poder ofensivo, vão servir nas estações navais da África portuguesa, um em Angola, o outro em Moçambique. Com as adaptações que receberam ao nosso sistema, podem considerar-se belas unidades da Marinha de Guerra, com as feições de utilidade pratica no combate. A tonelagem anda pelas duas mil e quinhentas, podendo os seus motores desenvolver dezassete nós de velocidade.
Esta feição, que é de valia funcional, reunida ao mérito dos marinheiros portugueses, pôde ser apreciada pela gente do Porto, a quem o Ministro da Marinha dedicou a primeira visita dos novos escoltadores. O temporal violento, chuva e vento de rajadas fortes, com o mar alteroso, devido a uma depressão na Biscaia, prejudicaram um tanto a iniciativa, pois, ante-ontem, tiveram de ficar ancorados na bacia de Leixões e só ontem um deles, o “Álvares Cabral”, veio atracar ao cais da doca, enquanto o “Pacheco Pereira” se mantinha ao largo.
A distinção do sr. Contra-almirante Quintanilha de Mendonça Dias foi considerada e, apesar da invernia «ferrada», ela teve correspondência de apreço. Dezenas de pessoas, ante-ontem e ontem, visitaram os dois navios, durante algumas horas da tarde.
Numa visita particular que o trouxe ao Norte, o sr. Contra-almirante Quintanilha de Mendonça Dias esteve ontem de manhã em Leixões, tendo apreciado os novos escoltadores.
A bordo do “Álvares Cabral”, com o navio atracado, a guarnição formou no convés, em continência. Uma rajada forte e a violência da chuva, nesse momento, não ofuscou o brilho do cenário. Os marinheiros portugueses honraram as tradições da Armada.
Ao portaló receberam o ilustre oficial general, que era acompanhado pelos srs. Capitão de mar-e-guerra Ramalho Rosa, seu chefe de gabinete, e Primeiro-tenente João Carlos Alvarenga, seu ajudante de campo, os srs. Capitão-de-fragata Ornelas de Vasconcelos e Camões Godinho, respectivamente comandantes do “Álvares Cabral” e “Pacheco Pereira”, Primeiro-tenente Alberto Pereira Miranda, imediato do navio atracado, e restante oficialidade. Estavam presentes também os srs. Primeiro tenente Sousa Guimarães, adjunto do Departamento Marítimo do Norte, Capitão-tenente Pinto Fonseca, Capitão do porto de Leixões, Capitão-tenente Ventura da Cruz, comandante da Polícia Marítima, e Primeiros-tenentes Pereira Setas e Sousa Campos, comandantes, respectivamente, das lanchas-patrulha “Dourada” e “Corvina”.
O sr. Contra-almirante Quintanilha de Mendonça Dias, sempre acompanhado pelos comandantes dos novos escoltadores e pelos oficiais em serviço no “Álvares Cabral”, fez uma revista pormenorizada a todos os departamentos, observando ao mesmo tempo o complexo mecanismo do corpo de guerra, que achou devidamente articulado.
Uma hora depois, o ilustre oficial general foi homenageado com um almoço a bordo, a que assistiram também os srs. Capitães-de-fragata Ornelas Vasconcelos e Camões Godinho, o Capitão de mar-e-guerra Ramalho Rosa e Primeiro-tenente João Carlos Alvarenga, retirando cerca das 14 horas.
O Ministro da Marinha seguiu ao fim da tarde para Lisboa, acompanhado do seu chefe de gabinete e do seu ajudante de campo.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 1 de Dezembro de 1959)

quarta-feira, 26 de abril de 2017

História trágico-marítima (CCXV)


O abalroamento da galera-transporte "Pero de Alenquer"

Lisboa, 11 de Abril - Hoje, ao anoitecer, o transporte “Pero de Alenquer” foi avistado do Cabo Espichel, pedindo socorro, em virtude de ter abalroado com um navio inglês.
Saíram do Tejo alguns rebocadores em seu auxílio.

Lisboa, 11 de Abril - O paquete “Chili”, vindo do Brasil e entrado hoje no Tejo pelas 5 horas da tarde, é que informou achar-se o transporte “Pero de Alenquer” perto do Cabo Espichel com água aberta, em consequência de ter sido abalroado na noite passada com um navio inglês.
Os rebocadores “Bérrio” e “Lidador” e o vapor nº 2 da Alfândega saíram ao encontro do transporte; mas até agora ignora-se o que terá sucedido.
Vem da Índia o “Pero de Alenquer” com 94 dias de viagem, não tendo tocado em nenhum porto. Conduz um carregamento de teca, sendo comandado pelo 1º tenente Macieira.

Lisboa, 12 de Abril - Até à 1 hora e meia não se sabia se fôra encontrado o transporte “Pero de Alenquer”. O vapor “Chili” não lhe deu reboque porque de bordo do transporte lhe foi declarado não precisar dele. Apenas lhe pediu que avisasse a estação competente logo que entrasse no Tejo. A maior avaria no transporte é um rombo na proa, abaixo da linha de água. Os vapores de pesca que regressaram ontem de tarde não o viram, presumindo que virasse de bordo, pois que o vento soprava forte, do norte.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 12 de Abril de 1899)

Imagem da galera-transporte "Pero de Alenquer"
Foto de autor desconhecido - Revista da Armada

Características da barca construída em ferro “Kinfauns”,
identificada como responsável pelo abalroamento
Nº Oficial: N/a - Iic: K.J.C.N. - Porto de registo: Dundee
Armador: J. Couper, Dundee, Escócia
Construtor: A. Stephen & Sons, Glasgow, 09.1886
Arqueação Tab 1.001,00 tons - Tal 981,00 tons
Dimensões: Pp 62,18 mts - Boca 10,49 mts - Pontal 5,99 mts
Propulsão: À vela
Transporte “Pero de Alenquer”
Lisboa, 13 de Abril - Foi levantada a quarentena ao “Pero de Alenquer”, que amanhã, se o tempo permitir, virá para o Tejo rebocado pelos vapores “Bérrio” e “Lidador”.
O comandante do “Pero de Alenquer” mandou à direcção de marinha informações circunstanciadas sobre o abalroamento que sofreu e que ocorreu na noite de 5 do corrente, pelas 2 horas da madrugada.
O “Pero de Alenquer” navegava à bolina a 28 milhas dos Açores, quando sobre ele, por circunstância ainda desconhecida, veio a barca inglesa “Kinfauns”, procedente de Londres e com destino à Madeira e a qual não deu tempo ao navio português senão para orçar, a fim de evitar ser abalroado por través.
Por este modo se explica porque o rombo foi na amurada de estibordo, acima da linha de flutuação e avante da quartelada. A barca inglesa desarvorou, ficando sem o mastro do traquete e o gurupés.
Quanto ao “Pero de Alenquer” perdeu o pau da bujarrona e teve o pano todo rasgado. Durante a noite de 6 o comandante do transporte, o 1º tenente sr. Macieira, pôde fazer reparar algumas avarias sofridas, mas não evitar que o navio metesse água, apesar de navegar com âncora a estibordo.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 14 de Abril de 1899)

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Leixões na rota do turismo! (2/2017)


Navios de passageiros em Leixões

O navio de passageiros "Viking Star" passou pelo porto no dia 20 p.p., procedente de Lisboa, tendo encontrado à chegada vento exageradamente forte. Pela previsível dificuldade de manobra, o comandante do navio anulou a escala em Leixões, continuando acto contínuo a viagem com destino ao porto de St. Helier. Está prevista nova visita deste navio ao porto, no próximo dia 28.

Navio de passageiros "Aida Luna"
Dia 22, chegou procedente do Funchal, seguiu viagem para a Corunha.

Navio de passageiros "Midnatsol"
Dia 22, chegou procedente de Lisboa, seguiu viagem para a Corunha

Navio de passageiros "Viking Sea"
Dia 22, chegou procedente de Lisboa, seguiu viagem para a Corunha

Para hoje, dia 24, estava prevista a visita do navio de passageiros "Clio", que não se verificou, por ter igualmente cancelado a escala.

sábado, 22 de abril de 2017

História trágico-marítima (CCXIV)


O incêndio a bordo do vapor Haytor, no rio Douro

Pouco depois das 4 horas da tarde manifestou-se incêndio a bordo do navio inglês “Haytor”, fundeado junto da margem esquerda do Douro, defronte do lugar do Cavaco.
O vapor, que entrara no dia 28 do corrente, procedente de Catania, com carregamento de enxofre consignado à firma J.T. da Costa Basto & Cª., estava à descarga quando se deu o incêndio, originado por faúlhas saídas das caldeiras da máquina motriz.

Desenho sem correspondência ao texto

Características do vapor “Haytor”
Nº Oficial: N/a - Iic: P.S.H.V. - Porto de registo: Londres
Armador: Earnmount Sailing Co., Ltd., Londres
Operador: R. Ferguson & Co., Ltd., Londres
Construtor: William Hamilton & Co., Port Glasgow, 07.1897
Arqueação Tab 1.989,00 tons - Tal 1.860,00 tons
Dimensões: Pp 81,38 mts - Boca 12,22 mts - Pontal 7,14 mts

A tripulação tentou apagar o fogo; como o não conseguiu, reclamou os socorros dos bombeiros, comparecendo ali os municipais e voluntários de Gaia e do Porto. Como se revelassem impotentes estes socorros para localizar o incêndio, os consignatários do vapor solicitaram a comparência dos bombeiros municipais do Porto, que não se fizeram esperar e que conduziram, numa barcaça, até junto do vapor, uma bomba, que trabalhou ali, atacando, com água do rio, o incêndio, que dentro em pouco era dado por extinto.
Não obstante o porão ter dois compartimentos apenas separados por um taipal de madeira (antepara), foi conseguido que o fogo não passasse de um para o outro lado.
Os trabalhos foram dirigidos pelo inspector dos incêndios, sr. Guilherme Fernandes. A carga do navio está segura em diversas companhias estrangeiras, muito embora não sendo de grande importância os prejuízos verificados.
Os bombeiros e material retiraram perto das 11 horas da noite. A bordo ficou de vigilância um bombeiro, por assim o haverem solicitado os consignatários do vapor.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 29 de Março de 1899)

sexta-feira, 21 de abril de 2017

História trágico-marítima (CCXIII)


O naufrágio da barca “Judith”

Ocorrência marítima
Foi recebida notícia de ter sofrido grossa avaria, em viagem do Maranhão para o Rio Grande do Sul, a barca “Judith”, pertencente aos srs. Glama & Marinho, da praça do Porto.
A barca considera-se perdida.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 28 de Março de 1899)

Desenho de uma barca, sem correspondência ao texto

Características da barca “Judith”
Nº Oficial: N/a - Iic: H.B.N.R. - Porto de registo: Porto
Armador: Glama & Marinho, Lda., Porto
Construtor: José Fernandes Lapa, Azurara, 1884
ex “Lopes Duarte”, A. Lopes Duarte, Porto
Arqueação Tab 383,00 tons - Tal 322,35 tons
Dimensões: Pp 38,20 mts - Boca 7,40 mts - Pontal 3,60 mts
Propulsão: À vela
Naufrágio
Com respeito ao naufrágio da barca “Judith”, os proprietários do navio, srs. Glama & Marinho, apenas receberam um telegrama expedido do Pará pelo respectivo capitão, participando-lhes que a “Judith” fôra a pique, em viagem de Temonha (ou Timonha, estado do Ceará), para o Rio Grande do Sul.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 29 de Março de 1899)

quarta-feira, 19 de abril de 2017

História trágico-marítima (CCXII)


O abalroamento entre os vapores "Daybreak" e "Science"

Desenho sem correspondência ao texto

Características do vapor inglês “Daybreak”
Nº Oficial: N/a - Iic: M.B.Q.F. - Porto de registo: West Hartlepool
Armador: J. Wood & Co., West Hartlepool
Construtor: Ropner & Son, Stockton-on-Tees, Fevereiro de 1891
Arqueação Tab 2.922,00 tons - Tal 1.904,00 tons
Dimensões: Pp 95,55 mts - Boca 12,34 mts - Pontal 6,15 mts
Propulsão: 1 motor de tripla expansão
Equipagem: 24 tripulantes
Características do vapor inglês “Science”
Nº Oficial: N/a - Iic: H.V.S.T. - Porto de registo: Londres
Armador: Westcott & Laurence, Londres
Construtor: William Pile & Co., Sunderland, Março de 1868
Arqueação Tab 1.299,00 tons - Tal 810,00 tons
Dimensões: Pp 75,90 mts - Boca 9,17 mts - Pontal 5,26 mts
Propulsão: 1 motor compósito
Equipagem: 22 tripulantes

Abalroamento e naufrágio
Lisboa, 27 de Março - Cerca da 1 hora da madrugada de ontem, 8 milhas ao norte do Cabo de S, Vicente, o o vapor inglês “Daybreak” que ia de Brighton para Alexandria, com carvão de pedra, abalroou com o vapor inglês “Science”, cortando-o a meio e metendo-o a pique.
Os tripulantes do “Science”, em número de 22 foram salvos pelo “Daybreak”, ficando dois deles muito feridos. O “Science” levava trigo carregado em Odessa para Antuérpia.
O “Daybreak”, com uma equipagem de 24 homens, veio fundear na Cova da Piedade, precisando ser rebocado por haver sofrido avaria na proa.
Os capitães prestaram declarações sobre a causa do sinistro.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 28 de Março de 1899)

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Leixões na rota do turismo! (1/2017)


O regresso dos navios de passageiros

No último fim de semana, registou-se o início das visitas dos navios de cruzeiro ao porto. Um pouco tarde para o habitual, porque o estado do tempo e mar levou ao cancelamento de algumas escalas.
Mesmo assim, a tendência de aumento do número de navios em Leixões é perfeitamente consistente com as perspectivas anunciadas pela Autoridade Portuária, significando também um aumento paralelo quanto ao número de turistas embarcados, bem como das respectivas tripulações que efectuam serviços a bordo.
Antecipamos que visitarão o porto diversos navios pela primeira vez, estando aberta a possibilidade de virem a ser realizados cruzeiros com viagens a ter início em Leixões, durante o ano de 2018.

Navio de passageiros "Oriana"
Chegou procedente do porto do Ferrol, tendo saído com destino a Cadiz.

Navio de passageiros "Le Soleal"
Chegou procedente de Lisboa, tendo saído com destino à Corunha.

Navio de passageiros "Marco Polo"
Chegou procedente de Lisboa, tendo saído com destino a Avonmouth.

sábado, 15 de abril de 2017

Histórias do mar português!


A vida arriscada e operosa dos pilotos do Douro e Leixões
Texto de Afonso Passos

Trinta e quatro homens, escondidos na maior modéstia, realizam, dia a
dia, trabalho perigoso, de que colhe altos benefícios o Norte do País
Há mais de um século, Feminore Cooper, espírito brilhante que cultivou, com amor e ciência, o campo das letras, deu à estampa um livro com este singelo título: «O Piloto». Embora do género romance, a ideia que presidiu à confecção do livro foi, unicamente, a glorificação do piloto, objectivo conseguido em pleno porque o autor, com larga visão da vida e das coisas do mar, focou, com maestria, o carácter, a concentração e a audácia desses admiráveis marinheiros.
Maior teria sido a sua impressão, maior seria a emoção dos leitores, se Feminore Cooper nos oferecesse, no século em que vivemos, o descritivo, por-certo envolto em ricas roupagens literárias, da entrada e saída de navios na barra do Douro e, até, no porto de Leixões. Veria, com seus olhos perscrutadores e com seu espírito perspicaz, como na era da máquina, em que o progresso se avantaja, em que a Natureza parece dominada ao poder criador do homem, como uma vaga, apenas por mais alterosa, como um rio tranquilo, apenas por aumentar de corrente e volume, desafia a eficácia da mecânica, obstruindo-lhe o caminho, relegando-a para o lugar próprio.
E, nesta emergência, é ainda o homem – o piloto que Cooper glorificou – quem vai adiantar-se a certos poderes da terra, vencendo, pela sua inteligência, forças consideradas indómitas. Sabe que assim é quem já assistiu, em dias de mar bravio, ao trabalho dos pilotos nessa «garganta da morte», que é a barra do Douro. Os seus conhecimentos, a sua tenacidade e, quantas vezes, o seu heroísmo, são constantemente postos à prova, mostrando-nos, de forma eloquente, quão arriscada e operosa é a profissão do piloto.

Navio de carga holandês "Strabo" da K.N.S.M.
Fotografia de Alberto Teixeira da Costa, Foz do Douro

A barra do Douro oferece aspecto desolador
Movidos pela leitura de Cooper e pelo conhecimento directo que temos da vida do piloto, fomos, há dias, em busca de impressões até à Corporação dos Pilotos das Barras do Douro e Leixões, instalada num prédio do Passeio Alegre, frente ao mar. Da visita às instalações, que são modelares, das palavras que trocamos com alguns pilotos de serviço, ficou-nos impressão magnífica do importante papel que desempenham na navegação e do enorme contributo que oferecem à vida do comércio e da indústria.
Mas outro motivo nos levou até à Cantareira. Arriscarmo-nos, com o piloto, se possível fosse, até um dos navios que entram ou saem a barra, assistindo, para que a impressão fosse mais viva, aos trabalhos que demonstram a perícia e os riscos do piloto. Não pôde ser satisfeito o nosso desejo. A barra, antes da guerra sempre com movimento intenso de embarcações, oferece, agora, aspecto profundamente desolador.
Que vemos? Um barquito à vela, que regressa da faina da pesca, uma fragata que um rebocador leva para Leixões… Nada mais. Dos vapores de carga, não encontramos rasto nem fumo… Disseram-nos que, de quando em vez, aparece um pela barra… E o sol, esplendoroso e magnânimo, parecia abençoar os homens e as coisas! Os pilotos da barra – os «práticos», como lhe chamam os brasileiros – são escolhidos entre os homens do mar, indistintamente, exercendo qualquer das diversas profissões marítimas.
Para que possa concorrer ao lugar, tem de conhecer, após aturado estudo, especialmente a barra, as marés, os baixios, as correntes e mil e um pormenores que a prática na vida do mar oferece. Requerida a sua admissão, o candidato é sujeito a exame, feito sempre a bordo de um navio de guerra, com o qual manobra, saindo e entrando na barra do Douro como na de Leixões, para mostrar as suas aptidões. O júri de exame é sempre composto por dois oficiais da marinha, pelo piloto-mór e pelo sota piloto-mór. Aprovado piloto provisório, faz seis meses de tirocínio, sob a vigilância dos pilotos efectivos. Decorrido esse tempo, se as informações forem abonatórias da sua competência, passa a fazer serviço sob sua responsabilidade. Continuando a ser bem-sucedido, ao cabo de 18 meses passa à efectividade. E ao fim de 7 anos de trabalho pode concorrer aos lugares superiores.

No mar, estão já sepultados muitos pilotos
O pessoal encarregado da pilotagem nas barras do Douro e de Leixões está assim distribuído: na secção da Foz do Douro, há 26 pilotos, incluindo os graduados e um escrivão; e em Leixões prestam serviço 8 pilotos. Na secção da foz, o pessoal está dividido em duas esquadras, estando uma, durante quinze dias, ao serviço de entradas, e a outra ao serviço de saídas, findos os quais alternam.
O piloto, além das responsabilidades técnicas, tem outras referentes às autoridades aduaneira, policial e sanitária, visto que sendo a primeira autoridade a entrar a bordo toma sobre si todos os encargos, até que aquelas, já dentro do porto efectuem as suas visitas.
Os pilotos da barra do Douro, atendendo à situação do seu porto, têm de ser marinheiros muito hábeis, pois é uma das barras mais difíceis, atendendo à tonelagem da navegação que a demanda. Indagando dos momentos que consideram mais difíceis para a sua vida profissional, todos os pilotos são de opinião que o acto mais arriscado é o de saltar, fora da barra, da lancha para bordo ou de bordo para a lancha, operação que o mar, quando alteroso, torna difícil ao máximo.
E recordaram-nos, a propósito, alguns desastres sucedidos a colegas seus, muitos deles mortais. Há anos, existia em Carreiros um posto suplementar, onde estavam atracadas várias catraias. Uma delas, quando em serviço, voltou-se, morrendo afogados, muito perto de terra, todos os pilotos que levava. Também uma outra catraia, destinada a «assistir», que estava em serviço de sinalização da barra, voltou-se no momento em que um vapor holandês demandava o porto, perecendo sete dos seus ocupantes.
É, assim, cheia de perigos, a vida dos pilotos na barra do Douro, que se continua a manter num estado luminoso. Quem não se recorda do trágico naufrágio do vapor alemão “Deister”, ocorrido mesmo à entrada do porto, sem que milhares de pessoas, que presenciaram, horrorizadas, da margem, os diversos passos da catástrofe, pudessem valer a duas dezenas de vidas que o mar sepultou? Foi neste desastre pavoroso que um piloto, Jacinto José Pinto, encontrou a morte.

Os pilotos têm salvo muita gente da morte
Existe lamentavelmente um equívoco que vem a propósito esclarecer. Quando se dá qualquer naufrágio em que aos pilotos não é possível actuar, quer por ignorância do caso ou porque o facto sé dá em ocasião que o material mais apropriado está em serviço, certo público, injustamente, critica-os asperamente, quando, na verdade, esquece que não sendo a sua função propriamente a de salvação, visto que exercem uma indústria distinta, que é a pilotagem das embarcações, e, contudo, a Corporação de Pilotos do Douro e Leixões a entidade que mais gente tem salvo, não só aquela que arranca da água, como dos múltiplos naufrágios que evita quando se apercebe que uma embarcação corre risco e, caso interessante, raro é o piloto que possui uma medalha do Instituto de Socorros a Náufragos e nem a Corporação foi, ainda, condecorada pelos poderes públicos, o que, aliás, era justíssimo.
Não sucede isto, porém, com outras corporações de interesse público, tais como os bombeiros, que, pelo menos em matéria de socorros a náufragos, são sempre, e muito bem, premiadas, assim como os seus componentes.
Não se tem isto em vista, não só quanto à parte crítica de certo público, mas também às distinções honoríficas que a Corporação de Pilotos, não tendo nenhum subsídio especial do Estado, justamente merecia, pois danifica o seu material flutuante e gasta combustível. Como os casos de socorros a barcos de pesca e de recreio se dão frequentemente, no fim dum ano pode avaliar-se o quanto afecta a economia da Corporação e dos pilotos, pois que os proventos dependem, em parte, da referida economia. Ora para bem de todos convém explicar que a entidade dada aos serviços de socorros a náufragos é o Instituto de Socorros a Náufragos.
A Corporação de Pilotos intervém, pronta e voluntariamente, já por iniciativa própria dos sentimentos dos seus incorporados, já porque isso é dever de todo o cidadão, sempre que pode, quando tem conhecimento dos factos. Nos naufrágios desta área quase sempre comparece uma ou mais lanchas ou o rebocador “Comandante Afonso de Carvalho”, mesmo nos casos em que o salva-vidas sai.
Quando se trata do salvamento de propriedades de valor apreciável, não de vidas, a Corporação tem de ser remunerada porque vai danificar o seu material e fazer despesas com pessoal, combustível, etc.
Há quem julgue que devido à pilotagem ser um serviço oficial, existe obrigação de fazer gratuitamente os serviços de salvação dos navios, mas, na verdade, esquecem que a Corporação compra o material que adquire, paga os carburante e lubrificantes, pessoal, reparações e seguros, como qualquer entidade particular, comercial ou industrial.

O piloto não enfrenta apenas os perigos do mar
A continuar assim, não surpreenderá ninguém que a barra do Douro venha ser ainda sepultura de muitas vidas. Disse-nos um membro da corporação, quando lhe apontamos essa possibilidade: «Sim, porque o piloto, aqui, é como um artista a trabalhar com fraca ferramenta».
Porém, os pilotos não enfrentam apenas os perigos do mar. Pela natureza da profissão, a mortalidade entre eles, é enorme, causada, especialmente, por doenças do coração, tuberculose, resfriamentos, etc. Para corroborar essa afirmação, basta citar a sua Caixa de Pensões, que possuindo 34 sócios, em 7 anos tem já 11 viúvas a sustentar.
Não obstante as crises dos últimos anos e a actual, que a todas supera, a Corporação dos Pilotos está apetrechada com material mecânico moderno para o serviço de pilotagem e outros, material esse que fica bastante oneroso. Para o serviço de amarrações, possui 50 assalariados, aos quais tem dispensado bastantes regalias, não obstante a Corporação viver presentemente em regime de «deficit».
Na secção de Leixões, o serviço de pilotagem é também pesado e difícil, visto que é permanente, de noite e de dia, e especialmente devido às más condições do porto, que foi feito para abrigo dos antigos navios de vela e, hoje, é demandado por verdadeiras cidades flutuantes. Estes navios, pelo seu tamanho como também pelo seu enorme calado, tornam-se de difícil manobra, devido às dimensões acanhadas da bacia.
Hoje, graças à aquisição, por parte da Corporação, do rebocador “Comandante Afonso de Carvalho”, o serviço é feito em melhores condições, facilitando não só o acto de pilotar, que, anteriormente, em dias de muito mar, não podia efectuar-se, como ainda o recurso de assistência permanente, visto que o rebocador está sempre em Leixões e, portanto, pronto a actuar na emergência de qualquer sinistro.
Há, na vida dos pilotos da barra do Douro, um facto que demonstra claramente a ponderação com que efectuam os seus serviços. Quando o mar, embravecido, dificulta a entrada ou saída de embarcações, os pilotos reúnem-se, em conselho, numa casita, junto ao mar, na Cantareira, para deliberarem sobre a melhor forma de conduzir o navio com segurança ao seu ancoradouro. O piloto-mór ouve as opiniões, muitas vezes divergentes, dos seus subordinados. Se o acordo, para tal fim, não é unânime, procedem à votação – e o serviço é feito segundo o critério da maioria.
Da vida dos pilotos, da sua profissão arriscada e operosa, muito haveria a dizer. Ainda bem que Feminore Cooper o fez, embora noutra época e com outros motivos, porque nós, sem o recurso de impressões vivas em que nos possamos escudar, apenas repetiremos que os portos do Douro e Leixões, por imperativo da guerra que assola o mundo, oferecem aspecto triste, desolador, embora o Sol por lá ande a abençoar os homens e as coisas…
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 1 de Agosto de 1940)

segunda-feira, 10 de abril de 2017

História trágico-marítima (CCXI)


O encalhe do navio "Nashaba"

Encalhou na Ericeira, devido ao nevoeiro,
o navio de carga americano “Nashaba”
Ericeira, 17 – Na madrugada de hoje foram ouvidos nesta vila sucessivos apitos da sirene de um vapor, que deveria estar em perigo muito próximo de terra. Havia muita cerração e nada se via para o mar.
No posto da Guarda Fiscal de S. Julião soube-se a breve trecho do que se tratava. O navio de carga americano “Nashaba”, encalhara devido ao nevoeiro, pelas 4 horas, perpendicularmente à praia de S. Julião, que fica imediatamente ao Sul da praia da Baleia.
No momento do encalhe, o comandante do navio expedira um rádio para Lisboa a comunicar o sinistro e a solicitar assistência, visto o navio encontrar-se em situação difícil. Da administração do porto de Lisboa foi mandado seguir para o local o rebocador “Cabo Espichel”, apetrechado para trabalhos de salvamento e com técnicos a bordo.
Compareceu também no local um outro rebocador vindo de Lisboa, mas as primeiras tentativas de salvamento não deram qualquer resultado. O navio encontra-se muito enterrado na areia e não se sabe mesmo se em rocha, mas o mar, em compensação, não está muito agitado. Até agora os tripulantes não correm qualquer risco.
Muitos veraneantes dirigiram-se em pequenos barcos para próximo do navio sinistrado, a fim de assistirem às tentativas de desencalhe.
Na preia-mar das 14 horas e quarenta minutos, os rebocadores deram alguns esticões violentos, mas o navio não cedeu e manteve-se na mesma posição. Está a ser encarada a hipótese de aliviar o navio de parte da carga. Os trabalhos de salvamento continuam.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 18 de Julho de 1940)

Foto do navio "Nashaba" - imagem de autor desconhecido
www.armed-guard.com/sunk.html

Características do navio “Nashaba”
Nº Oficial: N/a - Iic: K.D.S.M. - Porto de registo: Houston, Texas
Armador: Lykes Bros Steamship Co. Inc., Houston, Texas
Construtor: Pacific Coast Shipbuilding Co., Bay Point, California
Arqueação: Tab 6.062,00 tons - Tal 3.776,00 tons
Dimensões: Pp 122,66 mts - Boca 16,15 mts - Pontal 9,75 mts
Propulsão: 1:Tvapor de Kerr Turbine Co., Wellsville, Nova York
Equipagem: 27 tripulantes

O vapor norte-americano “Nashaba” que havia
encalhado na Ericeira seguiu para Lisboa
Ericeira, 18 – O navio americano “Nashaba” que desde ontem se encontrava encalhado na praia de S. Julião, foi esta tarde desencalhado e seguiu para Lisboa, acompanhado pelos rebocadores que intervieram no seu salvamento.
As tentativas de desencalhe feitas durante a noite e a manhã de hoje não deram resultado, mas os técnicos mantinham-se convencidos de que seria possível salvar o navio. Devido ao encalhe ter ocorrido muito próximo de terra, os rebocadores tiveram grande dificuldade em estabelecer as espias de aço com as quais tentariam proceder ao salvamento.
Uma pequena embarcação foi empregada por fim com exito no estabelecimento das espias e, durante a noite, o rebocador “Cabo Espichel” manteve-se ligado por duas espias ao “Nashaba”.
Próximo, manteve-se sempre o vapor dos Pilotos “Comandante Pedro Rodrigues”, cujos serviços de assistência foram também muito importantes, especialmente na fase final dos trabalhos.
Durante a enchente da manhã, foram feitos os últimos preparativos para uma nova tentativa na preia-mar das 15 horas. Numerosas pessoas acorreram ao local para assistir aos trabalhos, fazendo-se transportar em automóveis e em carroças. Os rochedos próximos apresentavam, pelo meio-dia, um curioso aspecto. Muitos banhistas levaram o farnel para ali passarem a tarde.
Pelas 14 horas, quando a maré já estava bastante alta, foram tomadas disposições para nova tentativa. O “Cabo Espichel” pegou numa espia e o “Comandante Pedro Rodrigues” pegou em outra.
Eram 14 horas e dez minutos, quando os dois rebocadores deram, num esforço simultâneo, o primeiro esticão. O vapor cedeu, ligeiramente, e, cinco minutos depois, a um novo esticão, moveu-se sobre a areia. Os navios de salvação insistiram no esforço e o “Nashaba” ficou a flutuar francamente. As sirenes dos vapores silvaram e os tripulantes acenavam com os bonés numa grande manifestação de alegria.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 19 de Julho de 1940)

Nota: Este navio naufragou em 26 de Fevereiro de 1945, quando integrado no comboio «TAM91», seguindo viagem para Ghent, na Bélgica, colidiu com uma mina no estuário do Schelde, posição 51º22’18”N 02º55’25”E. A tripulação salvou-se.

domingo, 9 de abril de 2017

O lugre "Granja", do Porto


Histórico comercial do navio

Ano de 1940, aos vinte e dois dias do mês de Fevereiro, nesta Capitania do Porto, achando-se presente o capitão do porto do Porto, CMG António Afonso de Carvalho, e o escrivão da referida Capitania do porto, 1ºTen A/M António Brandão dos Santos, foi apresentado pela Sociedade de Navegação Sagres, Lda., donos do dito navio, um requerimento no qual pedem para ser feito o registo de propriedade deste lugre, por desejarem empregá-lo no comércio marítimo de longo curso, excluindo as ilhas adjacentes e colónias, juntando para o efeito os documentos constantes do artigo sessenta e sete do regulamento geral das capitanias, aprovado por decreto de 1 de Dezembro de 1892, ficando arquivados nesta repartição, em cujo teor se depreende o seguinte:
- Que este navio era o lugre “Corça”, construído de madeira na Figueira da Foz, no ano de 1919, achando-se registado na capitania de Lisboa a folhas 28 do livro 16 respectivo, com o número oficial 476-F a favor da Parceria Geral de Pescarias.
- Que foi adquirido pela Companhia de Pesca Transatlântica, Lda., com sede na cidade do Porto, pela quantia de duzentos e cinquenta mil escudos (250.000$00) e registado para se empregar na pesca longínqua, nos termos da alínea d) do art.º 3.º do Decreto n.º 24.235, de 27 de Julho de 1934, sendo a sua propulsão à vela.
- Que ficou registado a favor da referida Companhia de Pesca Transatlântica, Lda., com o nome “Granja”, na Capitania do porto de Lisboa, a folhas 72 do livro 16 respectivo, sob o n.º G-371.
- Que em 1 de Junho de 1938 transferiu o seu registo para a Capitania do porto da cidade do Porto, continuando propriedade da mesma Companhia de Pesca Transatlântica. Lda., e registado sob o n.º C-122 a folhas 183 do livro 8KK. Possui um motor diesel Deutz a 4 tempos, de 10 HP para as manobras; um semi-diesel marca NK para accionamento do molinete da amarra, de 10 HP e um motor propulsor semi-diesel, da marca Otto Deutz, de 4 cilindros, de 150 HP, a 400 rotações por minuto.
- Por escritura lavrada no notário Artur da Silva Lemos, no dia 20 do mês de Fevereiro de 1940, foi este lugre adquirido à Companhia de Pesca Transatlântica. Lda., pela Sociedade de Navegação Sagres, Lda., com sede na rua de Sousa Viterbo, n.º 36-1.º, na cidade do Porto, pela quantia de oitocentos e cinquenta mil escudos (850.000$00). Conforme nota da marinha mercante, ficou autorizado a manter a mesma denominação de “Granja” e o mesmo distintivo visual.

Foto do lugre "Granja" no rio Douro
Imagem de autor desconhecido

Características do lugre “Granja”
1940-1941
Armador: Sociedade de Navegação Sagres, Lda., Porto
Nº Oficial: C-122 - Iic: C.S.F.X. - Porto de registo: Porto
Construtor: Sebastião Gonçalves Amaro, F. Foz, 23.11.1918
ex “Sagres”, Empresa Industrial Figueirense, 1918-1922
ex “Guerra IIº”, Nunes, Guerra & Cª., Lda., Aveiro, 1922-1933
ex “Corça”, Parceria Geral de Pescarias, Lisboa, 1933-1937
Arqueação: Tab 283,48 t - 802, 825 m3 - Tal 194,56 t - 550,986 m3
Dimensões: Pp 39,27 mts - Boca 8,85 mts - Pontal 4,04 mts
Equipagem: 12 tripulantes
Navio de 3 mastros, tinha proa de beque, popa redonda, convés com salto à ré, 1 pavimento e a carena forrada com cobre.
O lugre perde-se por naufrágio no dia 23 de Julho de 1941.

O naufrágio do lugre “Granja” na Terra Nova
Os seus tripulantes chegam em breve a Lisboa
Está confirmado em absoluto o afundamento do lugre “Granja”, da Sociedade de Navegação Sagres, do Porto, sinistro ocorrido quando aquele lugre chegava à Terra nova. Por informações chegadas aos seus agentes em Lisboa, salvou-se a sua tripulação composta de 12 homens, incluindo o seu capitão Manuel S. Marques.
Aquele lugre andou nestes últimos tempos a fazer o transporte de mercadorias entre Lisboa e Génova, arvorando o pavilhão da Cruz vermelha Internacional. Em Abril último teve uma viagem acidentada durante a qual dois dos seus tripulantes perderam a vida, em pleno Mediterrâneo, arrastados pelas ondas, que varriam o convés de lado a lado. Nessa mesma viagem, o navio esteve prestes a perder-se num encalhe perto de Gibraltar.
O lugre tinha há poucos dias deixado de fazer essas viagens, para se entregar à missão de carregar bacalhau para Lisboa. A sua tarefa, portanto, consistia em trazer para Portugal o bacalhau que os outros lugres pescavam nos bancos.
O sinistro, ocorreu precisamente quando o navio chegava à Terra Nova e deu-se em consequência do lugre, devido ao nevoeiro, ter chocado com uma rocha. Os seus tripulantes chegam brevemente a Lisboa.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 25 de Julho de 1941)

sexta-feira, 7 de abril de 2017

História trágico-marítima (CCX)


Os dramas do mar alto - O vapor português “Sines” pede socorro
Por um rádio recebido ontem em Lavadores e na Boa Nova naufragou o
“Sines” no Canal da Mancha, salvando-se a tripulação
Apesar de repetidas pesquisas não se encontram vestígios do vapor
Quem era o seu comandante; a tripulação e a carga
Ouvindo os agentes, no Porto, da Companhia fretadora

Poucos meses decorridos sobre o naufrágio, em águas portuguesas, do vapor português “Lagoa” e do horrível desastre ocorrido com o afundamento do “Deister”, à entrada da barra do rio Douro, eis que o telégrafo vem dar outra notícia de um novo desastre que, por pouco, não enlutava a marinha mercante nacional. Outro vapor, e desta vez português, transportando carga para Hamburgo, o “Sines”, transmitia às primeiras horas da madrugada de ontem angustiosos sinais de S.O.S., indicando ao certo as coordenadas da sua posição.
Salva-vidas ingleses e vapores, que partiram em seu socorro, viram baldados os esforços de salvamento, porquanto, às sete horas da manhã, fartos de procurar, não tinham conseguido encontrar o vapor em questão.
Posteriormente chegava, porém, a consoladora notícia de que a tripulação do “Sines” fôra salva. Há, portanto, unicamente, a registar a perda material de um navio, facto que, apesar de importante, vem minorar bastante as suposições que as primeiras notícias nos faziam formular.
Em todo o caso, este naufrágio, que pôs em risco 31 homens, corajosos mareantes, não passa sem ser sentido, e, o laconismo torturante das primeiras notícias, mais faz meditar no mistério insondável do mar, desse mar que serviu para engrandecer o prestígio da nossa raça, mas que, simultaneamente, tantas vidas preciosas tem arrebatado e posto em eminente perigo.
Lamentando esta triste ocorrência, estando colados ao alarme geral que a primeira notícia provocou no ânimo de todos os portugueses, congratulamo-nos pelo desastre não ter atingido as proporções que, de princípio, lhe atribuíam.
As primeiras notícias do naufrágio
Conforme noticiado ontem na edição da tarde, a estação rádio-telegráfica de Lavadores recebia às primeiras horas da tarde de quarta-feira, um rádio da sua estação congénere de Niton, na Ilha de Wight, comunicando que ali foram recebidos sinais de S.O.S. do vapor português “Sines”.
Procurando, imediatamente, obter mais detalhes, foi possível apurar que o referido vapor se encontrava fretado à Companhia Colonial de Navegação de Lisboa, com agência aqui no Porto, na rua Mouzinho da Silveira. Nos escritórios da empresa, foram prestados esclarecimentos pelos sócios da citada agência, srs. João Diogo do Campo Carmo e visconde de Alijó.
Foi o primeiro destes srs. que amavelmente elucidou que fôra ali recebido um texto de um rádio transmitido para a estação da Boa Nova, que dizia assim:
«A estação rádio-telegráfica de Niton, na Ilha de Wight recebeu às 0,18 horas de hoje um S.O.S. do vapor “Sines”, que se encontrava à latitude Norte de 50º27’ e longitude Oeste 0º37’». Às 3,23 o mesmo posto disse para o “Sines” que das povoações inglesas Lansing e Worthing, partiram em seu auxílio dois salva-vidas. Mais tarde, ainda, às 7 horas, o mesmo posto avisou que o “Sines” não respondia, apesar das repetidas chamadas de terra, e que três navios haviam feito pesquisas no local nada havendo encontrado.
As características do Sines
- O “Sines não pertencia à frota da Companhia Colonial, não é verdade? - inquirimos!
- Assim é. Este navio, ex-alemão, pertencia ao armador da praça de Lisboa, sr. Fernando de Mello Rego, e encontrava-se fretado a esta Companhia para a qual fazia a sua segunda viagem. Ainda aqui esteve há cerca de duas semanas.
- E para onde se dirigia o “Sines”?
- Para Hamburgo…
- Com carga?
- Sim, minério de cobre. Desconhecemos, porém, a quantidade certa.
O “Sines”, - explicou mais detalhadamente o sr. João Diogo – era um belo navio, de 2.978 toneladas brutas e 2.242 toneladas liquidas. Era seu capitão o Cabo-verdiano Guidão Avelino, homem muito novo.
- E a tripulação?
- Era de 31 homens.
- E crê V.Exª num naufrágio?
- As notícias que recebemos são as que conhece. Nada mais nos consta, nem mesmo na sede em Lisboa, para onde ainda vamos telefonar.
- Portanto, admite a hipótese do “Sines” estar mesmo perdido?
- Sim… as notícias assim o fazem supôr… infelizmente!
E o sr. João Diogo com um atlas à sua frente mede com o compasso as distâncias, procurando as coordenadas, que determinam a posição em que o vapor se encontrava quando lançou o sinal de S.O.S. Visivelmente contrariado, comenta:
- As águas aqui na Mancha são muito fundas… A marinha mercante portuguesa anda com pouca sorte…
Nada mais pôde dizer o amável entrevistado. A campainha do telefone retinindo constantemente trazia um sem número de chamadas de pessoas que sabendo do naufrágio, procuravam informações.
Salva-se a tripulação
Mais tarde, quando já estava pronta grande parte desta notícia, mais uma vez, e devido à amabilidade do nosso entrevistado, chegou a notícia de que haviam telefonado de Lisboa, informando que a tripulação do “Sines” se tinha salvado. Não foi possível colher outras informações, mas foi confirmada esta feliz novidade.

Imagem do vapor "Sines", ainda propriedade dos T.M.E.
Desenho de Luís Filipe Silva

Características do vapor “Sines”
Armador: Fernando de Mello Rego, Lisboa
Nº Oficial: 444-E - Iic: H.S.I.N. - Registo: Lisboa
Construtor: William Hamilton & Co., Port Glasgow, Escócia, 05.1896
ex "Lynrowan" - Liver Shipping Co. Ltd., Liverpool, 1896-1901
ex "Milos" - Deutsche Levante Linie, Hamburgo, 1901-1916
ex “Sines” - Transportes Marítimos do Estado, Lisboa, 1916-1926
ex “Sines” - Soc. Sines (José P. Sobral Mendes), Lisboa, 1926-1928
Arqueação: Tab 2.974,61 tons - Tal 2.278,37 tons
Dimensões: Pp 94,49 mts - Boca 12,99 mts - Pontal 7,02 mts
Propulsão: Hamilton, 1896 - 1:Te - 1.800 Ihp - Veloc. 9,5 m/h
Equipagem: 31 tripulantes
Naufragou após colisão na posição 50º27'N 00º35'W em 20.03.1929

O nevoeiro na Mancha
Londres, 20 – O nevoeiro denso no Canal da Mancha durante a noite prejudicou a navegação, paralisando o tráfego no canal.
O salva-vidas de Worthing saiu para o mar, depois de ter sido recebido o S.O.S. do vapor “Sines”, mas depois de algumas horas de pesquisas não foi possível encontrar qualquer indício do vapor em perigo.
Outros navios tomaram igualmente parte nessas pesquisas, sem qualquer resultado. De manhã, o nevoeiro começou aliviando.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 21 de Março de 1929)
O naufrágio do “Sines”
Pormenores acerca das circunstâncias em que se deu o desastre
O comandante do “Sines” explica, num telegrama, as causas do sinistro
Quem eram os tripulantes
Como era previsível, causaram grande sensação na cidade, tanto a notícia da edição da tarde de quarta-feira, como a da edição da manhã de ontem, relacionadas com o naufrágio do vapor português “Sines”.
Realmente as primeiras notícias eram de tal forma confusas, que se chegou a supôr que o desastre assumira maiores proporções do que aquelas que, felizmente, assumiu.
Já o facto de o rádio transmitido da Ilha do Wight noticiar que os salva-vidas e outros vapores que haviam ido em seu socorro não terem encontrado o “Sines” fazia, por si só, pensar que a tripulação perecera com o navio, mas as notícias da imprensa vieram, finalmente, acalmar os ânimos e dar a todos a certeza grata de que não havia a lamentar a perda de vidas que, ao haver-se dado, vitimava elementos dos mais distintos da nossa marinha mercante.
A base das informações e aquelas colhidas junto dos proficientes agentes na cidade da Companhia Colonial, os srs. Teixeira de Magalhães, Diogo & C.ª, o desastre pôde ser reconstituído como segue:
Nas primeiras horas de quarta-feira, quando o pequeno navio de pesca “Adine”, de Boulogne-sur-Mer, se dirigia para o local onde costuma lançar as suas redes, abalroou a umas quarenta milhas de Beachy Head, isto é, ao largo da costa inglesa, com o navio português “Sines”, na altura da casa das máquinas.
O nevoeiro, extremamente denso, não permitiu à tripulação do navio francês qualquer manobra salvadora. No entanto, convencida da gravidade da colisão, pela violência do embate e pelos gritos que de bordo do navio abalroado soltavam os tripulantes, iniciou imediatas pesquisas, infrutíferas durante bastantes minutos.
Foi então, exactamente às 0,13 horas desse dia, que o telegrafista do “Sines” transmitiu os sinais de S.O.S. interceptados por diferentes estações radiotelegráficas, entre elas a de Niton na Ilha de Wight.
O densíssimo nevoeiro, principal causador do abalroamento, deve ter dificultado extremamente, não só o salvamento, como os esforços da tripulação em abandonar o navio, que se afundou num escasso quarto de hora. Só por um verdadeiro acaso providencial é que os 31 homens da tripulação, embarcados em duas baleeiras, puderam ser recolhidos pelo “Adine”, vindo para Boulogne-sur-Mer.
O telegrama do capitão
Deste porto telegrafou o capitão do “Sines”, sr. Guidão António Avelino para o proprietário do navio em Lisboa:
«“Sines” abalroado debaixo de nevoeiro, à meia-noite, na Mancha, por vapor de pesca, afundando-se de seguida. Tripulação toda salva. Chegamos a Bolonha a bordo do vapor abalroador. – (a) Comandante».
Como, mais tarde se averiguava, pelas coordenadas em que o navio naufragou a 25 milhas da ponta de Santa Catarina, perto da Ilha do Wight, local onde existem grandes rochedos e onde há sempre um denso nevoeiro, acentuado durante as últimas semanas.
Quem era a tripulação
O comandante do “Sines”, natural da Ilha do Fogo, de Cabo Verde é muito estimado e considerado entre a sua classe, pela sua competência e vastos conhecimentos náuticos, dizendo-se que ele já evitou alguns naufrágios iminentes, em navios sob o seu comando. A propósito, consta que de uma vez, ao sair de um porto na América do Norte, comandando um navio de vela, o sr. Guidão viu-se envolvido numa tremenda tempestade. Quando já todos julgavam inevitável o naufrágio, o sr. Guidão, encorajando os tripulantes e dando uma prova frisante da sua serenidade, mandou içar as velas e dirigiu o navio de tal forma que dentro em pouco conseguiu safar-se das paragens dominadas pela tempestade, indo arribar tranquilamente a um outro porto da costa americana. A tempestade de que fugia foi funesta para outros navios, que foram a pique.
Nascera em 1888 e é oficial da marinha mercante desde há 23 anos, exercendo o comando há 17. Foi comandante dos lugres “Augusto”, “Isis” e “Alfredo”, da barca “Portugal” e da galera “Helena”. Mais tarde comandou o vapor “Sado” e a galera “Santa Maria”, dos T.M.E. Há 5 anos que comandava o “Sines”. Tem sido sempre um oficial muito considerado entre todos os seus colegas.
Mário Gravato, o imediato do navio, é oficial há 11 anos, tendo 15 anos de vida no mar. Serviu em vários navios dos T.M.E. e desde há 4 anos fazia parte da guarnição do “Sines”. O segundo piloto é oficial há 5 anos, tendo embarcado pela primeira vez há 11 anos, e o terceiro piloto é oficial há 3 anos, e embarcou pela primeira vez há 10 anos.
A tripulação do “Sines” era assim constituída: Capitão, Guidão António Avelino; imediato, Mário Gravato; 2º piloto, Quirino de Carvalho; 3º piloto, José M. Azevedo; telegrafista, Mário C. Saraiva; contra-mestre, Manoel Martins; marinheiros, Frederico Fortes, José Estanislau, Eugénio Santos, João Vieira e Luiz Lourenço; moços, Damião P. dos Reis, Agostinho S. Almeida e João Oliveira Possante; 1º, 2º e 3º maquinistas, respectivamente, Manoel J. Caminha, Atanásio Matioly e Manoel de Oliveira; fogueiros, José Fernandes, Cipriano Manoel, José Amorim, Simão Monteiro, José Matias, António Moisés, Lino de Matos, João Fonseca e Zeferino Augusto; chegadores, Luiz Serra, José Rezende, e Manoel dos Santos; cozinheiro, Augusto Martins; ajudante, José P. de Carvalho; padeiro, Artur Dias Lourenço, e criados, Jacinto José Gomes e Fernando Miranda.
A história do "Sines"
O navio naufragado que prestou serviços durante a Grande Guerra, pertenceu, como se disse, à frota alemã, onde teve os nomes de “Lynrowan” e “Milos”. Foi adquirido, sucessivamente, pelos Transportes Marítimos do Estado, e pela casa Mello Rego, de Lisboa.
Fôra construído em 1896, e embora o seu valor estivesse avaliado em 30 mil libras, estava seguro na companhia Lloyds, unicamente em 15 mil.
Quando deflagrou a Grande Guerra, em 1914, o “Sines”, que então navegava sob a bandeira alemã, encontrava-se fundeado no Porto, onde foi aprisionado. Vindo, depois, para Lisboa, foi incorporado na frota dos extintos Transportes Marítimos do Estado, sendo um dos navios alugados à Furness, que o utilizou no transporte de víveres para os exércitos aliados.
Aquando da liquidação dos T.M.E., o “Sines” foi vendido à Sociedade Sines, Lda., sendo seu armador o sr. António Sobral Mendes, que se encontra actualmente a residir no Porto.
O “Sines” foi nos primeiros dias do corrente mês a Setúbal, a fim de carregar 3.500 toneladas de mineral, procedente das minas de Aljustrel, vindo depois para Lisboa, onde carregou mais 200 toneladas de cera, conserva e cortiça. O mineral destinava-se todo a Hamburgo, e a carga de Lisboa seria dividida por aquele porto e Roterdão. Toda esta importante carga estava segura pelos respectivos importadores. O navio estava previsto chegar hoje a Hamburgo.
Segundo informação recebida, os tripulantes do vapor naufragado esperam em Boulogne-sur-Mer o primeiro navio que os possa transportar a Lisboa.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 22 de Março de 1929)
O naufrágio do “Sines”
No rápido da noite, chegaram hoje a Lisboa os oficiais do vapor “Sines” que, na quarta-feira passada, naufragou no Canal da Mancha. No comboio de amanhã, das 8 horas, chegam os restantes tripulantes.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 24 de Março de 1929)

segunda-feira, 3 de abril de 2017

História trágico-marítima (CCIX)


O encalhe do vapor italiano “Giacomo Feltrinelli”,
no rio Douro

Ante-ontem, quando o vapor “Giacomo Feltrinelli”, pela 1 hora e meia da tarde, depois de ter entrado a barra do Douro, ao passar em frente ao Marégrafo, à Cantareira, desgovernou e guinou a estibordo. Largando imediatamente duas âncoras, foi encalhar nas areias ao sul do canal, em frente aos Arribadouros.
Cerca de meia hora depois, com auxílio de uma espia, que passou da popa para o Norte, desencalhou e endireitando para o canal, seguiu rio acima, sem novidade, indo fundear junto à Ribeira.

Desenho de construção inglesa ocorrida entre 1910-1930
Sem correspondência ao texto

Características do vapor “Giacomo Feltrinelli”
Nº Oficial: N/a - Iic: P.M.C.Q. - Porto de registo: Génova
Armador: Transporti Maritimi Feltrinelli, S:A., Génova
Construtor: Campbeltown Shipbuilding Co., Campbeltown, 1914
Arqueação: Tab 1.171,00 tons - Tal 654,00 tons
Dimensões: Pp 70,00 mts - Boca 10,87 mts - 4,72 mts
Propulsão: J.G. Kincaid & Co. - 1:Te - 3:Ci - 138 Nhp - 10 m/h

O vapor “Giacomo Feltrinelli”, que se encontra sob o comando do capitão Carrega, procede de Cardiff, com carregamento de carvão, consignado a Kendall, Pinto Basto & C.ª, tendo entrado em 17 ½ pés de calado.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 19 de Novembro de 1929)

domingo, 2 de abril de 2017

Leixões e Lisboa nos caminhos da emigração!


A Companhia Hamburguesa a ligar Portugal ao Brasil, desde 1871

Cartão postal do vapor "Bilbao"
Minha colecção

Características do vapor “Bilbao”
Nº Oficial: N/a - Iic: R.C.G.W. - Porto de registo: Hamburgo
Construtor: Reiherst’g Schiffswerf, Hamburgo, 1905
Arqueação: Tab 5.650,00 tons - Tal 3.602,00 tons
Dimensões: Pp 68,58 mts - Boca 9,58 mts - Pontal 5,38 mts

Cartão postal do vapor "España"
Minha colecção

Características do vapor “España”
Nº Oficial: N/a - Iic: N/a - Porto de registo: Hamburgo
Construtor: Howaldtswerf, Kiel, 1921
Arqueação: Tab 7.316,00 tons - Tal 4.427,00 tons
Dimensões: Pp 125,96 mts - Boca 16,79 mts - Pontal 11,02 mts

Anúncio da escala dos vapores da companhia nos portos nacionais,
publicado em 14 de Novembro de 1929

Cartão postal do vapor "Cap Norte"
Minha colecção

Características do vapor “Cap Norte”
Nº Oficial: N/a - Iic: R.C.Q.D. - Porto de registo: Hamburgo
Construtor: A.G. Vulkan Werke, Hamburgo, 1922
Arqueação: Tab 13.615,00 tons - Tal 8.027,00 tons
Dimensões: Pp 152,22 mts - Boca 19,51 mts - Boca 11,76 mts

Cartão postal do vapor "Cap Arcona"
Minha colecção

Características do vapor “Cap Arcona”
Nº Oficial: N/a - Iic: R.G.L.P. - Porto de registo: Hamburgo
Construtor: Blohm & Voss, Hamburgo, 1927
Arqueação: Tab 27.561,00 tons - Tal 15.011,00 tons
Dimensões: Pp 205,90 mts - Boca 25,78 mts - Pontal 14,30 mts

Cartão postal do vapor "Cap Polonio"
Minha colecção

Características do vapor “Cap Polonio”
Nº Oficial: N/a - Iic: R.B.L.M. - Porto de registo: Hamburgo
Construtor: Blohm & Voss, Hamburgo, 1914
Arqueação: Tab 20.597,00 tons - Tal 9.951,00 tons
Dimensões: Pp 194,34 mts - Boca 22,02 mts - Pontal 12,01 mts