quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Leituras


Os melhores livros temáticos de 2012

Não me cabe continuar a recomendar o acompanhamento diário do blog, todavia saibam que me sinto extremamente agradecido a todos, por me terem permitido ultrapassar largamente o conceito e os objetivos alcançados até agora. Principalmente porque se cumpriu por estes dias o 4º aniversário do Navios & Navegadores e sinto que ainda existe muito material para pesquisar, a justificar plenamente a sua divulgação.
Foi minha intenção nestes primeiros quatro anos do N&N, tentar fazer do blog uma biblioteca virtual em miniatura, onde todas as pessoas, directa ou indirectamente interessadas e que eventualmente pudessem ter vínculos à marinha mercante e à pesca longínqua, lograssem encontrar informações, que de alguma forma colaborasse através da imagem encontrar um ou outro navio, onde trabalharam ou viajaram, ou até mesmo descobrir referência a algum dos seus antepassados.
E como proposto previamente quero chamar a atenção para dois livros, ambos publicados no decorrer do ano que agora termina e cuja leitura recomendamos, pela excelência dos textos e pelo extraordinário interesse que a sua leitura desperta.



São obviamente dois livros de análise a duas áreas distintas; as companhias, o estado, os navios, a construção, o interesse económico para Portugal que teve o transporte das ramas de petróleo, as pessoas e as viagens. Tudo visto e apreciado pela visão conhecedora e critica do cap. Joaquim Ferreira da Silva. Sou de opinião que a publicação de um livro destes, em qualquer país do norte da Europa, seria por direito próprio um «best seller».
E acho que posso repetir-me quanto ao trabalho da jornalista Mónica Bello, que a partir da colaboração dum leque de pessoas cientificamente qualificadas para o efeito, relata apontamentos sobre um conjunto de naufrágios, no litoral do continente, nas ilhas adjacentes e no estrangeiro, mostrando imagens do mundo submerso onde habitam caravelas, naus e navios, do glorioso percurso marítimo navegado pelos portugueses ao redor do mundo. E muito mais...

sábado, 22 de dezembro de 2012

Boas festas


Tempo de Natal


Nesta quadra festiva aproveito para cumprimentar os amigos, os antigos e os novos navegantes, entrados recentemente como seguidores, que fazem o favor de apreciar o trabalho que gostosamente continuo a desenvolver no blog. Para todos envio votos de fé (sem resignação), paz e muita saúde. Lamento, porém, que esta mensagem não chegue a todos quanto gostaria, pelo menos enquanto for mantido o anúncio do abandono de navios e as respectivas tripulações continuarem a passar por enormes dificuldades, sem perspectiva de melhoria à vista.
Enfim, um grande abraço fraterno para todos e até sempre!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Navios da pesca do bacalhau


A campanha de 1945

O arrastão "Álvaro Martins Homem" à chegada ao porto de Leixões
Imagem Fotomar

Em meados do mês de Março a campanha já tinha sido iniciada pelos arrastões da S.N.A.B. “Álvaro Martins Homem” (1940/1983-1250/623T) e “João Corte Real” (1940/1974-1.250/623T), tendo ambos os navios sido classificados pelo primeiro grupo de navios a participar na pesca. Segundo informações recebidas de ambos os arrastões, chegaram notícias que a pesca correu de feição e que as tripulações se encontravam bem de saúde.
Entretanto, no mesmo período e já em Lisboa, em aprestos finais, achavam-se os arrastões da Empresa de Pesca de Aveiro “Santa Joana” (1936/1982-1.198-621T) e “Santa Princesa” (1930/1994-1.188/621T), que constituíram o segundo grupo de navios a sair com destino à Terra Nova.
Este ano a frota foi aumentada pela participação de diversos navios já construídos ou na fase final de construção, a saber: os lugres “Maria Frederico” (1944/1952-469/340T), “Inácio Cunha” (1945/1966-775/495T) e “Viriato” (1945/1963-625/399T) e pelos arrastões “João Álvares Fagundes” (1945/1965-1.270/657T) e “Pedro de Barcelos” (1945/1983-1.269/660T). Os últimos quatro navios eram os que ainda se encontravam em estaleiro, tendo sido lançados à água nos meses seguintes. Alguns destes arrastões efetuaram uma segunda campanha de pesca, que teve início no mês de Julho.
Regressou à pesca longínqua, depois de ter sido mantido durante algum tempo a operar no serviço comercial, o lugre “Senhora da Saúde” (1935/1952-356/272T) e da mesma forma integrou a frota o lugre “Paços de Brandão” (1934/1951-187-135T), após ter recebido considerável reparação, encontrando-se completamente transformado.
Apesar do aceitável número de unidades disponíveis, continuaram a ser construídos mais navios nos estaleiros da Gafanha e da Figueira da Foz. Foi feito o possível para que esses navios pudessem igualmente participar na campanha deste ano, mas o atraso na entrega dos motores encomendados no estrangeiro, só permitiram o seu lançamento à água ainda em 1945, mas tarde demais para ser possível a sua utilização. Outro dos navios que também não esteve disponível para navegar, foi o navio-motor “Comandante Tenreiro”, devido ao incêndio ocorrido no rio Douro, tendo obrigado à sua paralisação durante vários meses.
O lugre “Louzado” (1945/1953-224-149T) ex “Adele”, ex “Alcion”, após recente motorização, voltou aos bancos após ter recebido novo batismo, por troca de proprietário. Merecem ainda referência dois outros navios, os lugres “Novos Mares” (1938-1956-434/335T) e o “Groenlândia” (1935/1957-442/311T), que armaram num curto período de tempo, por terem efectuado viagens de comércio ao Brasil e à Argentina. Tendo em linha de conta os regressos em finais de Março, terão certamente conseguido acompanhar o resto da frota, que navegou para a Terra Nova no decorrer do mês de Abril.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Histórias de outros tempos


O direito de resposta…
3ª Parte

Foto de autor desconhecido, publicada por wikitravel.org

O sr. João José de Castro, muito digno e respeitado despachante oficial da cidade, fez publicar recentemente na imprensa o texto de uma sua carta, na qual procurava justificar o procedimento dos pilotos da barra de Viana do Castelo, por ocasião do aparecimento do vapor inglês que andava empregue no concerto do cabo submarino.
Enquanto jornalista, dizia o autor do texto «opto por não entrar na apreciação completa das razões apresentadas, para atenuar o procedimento dos pilotos. Quero mesmo supor e até acreditar que os factos se passaram conforme foram por ele narrados, mas o sr. Castro há-de concordar que servirem-se do telégrafo semafórico para dar avisos ao vapor, que pedia para comunicar com terra, era o mesmo que nada, porque S.Sª. bem sabe que a muito pequena distância da costa, os navios já não vêem a estação, pela péssima posição em que ela se encontra. E, sendo isto do conhecimento de todos os marítimos, sabem-no também os pilotos perfeitamente, que os sinais do semafórico não são vistos do mar, pelo que deviam ter procurado o vapor e não se limitarem a esperar que ele se aproximasse.
Demais, que necessidade havia de ser tripulada a lancha dos pilotos com 20 homens, que mal cabiam nela, e dos quais só uma pequena parte trabalhava com os remos? Segundo o regulamento dos pilotos, a lancha devia ser unicamente tripulada por oito homens aos remos e um ao leme, e, se ela levasse somente esta tripulação, teria podido muito bem chegar ao vapor, o que não conseguiu porque não pôde, pela aglomeração de gente inútil que ia a bordo.
Não quero nem devo atribuir a culpa do que se passou ao sr. Castro, cujo zelo e boa vontade são bem conhecidos na praça de Viana, mas sim ao péssimo serviço que o corpo de pilotos desde há muito presta e creio que continua a prestar, enquanto os respectivos capitães do porto não olharem seriamente para este importante assunto, a que estão ligados valiosos interesses, muitas vidas e valores consideráveis.
Já que falo da estação semafórica, faço questão de dizer do nenhum serviço que ela presta ao comércio marítimo. A posição da estação é a pior que se poderia determinar. Estabeleceram-na na base do forte da Roqueta, no castelo da barra e aí colocaram o respectivo mastro, de sorte que qualquer navio que passa no mar, mesmo junto à costa, muito dificilmente os pode ver e consequentemente distinguir os sinais, porque tanto aquele como estes se confundem com um fundo escuro formado em primeiro lugar pela torre da Roqueta, e em segundo e mais extenso pelos montes de Santa Luzia e anexos. O resultado é que nem o mastro nem as bandeiras conseguem ser vistas e até mesmo mal se distingue do mar a parte do castelo onde aquele está colocado.
Em tempos, muitos comerciantes da cidade e armadores de navios se fizerem representar junto do governo, pedindo que fossem pintadas com cintas brancas aquela parte do castelo, a fim de poder mais facilmente ser marcada do mar a sua posição, mas parece que o ministério da guerra se opôs a isso, com os fúteis pretextos que de forma geral emprega em todos os assuntos da sua dependência. Posso por isso afirmar, que o castelo da barra, conquanto esteja bem conservado e seja um dos melhores da costa não é de tal natureza, que possa resistir por muitas horas ao fogo de qualquer navio couraçado e a peças de grosso calibre.
A remoção, pois, da estação semafórica desta cidade para local mais apropriado é de urgente necessidade, porque assim como está nada vale e nada acrescenta à melhoria desejada e essencial ao futuro do comércio marítimo da praça vianense.»

Escolhi esta história pelo retrato falado duma época não muito distante. Segundo a visão do jornalista, que não foi acossado por novo contraditório, compreende-se a sua indignação, pelas diversas situações de indiferença, muito peculiares no país. Beliscou os pilotos, a autoridade marítima através dos capitães do porto, seus principais responsáveis, a localização e o próprio serviço disponibilizado pela estação semafórica e ousou, com bastante atrevimento, atacar o governo e o ministério da guerra, cuja incompetência foi colocada a níveis de completa inutilidade. Só ficaram do lado de fora deste expressivo muro de lamentações, a completar uma brilhante gravura escrita, o muito digno despachante, os comerciantes e os armadores de navios. Enfim, o melhor de Viana e os interesses da cidade, que intransigentemente decidiu defender!...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Histórias de outros tempos


O direito de resposta…
2ª Parte

Barra do porto de Viana do Castelo, imagem actual
Foto de autor desconhecido - «wordpress.com»

As insinuações que foram divulgadas publicamente, quanto à ineficácia da pilotagem no porto de Viana do Castelo, são plenamente injustas e inexactas e não devem ser deixadas passar em claro e sem reparo, porque há testemunhos presenciais de tudo o que se passou na manhã de 7 de Novembro de 1873, por ocasião de aparecer ao norte da barra um vapor com bandeira encarnada à proa, encontrando-se todos os pilotos disponíveis para o desempenho das suas missões.
Numa carta assinada por João José de Castro, datada de Viana a 20 de Novembro, nela refere discordar dos termos relatados previamente, passando a comentar com rigor a ocorrência, com o seguinte teor:
«Aparecendo ao norte da barra um vapor com bandeira encarnada à proa, fui indagado pelos pilotos se havia alguma previsão de chegada de algum vapor, destinado àquela praça. Como nada constasse a esse respeito, foi-lhes transmitida uma resposta negativa, mas ainda assim dirigi-me à estação semafórica, onde se encontravam alguns pilotos. Confirmada a existência de bandeira vermelha na proa do vapor, foi perguntado aos pilotos o que tencionavam fazer, ao que me foi dito que iriam içar a bandeira de chamar à barra, aguardar a vinda do navio mais para sul e fazer sair ao seu encontro a respectiva catraia da pilotagem.
Na dúvida de saber se o sinal transmitido pela bandeira de «chamar à barra» tinha sido entendido, foi nessa ocasião solicitado ao sr. Conceição, digno encarregado da estação, para que içasse os sinais do novo código (que, segundo o respectivo tratado internacional, devem trazer todos os navios de longo curso), indicando ao vapor que devia seguir para sul, onde estaria a esperá-lo a catraia dos pilotos.
Para que a indicação feita fosse religiosamente cumprida, foi aconselhado aos pilotos para fazerem sair sem demora uma catraia devidamente tripulada, o que foi feito de imediato, indo a catraia tripulada por vinte e tantas pessoas, entre as quais me incluo, pois decidi acompanhá-los na eventualidade de ser necessário um interprete, até 2 milhas ao mar da barra, levando arvorada numa vara uma bandeira encarnada, a fim de bordo do dito vapor podermos ser vistos. E decerto viram-nos, porém, quanto mais nos dirigíamos na sua direcção, mais o vapor se afastava para sudoeste, pelo que analisada a situação, e devido ao mar de vagalhão e correnteza de água ao norte, entendi juntamente com os pilotos, que, para se evitar alguma desgraça era melhor voltarmos para terra, porque o vapor não precisava de nada, nem se importou connosco, caso contrário teria içado as bandeiras dos sinais do novo código e respondia para a estação semafórica.
Da mesma forma podia ter aproado na direcção da catraia, ou aproximava-se mais da barra, pois ainda que fosse de 800 toneladas ou até mesmo se fosse o “Great Eastern”, chegava-se à barra como fazem os vapores-paquetes sem perigo algum; mas não, este vapor desprezou os sinais da estação semafórica e os da catraia, e quis assim decerto fazer o mesmo que ele ou outro da mesma companhia fez em frente ao forte da Ínsua de Caminha neste ano.
Foram vinte ou vinte e tantas pessoas na catraia, porque, estando o mar agitado e não tendo saído os pescadores para o mar, apareceu por isso toda aquela tripulação, pois que, quando há pescaria, é preciso andar a pedir a uns e a outros para guarnecerem as catraias dos pilotos, isto em razão do comércio da cidade ainda não ter podido conseguir uma tripulação permanente para duas catraias a usar em casos idênticos.
O serviço foi remunerado unicamente por mim, porque eles tripulantes e pilotos nenhuma recompensa podiam esperar, mas entendo que, dando-lhes uma gratificação, fazia um serviço ao porto (porque quem trabalha, quer que se lhe pague), e foi como um estímulo para que em situações semelhantes fossem igualmente solícitos e isto lhes servisse de incentivo. Eis pois reposta a verdade como as coisas se passaram e não como o boato que corre, e, pelo que damos a apreciar, os pilotos cumpriram o dever do seu cargo, sendo por esse motivo injustamente sentenciados».

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Histórias de outros tempos


O direito de resposta!…
1ª Parte

A barra do porto de Viana, imagem actual
Foto «olhares.sapo.pt»

Pescadores de Esposende em finais de Outubro de 1873, arrancaram e trouxeram para terra uma das boias, que sinalizam o cabo submarino que liga Vigo com a Inglaterra e que havia sido colocado a cerca de 4 milhas da costa. Quer se tivesse tratado de uma atitude irreflectida, propositada ou provocatória por parte dos pescadores, para o governo, logo que teve conhecimento da ocorrência, deu rigorosas instruções para que fosse aberto um processo judicial contra os tais pescadores.
A companhia dos cabos submarinos, tendo também conhecimento do facto, mandou sair de Lisboa um dos seus vapores, a fim de proceder à competente reparação, mas o serviço foi retardado, por motivo do temporal que fazia à época, não deixando aproximar-se da costa aquele vapor, principalmente por causa da proximidade com os “Cavalos de Fão”, grupo de extensos rochedos que seguem o litoral naquele ponto.
Passado uns dias lá apareceu o tal vapor, que se aproximou da barra de Viana do Castelo, trazendo sinal que pretendia comunicar com a terra. Parece que terá navegado por muito tempo, ao largo da barra, mas ninguém lhe foi a bordo! Os pilotos tripularam uma das lanchas com 20 pessoas e 8 remos, duas dos quais, segundo constou, partiram logo à saída da barra, limitando o seu serviço até chegar adiante do «Lago», voltando para as suas casas!
O vapor, como ninguém acudisse aos sinais, apesar do mar o permitir, meteu-se ao mar, procurando abrigo da ondulação ao largo. O navio que apresentava ser da ordem das 800 toneladas, não podia aproximar-se demasiado de terra, mas apesar dessa contrariedade, tudo indica que os pilotos entendiam que ele é que devia vir à fala, mantendo-se à espera dele próximo da barra! Tudo isto é incrível, pois mostra o péssimo serviço de pilotagem que existe no porto de Viana do Castelo, a exigir pronto e enérgico remédio.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sobre a pesca do bacalhau


Lisboa, 1912

Servindo-nos dos quadros aqui presentes, podemos constatar do sucesso das pescarias efectuadas pelos navios portugueses na Terra Nova, muito embora a informação disponibilizada abaixo esteja apenas relacionada com os denominados navios da praça de Lisboa. A notícia que refere as capturas foi publicada no jornal "Comercio do Porto", no dia 11 de Janeiro de 1913, seguramente após contabilizadas as pesagens do peixe descarregado.


Quando identifico navios denominados de Lisboa, refiro-me aos veleiros da frota com armamento no porto da capital. A intenção visa evitar confundi-los com muitos outros navios também matriculados na mesma capitania, contudo por decisão dos seus proprietários, optaram por fazer armamento no porto da Figueira da Foz, tal como aconteceu com os "Júlias", por exemplo.


Mesmo assim, no quadro acima, em vez de dez encontro treze navios da praça de Lisboa, que podem perfeitamente ter participado na campanha de 1912. À distancia de cem anos, se a notícia estiver correcta, revela-se tarefa muito difícil perceber quais os navios ausentes da pesca, bem como uma ou outra informação omitida, que seguramente devia merecer justificado destaque. Ainda relacionado com a lista acima publicada com os navios bacalhoeiros de Lisboa, verifica-se que o lugre "Terra Nova" não participou na campanha de 1911, por se encontrar ainda em fase de construção.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Pensei que já tinha visto tudo…


A notícia do dia

O “bacalhau” – Imagem publicada no blog “Os meus sabores”

Realmente devo ter sonhado que já tinha visto tudo, mas afinal não vi! A notícia que hoje saiu publicada nas páginas do “Jornal de Notícias” e que abaixo transcrevo deu-me volta ao estômago, manhã cedo, logo ao pequeno-almoço, como segue:
«Um grupo de bacalhaus vivos enviados para o primeiro aquário português dedicado a este peixe chegou, segunda-feira, morto a Ílhavo, depois de todos os peixes terem ficado congelados durante o transporte. A Câmara de Ílhavo garante que uma nova remessa chegará a tempo da inauguração dia 16 de dezembro.
As três dezenas de bacalhaus juvenis, que iriam dar vida ao novo aquário do Museu Marítimo de Ílhavo, foram fornecidos pelo Museu de Aalesunds, na Noruega. Os peixes foram transportados de avião para Lisboa, na segunda-feira, tendo seguido depois por estrada até Ílhavo.
À chegada ao município conhecido como a "Capital Portuguesa do Bacalhau", após a abertura das caixas de transporte, verificou-se que os peixes estavam envoltos em blocos de gelo.
Fonte da autarquia disse à agência Lusa que a empresa responsável pelo serviço de transporte está a apurar as responsabilidades no caso, assegurando que se mantém sem alteração a data de inauguração do aquário de bacalhaus - "em data a anunciar chegarão mais bacalhaus, a tempo da inauguração do aquário", adiantou.
O aquário dos bacalhaus custou cerca de 2,8 milhões de euros, 85% dos quais comparticipados pelo Programa Operacional da Região Centro - Mais Centro. O novo edifício desenvolve-se com ligação física direta ao atual edifício do Museu municipal e ao edifício do Centro de Investigação e Empreendedorismo do Mar, contemplando uma área para instalação do aquário para bacalhaus, uma área social e também uma zona dedicada às reservas do Museu.
O aquário, que corresponde a um prédio de três andares, irá acolher 150 bacalhaus de diferentes tamanhos e vegetação marinha, que podem ser observados à superfície e de diferentes ângulos, em espiral.» 
Inacreditável!...
Devo dizer que faço parte do grupo de pessoas que adoraram a ideia de ser anexado ao espaço do Museu Marítimo de Ílhavo um aquário com bacalhaus. Quando o Engº. Ribau Esteves deu a conhecer esta nova estrutura, aquando da sessão solene onde foram referidas as obras de aumento do museu, apercebi-me do interesse que o projeto do aquário podia vir a ter, dando a conhecer à população nacional e estrangeira que nos visita, um dos peixes cuja excelente utilização gastronómica nos habituou a vê-lo às postas, seco e sem cabeça.
Porém, nunca me ocorreu que pudesse vir a acontecer uma situação de pura negligência, levando os peixes a morrerem por congelamento, durante a viagem desde o museu norueguês até Ílhavo. Mais do que exigir responsabilidade pelo dinheiro gasto em vão, face à incúria e incompetência dos transportadores, deviam os mesmos ser severamente penalizados pela falta de aptidão adequada a um transporte de seres vivos, quando supostamente deveriam ter capacidade e conhecimentos para o realizar.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Sobre a pesca do bacalhau em 1930


Prós e contras
3ª Parte

O lugre "Hortense", de Lisboa
Outro dos navios presentes na campanha de 1930

Depois dos primeiros episódios em que arriscamos clarificar os pontos divergentes, relativamente à crise instalada na pesca longínqua, já no início de Fevereiro há um agravar do conflito por parte dos armadores, face à intransigente indisponibilidade em aceitar os aumentos dos salários, percentagens e adiantamentos de uso comum, entretanto propostos, que quase anularam a campanha desse ano.
A firma Testa & Cunhas, Lda., uma das mais importantes de Aveiro, esteve na vanguarda da decisão para suspender as negociações com os pescadores. Esta posição foi então seguida pelos outros armadores, comungando da ideia de manter os navios amarrados na ria, porque a ultima safra causou a quase todas as empresas graves prejuízos, não podendo elas, nestas circunstâncias, dispor das quantias necessárias para acudir a todas as eventualidades, tais como a incerteza de poder acontecer uma nova campanha igualmente ruinosa.
Mais grave ainda, o bacalhau não estava a sair dos armazéns e a ser distribuído no mercado ao ritmo desejado, por ser pouco e obviamente pela impossibilidade de ter uma comercialização a preços convidativos. Afigurava-se uma crise violenta, com perdas significativas para o país e armadores, que afectaria de igual modo os pescadores, que ficavam sem recursos para o seu sustento e o das suas famílias.
Entretanto, por proposta de um importante armador de Lisboa, foi conseguido um acordo para a matrícula de pescadores, obedecendo ao princípio de pagamento e percentagens, nas seguintes condições:
Soldada fixa: Esc. 2.500$00 – Matrícula: Esc. 1.000$00 – Embarque: Esc. 1.000$00. Percentagens: De 25 a 50 quintais, Esc. 20$00; de 51 a 100 quintais, Esc. 30$00; mais de 100 quintais, Esc. 50$00.
Pescadores de emprego, mais salgadores: Até meio carregamento, Esc. 200$00; idem, carregamento completo, Esc. 400$00. Escaladores: Até meio carregamento, Esc. 100$00; idem, carregamento completo, Esc. 200$00.
Uma vez afastadas as exigências por parte dos pescadores, previa-se que também os armadores pudessem transigir até onde as circunstâncias o permitisse, sem quebra dos princípios estabelecidos colectivamente.
Como a lei determinava que as matriculas teriam de ficar concretizadas no final de Fevereiro, após alargamento ao prazo inicialmente previsto, os navios e pescadores que até essa data não tivessem efectuado a respectiva inscrição, levaria a que os navios ficassem irremediavelmente amarrados, deixando por sua vez os pescadores sem trabalho em terra.
Num dos dias que se seguiram, teve lugar na Fuzeta uma assembleia de pescadores onde foi denunciado, que o tal armador de Lisboa supostamente bem-intencionado, não existe. Um boato tinha sido posto a circular, naturalmente bem aceite pela imprensa, que o publicou, na perspectiva que algum armador furasse o estabelecido nas reuniões da Associação e abrisse um precedente, a ser posteriormente aceite pelos demais armadores. Em vão!...
Sem alternativas e sujeitos às condições propostas pelos armadores, os pescadores vencidos pelas necessidades, pelo medo de futuras represálias e até coagidos pelas próprias famílias, face ao receio mais que provável de viver na miséria, meteram pés ao caminho e de norte a sul acertaram as matrículas legalizadas nas capitanias. Os navios e as tripulações saíram para o mar a partir do mês de Abril, ultrapassados os dias de crise. Pela última vez os navios fixaram-se a pescar exclusivamente nos bancos da Terra Nova, numa safra ainda pouco satisfatória.
No ano seguinte, em 1931, toda a prática de pesca iria ser alterada, com os pequenos barcos de madeira da frota nacional a navegar mais para norte, entre enormes ilhas de gelo. Só a coragem e ousadia de uns poucos levou à descoberta de novos cardumes e melhores pescarias, nos distantes bancos da Gronelândia.