sexta-feira, 28 de setembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXVI)


O naufrágio da chalupa “Primavera”, em Leixões

Ocorrência marítima
Na nossa costa a tempestade tem feito sentir os seus efeitos. Pela madrugada de ontem, cerca das 3 horas e meia, a ventania apanhou em cheio a chalupa “Primavera”, procedente de Lisboa, com carregamento de petróleo para Viana do Castelo.
O mar era muito e a chalupa tentou arribar a Leixões; quando, porém, estava prestes a transpôr a abertura dos molhes, desgovernou, tendo por isso de lançar mão do recurso único na ocasião: largar a âncora. Todavia, momentos depois a corrente rebentava e a chalupa foi de encontro ao rochedo denominado «Orça», situado ao oeste de Leixões.
Depois caiu sobre o enrocamento do molhe sul, em frente à praia de D. Carlos, em Matosinhos, e aí submergiu-se.
Imagine-se quantas angústias as da tripulação, composta de oito homens, naquele transe, com a morte diante dos olhos.
A catraia dos pilotos de Leixões, valeu-lhes em tão aflitiva situação, acudindo prestes e salvando a marinhagem. O rebocador “Águia” saiu também de Leixões, mas os seus serviços já não puderam ser utilizados.

Desenho de navio do tipo chalupa, sem correspondência ao texto

Características da chalupa “Primavera”
Armador: António Marques, Lisboa
Nº Oficial: N/d - Iic: S.T.D.H. - Porto de matrícula: Lisboa
Construtor: Não identificado
Arqueação: Tab 86,41 tons
Dimensões: Informação indisponível
Propulsão: À vela
Equipagem: 8 tripulantes

Matosinhos, 29 – A chalupa “Primavera”, encalhada hoje nas pedras que ficam na parte exterior do molhe sul do porto de Leixões, pertencia ao sr. António Marques, de Lisboa. Saíra daquele porto na quarta-feira passada, transportando 3.310 caixas de petróleo para Viana do Castelo.
A tripulação era composta de oito homens, incluindo o mestre, sr. Joaquim António da Silva, de Ílhavo. Este salvou-se em trajes menores, pois estava já preparado para se atirar ao mar, receando que não chegassem a tempo os socorros que estiveram pedindo para terra.
O mestre trazia a bordo um filho de dez anos de idade e ao qual, no momento de maior perigo, entregou uma boia de salvação para seguir desde logo a nado para terra; mas o rapazito, segundo disseram, recusou-a, ficando junto de seu pai.
Quando os tripulantes reconheceram o risco que corriam, acenderam fogachos a bordo e, para melhor serem vistos de terra, um dos marinheiros subiu ao mastro grande, enquanto que no convés outros pediam socorro pelo «porta-voz».
Numa ansia desesperada combinava-se já a bordo a maneira de tentar o salvamento, quando os tripulantes avistaram a catraia dos pilotos, que saía do porto. Os pilotos propuseram a chamada do “Águia”, para melhor lhes prestar auxílio. O mestre aceitou, mas os tripulantes opuseram-se, protestando contra a demora. Então a catraia aproximou-se e tomou a bordo os oito marinheiros e o rapazito, levando-os para bordo do “Águia”.
Daí a pouco o mar arrebatava a “Primavera”, que logo começou a desfazer-se de encontro aos blocos que guarnecem exteriormente o molhe sul. Os tripulantes foram levados para o posto de Socorros a Náufragos, onde lhes prestaram reconfortantes e roupas de agasalho.
De manhã afluiu muita gente à praia de D. Carlos a ver a chalupa, que acabou de se desfazer cerca do meio-dia.
Um banheiro, com o auxílio de um cabo, conseguiu ir até junto do navio perdido e trouxe para terra o cão de bordo.
As providências fiscais que é costume adoptar em tais casos foram tomadas logo de manhã cedo pelo sr. tenente Almeida, da secção fiscal, que pessoalmente compareceu no local a dirigir a fiscalização para a boa arrecadação dos salvados e destroços do navio.
O carregamento está seguro na Colonial Oil Company. Quanto ao navio consta que não estava no seguro.
O mestre do navio conseguiu trazer um colete com alguns objectos e uma pequena quantia em notas. Os tripulantes não salvaram nada.
O mesmo mestre naufragou no dia 27 de Agosto último, no iate “Modelo”, em consequência de ter rebentado a amarreta do rebocador, que o conduzia para fora da barra da Figueira da Foz.
Parece não restar dúvida que se em Leixões estivesse um vapor de prevenção, a “Primavera” não teria naufragado, pois ainda se deve ao acaso o aparecimento da catraia, que saía com destino a visitar um paquete que tinha avistado fora, ou por outra, por parecer de terra que os fogachos da chalupa eram do vapor “Funchal”, a pedir visita.
À praia veio já uma enorme quantidade de caixas com latas de petróleo, exalando muito cheiro.
No local do naufrágio compareceu o consignatário da chalupa no Porto, o sr. Artur José Rebelo de Lima.
(Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 30 de Outubro de 1907)

O naufrágio da chalupa “Primavera”
Matosinhos, 30 - Continuam a ser arrojadas à praia D. Carlos grande quantidade de caixas com latas de petróleo, da carga da chalupa “Primavera”, que naufragou ontem por não lhe ter permitido o temporal arribar a Leixões, como pretendia. É provável que já no próximo Domingo seja vendido em leilão algum petróleo.
(Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 31 de Outubro de 1907)

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXV)


Nota de abertura

Venho notando desde há algum tempo que pessoas de poucos escrúpulos, tem vindo a copiar o trabalho de pesquisa apresentado neste blog, sendo utilizado anónimamente, sem que seja cumprida a mais elementar regra de educação, que seria obter a necessária autorização, omitindo dessa forma valores éticos, e morais.
Por inacreditavel que pareça, sou obrigado a informar que as fotos e textos, entretanto resumidos, compõe actualmente a base de dados relacionada com naufrágios, disponível no Museu Marítimo de Ílhavo, sem que disso me fosse dado conhecimento.
De ora avante, por favor respeitem o meu trabalho!...

O naufrágio do vapor inglês "Coventry"

Navio encalhado na barra do Douro
Por volta das seis horas da tarde de ontem enca-lhou à entrada da barra do rio Douro um vapor inglês, que está em risco de fechar o porto se o mar o deslocar da posição em que se encontra sobre as pedras.
Damos em seguida os pormenores que colhemos sobre o sinistro:
O vapor inglês “Coventry”, ao demandar a barra, guinou para o norte, indo encalhar sobre as pedras denominadas «Ponta do Dente», que se em frente à Meia-Laranja, no Passeio Alegre.
O navio, considerado logo perdido, foi abandonado pela tripulação, que retirou para terra no barco salva-vidas, da Cantareira, e nas catraias dos pilotos, tendo afluído a esse tempo numerosas pessoas ao paredão do Passeio Alegre, a presenciar os trabalhos de salvamento.
Segundo ouvimos, se o mar se agitar, o “Coventry” correrá risco de sair da posição em que ficou e causar a interrupção do movimento marítimo, o que, a dar-se, originaria grandes prejuízos a esta praça.
O vapor de 1.043 toneladas, consignado à casa Kendall, Pinto Basto & Cª., vinha de Newport, trazendo 2.043 toneladas de carvão para os caminhos de ferro do Minho e Douro.
O capitão, dois pilotos e dois engenheiros, ficaram hospedados no Hotel da Boavista, à Foz; e os treze restantes homens da tripulação foram mandados pelo sr. cônsul da Inglaterra para o Hotel Malhão.
A Guarda-fiscal adoptou desde logo as providências que é costume pôr em prática em casos de naufrágio, e na Capitania do porto está sendo levantado o costumado auto acerca do sinistro.
O vapor já tinha descarregado ontem em Leixões cerca de 300 toneladas de carvão.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 2 de Outubro de 1908)

Foto do vapor "Coventry" encalhado na barra do rio Douro
Minha colecção

Características do vapor inglês “Coventry”
1897-1908
Armador: F. Child, West Hartlepool, Sunderland, Inglaterra
Construtor: Edward Withy & Co., West Hartlepool, Julho de 1883
ex “Coventry”, Hessler Shipping Co., Londres, 1895-1897
ex “Coventry”, Sivewright, Bacon & Co., West Hartlepool, 1883-1895
Arqueação: Tab 1.678,00 tons – Tal 1.043,00 tons
Dimensões: Pp 78,50 mts - Boca 10,50 mts - Pontal 5,90 mts
Propulsão: T. Richardson & Sons, Hartlepool - 1:Cp - 2:Ci - 150 Bhp
Equipagem: 18 tripulantes

Vapor encalhado na barra do Douro
Durante o dia de ontem afluíram numerosas pessoas à Foz, para ver o vapor “Coventry”, que desde ante-ontem se encontra encalhado nas pedras denominadas «Ponta do Dente», à entrada da barra.
Por indicação do sr. cônsul inglês foi realizada de manhã uma vistoria ao “Coventry”, sendo peritos os capitães Jarvis, do vapor “Tagus”, e Thompson, do vapor “Starley Hall”.
Pelo que consta, os dois marítimos foram de opinião que se deve tratar desde já do salvamento da carga e dos aprestos do navio. Quanto ao casco, consideram-no perdido; mas depois de aliviada a carga irão proceder a trabalhos de tentativa de salvamento, que, segundo os entendidos, não parece crível que deem resultado satisfatório.
O navio e a carga estão seguros em Companhias estrangeiras e, segundo as opiniões dos peritos, já ontem começaram os trabalhos de retirada dos salvados, tendo atracado a bordo algumas catraias com vários trabalhadores que ao fim da tarde transportaram para a Cantareira diversos utensílios do navio, os quais foram entregues à delegação da Alfândega.
O capitão B. Cox, do “Coventry” foi a bordo com alguns tripulantes, sendo retirados os viveres, roupas, livros e instrumentos náuticos.
Hoje devem prosseguir os trabalhos de salvamento de materiais, sempre sob a fiscalização dos empregados aduaneiros.
Na repartição do Departamento Marítimo do Norte foi ontem levantado o auto acerca do sinistro, prestando declarações o piloto sr. José Martins, que dirigia a manobra do navio quando demandava a barra. Parece estar apurado que não houve imperícia por parte do prático da barra e que o sinistro se deve ao desgoverno do leme por motivo de duas grandes vagas que bateram na popa.
O piloto sr. José Martins é um homem experimentado, tendo andado 21 anos no mar e há 30 que exerce o cargo de piloto, sem que nunca tivesse sofrido um desastre.
Até ontem, ao fim da tarde, o “Coventry” não mudou de posição e não prejudicou o movimento marítimo, pois que entraram quatro vapores e saíram três vapores, duas chalupas, dois iates e uma escuna.
Como foi dito acima, uma multidão de curiosos estacionou durante o dia de ontem no paredão da Meia-Laranja e no molhe do Castelo a ver o navio naufragado.
No areal, sob um amplo guarda-sol branco, o grande artista Artur Loureiro esboçava na tela o casco do vapor, enquanto um grupo numerosos de curiosos, mais ou menos importunos, se comprimia em volta dele, estorvando-lhe por vezes a vista e o movimento do pincel.
Em outros pontos, diversos fotógrafos assestavam para o “Coventry”, as objectivas das suas máquinas.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 3 de Outubro de 1908)

O vapor “Coventry”
Este vapor continua na mesma posição, encalhado nas pedras «Ponta do Dente», à entrada da barra do Douro.
Ontem atracaram a ele alguns barcos e o vapor “Liberal”, tendo ido a bordo vários trabalhadores fluviais, que retiraram para a Cantareira utensílios de bordo e diferentes materiais. Quanto à carga ainda não começou a ser descarregada.
(Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 4 de Outubro de 1908)

O vapor “Coventry”
Ante-ontem afluiu à Foz do Douro um acrescido número de pessoas a ver o vapor “Coventry”, encalhado à entrada da barra sobre as pedras «Ponta do Dente». Foi uma verdadeira romaria, vendo-se os carros americanos repletos de passageiros, especialmente de tarde.
Ontem continuava o vapor na posição em que ficou, quando se deu o sinistro, tendo sido retirada grande quantidade de carvão que constituía a carga e vem assim vários utensílios de bordo.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 6 de Outubro de 1908)

O vapor “Coventry” – Obstrução da barra
O mar bravio acabou de escangalhar o vapor inglês Coventry”, que há dias se encravara no rochedo “Ponta da Dente”, existente muito perto da barra do Douro.
Ainda no Domingo o navio estava direito, apenas com a popa um pouco afundada. Visto das proximidades do castelo da Foz mais parecia estar ali fundeado, do que na situação perigosa em que o azar o colocou.
O sinistro deu-se há uns poucos de dias, como é notório. Tendo ocorrido muito perto do estreito canal da barra, era de presumir que, logo que o mar se mexesse e agitasse um pouco mais, fragmentasse o navio e os destroços obstruíssem a barra.
Urgia, portanto, tomar medidas rápidas e decisivas, e não esperar os efeitos violentos do mar. Como tais medidas não viessem, vagas alterosas incumbiram-se de zombar da impotência dos homens. Destroçaram-no pela madrugada, pouco antes do nascer do sol, de sorte que quando a gente da Foz se ergueu, do vapor apenas restavam leves vestígios.
O que muitos temiam no tocante à obstrução da barra, deu-se. Segundo informações do telégrafo da Associação Comercial, um pedaço da proa do “Coventry” foi arremessado para o canal da barra, um pouco a leste da «Lage do Geão» e presumindo-se que parte dos destroços estejam dispersos pelo mesmo canal, impedindo assim a passagem dos navios.
O mar, como foi dito, tem estado alteroso, obstando por isso a uma rigorosa sondagem. Um barco com pilotos da barra, sob as ordens do piloto-mor, sr. Domingos Pereira da Silva, lá andou ontem no local em trabalhos de investigação; mas nada ou quase nada ficou apurado porque a braveza do mar não consente por enquanto os trabalhos práticos dê resultados definitivos.
O que se sabe de positivo é que os navios surtos no Douro estão engarrafados, como sucedeu àquela celebre esquadra que, em audaciosa viagem, correra em socorro de possessões ameaçadas. Nem uma triste light (laita) passa na barra com grave prejuízo do comércio da praça do Porto.
Da obstrução indicada foi logo dado conhecimento ao ilustre capitão de mar-e-guerra sr. conselheiro Marques da Costa, chefe do Departamento Marítimo do Norte, o qual, acto contínuo, telegrafou à Direcção Geral de Marinha, dando parte do ocorrido, e oficiou à Junta das Obras da Barra no mesmo sentido.
O engenheiro da Junta, sr. Manuel de Sousa Machado Júnior, teve logo uma conferencia com aquele oficial de marinha, ponderando os inconvenientes resultantes da obstrução e assentando-se na realização de sondagens tão depressa o mar o permita. Um mergulhador procederá a investigações e ver-se-á então o que é necessário fazer para o restabelecimento do movimento marítimo.
A Companhia Carris de Ferro do Porto dispôs de todo o seu material de carga, isto é, de 26 zorras abertas e fechadas e de quatro reboques para o transporte de mercadorias de Leixões para a Alfândega e vice-versa.
As laitas surtas no Douro descarregaram logo as mercadorias prontas a seguir para Leixões e outro tanto fizeram as embarcações do mesmo padrão e tonelagem, que deviam seguir de Leixões, onde estão, para o Douro. O material da Companhia Carris foi que andou no transporte das mercadorias.
Todavia, se acaso a desobstrução da barra se não faz quanto antes, o comércio sofrerá irreparáveis prejuízos com a chegada de vapores e navios de vela, que se esperam a todo o momento, visto não ser fácil dar vazão ao movimento de mercadorias.
Se, com efeito, a barra está excessivamente obstruída, como se supõe, urge que os fragmentos do vapor naufragado voem pela dinamite, por meio de correntes eléctricas, segundo o uso nestes casos.
A fúria do mar não permitiu a pesca dos barcos à vela, que se refugiaram em Leixões os que an-davam ao largo, visto não poderem entrar no Douro.
Ao Cabedelo, que nestes dias se vê muito concorrido, tem o mar arrojado objectos que constituíam o recheio do navio. À Foz, como nos dias anteriores, acudiu ontem muita gente, curiosa de acompanhar o seguimento dos trabalhos.
(Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 14 de Outubro de 1908)

O vapor “Coventry” – Obstrução da barra
O mar amainou ontem bastante, mantendo-se ainda assim um tanto agitado, especialmente de tarde.
Como havia sido combinado, o piloto-mor sr. Domingos Pereira da Silva foi ontem, cerca do meia hora da tarde, numa catraia dos pilotos até à altura das pedras denominadas «Lages», onde se afundou o vapor “Coventry”, e procedeu a uma rigorosa sondagem para conhecer o estado do canal de acesso ao rio, e qual a situação do navio naufragado, a fim de verificar se poderiam entrar ou sair quaisquer embarcações.
Nessa ocasião, o mesmo piloto-mor colocou uma boia no ponto onde está a proa do “Coventry” e mudou mais para a entrada da barra uma outra boia que estava próximo.
Realizada esta sondagem e feitas as demarcações, o mesmo marítimo participou às respectivas estâncias oficiais que o casco do “Coventry” está atravessado no fundo do canal, no lugar das «Lages», achando-se, portanto, obstruída a maior parte do canal. Diz, porém, haver pelo sul da marca nova, «Anjo», uma passagem bastante dificultosa, devido à restinga do Cabedelo e ao cabeço de areia do sudoeste da barra, o que permitirá a entrada e saída de embarcações de pequena lotação.
Com o piloto-mor, que é um prático habilíssimo, esteve conferenciando o mergulhador sr. Alfredo Pinto Monteiro, ao serviço da Junta das Obras da Barra, sobre a situação do “Coventry”, não podendo, porém, o referido mergulhador ir ao fundo do canal em virtude do estado do mar. Ficou assente que procurará ir hoje e, só depois do resultado do exame, será indicada a melhor forma de se realizar a desobstrução da barra, que parece só se conseguirá por meio da dinamite.
Depois da uma hora da tarde começou a haver algum movimento marítimo, entrando e saído em serviço de reboque de laitas os vapores “Veloz”, “Ligeiro”, “Victória”, “Max” e Lusitânia”.
Entraram depois os vapores de pesca “Laureate”, “Sachsen” e “King Edward” e a chalupa “D. Feli-cidade”; e saíram os três torpedeiros portugueses e os vapores de pesca “Saale” e “Neskar”.
No molhe da Cantareira, junto da delegação adu-aneira, estão depositados vários materiais que pertenciam ao “Conventry”.
Ontem continuaram durante o dia vários comboios de vagonetes, tirados a rebocadores eléctricos, a empregar-se no serviço de transporte de mercadorias para Leixões.
(Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 15 de Outubro de 1908)

O vapor “Coventry” – Obstrução da barra
Os consignatários de vapores conferenciaram ontem com o ilustre presidente da Associação Comercial, sr. dr. Júlio Araújo, a quem pediram a sua interferência para que quanto antes se restabeleça plenamente o movimento marítimo na barra do Douro, que está obstruída, como é notório, pelos destroços do naufragado vapor “Coventry”, visto que a interrupção da barra, ainda mesmo que parcialmente, causa não pequenas perdas à praça do Porto.
O sr. dr. Júlio Araújo expôs as diligências que tem empregado desde o dia do naufrágio daquele navio. Desfeito o vapor em duas partes, a proa, como está verificado, foi impelida para a parte norte da barra e a popa foi arremessada para o lado sul. De conferencias que nos últimos dias tem realizado com o piloto-mor da barra, ficou assente uma minuciosa investigação ao canal da barra por um mergulhador, que ontem se efectuou, especialmente à parte sul do canal, que é a mais acessível aos navios de maior calado e por onde já ante-ontem e ontem passaram navios.
Urgia, porém, repôr a barra nas condições anteriores e nesse propósito, - acrescentou o sr. presidente da Associação Comercial - depois de ouvidas as informações do mergulhador, tudo se dispôs para que hoje começasse a destruição do casco por meio de dinamite. A barra ficaria assim desimpedida muito rapidamente.
Os consignatários de vapores ficaram muito satisfeitos com estas explicações, que agradeceram, bem como a amabilidade com que foram recebidos.
Com efeito, o mergulhador sr. Alfredo Pinto Monteiro, quando explorou o canal, pode amarrar uma corda à popa do “Coventry”, tendo assistido aos trabalhos, de bordo de uma catraia, o piloto-mor sr. Domingos Pereira da Silva, o qual mandou colocar uma boia na referida amarra, a fim de se conhecer o rumo que os navios devem tomar na saída e entrada da barra.
Todos os navios que entram tomam o rumo sul, descrevendo depois uma curva em volta do sítio onde se encontra afundada a popa do “Coventry”, até entrarem no referido canal. Parece que hoje de manhã poderão entrar navios que demandem 16 pés de calado.
Com destino a Leixões saíram ontem a barra cinco laitas, levando algumas delas várias mercadorias.
Durante o dia entraram na barra os vapores de carga “Sir Walter” e de pesca “Portuense” e ainda o vapor “Santiago”, o iate “Flor de Setúbal” e os lugres “Vouga” e “Hamlet”, sendo estes quatro navios rebocados, respectivamente, pelos vapores “Veloz”, “Mars” e “Lusitânia”.
Também saíram os vapores alemães “Stahleck”, “Sines” e “Nestor”, e o iate inglês “Gladys S”, sendo este rebocado pelo “Victória”.
À Foz continua a afluir muita gente, para ver… o sítio onde está o vapor naufragado.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 16 de Outubro de 1908)

O vapor “Coventry” – Obstrução da barra
O mergulhador sr. Alfredo Pinto Monteiro, devia ter começado ontem os trabalhos de destruição do vapor “Coventry”. Esses trabalhos, porém, não puderam iniciar-se, em consequência do mar se apresentar um tanto alteroso.
Logo que esteja mais bonançoso, será começada a destruição por meio de dinamite, sendo realizados esses trabalhos na ocasião da vazante.
A fim de obstar a qualquer acidente motivado pelos explosivos, o chefe do Departamento Marítimo do Norte, sr. conselheiro Marques da Costa, mandou afixar no átrio do departamento o seguinte aviso:
«Procedendo-se desde já, quando o tempo permitir, a trabalhos de mergulhador no casco do vapor “Coventry”, é expressamente proibido na barra o trânsito de embarcações; e, enquanto elas durarem estará içado no castelo da Foz o sinal de impedimento.
Os transgressores serão punidos com a multa na conformidade do artº 238 do regulamento.
Havendo explosões, este trabalho será indicado por uma bandeira branca, içada na embarcação do mergulhador, e outra no mastro do castelo da Foz, a fim de prevenir os moradores da localidade e as embarcações que navegam nas proximidades.
Departamento Marítimo do Norte, 15 de Outubro de 1908»
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 17 de Outubro de 1908)

O vapor “Coventry” – Obstrução da barra
Ainda ontem não foi iniciada a operação de destruição do vapor “Coventry”, que naufragou à en-trada da barra, em virtude do mar não permitir o trabalho dos mergulhadores.
Logo que o mar melhore, será dado inicio aos trabalhos. Diz-se que serão dois os mergulhadores empregados na destruição do vapor.
Apesar do mar se ter apresentado bastante alteroso, houve ontem numerosas entradas e saídas de navios de calado inferior a 16 pés.
(Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 18 de Outubro de 1908)

A destruição do vapor “Coventry”
Como o mar permitisse, tiveram inicio ontem os trabalhos de destruição do vapor “Coventry”.
Esses trabalhos começaram às seis horas e meia da manhã, tendo-se dado quatro explosões, sendo empregues em cada uma delas dois cartuchos de dinamite. As descargas eram produzidas por meio de electricidade, achando-se as respectivas pilhas colocadas no barco da junta das obras da barra.
A destruição começou por ser feita pela popa do “Coventry”, que fica do lado sul da barra, sendo os explosivos colocados ali pelo mergulhador sr. Alfredo Pinto Monteiro.
Ao darem-se as explosões, a água levantava-se em cachão, aparecendo então à superfície pedaços de madeira, que eram apanhados pelas tripulações de pequenos barcos que andavam distantes do sítio onde se encontra o vapor.
Do barco da junta das obras da barra assistia aos trabalhos de destruição o engenheiro da mesma junta, sr. Manuel de Sousa Machado Júnior, encontrando-se também ali de prevenção um outro mergulhador.
Ignoram-se por enquanto os destroços causados no vapor, produzidos pelos explosivos, devendo desse facto ser lavrado um relatório.
Num outro barco também assistiram aos trabalhos, os srs. Domingos Pereira da Silva e Joaquim Ferreira Viseu, respectivamente piloto-mor e sota piloto-mor da barra.
Os trabalhos terminaram cerca das dez horas e meia, devendo recomeçar hoje, às sete horas, caso o mar o permita.
No paredão ao longo do Passeio Alegre encontravam-se numerosas pessoas, que assistiram com interesse aos trabalhos de destruição. A polícia não consentiu que nos pontos mais próximos da barra estacionasse qualquer pessoa, a fim de evitar acidentes.
Conforme a determinação do capitão de mar-e-guerra, sr. conselheiro Marques da Costa, ilustre chefe do Departamento Marítimo do Norte, foram colocados os respectivos sinais nos sítios indicados pelo mesmo funcionário, já antes referidos.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 20 de Outubro de 1908)

A destruição do vapor “Coventry”
Em consequência do mar se apresentar ontem um pouco agitado, não puderam prosseguir os trabalhos de destruição do vapor “Coventry”. No caso do mar o permitir, esses trabalhos continuarão hoje, de manhã.
(Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 21 de Outubro de 1908)

A destruição do vapor “Coventry”
Ainda ontem não puderam prosseguir os trabalhos da destruição do vapor “Coventry”, devido ao estado do mar. Esses trabalhos recomeçarão, porém, com celeridade, logo que se ofereça oportunidade para isso.
O sr. Joaquim Augusto da Silva Magalhães, solicito presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, recebeu dos srs. Ministros das Obras Públicas, da Marinha, da Justiça e dos Estrangeiros, telegramas em resposta aos que o mesmo município lhes havia dirigido, solicitando prontas providências para se desobstruir a barra do porto, cujo impedimento ocasiona sensíveis prejuízos a esta cidade.
Aqueles estadistas prometeram interessar-se pelo assunto, tendo já sido ordenadas as providências pedidas, em virtude das quais, como é sabido, se iniciaram os trabalhos de desobstrução da barra.
O sr. Joaquim Magalhães telegrafou novamente aos referidos ministros, agradecendo-lhes, penhorado, os seus valiosos serviços.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 22 de Outubro de 1908)

A destruição do vapor “Coventry”
Continuaram ontem com muita actividade os trabalhos de destruição do casco do vapor “Coventry”, assistindo a esses trabalhos um dos engenheiros da junta das obras da barra e o piloto-mor.
Como de costume, estiveram muitas pessoas no Passeio Alegre assistindo à destruição, na qual foram empregados quatro tiros.
Se o mar o permitir, os trabalhos da destruição do vapor devem prosseguir hoje.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 23 de Outubro de 1908)

A destruição do vapor “Coventry”
Continuaram ontem os trabalhos de destruição do vapor “Coventry”. Deram mais cinco tiros de dinamite, que produziram bastantes destroços no casco.
(Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 24 de Outubro de 1908)

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Construção naval


O lançamento à água da canhoneira "Beira"
Iic: G.Q.H.B. - Deslocamento: 405 tons - 700 Bhp - 2 bocas de fogo

Imagem da canhoneira "Beira"
Desenho de Luís Filipe Silva

Lisboa, 8 de Junho – No Arsenal de Marinha realizou-se esta tarde a cerimónia do lançamento ao rio da canhoneira “Beira”.
O administrador do Arsenal, contra-almirante Sr. Magalhães da Silva, que tinha à direita o major-general da Armada, Sr. José Cesário da Silva e à esquerda o capitão-tenente, Sr. Silveira Moreno, ajudante do Sr. Ministro da Marinha, depois de retirado o macaco hidráulico, empurrou o navio, que, levando a bordo o patrão-mor e o guarda-marinha, Sr. António Venâncio, dois sargentos e os homens do troço, foi amarrar em frente do Arsenal.
Assistiram à cerimônia o diretor da Escola Naval, o contra-almirante Sr. Augusto Botto, os capitães de mar-e-guerra, Srs. Vieira de Sá e Nandim de Carvalho, capitão-de-fragata Sr. Júlio Teles, capitão-tenente Sr. Pacheco Moreira, 1ºs tenentes, Srs. Cardoso Pereira, Montalvão, Bastos, Seixas, Bicker, etc.
Não assistiu, como se esperava, o Sr. Ministro da Marinha.
Assistiram ao lançamento da canhoneira mais de 500 pessoas.
(Jornal "Comércio do Porto", Quinta-feira, 9 de Junho de 1910)

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXIV)


O naufrágio do paquete “Lusitânia”

Lisboa, 19 de Abril – No Cabo da Boa Esperança encalhou hoje o paquete “Lusitânia”, da Empresa Nacional de Navegação, ficando completamente perdido. Passageiros e tripulação foram salvos.

Imagem do paquete "Lusitânia"
Bilhete postal da companhia armadora do navio

Lisboa, 19 de Abril – Hoje, de manhã, na Empresa Nacional de Navegação, foram recebidos alguns telegramas, assim como no ministério dos Estrangeiros, dando conta que o paquete “Lusitânia” pertencente à Empresa Nacional de Navegação, ao passar no Cabo da Boa Esperança, encalhara, ficando logo completamente perdido, salvando-se, a custo, toda a tripulação e passageiros. Um outro telegrama acrescentava que havia falecido uma passageira.
Esta última informação não é desmentida nem confirmada na Empresa a que pertence o navio, e que ainda não há muito tempo perdeu um outro dos seus melhores paquetes, o “Lisboa”. Esse mesmo telegrama refere que um cruzador inglês, informado do sinistro, partiu imediatamente com o fim de prestar socorros. O desastre deu-se às dez horas da manhã de hoje e, segundo outras informações recebidas ao começo da tarde, perdeu-se a carga na sua totalidade.
O “Lusitânia”, era actualmente o mais importante paquete da Empresa. Foi construído em 1906, na Alemanha, e custou 104.000 libras. Tinha 32 lugares de 1ª classe para 104 passageiros; 58 de 2ª para 172 passageiros e 14 de 3ª para 140. Possuía duas enfermarias, quatro beliches e boticas.
As suas carreiras eram para a África Oriental, vindo agora de Lourenço Marques com 874 pessoas, entre passageiros e tripulação. A oficialidade de bordo compunha-se do capitão, César José Faria; imediato, Joaquim Fernandes de Oliveira; 1º piloto, Duarte Alfredo Bacia; 2º piloto, Ramos de Almeida Lopes; e 3º piloto José Bernardo Camelo; médico, Júlio Proença Fortes; 1º engenheiro, Robert Ireland; 2º engenheiro, Jacinto Martins e 3º engenheiro, José L. dos Santos.
O “Lusitânia” devia chegar a Lisboa no dia 11 de Maio próximo.
Como é de prever, a notícia deste lamentável desastre tem causado grande consternação em Lisboa.
- - - - - -
Londres, 19 de Abril – Um telegrama da Cidade do Cabo, recebido pelo Lloyds, diz que o paquete português “Lusitânea”, em viagem de Moçambique para Lisboa, encalhou em Betlows Rock e julga-se estar totalmente perdido.
O cruzador “Forte” e um rebocador do governo saíram para o socorrer.
- - - - - -
Londres, 19 de Abril – Um telegrama de Simonstown para o almirantado diz que tanto os passageiros como a tripulação do “Lusitânia”, em número de cerca de 800 pessoas, foram recolhidos a bordo do cruzador “Forte” e do rebocador “Scotsman”.
- - - - - -
Londres, 19 de Abril – Telegrafaram da Cidade do Cabo à Agência Reuter, que o “Lusitânia” naufragou por causa do nevoeiro, pois o mar estava sossegado.
O rebocador “Scotsman” levou muitos passageiros para Simon’s Bay. Os outros vão por terra, em vagões e carros; 400 foram levados a Table Bay, a bordo do cruzador “Forte”. Morreu afogada uma senhora e falta um rapaz. A lancha do “Lusitânia” voltou-se em frente da praia, afogando-se duas pessoas.
Os porões nºs 1 e 2 estão cheios de água.
(Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 20 de Abril de 1911)

O naufrágio do “Lusitânia”
Lisboa, 20 de Abril – Sabe-se que 400 náufragos do vapor “Lusitânia” desembarcaram em Simon’s Bay, chegando já à Cidade do Cabo trinta e oito dos que mais sofreram. Está confirmado ter morrido uma mulher, um homem e ainda um terceiro, chamado Raúl Lopes. No desembarque, as mulheres queixavam-se de frio, pois quase iam desprovidas de roupa. Muitos passageiros apresentavam-se apenas meio cobertos com cobertores.
Quando o “Lusitânia” encalhou, ficou preso nos rochedos, de contrário teria soçobrado rapidamente, morrendo todos.
O cônsul português no Cabo da Boa Esperança telegrafou ao governo, dizendo que o almirante da esquadra de Simon’s Bay, em seguida ao naufrágio, providenciou ao salvamento da tripulação e passageiros.
Duzentos passageiros e a tripulação seguem para Lisboa no primeiro vapor inglês que chegar à Cidade do Cabo.
- - - - - -
Lisboa, 20 de Abril – O último telegrama que a Empresa Nacional de Navegação recebeu esta tarde, do Cabo da Boa Esperança, diz que o paquete “Lusitânia”, está completamente perdido. Tripulantes e passageiros foram salvos, à excepção de madame Carvalho Nunes, soldado Souza Rosa, piloto Raúl de Almeida Lopes e um passageiro de nome Mendes. Uma parte da carga foi salva.
- - - - - -
Lisboa, 20 de Abril – Chama-se Madalena Pedroso a mulher que morreu vitima do naufrágio do vapor “Lusitânia”.
- - - - - -
Londres, 20 de Abril – Telegrafaram da Cidade do Cabo para a Agência Reuter a informar que o capitão César Faria, do “Lusitânia”, se recusou a abandonar o vapor. Tendo sido infrutíferos os meios de persuasão empregados, o comandante do cruzador inglês “Forte”, dirigiu-se num escaler para bordo do “Lusitânia” e obrigou o capitão Faria a sair.
Este, então, pôs a bandeira a meia haste, deixando o “Lusitânia” com relutância, tendo sido conduzido para bordo do cruzador “Forte”.
As malas do “Lusitânia”, bem como outras coisas aparentemente perdidas, foram salvas pelo “Forte”.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 21 de Abril de 1911)

Os náufragos do “Lusitânia”
Londres, 21 de Abril – Comunicam da Cidade do Cabo à Agência Reuter que os passageiros e a tripulação do “Lusitânia” partirão, provavelmente, no dia 24, a bordo do vapor inglês “Comrie Castle”, à excepção dos 475 indígenas, que partem para S. Tomé na próxima semana. (Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 22 de Abril de 1911)

O vapor “Lusitânia”
Lisboa, 22 de Abril – Na Empresa Nacional de Navegação foi hoje recebido um telegrama dizendo que soçobrara de todo o paquete “Lusitânia”, que será substituído pelo novo paquete “Beira”, adquirido em Hamburgo e que deve chegar ao Tejo no próximo dia 9 de Maio.
(Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 23 de Abril de 1911)

O naufrágio do “Lusitânia”
Londres, 24 de Abril - Telegrafaram da Cidade do Cabo para a Agência Reuter informando que foi arrojado à praia, na margem de Falsebay, um cadáver do “Lusitânia”, tendo sido já identificado como sendo o de madame Carvalho Nunes.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 25 de Abril de 1911)

Náufragos do vapor “Lusitânia”
Lisboa, 9 de Maio – Chegaram hoje à Madeira, a bordo do vapor “Corfe Castle”, os primeiros náufragos do paquete “Lusitânia”. São 18 passageiros de 1ª classe e 10 de segunda. Entre os primeiros figura, com destino a essa cidade, o sr. dr. Arnaldo Dinis da Silva Viana, conservador na Beira, África Oriental. Os restantes embarcaram já na Cidade do Cabo, a bordo do “Comrie Castle”.
(Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 10 de Maio de 1911)

O naufrágio do “Lusitânia”
Lisboa, 15 de Maio – Amanhã devem chegar a bordo do “Rio Negro” oito passageiros de 3ª classe, náufragos do “Lusitânia”, procedentes do Funchal. Os passageiros de 2ª classe ainda aí se encontram, devido à negligência da empresa, tendo sido a este respeito pedidas providências ao governador civil.
A direcção da Liga dos Oficiais da Marinha Mercante reuniu esta noite para protestar contra o artigo publicado pelo “Século”, acerca do naufrágio do paquete “Lusitânia”, artigo que produziu indignação entre a classe, porquanto o comandante Faria goza da melhor reputação entre os colegas. Brevemente será publicado o protesto.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 16 de Maio de 1911)

sábado, 22 de setembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXIII)


O naufrágio do paquete “Lisboa”
1910 - 1910

Lisboa, 24 de Outubro – Encalhou, ontem, na enseada do norte do Cabo da Boa Esperança o paquete “Lisboa”, da Empresa Nacional de Navegação, do comando do capitão sr. Meneses, tido como um dos melhores oficiais na marinha mercante de Lisboa. A notícia deste sinistro correu por toda a cidade, afluindo centenas de pessoas ao escritório daquela Empresa, visto que o paquete saíra em 1 do corrente do Tejo com grande número de passageiros e um importante carregamento. Corriam boatos terroristas.
O telegrama dali recebido dizia que o encalhe produzira tal rombo, que o paquete corria risco de ir a pique por todo o dia.
Era a segunda viagem que o paquete fazia, sendo o melhor navio da Empresa Nacional de Navegação. Morreram três indivíduos que se não sabe se eram tripulantes ou passageiros. É considerado perdido.
O navio tinha custado aproximadamente 130.000 libras. Estava seguro em 80.000. Partiram para o local do sinistro os agentes do Lloyds.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 25 de Outubro de 1910)

Imagem do paquete "Lisboa" na Ilustração Porutuguesa,
Nº 227 de 27 de Junho de 1910, com a seguinte legenda:
O vapor "Lisboa"
O paquete "Lisboa", da Empresa Nacional de Navegação, que chegou ao Tejo em 18 de Junho, atracando ao cais da Fundição, tem 130 metros de comprimento, desloca 7.200 toneladas e pode comportar 3.000 de carga. É seu comandante o sr. Baltasar de Meneses.

O naufrágio do vapor “Lisboa”
Cidade do Cabo, 25 de Outubro – Morreram os seguintes indivíduos: o engenheiro Brown, os criados Azevedo Ferreira e Lúcio, os sargentos Nascimento e Braz e o passageiro Lambert.
A comunicação entre o local do sinistro do vapor “Lisboa” e este porto é muito má. Não se pode comunicar com o comandante.
Os passageiros são aqui esperados amanhã e seguirão no primeiro vapor. A tripulação seguirá para Lisboa.
- - - - - -
Cidade do Cabo, 25 de Outubro – As vitimas do naufrágio são o 1º engenheiro Brown, o 3º engenheiro Maclalon, os sargentos Nascimento e Braz, os criados Ferreira e Lúcio e os passageiro Lambert.
O sr. Finsel, vice-cônsul inglês em Lobito, que era passageiro do “Lisboa”, disse ao correspondente da Agência Reuter, que o navio encontrara ao principio fortes ventos, mas que depois o tempo abrandara e não havia nevoeiro.
Durante o trajecto o “Lisboa”, bateu no rochedo, às dez horas e 45 minutos da noite de Domingo. O choque foi forte, produzindo grande alarme nas mulheres e nas crianças, mas não houve pânico. Só apenas alguma confusão, no momento em que os passageiros desciam para as lanchas. Estas ficaram perto do navio até à aurora, que foi quando se chegou à costa, sem dificuldade.
(Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 27 de Outubro de 1910)

O vapor “Lisboa”
Lisboa, 27 de Outubro – A Empresa Nacional de Navegação recebeu hoje da Cidade do Cabo um telegrama, confirmando as notícias já conhecidas sobre os mortos do naufrágio do paquete “Lisboa”, acrescentando não haver notícias do comandante pela má comunicação entre aquele porto e o local do sinistro e que os passageiros eram ali esperados amanhã, seguindo viagem no primeiro vapor, regressando a tripulação a Lisboa. Os prejuízos do vapor são totais.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 28 de Outubro de 1910)

O naufrágio do “Lisboa”
Cidade do Cabo, 27 de Outubro – Chegou aqui o vapor “Burton Port”, com os passageiros do vapor português “Lisboa”.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 29 de Outubro de 1910)

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Acredite, se quiser!


Fait divers

Até que ponto a aproximação de um cometa à terra pode, ou não, influenciar o comportamento das pessoas?
Esta é, à partida, uma questão de difícil e complicada resposta, porém, face aos acontecimentos, fica no ar a ideia de existir algo, que o bom senso não consegue explicar. Senão vejamos:

O cometa Halley

Face à aproximação do cometa Halley ao nosso planeta, em meados de 1910, sendo visível em vários pontos o seu rasto longo e luminoso, que encantou uns e assustou outros, mais abaixo o impensável ia acontecendo!

Com origem no Rio de Janeiro, chegou uma notícia desde Toulon, que informava ter sido roubado o cofre do navio-escola “Benjamim Constant”, quando este se encontrava atracado num cais do porto de La Seyne-sur-Mer, em França, em reparação prolongada. Tratava-se do cofre forte do navio, onde o comandante guardava todos os documentos, e a simpática quantia de 172 mil francos franceses.

Logo que o roubo foi conhecido, de imediato tiveram início as compreensíveis diligências policiais, para tentarem identificar os autores de tão audaciosa proeza. Feitas as necessárias pesquisas, não ficou qualquer indício dos criminosos, mas pelo menos o cofre forte foi encontrado, naturalmente afundado em La Seyne, muito próximo do ancoradouro do navio.
Pelo que foi possível apurar, os ladrões foram para bordo do navio brasileiro num pequeno barco, para o qual desceram o cofre, que continha além da soma já indicada, mais documentação substancialmente importante e algumas joias de um oficial recentemente falecido.
A polícia francesa que colaborou activamente nas buscas, para dar solução a este estranho caso, está convencida, por falta de melhor evidência, que o roubo do cofre do “Benjamim Constant”, partiu de pessoas de bordo.

Entretanto, de Londres chega a notícia que várias companhias firmaram contratos com o governo português, para a construção de três couraçados do tipo “Dreadnought”, dez caça-torpedeiros e dez submarinos, e que os orçamentos estavam aprovados, sendo o prazo para a construção de vinte e oito meses, a contar do mês de Junho.
Houve naturalmente a preocupação de verificar a data da notícia, não fosse brincadeira do primeiro de Abril, mas não era, e se não fosse para levar a sério, passaríamos a ter uma marinha muito bem equipada, e as finanças do país em total bancarrota.

Quadro com a figura do conselheiro Azevedo Coutinho
Imagem do sítio da Sociedade de Geografia de Lisboa

Ainda na mesma época, o Almirante João de Azevedo Coutinho, distinto oficial com uma longa e meritória carreira militar, entre outros serviços prestados ao país, deslocou-se de propósito a Matosinhos, para o lançamento da primeira pedra, no local onde posteriormente funcionou a Escola de Alunos Marinheiros, depois de despojados de instalações, devido ao triste e infeliz naufrágio da canhoneira “Estephânia”, na cheia do rio Douro, em Dezembro de 1909.
No regresso a Lisboa, à noite, na viagem do comboio rápido de ligação entre ambas as cidades, por altura do Entroncamento, estando no salão-restaurante, encontrou o sr. Marquês de Gouveia, irmão do sr. D. Fernando de Serpa, a quem muito delicadamente estendeu a mão para o cumprimentar.
Como aquele titular lhe não correspondesse, o sr. conselheiro Azevedo Coutinho, recusando-se a levar o desaforo para casa, assestou-lhe um valente soco, que o sr. Marquês fez questão de retribuir. Obviamente, intervieram na contenda vários passageiros, o secretário e ajudante do sr. Ministro, que por vias de facto, acabou com uma escoriação no rosto.
Posto isto, a culpa não será mesmo do cometa?

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Na era dos gigantes!


Um colosso do mar – o navio “Britannic”

Desenho postal do navio em www.learning-history.com

Sepultado o “Titanic” nas profundezas do oceano, a White Star Line, a que pertencia aquele sumptuoso navio, activa a construção de outro paquete de maiores dimensões, que se intitulará “Gigantic”. Nunca o esforço humano chegou a culminâncias tais na construção naval.
Refere o jornal «Boston American» que o comprimento do novo transatlântico medirá mil pés ou sejam 305 metros, comportando comodamente 4.000 passageiros e 1.000 tripulantes.
Conterá jardins e passeios, teatros de opera, comédia e variedades, cafés, restaurantes, estabelecimentos de comércio e indústria, postos telegráficos e telefónicos, ascensores, etc.
Supondo o navio em direcção vertical, a sua altura seria mais elevada que a do edifício maior do mundo! O seu calado impossibilitá-lo-á de dar ingresso nos portos, pensando-se dotar o de Nova-York de maior profundidade, para o que serão feitas as necessárias dragagens.
Serão estabelecidos a bordo grandes recintos para os jogos de golfe, futebol, cricket, basquetebol, piscinas com capacidade maior que as existentes nas mais populosas capitais europeias e americanas. Porém, o que produzirá verdadeiro assombro, será um aeródromo situado na coberta, onde poderão voar livremente aeroplanos, estabelecendo-se assim comunicações entre o colossal paquete e a costa.
Com respeito ao tipo das máquinas nada está ainda decidido, supondo-se que será empregada uma combinação de turbina e máquina alternativa, que é a forma de propulsão mais económica, sendo fácil que o combustível liquido, o petróleo, substitua o carvão à semelhança do usado já em alguns navios de guerra.
Haverá ainda a bordo um grande diário, que publicará notícias transmitidas de todo o mundo, contendo ainda na coberta um comboio para recreio dos passageiros.
O custo do transatlântico ascenderá a doze mil contos de reis.
(Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 12 de Maio de 1912)

Desenho sobre o naufrágio da autoria de Ken Marshall
Wikipedia

Na realidade, as melhores previsões apontavam no sentido de vir a existir um navio com tanta opulência para a época, tanto mais que já estava em construção desde Novembro de 1911, data que corresponde ao batimento da quilha.
Porém, porque era simultaneamente impensável construir um paquete com as dimensões anunciadas, sem a comparticipação do Estado, e sabendo-se estar obviamente sujeito a ser requisitado pela marinha britânica, até porque a construção decorre durante os anos da Iª Grande Guerra, o “Gigantic” teve alteradas as características previamente imaginadas, sendo por esses motivos equipado e preparado para navegar como navio-hospital.
Terminada a construção nos estaleiros Harland & Wolff, de Belfast, em 12 de Dezembro de 1915, o navio era baptizado com o nome “Britannic”, apresentava umas notáveis 48.158 toneladas de arqueação bruta, 269,06 metros de comprimento, 28,70 metros de boca, sendo propulsionado por 2 hélices acopladas a duas turbinas a vapor, que lhe asseguravam em média cerca de 21 nós de velocidade.
Terminadas as provas de mar em inícios de 1916, o almirantado britânico mandou o navio viajar para o Mediterrâneo, para que fosse garantida a necessária assistência às tropas em conflito nessa área. No dia 21 de Novembro de 1916, o maior de todos os navios ingleses, em pleno mar Egeu, durante a viagem que o levaria a Modros, chocou com uma mina, seguindo-se o afundamento num curto espaço de tempo, resultando do naufrágio 21 vitimas mortais.
O que há de curioso nesta ocorrência, prende-se ao facto do campo de minas por onde o navio se deslocava, ter sido plantado por um submarino alemão, apenas uma hora antes do trágico sinistro.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

História trágico-marítina (CCLXXII)


O encalhe do cruzador "Adamastor", na China

O cruzador “Adamastor”
A má sorte persegue a Marinha de Guerra Portuguesa, já tão minguada de navios! O ano passado, o naufrágio do “S. Rafael”, o encalhe do “Almirante Reis” nos «Cavalos de Fão», e agora recebe-se a notícia de haver batido nuns rochedos, no mar da China, o “Adamastor”!
Este vaso não vale apenas para nós como uma unidade da nossa Marinha de Guerra: vale também como um sinal do despertar da alma nacional, profundamente ferida pelo ultimatum de 1890. Efectivamente, o “Adamastor” foi adquirido com o produto da grande subscrição nacional aberta num memorável e doloroso momento da nossa História contemporânea.
O cruzador “Adamastor” foi construído na Itália, pela casa Fratelli Orlando, e distingue-se principalmente pela sua velocidade, pela sua facilidade de manobra e pelas suas qualidades para resistir à perseguição inimiga. É um navio próprio para viajar às nossas colónias, em qualquer momento critico, e com a sua lotação relativamente avultada, e que em muitos casos poderia ainda aumentar, auxiliando a guarnição e defesa do litoral.
O “Adamastor”, de que foi primeiro comandante o conselheiro Ferreira do Amaral, mede 76,41 metros de quilha, 10,63 metros de boca; o pontal à linha de água carregado é compreendido entre 4,70 a 5 metros, segundo o navio se considere com ou sem carvão de reserva. Os motores, aparelhos acessórios, geradores de vapor e as duas hélices eram dos melhores, quando o “Adamastor” foi construído.
O armamento do “Adamastor” consta de duas peças 15/30 calibres Krupp; quatro peças de 10 5/40 tiro de rápido Hotkiss; quatro peças de 0,65 /16 de tiro rápido Hotkiss; duas peças 0,037/42 de tiro Hotkiss; duas metralhadoras Nordenfeld de 0,006; 120 espingardas Meneliker; 40 revolveres Abbadie; três tubos lança torpedos; e seis torpedos Whitehead. As munições estão dispostas em três paióis.
Os elementos militares de maior importância no “Adamastor”, são:
1º - A velocidade que, num golpe de fogo, pode atingir 18 milhas durante algumas horas, permite-lhe, em muitas circunstancias, escapar à perseguição de navio mais bem armado.
2º - Um raio de acção que excede 8.000 milhas, o que lhe permite realizar longos cruzeiros sem ter de recorrer às estações de carvão.
3º - Os compartimentos estanques repetidos, que lhe permitem isolar e restringir as avarias causadas pelo fogo do inimigo, sendo esta a base teórica da sua defesa.
4º - Facilidade de evoluções derivadas da enorme porta do seu leme compensado e da distância relativamente considerável das hélices ao seu plano médio longitudinal.
5º - Notável desempachamento da sua bateria e instalação engenhosamente simples dos seus tubos lança torpedos laterais, que lhe permitem uma fácil manobra da bateria e a essencial instalação de parques de aprisionamentos correspondentes à ligeireza do tiro.
Da tripulação do “Adamastor” fazem parte o 2º tenente sr. Henrique Owen Pinto, natural do Porto, filho do benquisto juiz do Supremo Tribunal de Justiça, sr. conselheiro Henrique Pinto; e o guarda-marinha sr. Sebastião das Neves Silva Monteiro, filho do falecido general desta divisão, sr. José Joaquim da Silva Monteiro.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 12 de Maio de 1913)

Notícia publicada na revista Ilustração Portuguesa
Nº378 de 19 de Maio de 1913

O “Adamastor” em perigo
Lisboa, 12 – No Ministério da Marinha foram recebidos hoje os seguintes telegramas:
- Do Governador de Macau:
«Informações que recebi do comodoro inglês e cônsul de Hong-Kong, o “Adamastor” encalhou na passagem entre as ilhas Lautan, Chung Chan, Conhua, sendo a sua situação perigosa. A água invade os compartimentos de vante e as máquinas. Não há perda de vidas. A maior parte da tripulação passou para bordo da “Pátria”, tentando estancar a água o rebocador das docas de Hong-Kong. Fiz seguir embarcações para receberem a artilharia e bagagens. O comodoro inglês mandou o contra-torpedeiro “Otter” e o rebocador “Atlas”.
O governador telegrafou agradecendo o auxílio prestado.
- Do comandante do “Adamastor”:
«O navio encalhou nas pedras do canal, entre as ilhas Chung. Não há nenhum desastre pessoal. Julgo ser possível salvar o navio com recursos de Hong-Kong. O comodoro inglês enviou navios auxiliares para salvamento. A canhoneira “Pátria” está também fundeada junto do navio. Está desembarcando todo o material, ficando o pessoal necessário a bordo. Há facilidade no salvamento.
Do mesmo comandante:
«Continuo o trabalho de safar o navio, esperando bom resultado».

Lisboa, 12 – O comandante do “Adamastor” é o capitão de fragata sr. Aníbal de Sousa Dias, tendo como imediato o 1º tenente sr. Procópio de Freitas. Os restantes oficiais são os srs. 1º tenente Carlos Coutinho e Almeida Couceiro, 2ºs tenentes Botelheiro e Owen Pinto, guardas-marinha Barbosa Carmona, Junqueira Rato, Cunha Gomes, Pires da Rocha, Silva Monteiro, Vitor Serra, Pereira da Fonseca, Azeredo de Vasconcelos, Baeta Neves, e Adolfo Trindade, médico o dr. Emídio Pires, maquinistas, 1º tenentes João Carlos Costa, 2º tenente Adolfo Alcobia; e guardas-marinha Soares Mesquita, Pereira Bastos, Boaventura Real e Dias Silva; do serviço de administração naval 2º tenente Guilherme Rodrigues e guarda-marinha Abel Costa Lázaro.

Lisboa, 12 - Produziu geral impressão o encalhe sucedido com o cruzador “Adamastor”. Numerosas pessoas tem ido ao Arsenal de Marinha, quartel de marinheiros e ministério da Marinha, pedir informações acerca do caso.

Londres,12 – Telegrafaram ontem, de Hong-Kong, à agência Reuter, dizendo que o cruzador “Adamastor”, no seu regresso a Portugal, vindo de Macau, enviou ontem à noite, pela telegrafia sem fio, um despacho referindo que o navio tinha batido num rochedo perto da ilha de Duwebell, tendo ficado seriamente avariado, pelo que pediu socorro urgente. As autoridades navais enviaram-lhe o contra-torpedeiro “Otter” e o rebocador “Atlas”.
A canhoneira “Pátria”, partiu também para o local do sinistro. À meia-noite foi, pelo cônsul Leiria, enviado também um rebocador e aparelhos de salvação. Àquela hora não havia perda de vidas.

Londres, 12 – Um telegrama de Hong-Kong para a agência Reuter refere que o contra-torpedeiro “Otter” e o rebocador “Atlas” voltaram já ao local onde se deu o sinistro relatado no despacho anterior, e que o “Adamastor” ficou seriamente avariado, tendo a tripulação e as munições que conduzia sido transbordadas para a canhoneira “Pátria”. O rebocador partiu novamente para o local do sinistro, com novos aparelhos de salvação, levando a bordo um comodoro. Também parte para lá o chefe da marinha de Hong-Kong, a bordo do “Otter”.

Londres, 12 – Telegrafaram de Hong-Kong à agência Reuter, dizendo, às cinco horas da tarde de ontem, terem partido para Macau três juncos com parte da tripulação do “Adamastor”; que a descarga continua, as bombas funcionam bem e há esperanças de salvar o navio.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 12 de Maio de 1913)

O cruzador “Adamastor”
Lisboa, 13 – Numerosas pessoas foram hoje ao quartel dos marinheiros, ministério e Arsenal de Marinha, saberem com ansiedade informações referentes ao encalhe do cruzador “Adamastor”. Para Macau têm sido expedidos muitos telegramas de pessoas de famílias dos oficiais, também pedindo informações.

Lisboa, 13 – Em vista do desastre agora sofrido pelo cruzador “Adamastor” vai ser alterada a composição da divisão naval de instrução, que deve largar para o mar em Julho próximo.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 13 de Maio de 1913)

O cruzador “Adamastor”
Lisboa, 17 – Reuniu hoje extraordinariamente, o conselho superior de higiene, para consulta sobre o tratamento sanitário a aplicar ao cruzador “Adamastor”, que amanhã chega do Extremo Oriente, onde se manifestaram a bordo alguns casos suspeitos de cólera. Aquele tratamento está dependente da visita de saúde, que se realizará, quando o “Adamastor entrar a barra.

Lisboa, 17 – O comandante do cruzador “Adamastor” enviou hoje um radiograma ao sr. Ministro da Marinha, por via Cadiz, dizendo continuar a viagem sem novidade, devendo estar antes do meio-dia de amanhã, no seu fundeadouro no Tejo, solicitando que à chegada sejam concedidas todas as facilidades sanitárias.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 18 de Outubro de 1913)

domingo, 16 de setembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXI)


O naufrágio do iate “Cysne”, na praia de S. Jacinto

Sinistro marítimo
Foi recebida comunicação de ter naufragado no dia 23 do corrente, na praia de S. Jacinto, em Aveiro, o iate “Cysne”, que no último Domingo passara à vista da barra do Porto, já um tanto desmantelado pelo forte temporal.
Anúncio anterior ao sinistro, quando de viagem para Lisboa

Características do iate “Cysne”
Armador: Francisco Estevão Soares, Porto
Nº Oficial: N/d - Iic: H.B.D.R. - Porto de matrícula: Porto
Construtor: Custódio Martins de Araújo, V. Conde, Dezembro de 1899
Arqueação: Tab 114,83 tons - Tal 109,09 tons
Dimensões: Informação indisponível
Propulsão: À vela
Equipagem: 7 tripulantes

O iate “Cysne” que tem estado consignado à firma Artur José Rebelo de Lima, tinha saído do rio Douro no dia 18 do corrente, com destino a Portimão, levando um carregamento de madeiras. O iate desfez-se na praia, tendo-se salvo a tripulação, composta de sete homens.
Têm procedido ao salvamento de parte da carga e aprestos de bordo.
(Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 28 de Fevereiro de 1914)

sábado, 15 de setembro de 2018

Leixões na rota do turismo! - (7/2018)


Navios de passageiros em porto no mês de Agosto
Numa primeira análise relativamente ao número de escalas em comparação com o mês anterior a melhoria é significativa.
Mais navios, maiores, com uma alargada quantidade de passageiros, e uma primeira visita ao porto, caso do navio "Seven Seas Navigator".

Navio de passageiros "Crystal Serenity"
No dia 4, chegou procedente de Bordéus, tendo saído para Lisboa

Navio de passageiros "Magellan"
No dia 6, chegou procedente da Corunha, saiu com destino a Lisboa

Navio de passageiros "Marella Spirit"
No dia 7, chegou procedente de Vigo, saiu com destino a Lisboa
No dia 21, repetiu ambos os portos de escala referidos anteriormente

Navio de passageiros "MSC Magnifica"
No dia 12, chegou procedente do Havre, saiu com destino a Lisboa

Navio de passageiros "Sea Cloud II"
No dia 26, chegou procedente de Vigo, continuou a viagem para Lisboa

Navio de passageiros "Seven Seas Navigator"
Foto do navio da Seatrade Cruise News
No dia 28, chegou procedente do Ferrol, saiu com destino a Lisboa

Navio de passageiros "Ventura"
No dia 30, chegou procedente da Corunha, saiu com destino a Lisboa

Navio de passageiros "Aegean Odyssey"
No dia 31, chegou procedente da Corunha, saindo também para Lisboa

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Dia do porto de Leixões


Programa de eventos da 10ª edição comemorativa


Programa:
10h15 – 11:15 | Mar contado - Sessão de contos por Rita Sineiro (Piso 3)
10h30 – 11:30 | Just Breathe (Terraço)
11h15 – 12h45 | Consultório dos Doutores Palhaços - Operação Nariz Vermelho (Piso 1)
12h10 – 12:30 | Just Breathe (Terraço)
12h30 – 13h30 | Showcooking com a Mini-Chef Maria Manuel (Piso 3)
14h30 – 15h10 | Jazz - Freedom & Co (Piso3)
14h30 – 16h00 | Observar o sol, com o Planetário do Porto (Terraço)
14h30 – 16h30 | Atuação da Banda às Riscas
15h00 – 16h00 | Consultório dos Doutores Palhaços - Operação Nariz Vermelho (Piso 1)
15h00 – 17h30 | Meet & Greet com o Youtuber SirKazzio (Piso 3)
17h30 – 18h00 | Workshop de Dança (Terraço)
18h00 – 18h40 | Orquestra Jazz de Matosinhos (Piso 3)
18h00 - 19h30 | Entrega de prémios da 4ª Regata (Piso 3)
18h45 – 20h00 | Sunset (Terraço)

Navio escola "Sagres"

Naturalmente, a Administração do Porto renova a intenção de repetir o sucesso dos anos anteriores, garantia de um dia bem passado para os mais e menos jovens, na area portuária. Mas é também a oportunidade de visitar a "Sagres", agora regressada da última viagem aos Estados Unidos, sendo por esse motivo seguramente a cereja em cima do bolo.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXX)


O encalhe da chalupa “Atlântico”, em Aveiro

Embarcação em perigo
Ontem de manhã, a Capitania do porto de Aveiro pediu ao Departamento Marítimo do Norte o auxí-lio de um rebocador, para socorrer a chalupa “Atlântico”, que havia ali encalhado.
Para o efeito foi enviado o rebocador “Liberal”, que conseguiu desencalhar a chalupa, rebocando-a para Leixões.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 11 de Maio de 1909)

Desenho de navio do tipo chalupa, sem correspondência ao texto

Características da chalupa contruída em aço “Atlântico”
Armador: José M. S. Teles, Lisboa
Nº Oficial: 463-B - Iic: H.C.G.B. - Porto de matrícula: Lisboa
Construtor: H. Parry & Son, Lda (?), Ginjal, 1904
Arqueação: Tab 18,87 mts - Tal 17,93 tons
Dimensões: Pp 13,18 mts - Boca 3,84 mts - Pontal 1,56 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 4 tripulantes

A chalupa que se encontrava sob o comando do mestre Vilão, conduzindo um carregamento de latas de petróleo, depois de vistoriada e sem avarias, saiu de Leixões no dia 13 de Maio, com destino a Aveiro.

sábado, 8 de setembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXVIX)


O naufrágio da barca “Oriente”

Naufrágio
Por telegrama recebido no Porto, sabe-se que a barca “Oriente”, pertencente à firma Lino Marques da Nova & Filhos, Sucessor, desta praça, saída em 2 de Abril de Barbados, nas Antilhas, em viagem para Nova York, naufragou perto de Cape Henry (Virgínia, Estados Unidos), salvando-se a tripulação.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 4 de Maio de 1907)

Desenho de navio do tipo barca, sem correspondência ao texto

Características da barca “Oriente”
1906 - 1907
Armador: Lino Marques da Nova & Filhos, Sucr., Porto
Nº Oficial: N/d - Iic: H.C.F.T. - Porto de matrícula: Porto
Construtor: Desconhecido, Grimstad, Noruega, 1892
ex “Vesoenes”, Bernt Einersen, Grimstad, Noruega, 1892-1898
ex “Oriente”, Comp. Portuguesa da África Oriental, Porto, 1898-1906
Arqueação: Tab 554,02 tons - Tal 508,00 tons
Dimensões: Pp 44,96 mts – Boca 9,65 mts – Pontal 4,90 mts
Propulsão: À vela
Capitães embarcados: Leandro de Almeida (1900) e J. dos Santos Lé (1906 e 1907)

A informação disponibilizada pelo jornal quanto à procedência da viagem, que a barca “Oriente” estava a realizar, bem como o respectivo destino, foram confirmados através de informação obtida posteriormente. Em relação ao local do encalhe onde o navio veio a naufragar, essa mesma notícia faz constar que o sinistro terá ocorrido durante o mês de Abril, próximo a Progress Hill, no Estado americano da Carolina do Norte.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXVIII)


O naufrágio do brigue “Emerald”, próximo a Viana do Castelo

Naufrágio
À 1 hora da tarde de quinta-feira passada, foi recebida comunicação na Alfândega de Viana do Castelo, de que na praia do Norte, nas proximidades de Montedor, freguesia de Carreço, estava prestes a varar um navio inglês, carregado com minério.
O jornal “Vianense”, de quinta-feira, acrescenta que até às 3 horas da tarde desse dia, não se sabia pormenores alguns a este respeito.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 10 de Outubro de 1866)

Desenho de navio do tipo brigue, sem correspondência ao texto

Características do brigue inglês “Emerald”
1864 - 1866
Armador: Worthley & Son, Ltd., Sunderland
Construtor: Wigham Richardson Yard, Sunderland, 1864
Arqueação: Tab 348,00 tons
Dimensões: Pp 36,70 mts - Boca 8,28 mts - Pontal 5,18 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 8 tripulantes
Naufrágio
Acerca do naufrágio ocorrido na quinta-feira passada, na costa de Montedor, a alguns quilómetros de Viana, dá o jornal “Aurora do Lima”, de sexta-feira, os seguintes pormenores:
«Ontem, cerca do meio dia, soçobrou próximo à costa em Montedor, seis quilómetros ao norte desta cidade, o brigue “Emerald”, procedente de Huelva para Newcastle, com um carregamento de mineral.
Segundo as informações que temos, este navio trazia água aberta desde o porto de procedência, pelo que o capitão tratou de encalhá-lo, o que não pôde conseguir por ter naufragado.
A tripulação compunha-se de 8 pessoas, as quais se salvaram nas lanchas do navio, bem como foram salvos alguns objectos de pouca importância, como faróis, óculos, tintas, etc.
Há poucas esperanças de se salvar os aparelhos do navio e nenhumas quanto ao casco e à carga.
(Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 11 de Outubro de 1866)

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXVII)


O naufrágio da escuna francesa “Madeleine”

Naufrágio na barra do rio Douro
Um sinistro marítimo ocorrido ontem, ao princípio da tarde, na barra do Douro, em que se perdeu por completo a escuna “Madeleine”, e morreram dois homens, assinalou tristemente o dia na cidade do Porto.
Foi um drama que se desenrolou à vista da população da Foz e que teve passagens pungentes, de intensa comoção e rasgos de abnegação, quando se empregam os meios mais extremos para se salvar a vida aqueles que estavam em iminente risco, numa situação aflitiva.

Desenho de navio do tipo escuna, sem correspondência ao texto

Características da escuna “Madeleine”
Armador: Bonet & Fils, Saint Brieux
Nº Oficial: N/d - Iic: N/d - Porto de registo: Saint Brieux
Construtor: Julienne, Granville, 1876
Arqueação: Tab 155,00 tons - Tal 139,00 tons
Dimensões: Pp 36,37 mts - Boca 8,15 mts - Pontal 5,59 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 6 tripulantes

A escuna “Madeleine”
A escuna francesa “Madeleine”, pertencente â praça de Saint Brieux, de 139 toneladas de registo, era um navio velho, mas em muito boas condições de navegabilidade. Além do capitão, sr. Toussaint Chelveder, o navio tinha mais cinco homens de tripulação.
Era a terceira vez que vinha ao Porto, tendo entrado a última vez aqui no dia 11 do corrente, vinda de Swansea com um carregamento de carvão, consignado a M. de Almeida & Santos. Demorou-se neste porto onde recebeu um carregamento de toros de pinheiro para Swansea.
Ontem, por volta das duas horas da tarde a “Madeleine” levantou ferro e foi rio abaixo, rebocada pelo vapor “Liberal”, a fim de seguir para o seu destino.
O sinistro e os socorros
Quando o rebocador “Liberal” que comboiava a “Madeleine” passava em frente a umas pedras denominadas «Ponta do Dente», foi forçado a parar porque o cabo lançado para a escuna se prendeu à cadeia da boia de marcação da barra.
Empregaram esforços para safar o cabo, até que, a certa altura ou rebentou o cabo, ou o largaram do “Liberal”, e a escuna ficou à deriva e daí a pouco foi rio abaixo, levada pela corrente da água, indo bater violentamente nas pedras junto ao molhe do farolim da Foz.
De terra havia presenciado o que se passava o guarda-civil nº83, António Soares Pinho, de sentinela à esquadra da Foz, o qual depois de participar o desastre ao chefe, sr. Vilaça, agarrou num cabo e boia que havia no cais e, acompanhado do piloto da Foz, sr. Alexandre Cardoso Meireles, seguiu com toda a urgência para o molhe do farolim.
O mar era muito e por vezes as vagas faziam cair ali grandes massas de água, que varriam o molhe. Os dois lutando com muita dificuldade, conseguiram prender o cabo ao farolim e dali arremessaram a boia para a escuna, que tinha água aberta e que, pouco a pouco ia adernando para bombordo. O mar, inquieto em demasia, fazia balouçar imensamente o navio, o que era um enorme embaraço para os pobres náufragos, que, dificilmente se conseguiam manter presos ao cabo, e, à maneira que se lhes proporcionava o melhor ensejo, iam subindo por ele e saltando para o molhe.
Dois dos infelizes tripulantes não se aguentaram quando tomaram o cabo e caíram ao mar, não tornando a ser vistos, morrendo afogados.
O último náufrago a sair do navio foi o capitão e pode dizer-se que se não se retira tão rápido, seria vitima, porque a escuna, fortemente sacudida pelas vagas, afastou-se um pouco e começou a soçobrar, voltando-se por completo, largando desde logo bastantes toros de pinheiro, que, ao lume d’água, iam desaparecendo pela barra fora.
Enquanto o guarda-civil nº83 e o piloto Cardoso Meireles tratavam dos salvamentos, o chefe Vilaça, com alguns agentes, prestou um importante serviço, não deixando que as numerosas pessoas que se juntaram no local, avançassem para perto do farolim, evitando não só o atrapalhar dos socorros, como algum desastre para os imprudentes, que podiam ser apanhados pelas vagas que galgavam o molhe.

Os náufragos sobreviventes
Os náufragos sobreviventes foram levados para a estação de Socorros a Náufragos, que fica junto da esquadra de polícia, ao fundo do jardim do Passeio Alegre.
Algumas pessoas bondosas, moradoras na Foz, ofereceram roupas e reconfortantes aos quatro náufragos salvos, que são: o capitão Toussaint Chelveder, de 35 anos; o 2º piloto Eugène Geslin, de 38 anos; o cozinheiro Roger la Croix, de 16 anos; e o criado Joseph Bornin, de 18 anos.
Os pobres homens detiveram-se ali durante bastante tempo, verificando-se que o capitão estava ferido numa perna e num pé.
Consta que este marítimo perdeu uma carteira com alguns papeis importantes e 2.200 francos em notas e uma bolsa contendo algumas moedas de ouro e prata.

A Cruz Vermelha – Remoção dos náufragos para o Porto
Na estação de Socorros a Náufragos, à Foz, compareceu um automóvel com a ambulância da Cruz Vermelha, o médico dr. Ramos Pereira e mais pessoal, sendo prestados aos náufragos os cuidados de que necessitavam, nomeadamente ao capitão, por estar ferido.
Depois compareceram no local os consignatários do navio, que se inteiraram do que se passou, sendo os quatro sobreviventes transportados no mesmo automóvel para o Hotel Malhão.
O capitão deitou-se imediatamente e declarou que até hoje não receberia pessoa alguma.

Os cadáveres dos dois infelizes náufragos
Pouco tempo depois de se haver submergido a “Madeleine”, o mar, sempre alteroso, arrojou à praia das Pastoras os cadáveres dos dois tripulantes, que não lograram salvar-se. São eles os marinheiros Julien le Beux, de 37 anos, e Henri Maudin, de 19 anos.
A polícia fez conduzir os dois cadáveres ao Hospital da Misericordia, onde o clínico de serviço verificou os óbitos, sendo depois removidos para o depósito do cemitério de Agramonte.

Notas diversas
- No local do desastre esteve o sr. capitão do porto e no Departamento Marítimo está sendo levantado um auto acerca deste sinistro.
- Foi muito elogiado o serviço prestado pela polícia da esquadra da Foz.
- A Guarda-fiscal estabeleceu o serviço na Foz, por causa dos salvados.
- Os tripulantes, além das roupas, perderam o dinheiro que levavam.
- O navio naufragado estava seguro numa Companhia estrangeira.
(Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 31 de Março de 1915)

Naufrágio – O desastre de ante-ontem
O comissário de polícia deu conhecimento ao juízo de investigação criminal da catástrofe marítima ocorrida ante-ontem na barra do Douro, onde se perdeu a escuna francesa “Madeleine”, onde morreram dois tripulantes, comunicando que os cadáveres serão removidos para o necrotério do Instituto Médico-Legal, a fim de serem autopsiados.
No Departamento Marítimo do Norte estão sendo reunidos elementos para servirem de base a um inquérito sobre o sinistro, com o fim de se apurarem responsabilidades.
(Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 1 de Abril de 1915)

Naufrágio - Valores perdidos pelo capitão da “Madeleine”
O capitão Toussaint Chelveder, da escuna francesa “Madeleine”, que naufragou no dia 30 do mês findo, à entrada da barra do rio Douro, perdeu os seguintes valores, na lamentável catástrofe:
- 24 libras esterlinas em notas inglesas de uma libra e bons da defesa nacional francesa: um de mil francos e outro de quinhentos, uma nota de vinte e outra de cinco francos do Banco Francês. Tudo fechado numa pasta cartonada, negra, amarrada com uma fita branca.
- Numa bolsa de couro negro, cerca de dez francos em moedas de dois francos, um franco e cinquenta cêntimos; uma chave com a marca «Fichet Paris» e tendo os números 3 e 9 ou 1 e 9.
- Numa outra pequena bolsa de couro escuro uma moeda de ouro de dez shillings ingleses e cerca de dez shillings em moeda de prata inglesa e um pequeno rosário de criança.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 2 de Abril de 1915)

terça-feira, 4 de setembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXVI)


O naufrágio do vapor alemão “Borussia”

Sinistro marítimo no rio Tejo
Lisboa, 22 de Outubro - Hoje de tarde, o vapor alemão “Borussia”, procedente de Santos com 44 passageiros em transito e 10 com destino a Lisboa, na ocasião em que se encontrava em frente do posto de desinfecção, metendo carvão, um golpe de mar, inundando de repente o navio, não deu tempo a que a tripulação fechasse as agulhas.
Com a força da água o navio garrou, indo rio abaixo, levado depois pela corrente para a Trafaria. Foram-lhe atirados foguetões e partiram em socorro rebocadores do Arsenal e outros barcos, que não conseguiram atracar ao vapor, que tinha muita carga e que, com a grande quantidade de água que lhe inundara os porões, começou a afundar-se lentamente desaparecendo cerca das nove horas da noite naquele local.
Ignora-se se há mortes, constando que, na ocasião do sinistro se atiraram ao mar quatro tripulantes, não se sabendo se eles se salvaram.
No paquete embarcaram aqui cinco passageiros.
Consta mais que os passageiros, bem como a maioria dos tripulantes, conseguiram salvar-se nos barcos que acorreram logo ao local do sinistro. Entretanto, há quem presuma que dentro do navio ainda ficou gente, que não se conseguiu aproveitar dos socorros.
Salvaram-se as malas do correio.
(Jornal “Comércio do Porto, quarta-feira, 23 de Outubro de 1907)

Imagem do "Borussia" - postal da Companhia proprietária do navio

Características do vapor “Borussia”
1905 - 1907
Armador: Hamburg-Amerikanische Packetfahrt A.G., Hamburgo
Nº Oficial: N/d - Iic: N/d - Porto de registo: Hamburgo
Construtor: Germaniawerft, Kiel, Alemanha, 15 de Julho de 1905
Arqueação: Tab 6.951,00 tons
Dimensões: Ff 128,40 mts - Boca 16,50 mts - Pontal 6,95 mts
Propulsão: Do construtor - 2:Qe - 3.600 Bhp - 12,5 m/h
Equipagem: 115 tripulantes

O naufrágio do vapor “Borussia”
Lisboa, 23 - Acerca do naufrágio do “Borussia”, sabe-se que há apenas duas mortes: a de um interprete russo e a de um tripulante, também russo. Dois passageiros, que se julgavam afogados, estão vivos e hospedados no Hotel Viziense.
A Companhia proprietária do paquete vai tentar pô-lo a flutuar. O vapor tem os mastros fora da água.
Seguiram para o norte os indivíduos que do Brasil vinham a bordo do “Borussia”, em regresso às terras da sua naturalidade.
(Jornal “Comércio do Porto, quinta-feira, 24 de Outubro de 1907)

O naufrágio do vapor “Borussia”
Lisboa, 24 - Os náufragos do paquete “Borussia”, que seguiram de Lisboa para as terras de suas naturalidades, são os seguintes:
- Francisco António Aires, com a mulher e 8 filhos. É natural de Argana, freguesia de Vialonga, concelho de Macedo de Cavaleiros, e tem 41 anos. Perdeu tudo o que trazia, ganho em lavouras de café e que avaliava em 1:700$000 réis, ficando reduzido à miséria.
- António Gomes Pinto, de 29 anos, solteiro, natural de Arouca. Voltava do Brasil, aonde fora três vezes, empregando-se no mister de cozinheiro de restaurante. Para esta última viagem de regresso teve que valer-se de dinheiro que um seu primo lhe emprestou.
- Vitorino José Gomes, de 72 anos, solteiro, natural de Cabeceiras de Basto. Esteve por cinco vezes no Brasil, onde conta ainda voltar. Declarou não ter família e que estes passeios pelo mar são o seu maior prazer. De resto, não tem modo de vida definido. Trabalhava em tudo que se lhe deparava para ganhar a vida. No naufrágio perdeu apenas um saco com roupa. O dinheiro, uns 80$000 réis, tinha-os com ele, num bolso do colete.
- Albino Francisco Regato, de 25 anos, solteiro, da freguesia de Vilar de Andorinho, concelho de Vila Nova de Gaia. Ficou sem duas malas com roupas e objetos, que trazia no valor de 100$000 réis, e uma caderneta com 500$000 réis. Por sete vezes, após o naufrágio, saltou do “Borussia” para os vapores que foram em socorro dos passageiros, procurando as suas malas; como as não encontrasse, salvou bastantes outras, pertencentes a diversos dos seus companheiros de viagem.
- Deocleciano Augusto Cunha, de 24 anos, de Moncorvo. Deixou mulher e uma filha no Rio de Janeiro, para onde conta voltar brevemente. Perdeu uma mala com dinheiro – uns 150$000 réis.
- Germano dos Santos, de 34 anos, filho de Manoel dos Santos e Maria Cândida dos Santos, natural do Porto. Tendo ido há 18 anos para o Rio de Janeiro, é com esta a terceira vez que vem a Portugal. Perdeu alguma roupa, mas conseguiu salvar a mala.
- António Alves Moreira, de 46 anos, casado e com dois filhos. Foi já ao Rio de Janeiro por três vezes. Perdeu duas malas, numa das quais tinha 50$000 réis em dinheiro.
- Domingos José Gonçalves, de 42 anos, casado e com uma filha. É natural da freguesia de S. Pedro, concelho de Chaves.
- Maria de Sá Mendes Ribeiro, de 36 anos, natural de Olho Marinho, concelho de Óbidos. Deixou no Rio de Janeiro o marido, Constantino Augusto Ribeiro, para vir despedir-se de sua mãe, que numa carta lhe disseram estar a morrer.
- António de Sousa, de 40 anos, filho de João de Sousa e de Maria Penedo, casado, natural de Braga. Já foi três vezes ao Brasil. Perdeu duas malas com roupa, relógios de ouro e prata e dinheiro.
- Joaquim da Costa, de 40 anos, de Castro d’Aire. Ficaram-lhe a bordo duas malas, numa das quais tinha 20 libras em ouro.
- Manuel Gonçalves, de 36 anos, casado, sapateiro, de Mourão. Perdeu valores de 200$000 réis e 15 libras em ouro. Declarou este náufrago, que um seu companheiro de trabalho no Rio de Janeiro, e que era também natural de Mourão, viera com ele, e, na ocasião do naufrágio se atirara ao Tejo, não tornando a aparecer. Chamava-se Serapião Afonso de Oliveira, e tinha 42 anos.
(Jornal “Comércio do Porto, sexta-feira, 25 de Outubro de 1907)