terça-feira, 23 de abril de 2019

Divulgação!


Os últimos Terranovas Portugueses
Dia mundial do livro - 2019


A minha escolha para falar sobre livros neste dia tão especial, recai precisamente sobre este trabalho, apresentado ontem no Museu Marítimo de Ílhavo, perante uma sala cheia de amigos do autor, colaboradores, curiosos e interessados, que a partir de agora têm a oportunidade de ajuizar por si mesmo, uma miscelania de temas, que transcendem a gloriosa epopeia da faina maior.
Obviamente, o livro trata e retrata pormenores valiosos sobre a pesca do bacalhau, porém, mais do que a pesca propriamente dita, é agora mais fácil entender como os navegadores chegaram aos bancos de pesca, na Terra Nova ou na Gronelandia, e por exemplo, porque é que ainda há nomes bem portugueses por aquelas paragens.
Mais ainda, o autor demonstra afectos por outros assuntos, que foram ao longo dos anos motivo de creteriosa pesquisa, tais como a construção naval, a exploração do espaço lagunar que o rodeia e a odisseia dos seus conterrâneos, herois na sua labuta diária, com o destemor de desbravar o mar, para sustento das famílias, tanto na pesca como na navegação comercial.

O autor, engº Senos da Fonseca, na ocasião da apresentação do livro

O engº Senos da Fonseca, conta já com outros trabalhos publicados, de temática semelhante, o que confirma uma paixão e conhecimento das muitas actividades, que desde sempre existiram na ria de Aveiro.
O livro agora publicado é por conseguinte reflexo da sua preocupação em dar a conhecer a um número alargado de pessoas a rudeza do trabalho realizado pelos locais, e paralelamente chamar a atenção para a beleza do mundo que desfruta, nos seus múltiplos aspectos.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Leixões na rota do turismo! (3-19)


Navios de passageiros em porto durante o mês de Março

Ainda foram escassos os navios que fizeram escala em Leixões, mas mesmo assim, foram alguns mais do que no período anterior. Todos os navios estavam identificados, em resultado de visitas já realizadas ao porto, com apreciável regularidade.

Navio de passageiros "AidaCara"
No dia 2, chegou procedente de Lisboa, tendo saido com destino a Vigo

Navio de passageiros "Boudicca"
No dia 12, chegou procedente de Dover, seguindo daqui para o Funchal

Navio de passageiros "Balmoral"
No dia 25, veio procedente da Corunha, saíu também para o Funchal

Navio de passageiros "Saga Sapphire"
No dia 31, veio de Southampton, e viajou com destino a Motril

quarta-feira, 10 de abril de 2019

História trágico-marítima (CCCIX)


O incêndio a bordo do vapor brasileiro “Santarém”

Entrou, em Leixões, com incêndio a bordo, o vapor brasileiro,
de carga e passageiros “Santarém” (1)
Alguns tripulantes sofreram intoxicação e ficaram inutilizadas
diversas mercadorias
Vindo de Lisboa, onde efectuou reparações nas caldeiras, entrou em Leixões, às 13 horas e 15 minutos, com incêndio a bordo, o vapor “Santarém”, pertencente à Companhia Lloyd Brasileiro.
É um magnifico navio de 6.757 toneladas, que anda no serviço de transporte de passageiros e mercadorias. A bordo vinham 18 passageiros e 112 tripulantes.
O incêndio declarou-se nas carvoeiras, após a saída, a duas milhas da capital, propagando-se ao segundo porão da proa. São frequentes os incêndios nas carvoeiras dos vapores e fácil a extinção, motivo porque o “Santarém” não retrocedeu para o porto de partida, continuando, portanto, a marcha em direcção à barra de Leixões.
Durante a viagem, o fogo aumentou consideravelmente, atingindo algumas mercadorias – café, amendoim, óleo, algodão e couros -, o que produziu fumarada negra, intoxicante, a que nem as mascaras contra gases resistiam.
Apesar da importância que o sinistro prometia atingir e do número elevado de tripulantes atacados pelo fumo e com princípio de intoxicação e asfixia, os 18 passageiros em transito conservaram a máxima serenidade, e, a bordo, os trabalhos para localizar o fogo, embora infrutíferos, correram metodicamente e ordeiramente, orientados pelo comandante Sr. Hamlet Victor Boissou e demais oficialidade do “Santarém”.
Após a entrada em Leixões, seguiram para bordo do vapor incendiado os Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça e Leixões, bem como as autoridades marítimas e o delegado policial de Matosinhos.
O ataque ao incêndio foi continuado pelos bombeiros das corporações indicadas, mas com precauções recomendadas pelo comandante do “Santarém”, que pretendia evitar a inundação do porão, a fim de poupar, à acção da água, as mercadorias.
Os trabalhos foram suspensos para continuarem mais tarde. Devido às proporções grandiosas do fogo e à qualidade das mercadorias, que eram inflamáveis, os bombeiros fizeram apertado ataque, sem atenderem à mercadoria, que, se não fosse inutilizada pela água, seria sacrificada pelas labaredas que irrompiam do porão.
Pouco depois das 21 horas, o “Santarém” foi encalhado em frente à praia do pescado, trabalhando diversas bombas dos Voluntários de Leixões, Matosinhos-Leça e dos rebocadores “Mercúrio”, “Neiva” e “Mars”, para completa inundação do vapor. Estes trabalhos são dirigidos pelo Inspector de Incêndios de Matosinhos, Sr. coronel Laura Moreira e pelo chefe Neves, dos Voluntários de Matosinhos-Leça.
O acontecimento causou alarme em Leixões e Matosinhos, sendo numerosas as pessoas que durante a tarde e a noite se conservaram na praia, a assistirem ao combate ao incêndio.
Às 4 horas e meia da madrugada de hoje, o fogo lavrava ainda e os bombeiros continuavam a trabalhar na sua extinção, o que devem conseguir por todo o dia de hoje.

Cartão postal do armador com a imagem do navio "Santarém"
Minha colecção

Características do vapor “Santarém”
Armador: Cª de Navegação Lloyd Brasileiro, Rio de Janeiro
Nº Oficial: N/d - Iic: N/d - Porto de registo: Rio de Janeiro
Construtor: Bremer Vulkan, Vegesack, Alemanha, 1908
ex “Eisenach”, Norddeutscher Lloyd, Bremen, 1908-1922
ex “Santarém”, Governo Brasileiro, Rio de Janeiro, 1922-1927
Arqueação: Tab 6.757,00 tons - Tal 4.212,00 tons
Dimensões: Pp 127,86 mts - Boca 16,59 mts - Pontal 8,43 mts
Propulsão: Do construtor - 1:Qe - 4:Ci - 387 Nhp
Equipagem: 112 tripulantes
Demolido em 1962
O incêndio a bordo do “Santarém” (2)
A bordo do “Santarém” ninguém dormiu. A noite de ante-ontem para ontem foi passada em claro, trabalhando, na extinção do incêndio, numerosos bombeiros das corporações de Matosinhos-Leça e Leixões e duas equipas de estivadores na descarga de mercadorias, uns e outros auxiliados pelo pessoal de bordo.
Na tarde de ontem, o vapor, com a quilha pousada no fundo da bacia, adernou bastante para bombordo, tornando-se perigosa a posição para a segurança das pessoas que estavam a bordo do navio.
O vapor tem «resistido heroicamente»
O comissário de bordo, Sr. José Artur Pereira, recebeu, ao fim da tarde, no seu camarote alguns membros da imprensa. À sua frente, sobre a escrivaninha em equilíbrio, para respeito dos mais elementares princípios da física, via-se, amontoada, papelada diversa, manifestos, cartas e impressos. O navio inclinado de maneira impressionante, ocasionava mau estar e falta de estabilidade, forçando todos a tomar precauções.
Dois sorrisos, palavras de mútua apresentação, comodas cadeiras e a conversa fluiu, despretensiosa, quase familiar. O Sr. José Artur Pereira, que trabalha a bordo dos vapores do Lloyd Brasileiro há mais de 24 anos, afirmou:
- Não há memória de um incêndio nestas condições. O porão parece uma fornalha. A que atribuir o incêndio? Quem o poderá adivinhar?
Sempre com o melhor sorriso a aflorar-lhe às faces, gentilíssimo, o comissário de bordo esclareceu:
- Se não fosse as excelentes provas de segurança dadas pelo “Santarém”, que se tem portado heroicamente, já tudo teria findado; as chapas que estiveram em brasa ter-se-iam torcido, os rebites desprender-se-iam e o meu querido vapor, desconjuntado, partido, seria já um montão de destroços.
- O encalhe não terá avariado o casco?
- Não senhor. O encalhe foi mau. Como vê, o navio continua a flutuar. O que nos vale é o auxílio dos rebocadores, que, trabalhando a todo o vapor, forçam a proa contra a areia.
- Esta inclinação não é prejudicial?
- Estamos inclinados quase a 13 graus. Com pouco mais, será difícil o vapor manter-se. Mas nós confiamos. Enchendo a maré, o navio deve normalizar a posição, e a água, empossada a bombordo, refrescará, então, toda a mercadoria, fazendo diminuir a intensidade do fogo.
E ao terminar:
- A posição do “Santarém” é má e não pode ser garantido que o navio esteja livre de perigo… que se salve… mas eu - eu e o comandante, acentuou, estamos optimistas.
Os bombeiros e demais pessoal que trabalham a bordo
O fogo já foi extinto na primeira coberta do porão, informou o inspector dos incêndios de Matosinhos, Sr. coronel Laura Moreira.
Os bombeiros intensificaram os seus esforços, enquanto 30 estivadores, com a colaboração dos tripulantes, se empregaram, denodadamente, na remoção das mercadorias queimadas e encharcadas pela água despejada pelas agulhetas. Mas o fogo ainda lavra com violência, a 12 metros de profundidade.
Durante o dia estiveram a dirigir o ataque ao incêndio, além do coronel Laura Moreira, os Srs. Cesário Bento e António Neves, dos Voluntários de Matosinhos-Leça e José Luiz de Araújo e Francisco José dos Reis, dos Voluntários de Leixões.
Além dos tripulantes, trabalham a bordo, por turnos, 30 estivadores e 100 bombeiros, aproximadamente. Na inundação do porão são empregadas 4 moto-bombas e um estanca rios, que alimentam numerosas agulhetas.
De bordo do vapor dos pilotos, “Afonso de Carvalho”, tem estado, em permanência, a refrescar, com uma agulheta, a chapa de estibordo do vapor sinistrado. Entre outras embarcações, estão junto do “Santarém”, a prestar auxílio, os rebocadores “Neiva”, “Mercúrio” e “Mars”.
A carga do “Santarém”
O vapor incendiado, que devia seguir para Vigo e Bordéus, foi construído em 1910 e desenvolve a força de 3.300 cavalos-motor. Transportava nesta viagem, 3.000 toneladas de carga, composta por 34.000 sacos de café, cerca de 2.000 fardos de algodão e grande quantidade de óleos para motores, amendoins e couros em cabelo. Parte das mercadorias destinava-se à cidade do Porto.
Durante o dia estiveram a bordo o Srs. conde de Vilas Boas, capitão do porto de Leixões, Manuel de Oliveira Mourinho, Patrão-mor, e tenente Mendes de Sousa, chefe da Polícia Marítima. O Sr. cônsul do Brasil também esteve a bordo do “Santarém”, devendo iniciar, hoje, um inquérito, para apuramento das responsabilidades no sinistro.
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Ao principio da noite, com a maré cheia, o vapor tomou a sua posição normal. Os trabalhos continuam, sendo ignorado quando será sufocado o incêndio.
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À noite, alguns fardos de algodão, que eram transportados numa camioneta para o edifício da Alfândega, incendiaram-se, sendo necessária a intervenção dos bombeiros. Compareceram os Voluntários de S. Mamede de Infesta, que extinguiram o fogo. Os fardos ficaram guardados pela Guarda-fiscal.

Imagem do "Santarém", durante as operações de ataque ao incêndio
Foto de autor desconhecido - Minha colecção

Já foi dominado o incêndio a bordo do “Santarém” (3)
O vapor será desencalhado hoje, na maré da tarde
O incêndio, que, desde sábado, consumia as mercadorias do segundo porão da proa, do vapor “Santarém”, ficou extinto, ontem, às 17 horas e meia, de pois de incansáveis esforços dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça e Leixões, de colaboração com todo o pessoal de bordo e auxílio de numerosos estivadores.
Durante o resto da tarde e noite continuou a descarga das mercadorias avariadas, tendo retirado os bombeiros. Só ficou a bordo, de prevenção, um piquete de ambas as corporações.
O vapor será desencalhado na maré da tarde de hoje. As bombas que trabalharam para inundar o porão incendiado, serão novamente montadas, a fim de escoarem a água nos porões atingidos.
O cônsul do Brasil, no Porto, e o comandante da companhia Lloyd Brasileiro, em Portugal, estiveram a bordo do “Santarém”, a proceder ao inquérito, para apuramento de responsabilidades.

Notícias publicadas no jornal “Comércio do Porto”, de: (1) Segunda-feira, 6 de Maio; (2) terça-feira, 7 de Maio; e (3) quarta-feira, 8 de Maio de 1940

sábado, 6 de abril de 2019

Divulgação!


Associação GANNO
Grupo de Arqueologia Naval do Noroeste


A Associação GANNO - Grupo de Arqueologia Naval do Noroeste, vem desde há algum tempo a publicar newsletters, para dar a conhecer aos seus associados e a todos os interessados, os trabalhos sujeitos à pesquisa e estudos sobre o meio marítimo, nos seus múltiplos aspectos.
Pela qualidade da oferta dos temas abordados, sugerimos a sua consulta através do sítio «associacaoganno.blogspot.com».

sexta-feira, 5 de abril de 2019

História trágico-marítima (CCCVIII)


Iate português “Rasoilo 1º” (1)
Naufragou após bater nos recifes a 500 metros da praia de Castelo de Neiva, a 6 de Julho, por motivo de água aberta e com a tripulação exausta. Todos os tripulantes conseguiram salvar-se no bote do iate.

Naufrágio do iate “Rasoilo 1º” (2)
Naufragou ante-ontem (6 de Julho), às 9 horas da noite, a cerca de 8 milhas da barra de Viana do Castelo, procedente de Setúbal, com sal, por ter alquebrado a norte do Porto. O mestre Amora de Lima deliberou alijar carga, mas porque as bombas não davam vazão, decidiu encalhar o navio, salvando a tripulação.

Desenho de navio do tipo iate, sem correspondência ao texto

Características do iate “Rasoilo 1º”
Armador: José Rasoilo, Ílhavo
Nº Oficial: N/d - Iic: H.D.W.K. – Porto de registo: Aveiro
Construtor: António dos Santos Garcia, Esposende, 1859-1860
Arqueação: 65,000 m3
Propulsão: À vela
Equipagem: 7 tripulantes

Outros pormenores (3)
O iate “Rasoilo 1º” media 72 palmos de quilha, 25 de boca e 8 de pontal. O alvará de licença que autorizou a sua construção data de 8 de Outubro de 1859 (ACM – Intendência de Marinha do Porto, cx.147, documento 53). O arrendamento do terreno para a construção do navio teve lugar em 22 do mesmo mês, data em que bateu estaca, na presença do proprietário (AHCME – Livro dos Acórdãos, pp.94v-95). Matriculou a sua tripulação de 7 elementos na Delegação da Marinha em Esposende, em 2 de Junho de 1860, sendo mestre José Rasoilo, de 40 anos, e o contra-mestre José Simões Ré. Toda a tripulação era de Ílhavo, à excepção do moço de bordo que era de Viana, contando apenas 12 anos. Saíram de Esposende para Aveiro, sob Passaporte Real, datado de 9 de Abril de 1860.

(1) Diário do Governo Nº 113, de 20 de Maio de 1873, Departamento Norte, Distrito Marítimo do Porto, Delegação marítima de Viana;
(2) Jornal “Comércio do Porto”, de segunda-feira, 8 de Julho de 1872;
(3) Felgueiras, José Eduardo de Sousa, Sete Séculos no Mar (XIV a XX), A Construção de Embarcações, Edição do Centro Marítimo de Esposende - Fórum Esposendense, Esposende 2010, pp.102

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Divulgação!


Conferência do Seminário do Mar
8 de Abril de 2019
Apresentação do livro «Rios de Portugal», Comunidades, processos e
alterações, Uma visão transversal das bacias hidrográficas portuguesas
Drª Maria João Feio