domingo, 27 de fevereiro de 2011

Pequenas grandes construções!


Chalupa “A Portugueza”
1892 - 1917

Anúncio correspondente à viagem desde o Porto para
o Algarve, na ocasião do encalhe na Figueira da Foz.

Armador: A.J. Rebello de Lima e outros, Porto, 1916-1917
Nº Oficial: 166 - Iic. H.F.C.M. - Registo: Douro, Porto
Construtor: José Dias dos Santos Borda, Fão, 14.05.1892
ex “A Portugueza”, Francisco Ferreira da Maia, Aveiro, 1892-1898
ex “A Portuguesa”, A.J. Rebello de Lima, Porto, 1899-1900
ex “A Portugueza”, Francisco Estevão Soares, Porto, 1900-1915
Arqueação: Tab 106,65 tons - Tal 99,42 tons
Dimensões: Pp 24,36 mtrs - Boca 6,90 mtrs - Pontal 2,66 mtrs
Propulsão: À vela, sem motor auxiliar
Equipagem: 6 tripulantes

A chalupa navegou desde Esposende na viagem inaugural, com destino ao rio Douro e Aveiro. Dali viajou para um porto do norte, regressando a Aveiro, sob o comando do mestre Francisco Forte-Homem.
(Felgueiras, José - A constr. de embarcações, Esposende, 2010)

A 26 de Março de 1903, durante a tarde apareceu à entrada da barra do porto da Figueira da Foz, uma chalupa desarvorada, que veio abicar à praia pelo sul do forte de Santa Catarina. A tripulação, que se compunha de sete homens, foi toda salva pela baleeira salva-vidas, em que foi o capitão do porto, o capitão Ferreira, da marinha mercante e tripulado por vários marinheiros. Da praia foram atirados 3 foguetões, mas o vento destruiu-os. O navio era a chalupa “A Portugueza”, da praça do Porto, seguindo com destino a Vila Nova de Portimão, para onde levava carga diversa. Na maré da noite o navio galgou o cabeço de areia e foi encalhar dentro do porto. Está previsto tentar salvar o casco e parte da carga. O sinistro deu-se por altura das Berlengas. A chalupa partiu o mastro da mezena, ficando desarvorada e correndo com o tempo.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, sábado, 28 de Março de 1903)
Nota: Na embarcação estava embarcado um menor, que seguia como passageiro. O casco foi recuperado e reparado, tendo a chalupa regressado ao serviço comercial.

A 11 de Dezembro de 1917, quando em viagem de Lisboa para o Porto, em frente à da praia da Granja e já próximo da barra do rio Douro, foi afundada (supostamente com carga explosiva) por um submarino alemão. Não há registo de vitimas em resultado desse ataque.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Publicidade


O óleo de fígado de bacalhau

Produto absolutamente inesquecível, fez as delícias de muitos rapazes da minha idade e de alguns mais novos. Com a extraordinária vantagem de haver duas formas de bebe-lo; a bem ou a mal...

O rótulo da beberagem, tal como era apresentado

Illmos. Snres.
Ha ja muitos annos que nas aguas frias que cercam estas ilhas apanho o melhor bacalhau, o verdadeiro bacalhau de Lofoten, Noruega, o melhor de todo o mundo. D’este peixe, que é pescado ao anzol, reservo unicamente para vos o de primeira qualidade. Durante tantos annos que sou vosso fornecedor, nunca vos mandei peixe de segunda qualidade. É por esta razão que o maravilhoso oleo curativo que se obtem dos figados d’estes peixes é sempre da melhor qualidade que produz a Noruega, e sem duvida o mais fino e puro de todo o mundo. Se a gente de Portugal quer o que ha de primeira qualidade e regeita o que é inferior, não deve acceitar senão a genuina Emulsão de Scott, que traz no envolucro a estampa acima: o quadro de um grande bacalhau de Lofoten e do VOSSO PESCADOR
Aos proprietarios da EMULSÃO DE SCOTT.
O primeiro. Entre os remedios que curam, a EMULSÃO DE SCOTT occupa facilmente o primeiro logar em Portugal. Tão certo que curara a vossa tosse, defluxo, bronchite, molestias de garganta e dos pulmões. Para estas enfermidades ou doenças das creanças não ha remedio que se lhe compare. A EMULSÃO DE SCOTT é um remedio, as outras cousas são preparadas. Milhares e milhares em Portugal são testemunhas vivas da verdade d’isto. Mas as curas se effectuaram só porque tomaram a EMULSÃO DE SCOTT, o primeiro fortificante em Portugal, e não se deixaram illudir, acceitando uma imitação da EMULSÃO DE SCOTT. Exigi o frasco Scott com o pescador, e achareis uma cura. A EMULSÃO DE SCOTT é superior, de primeira qualidade; todas as imitações são espurias, sem valor algum.
A Emulsão de Scott é uma emulsão de oleo de figado de bacalhau, o mais puro, com hypophosphitos de cal e soda (os melhores reconstituintes conhecidos dos ossos, do sangue e dos tecidos), perfeitamente saborosa – as creanças tomam-a com avidez – de facil digestão, e vende-se em todas as pharmacias portuguezas, sempre em frascos com envolucro côr de salmão.
Cópia do anúncio publicado no jornal “O Comércio do Porto”, a 29 de Março de 1903

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Notícias breves sobre navios dos T.M.E.


Os antigos navios alemães

Foram sete as propostas para o fretamento dos cinco antigos navios alemães “Trafaria”, “Ovar”, “Barreiro”, “Granja” e “Lagos”, sendo os proponentes portugueses, como se deduzia dos nomes apresentados. Consta, porém, que alguns desses proponentes representam capitais ingleses. Assim, a Empresa Lusa de Navegação foi recentemente organizada com o capital de 1.200 contos, do qual apenas 200 contos são portugueses. A Marítima, cujo director é o Sr. Manoel de Figueiredo, também conta com capitais ingleses e ainda à firma Lavado & Seruya, não deverão ser estranhos capitais não nacionais. Diz-se também que uma das propostas apresentadas contem um plano que abrange não só a parte dos transportes como também uma parte financeira e económica interessante. No ministério da Marinha estão sendo estudadas as aludidas propostas.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 6 de Março de 1917).

Alguns navios da frota da companhia
Desenhos de Luís Filipe Silva

Os antigos navios alemães
Dos referidos navios, os vapores “Gaza”, “Mormugão” e “Goa” vão ser aproveitados para serviço do Estado, a fim de conduzirem carga para diversos portos e bem assim, no regresso a Lisboa, trazerem carregamento consignado também ao Estado.
Vão ser repatriados os tripulantes do vapor “Setúbal”, que naufragou perto de Cardiff.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 8 de Março de 1917).
Nota: O vapor “Setúbal” naufragou a 5 de Março de 1917, por motivo de encalhe, próximo ao porto de Penzance, não havendo registo de vitimas.

Vapor “Boa Vista”
O governo recebeu do consul de Portugal no Havre um telegrama dizendo que este vapor, antigo navio alemão “Theodor Wille“, foi torpedeado no dia 21 do corrente, sendo salvos 41 tripulantes e que logo que houvesse mais pormenores os comunicaria.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 27 de Dezembro de 1917).
Nota: O ataque teve lugar quando em viagem do vapor entre os portos de Bordéus e Cardiff. Não há registo de vitimas.

Vapor “Brava”
Segundo um telegrama recebido ontem à noite, sabe-se que este vapor, antigo navio alemão “Togo”, foi torpedeado no dia 3, à entrada do porto de Cardiff, tendo-se salvo 30 tripulantes e ignorando-se o paradeiros dos restantes 20. O vapor que era comandado pelo Sr. Domingos Rocha, saíra de Leixões a 20 de Julho para Bordéus, com um importante carregamento de vinhos e em seguida partira a 28 para Cardiff, com um carregamento de toros de pinho, estando previsto trazer deste porto um carregamento completo de carvão para Lisboa.
O valor deste navio, que fora construído em Hamburgo, em 1893, era de 68.680 libras; tinha 96,26 metros de comprimento, 12,25 metros de largura e 8,23 metros de pontal. A sua tonelagem bruta era de 3.184 a liquida de 2.056, tendo capacidade para 4.485 toneladas de carga.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 6 de Setembro de 1918)
Nota: Existe registo de 17 vitimas mortais em resultado do ataque.

Vapor “Mormugão”
O navio encalhou, mas sem perigo para os passageiros. Segundo um telegrama recebido nos Transportes Marítimos do Estado, este navio, actualmente empregue na carreira da América, encalhou à entrada de Newbedford, devido ao nevoeiro. O navio, que conduzia grande número de passageiros, conseguir safar-se pouco depois, sem avaria de importância e prosseguiu viagem, não carecendo entrar em doca seca para reparar.
In (Jornal “O Comércio do Porto, de 1 de maio de 1921).

Vapor “Extremadura”
O vapor negociado recentemente, com vista à sua troca com o rebocador “Seewolf”, despachou ontem para sair com destino a Geeslemunde, levando já a bandeira Alemã e o nome “Nordsee”. O rebocador vai ser empregue nos serviços coloniais.
In (Jornal “O Comércio do Porto, de 28 de Outubro de 1925).

domingo, 20 de fevereiro de 2011

História Tragico-Marítima (IV)


O naufrágio do vapor “Bacchante”,
na barra do rio Douro a 28 de Março de 1857

Cópia do anúncio do naufrágio
(Jornal "O Comércio do Porto", de 28 de Março de 1857

A barra do Porto acaba de sorver mais uma embarcação. O vapor inglês “Bacchante” quando no sábado vinha a entrar na barra bateu nas pedras de Felgueiras e pouco depois estava submergido, sem que tempo houvesse para salvar coisa alguma, a não ser a correspondência do consignatário e o manifesto da carga, que o comandante e o irmão daquele cavalheiro com muito risco puderam ainda ir tirar. A tripulação que constava de 24 pessoas e um passageiro que vinha a bordo, salvaram-se no bote do vapor! Consta que as catraias não se quiseram aproximar ao “Bacchante”, com receio que ele caísse sobre elas. O vapor encontrava-se pilotado.
Procedente de Londres, trazia uma carga valiosa, na qual constava perto de 3.000 sacas de arroz, uns 100 fardos de linho, alguma farinha, etc. Não existia dinheiro a bordo. Na ocasião do naufrágio o vento era de rumo noroeste (brando) e o mar estava pouco agitado. As partes telegráficas que da Foz foram transmitidas à Associação Comercial, no sábado a respeito do vapor foram as seguintes:
11 horas e 30 minutos: Apareceu a oeste o vapor “Bacchante”
2 horas e 30 minutos: O vapor “Bacchante” vindo para entrar, bateu nas pedras de Felgueiras e foi ao fundo.
2 horas e 40 minutos: O vapor “Bacchante” desfez-se em pedaços – saíram 7 catraias para o lugar do naufrágio.
4 horas e 15 minutos: Salvou-se toda a gente do vapor.
5 horas e 45 minutos: A mala das cartas que vinha no “Bacchante” perdeu-se, salvando-se apenas a correspondência do consignatário.
A parte que o piloto dirigiu à Associação Comercial é a seguinte; Ontem tendo sido chamado à barra o vapor “Bacchante”, procedente de Londres, com vários géneros aconteceu que ao vir de sul para norte a procurar o canal de «Entre as Lages», este não obedeceu de pronto; o piloto supra que se achava a bordo mandou imediatamente parar e andar com toda a força para trás, porém como levasse tempo primeiro que parasse, veio bater nas pedras de Felgueiras, chamadas «Ponta do dente» e com a agitação do mar ali se arrombou e foi ao fundo, salvando-se toda a tripulação. – Foz, 29 de Março de 1857 (ass.) Manuel Luiz Monteiro.
A praça do Porto e a imprensa estão cansadas de pedir os possíveis melhoramentos na barra. A sua voz até hoje ainda não foi escutada e já descremos que o seja. Esses terríveis escolhos têm sido a causa de tanta desgraça e de tão grandes perdas, estão aí como um padrão para atestar a nossa vergonha e quão pouco os governos se têm interessado por nós. Este tema de obras da barra já está estafado, tem-se dito tudo quanto se pode se pode dizer, mas são tão frequentes as ocasiões que se dão para clamar, que não podemos dispensar-nos de pedir mais uma vez ao governo que faça alguma coisa. Se há obra em Portugal que mereça mais pronta atenção é por certo a barra do Porto. A inércia neste caso é um crime, que cada dia se agrava mais.
No sábado ainda chegamos a dar à última hora notícia deste naufrágio nas folhas que não tinham saído do prelo. O correio porém já tinha sido expedido e em parte da cidade andava-se já fazendo a entrega do jornal.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 29 de Março de 1857)

Anúncio do regresso do vapor a Londres
(Jornal "O Comércio do Porto, de 20 de Março de 1857)

O naufrágio do “Bacchante”
No lugar competente publicamos uma carta da Foz, que ontem nos dirigiram e em que se nos diz que não fomos muito exactos na notícia do naufrágio deste navio, relativamente ao salvamento dos náufragos. Não fomos testemunhas do naufrágio, escrevemos por informações e todas elas eram concordes em que as catraias nenhuns serviços haviam prestado, não se aproximando do vapor com receio de que caísse sobre elas – esta era a voz pública, na praça não corria outra coisa e até muito mais; entendemos por isso que não devíamos omitir esta circunstância na notícia. Folgaremos pois que ela não seja exacta e que os pilotos da Foz, para honra da sua corporação, se justifiquem das censuras que geralmente lhes fazem.
In (Jornal "O Comércio do Porto, de 1 de Abril de 1857

A efeméride 50 anos depois
(Jornal "O Comércio do Porto", de 7 de Abril de 1907

Mais uma vez a barra do Douro viu-se fechada por um casco atravessado no canal de navegação, situação que se repetiu ao longo dos anos. Como aconteceu com muitos navios, houve necessidade de recorrer à utilização de explosivos, de forma a destruir os vapores naufragados, evitando um extenso avolumar de trafego, ora desviado para o norte de Espanha, ou sujeito a longas demoras ancorados junto à barra, com o inconveniente de serem obrigados a suportar condições de tempo adversas.

Provavel imagem do vapor "Westminster", em 1909, naufragado
na barra do Douro, também atravessado no canal de navegação.
Imagem de autor desconhecido - colecção de Francisco Cabral

A confirmar-se ser realmente o vapor "Westminster", a água que inundou os porões foi parcialmente retirada, de forma a permitir a reflutuação. Já a navegar foi levado pela corrente para o largo, encalhando mais tarde a sul, na areia do Cabedelo. Ali pode ser reparado e reflutuado, voltando ao serviço comercial.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

“Gazella”, Gazelinha ou Gazelão (4)


Conclusão

O "Gazela Primeiro" na cerimónia da benção dos bacalhoeiros
Foto da Agencia Fotografica, Lisboa (minha colecção)

Termino o ciclo de mensagens colocadas previamente no blog, respeitantes a um dos mais interessantes navios, que integraram a grande frota da pesca longínqua. Faltava saber onde foi cortada inicialmente a madeira, que deu origem a diversas confusões, relativamente ao ano e ao local de construção.
Conforme explico nessas mensagens, publicadas de 12 a 15 de Março do ano transacto, permanece em aberto a questão se o navio foi construído em Setúbal, ou não, por força da lei que vetava a construção de navios novos.
Se privilegiarmos as múltiplas alterações então recebidas, quer no comprimento, quer no considerável aumento das tonelagens de arqueação e respectiva cubicagem, contemplando a transformação de um navio da pesca da baleia, para uma embarcação capaz de pescar bacalhau na Terra Nova, sou obrigado a reconhecer tratar-se de uma construção nacional, cuja responsabilidade recai sobre José M. Mendes, em Setúbal, no decorrer do ano de 1901.
Por outro lado, não posso deixar de ignorar que o navio entrou e saiu do estaleiro de José M. Mendes, em Setúbal, com o nome “Gazelle”, com o mesmo número oficial, com o mesmo indicativo internacional de chamada, tendo Lisboa igualmente como porto de registo e continuando a pertencer ao mesmo proprietário i.e. a Parceria Geral de Pescarias.
Pois bem, chegou-me finalmente ao conhecimento que o “Gazelle”, que manteve durante largo período de tempo o nome de origem, quer matriculado inicialmente em Inglaterra, quer no porto da Horta ou em Lisboa, foi construído em Southampton, Inglaterra, em 1837, segundo o registo do Bureau Veritas de 1877. Nesta conformidade, lamento apenas não existir nos registos das empresas classificadoras o nome dos construtores dos veleiros construídos em data anterior a 1850, razão principal que anula a curiosidade e o interesse em descobrir o autor de tal preciosidade.
Com isto gravo na memória a elegância deste lugre-patacho, que praticamente durante um século arvorou o pavilhão nacional. A virtude da sua conservação e a excelência das suas remodelações, tratando-se de uma construção em madeira, traduzem-se actualmente num “Gazela of Baltimore”, que não desmerece o elevado prestigio de uma nação de construtores, calafates, marinheiros e de pescadores. Principalmente porque agora sabemos tratar-se do veleiro mais antigo do mundo, ainda a navegar…

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

História trágico-marítima ( III )


Encalhes e naufrágios

23 de Outubro de 1913 - O encalhe do patacho “ Navegante 2º “
Este patacho naufragou em Sines, salvando-se, felizmente, toda a tripulação. Era capitaneado por um dos seus proprietários, o Ílhavense Sr. João Magano, digno oficial da marinha mercante.
In (Jornal “O Nauta”, Nº 447 de 13 de Novembro de 1913)

O "Navegante 2º" encalhado em Sines
Foto de José Monteiro Guerreiro
In (Ilustração Portuguesa, Nº 402, 03.11.1913)

Nº Of.: -?- - Iic.: H.G.P.L. - Porto de registo: Lisboa
Arqueação: Tab 189,27 tons - Tal 179,80 tons
Máquina: Sem motor auxiliar
Equipagem: 10 tripulantes

Na Praia Grande da vila de Sines, o patacho em referência deu à costa, devido à grande violência do mar, com um carregamento de oito mil sacos de adubo da firma Abecassis & Cª., Lda. A tripulação era composta pelo capitão João Magano; contra-mestre António Marques; cozinheiro Manuel Tomé Rosa e pelos marinheiros Eduardo Nunes, Paulo Lopes Tavares, António Santos Soares, Carlos Guilherme Monteiro, Romão Pinto Gomes, Ricardo Pinto Cabral e João Fortes Livramento, todos salvos através dum cabo de vai-vem.
São dignos dos maiores elogios, pela abnegação de que deram provas, todas as pessoas que tomaram parte no salvamento e entre estas, o cabo e os soldados da Guarda Republicana ali destacados, por terem recolhido alguns náufragos, fornecendo-lhes roupas.
O carregamento estava seguro na companhia Portugal Previdente, salvando-se deste quatro mil e quinhentos sacos de adubo. A Alfândega tomou conta dos destroços do barco que o mar tem atirado à praia. Trabalharam com grande afã no salvamento das roupas da tripulação. A restante carga está completamente destruída e os prejuízos estão avaliados em doze contos. O “Navegante 2º estava seguro na Companhia de seguros Ultramarina.
In (Jornal “O Século”, de 24 de Outubro de 1913)

28.04.1921 - O encalhe do lugre “ Maria Manuela “
Nesta data, durante a manhã, o lugre “Maria Manuela”, ancorado há dias na baía do porto de Angra do Heroísmo, ao levantar ferro para sair com destino ao porto da Praia da Vitória, devido à grande ventania de oeste, foi impelido com violência para o sitio denominado “As Águas”, encalhando na ponta do Castelinho. Todos os esforços da tripulação para salvá-lo foram impotentes, por quanto, momentos depois, já a água invadia rapidamente os porões. No local compareceram alguns barcos de pesca e o bote do hiate “Graciosa” (Nº Of. 928 - Tab 164,91 - Ponta Delgada - Mutualista Açoreana), também ancorado na baía, que prestaram os devidos socorros, trazendo para terra os tripulantes, bem como vários trabalhadores da Ribeirinha, que seguiam a bordo para auxiliarem na descarga de sal destinado àquele porto. O casco foi destruído pelas ondas de um dia para o outro, vendo-se muitos destroços a boiar, alguns já distantes de terra.
O navio que era um novo e elegante barco de 405 toneladas e 11 tripulantes, pertencia à Empresa de Navegação Açoreana de Pescarias, Limitada, de Lisboa, tendo como agentes na cidade os Srs. Elias Pinto & Rego e estava seguro no valor de Esc. 160.000$00. Ao local do sinistro acorreu muita gente e foram tiradas algumas fotografias.
……………………
Os náufragos do lugre “Maria Manuela”, que se afundou na baía de Angra do Heroísmo, regressaram a Lisboa a bordo do vapor “S. Miguel”. As passagens foram custeadas pelo Instituto de Socorros a Náufragos.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 17 e 27 de Maio de 1921).

domingo, 6 de fevereiro de 2011

História trágico-marítima ( II )


Encalhes e naufrágios

27 de Outubro de 1943 – O afundamento do vapor “ Pádua “ - Causou profunda emoção em todo o país, o afundamento deste navio, por ter chocado com uma mina, ao largo do porto de Marselha.
A morte de seis dos seus 21 tripulantes, a saber: José dos Reis, Manuel Francisco dos Santos, Manuel Carrapichano, António Feliciano de Oliveira, Manuel Soares Canelas e Agostinho Pereira, impressionou especialmente a grande família marítima, entre a qual todos eles eram muito estimados. O navio ia, justamente, investido de uma nobre e benemérita missão: levar encomendas da Cruz Vermelha aos prisioneiros de guerra. Colocado durante os últimos dois anos ao serviço da Cruz Vermelha Internacional, concluía a 19ª viagem àquele porto francês.
Os sobreviventes remaram durante algumas horas com rumo a Marselha, onde foram carinhosamente recebidos e tratados. Regressaram a Lisboa a bordo do vapor “Lobito” da Companhia Colonial de Navegação, que também estava ao serviço da Cruz Vermelha Internacional.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 1 de Novembro de 1943)

O vapor “ Pádua “
1934 - 1943
Armador: Empresa Marítima do Norte, Lda., Porto

O "Pádua" em Lisboa no início dos anos 40

Nº Oficial: C-110 - Iic.: C.S.G.N. - Registo: Capitania do Douro
Construtor: Norddeutsche Union Werk A.G., Toning, 08.1925
ex “Teeco”, Sir Walter Steamship Co. Ltd., Bristol, 1925-1934
ex “Santo António”, Emp. Marítima do Norte, Porto, 1934
(Navegou com este nome provisoriamente, apenas na viagem desde a Inglaterra até ao rio Douro, entre Outubro e Novembro de 1934. Já no Porto oficializa o respectivo registo de matricula com o nome “Pádua”).
Arqueação: Tab 664,96 tons - Tal 359,21 tons
Dimensões: Ff 56,23 mt - Pp 53,12 mt - Boca 9,02 mt - Ptl 3,91 mt
Máquina: Gorlitz A.G., Alemanha, 1925 - 1:Te - 525 Ihp - 9,5 m/h
Equipagem: 21 tripulantes

O naufrágio acima descrito ocorreu após rebentamento de uma mina, à face da popa do navio, quando se encontrava a cerca de 22 milhas do porto de Marselha. Os náufragos sobreviventes abandonaram o navio nas baleeiras de bordo, tendo sido assistidos pelo pesqueiro francês “Les Quatre Fréres”, que os rebocou até ao porto da localidade de Sausset-les-Pins, na Cote d’Azur, sita a 36 km de Marselha, onde receberam assistência da população.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O livro "Faina Maior"


Vai ser colocada à venda a 2ª edição

Está agendado para o próximo sábado, dia 19 deste mês, em cerimónia que vai ter lugar no Museu Marítimo de Ílhavo, pelas 1600 horas, a apresentação da 2ª edição do livro “Faina Maior”.

O livro "Faina Maior"

Como é sabido, esta obra assinada pelo falecido, mas não esquecido capitão Francisco Correia Marques e pela nossa estimada amiga Dra. Ana Maria Lopes, relata facetas da pesca do bacalhau à linha, revelando-se uma obra fundamental, para aprofundar conhecimentos, tal a lucidez das imagens da época retratada.
Convém ainda sublinhar, que a Associação dos Amigos do Museu, pôs todo o empenho em devolver às prateleiras este livro que se encontrava esgotado vai para 15 anos. A nova publicação, agora apresentada após cuidadosa digitalização, revela-se numa excelente oportunidade para os mais novos interessados nas artes da pesca longínqua, nos quais me incluo, concretizar a sua aquisição.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

História trágico-marítima ( I )


Encalhes e naufrágios

14 de Novembro de 1858 – Nesta data, naufragou no Funchal a galera “Defensora”, propriedade dos Cunhas de Miragaia, Porto, morrendo afogadas oito pessoas. In (Jornal o “Comércio do Porto”, de 29 de Novembro de 1908)

8 de Maio de 1861 – Em frente da barra do porto de Vila do Conde, ficou feito em pedaços o hiate “Dourado”, da praça de Setúbal, tendo morrido 5 homens da tripulação incluindo o capitão. In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 8 de Maio de 1921)

O vapor "Desertas" encalhado em Aveiro
Foto de Henrique Ramos - Arquivo Digital de Aveiro

5 de Setembro de 1918 – Um submarino alemão, que apareceu à vista da barra de Aveiro, canhoneou o vapor “Desertas”, ali encalhado desde 16 de Novembro de 1916, sem ter conseguido atingir o alvo. Imediatamente, da base naval Francesa voaram dois hidroaviões, que procuraram bombardear o submarino, mas este submergiu, sendo perdido de vista. In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 6 de Setembro de 1918)

5 de Dezembro de 1921 – Naufragou em Sagres, junto do penedo conhecido por Lobo da praia da Balieira, o hiate “Lili”, matriculado na praça de Vila Real de Santo António e pertencente ao sr. João de Souza Brito. A tripulação era composta por sete homens, que foi salva, tendo-se perdido toda a carga, que não estava no seguro, constando de atum, conservas, amêndoas e figos, com um peso total de 50 toneladas. In (Jornal O “Comércio do Porto”, de 6 de Dezembro de 1921)

5 de Dezembro de 1921 – Nesta data encontrava-se a arder a galeota inglesa “Lila Bonfilier”, na latitude 40º07’N e longitude 10º40’W (várias milhas ao largo, em frente à Figueira da Foz). A tripulação foi recolhida a bordo pelo vapor francês “Ariadne”. In (Jornal O “Comércio do Porto”, de 6 de Dezembro de 1921)

7 de Novembro de 1927 – O lugre-motor “Nossa Senhora da Nazaré”, regressado ao rio Douro de onde saíra para Setúbal, com carga de carvão, encalhou nas areias do Cabedelo, com avaria na máquina. O mau tempo e a força da corrente (largou ferros no canal) não impediram que o lugre fosse parar à restinga, na barra do rio. Foi possível passar-lhe uma espia desde a catraia dos pilotos, que entregue ao rebocador “Burmester II”, procedeu ao desencalhe, rebocando o navio até ao ancoradouro em frente a Massarelos. A tripulação foi salva, registando apenas dois feridos, que receberam tratamento hospitalar. In (Jornal “O Século”, de 8 de Novembro de 1927)

8 de Novembro de 1927 – Pelas três horas da manhã, o lugre-motor “Santa Ana” encalhou na praia da Marofa, em Sagres. A embarcação que arqueava 380 toneladas, estava matriculada na praça de Vila Real de Santo António e pertencia à firma Sanches, Lima & Cª., Lda. A tripulação composta por nove homens, viu-se na necessidade de abandonar o navio, cuja carga constituída por sal foi considerada perdida. IN (Jornal “O Século” de 10 de Novembro de 1927)

23 de Novembro de 1927 – Naufragou o lugre “Futuro de Sines”, pertencente aos Srs. Rosa & Estevão. O barco, que era movido a motor de gasolina, ficou completamente destruído. As causas do sinistro foram atribuídas às más condições em que se encontravam as amarrações no porto de Sines. In (Jornal “O Século” de 24 de Novembro de 1927)