sábado, 30 de julho de 2011

História trágico-marítima (XXV)


O afundamento do vapor " Norte "

Náufragos que se apresentam
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No Instituto de Socorros a Náufragos apresentaram-se a 11 de Setembro os tripulantes do vapor “Norte”, afundado a 26 milhas da costa de Marrocos por um submarino inimigo. Foram-lhes dados socorros pecuniários e guias de passagem para as terras das suas naturalidades.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 17 de Setembro de 1918).

O vapor referenciado foi outro dos navios da pesca do alto vitima dos submarinos alemães, neste caso devido ao ataque que lhe foi movido pelo U-22, do cap. Hinrich Hermann Hashagen. O arrastão foi intimado a parar, seguindo-se o afundamento por detonação de carga explosiva, quando se encontrava na faina da pesca, a cerca de 30 milhas ao largo de Safi, Marrocos, no dia 31 de Agosto de 1918.

O vapor de arrasto “ Norte “
1910 - 1918
Empresa Industrial Marítima, Lda., Lisboa

Vapor de pesca de arrasto do alto
Arranjo de imagem sobre original de Luís Filipe Silva
Desenho sem correspondência ao texto

Nº Oficial: 439-C - Iic.: H.C.T.P. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Hall, Russel & Co. Ltd., Aberdeen, 08.1909
ex “John E. Lewis”, ??, 1909-1910
Arqueação: Tab 272,15 tons - Tal 92,98 tons
Dimensões: Pp 38,40 mts - Boca 7,02 mts - Pontal 4,10 mts
Propulsão: J. Lewis & Sons - 1:Te - 3:Ci - 78 Nhp - 10 m/h
Equipagem: 14 tripulantes

sexta-feira, 29 de julho de 2011

História trágico-marítima (XXIV)


O ataque ao lugre " Rio Cávado "

Naufragou o “Rio Cávado”
Os tripulantes foram salvos
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El Ferrol, 2 – Chegaram às 11 horas da noite de ontem os tripulantes do veleiro “Rio Cávado”. O navio naufragou às 6 horas da manhã do dia 2, a 290 milhas do Cabo Prior. Era a primeira viagem que fazia, tendo sido lançado ao mar em Julho último e transportava vinho do Porto para Bristol.
(In jornal “O Século”, de 07 de Outubro de 1918).

Protesto de mar (transcrição)
Don Nicasio Perez Moreno, Vice-cônsul de Portugal no Ferrol;
Certifico que no livro de protestos deste consulado figura o seguinte:
Protesto, por afundamento do lugre português “Rio Cávado”.
O capitão, piloto e tripulantes do lugre “Rio Cávado”, perante o sr. vice-cônsul de Portugal no Ferrol, declarou:
Que no dia 24 de Setembro saiu o citado navio do Porto, com um carregamento completo de vinho, com destino a Bristol (Inglaterra); Que navegou em regulares condições de tempo e mar com ventos do quadrante NE, mar de vaga e vaga grossa; Que pelas 8 horas e 5 minutos do dia 1 de Outubro no ponto aproximado Lat. 45º42’8”N e Long. 11º50’5”W fomos intimados a parar por um submarino alemão, que nos alvejou com treze tiros de canhão, em seguida ao seu aparecimento; Que se arriou um bote, debaixo de constante fogo e nos dirigimos ao submarino; Que nos mandaram atracar; Que nos perguntaram a nacionalidade, carregamento, destino do navio e se nos fazíamos acompanhar pelos documentos; Que lhes foi respondido que os documentos se encontravam a bordo; Que em seguida, embarcaram no bote um oficial e dois marinheiros, que se faziam acompanhar por um saco com bombas; Que o submarino navegou em direcção ao citado lugre, rebocando o bote onde nos encontrávamos; Que parou muito perto, abordando o bote do navio e saltando em seguida os alemães, seguidos por nós; Que nos foi dado um prazo de 15 minutos para arriarmos uma embarcação, que se encontrava a bordo e na qual nos salvamos; Que o primeiro bote ficou em poder dos alemães; Que o oficial do submarino levou todos os documentos, incluindo as cédulas dos tripulantes; Que fomos intimados, em seguida, a abandonar o navio; Que nos dirigimos novamente ao submarino, que estava perto e o comandante do mesmo nos ordenou que seguíssemos ao rumo SE, que iríamos às costas de Espanha; Que passamos em pleno mar, debaixo de constantes perigos, devido ao muito mar e vento; Oitenta horas depois desembarcamos, por fim, na cova do Cabo Prior; Que o bote se partiu, de encontro às pedras, devido ao muito mar; Que nos dirigimos, no Ferrol; ao vice-cônsul de Portugal, que nos prestou todo o auxilio que carecíamos; Em face do que narramos, disse o capitão, que para salvaguardar os interesses do armador, carregadores, fretadores e mais interessados, protestava contra o submarino alemão, por os ter obrigado a abandonar o navio, afundando em seguida o mesmo; Por ser verdade o assinamos, no Ferrol, a sete de Outubro de mil, novecentos e dezoito.
Tripulação: José Henrique Frazão, capitão; António Augusto Cardoso, piloto; João Maria e António Vicente de Macedo, marinheiros; Eduardo Saraiva, cozinheiro; Eduardo Pereira Vidinha e Manoel de Matos, moços.
(In Felgueiras, José Eduardo de Sousa, Sete séculos no mar (XIV a XX), livro III, A construção de embarcações, Pag. 212/216, Edição do Centro Marítimo de Esposende, 2010

Lugre “ Rio Cávado “
1918 – 1918
Sociedade de Navegação Fãozense, Lda.
(Dr. Henrique de Barros Lima, José Gonçalves Pereira de Barros e outros)

O lugre "Rio Cávado" no estaleiro em Fão
Imagem de autor desconhecido

Nº Oficial: ?? - Iic.: ?? - Porto de registo: Porto
Cttor.: António Dias Santos e José A. Linhares, Fão, 23.07.1918
Arqueação: Tab 278,75 tons
Dimensões: ??
Propulsão: À vela
Equipagem: 7 tripulantes
Capitão embarcado: José Henrique Frazão (1918)

Como seria de prever, a transcrição da notícia acima mencionada omite a indicação do navio ter sido afundado, através da colocação a bordo de explosivos, levado a cabo pela tripulação do submarino alemão U-139, da responsabilidade do cap. Lothar von Arnauld de la Perière. É também um dos casos em que a sorte favoreceu toda a tripulação do lugre, ao conseguirem alcançar terra firme, sãos e salvos, num curto período de tempo.
Nota: - Sobre este mesmo navio já existe uma outra notícia publicada no blog, em 3 de Março de 2009.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

História trágico-marítima (XXIII)


O afundamento do vapor “Brava”

Torpedeamento do vapor “Brava”
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Segundo um telegrama recebido ontem à noite, sabe-se ter sido torpedeado no dia 3, à entrada do porto de Cardiff, o vapor “Brava”, antigo alemão “Tango”, dos Transportes Marítimos, tendo-se salvo 30 tripulantes e ignorando-se o paradeiro dos 20 restantes.
Este vapor, que era comandado pelo Sr. Domingos Rocha, saíra de Leixões em 20 de Julho para Bordéus, com um importante carregamento de vinhos e, em seguida a 28 do passado mês para Cardiff, com um carregamento de toros de pinheiro, tendo previsto trazer deste porto um lote de carvão para Lisboa.
O valor deste navio, que fora construído em Hamburgo, em 1893, era de 83.680 libras; tinha 98,26 metros de comprimento, 12,26 metros de largura e 8,28 metros de pontal. A sua tonelagem bruta era de 3.184 e liquida de 2.050, tendo capacidade para 4.485 toneladas de carga.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 4 de Setembro de 1918).

Tripulantes desaparecidos do vapor “Brava”
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Encontram-se desaparecidos os seguintes tripulantes deste vapor:
Armando Augusto Adriano, 3º piloto; Emílio Teixeira Lacerda, 3º maquinista; João Alexandre, moço; Jaime Pires Tavares, moço; António Augusto, padeiro; Jorge Joaquim, cozinheiro; Brooklim Abreu, criado; Inácio dos Santos, criado; Manuel Ferreira, aceitador; Manuel Nunes de Castro. fogueiro; Manuel Nascimento Lima, fogueiro; Pedro da Costa Breda, chegador; Joaquim de Sousa, chegador; Francisco da Silva Zimbarra, artilheiro e Abel da Costa, também artilheiro.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 5 de Setembro de 1918).

Tripulantes do vapor “Brava” chegaram a Lisboa
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Desembarcaram no passado dia 2 em Lisboa os sobreviventes do vapor “Brava”, após viagem com escala por França e Espanha.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 3 de Outubro de 1918).

Os náufragos do vapor “Brava”
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Chegaram a Lisboa os sobreviventes do vapor português “Brava”, torpedeado próximo a Cardiff, com um grande carregamento de toros de pinheiro, destinados ao governo inglês. O “Brava” fazia parte de um comboio de quatro navios: um inglês, um americano e outro norueguês. Dos quatro só o último conseguiu escapar. Um torpedo atingiu o “Brava” próximo das caldeiras.
Os tripulantes, que se dizia terem embarcado numa baleeira e cujo paradeiro se ignorava, parece que, infelizmente, morreram ao dar-se a violenta explosão. Dos feridos ainda ficaram hospitalizados em Inglaterra o engenheiro Cabral e o marinheiro Manoel Galante. Os náufragos que conseguiram salvar-se apresentaram-se no Instituto de Socorros a Náufragos, onde lhes foram dados dinheiro e passagens para as terras da sua naturalidade.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 12 de Outubro de 1918).

Vapor “ Brava “
1916 - 1918
Transportes Marítimos do Estado, Lisboa

Imagem aproximada do vapor "Brava"
Desenho de autor desconhecido

Nº Oficial: 397-E - Iic.: N.B.R.A. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Blohm & Voss, Hamburgo, Alemanha, 27.05.1893
ex “Rosario”, Hamburg-Sudamerikanische D.G., 1893-1904
ex “Erich Woermann”, Woermann Linje, Hamburgo, 1904-1907
ex “Togo” Hamburg America Packet, Hamburgo, 1907-1916
Arqueação: Tab 3.183,81 tons - Tal 2.055,58 tons
Dimensões: Pp 96,26 mts - Boca 12,25 mts - Pontal 8,23 mts
Propulsão: Blohm & Voss, 1893 – 1:Te - 3ci - 250 nhp - 10,5 m/h
Equipagem: 50 tripulantes

O vapor “Brava”, de acordo com as notícias acima publicadas, foi atacado pelo submarino U-125, sob o comando do cap. Werner Vater, ao largo de Trevose Head, na Cornualha, no dia 3 de Setembro de 1918. Esta unidade militar alemã manteve-se em actividade, até à rendição do navio e tripulação às autoridades Japonesas, no dia 16 de Novembro de 1918.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Escala turística do dia


O regresso do "Costa Marina"

O navio em referência repetiu nesta terça-feira a visita ao porto de Leixões, tendo atracado no novo terminal de navios de cruzeiros. A presente curiosidade prende-se ao facto dos paquetes da companhia Costa, fazerem apenas uma escala anual neste porto, que habitualmente tinha lugar durante o mês de Setembro.

O "Costa Marina" durante a manobra de saída

Apesar de não se tratar de um dos novos colossos que fazem escala no porto (Tab 25.558t/ Cff174,2mt), já deu para perceber a dificuldade em realizar a manobra de saída do terminal, principalmente quando, como nesta terça-feira, o vento norte soprou rijo com rajadas na ordem dos 60 km/hora. Daí que a segurança do navio obrigou à utilização de reboques, à proa e à ré, situação pouco usual, já que os armadores tentam evitar despesas suplementares a todo o custo.
Por esse motivo, não posso deixar de questionar como será com os tais colossos em situação idêntica! Isto porque fiquei com a impressão que o rebocador de serviço teve dificuldade em movimentar o navio, o que me fez pensar no regresso às manobras do passado i.e. o navio deixar uma ancora a meio da doca, para poder deixar o cais por arrastamento.

domingo, 24 de julho de 2011

História trágico-marítima (XXI)


O afundamento do " Germano "

Vapor de pesca afundado
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Figueira da Foz, 27 - Desembarcou hoje de manhã em Buarcos a tripulação do vapor de pesca “Germano”, da praça de Lisboa, cujo mestre é Lourenço Evaristo Silva. O barco foi ontem atacado e afundado por um submarino inimigo a 30 milhas a oeste do Cabo Mondego.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 29 de Janeiro de 1918).

Torpedeamentos
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O submarino alemão que torpedeou o barco de pesca português “Germano” e cuja tripulação se compunha de 14 homens, que desembarcaram em Buarcos, é um dos maiores tipos conhecidos e excelentemente artilhado. Esse mesmo submarino torpedeou ao norte das Berlengas o vapor de pesca “Serra do Gerez”, cuja tripulação composta de 13 homens, desembarcou na praia da Nazaré.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 29 de Janeiro de 1918).

Torpedeamentos
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Apresentaram-se hoje no ministério da marinha os tripulantes do vapor de pesca “Germano”, torpedeado por um submarino alemão, ao norte do Cabo Mondego, os quais receberam subsídios pecuniários e passagens para a terra da sua naturalidade. Contam eles que os alemães estiveram a bordo do vapor escolhendo linguados, que transportaram para o submarino. O “Germano" trazia 28 toneladas de peixe.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 29 de Janeiro de 1918).

Afundamento do “Germano”
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O vapor “Germano” pertencente à firma Salles & Cª., que foi afundado, estava seguro em 40 contos; mas o prazo do seguro findou hora e meia antes do afundamento, recusando-se agora a Companhia a pagar o prejuízo.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 30 de Janeiro de 1918).

O vapor de pesca “ Germano”
1908 - 1918
Empresa Sales, Lda., Lisboa

Vapor de pesca de arrasto do alto
Arranjo de imagem sobre original de Luís Filipe Silva
Desenho sem correspondência ao texto

Nº Oficial: 452-B - Iic.: H.G.C.K. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: A. Hall & Co., Aberdeen, 1899
ex “Lord Kitchener”, Pickering & Haldanes, Hull, 1899-1908
Arqueação: Tab 235,95 tons - Tal 106,17 tons
Dimensões: Pp 39,80 mts - Boca 6,44 mts - Pontal 3,60 mts
Propulsão: A. Hall, 1899 - 1:Te - 3:Ci - 65 Nhp - 9 m/h
Equipagem: 14 tripulantes

Confirma-se que o afundamento do vapor de pesca “Germano”, foi um dos primeiros vapores a encabeçar a lista de navios destruídos no quarto ano do conflito mundial. Como em casos idênticos, o responsável pelo ataque foi o submarino alemão U-152, do comando do Cap. Constantin Kolbe, na posição Lat. 40.11N e Long. 09.37W, no decorrer do dia 26 de Janeiro de 1918.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

História trágico-marítima (XX)


O naufrágio do lugre " Gaia "

Náufragos do “ Gaia “
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No Ministério dos Negócios Estrangeiros foi recebido o seguinte telegrama, datado de 18 do corrente, do Cônsul de Portugal em Nova York:
«Comunicam de Norfolk que o vapor mercante americano “Santa Cecília”, chegado de Baltimore, encontrou em 27 de Setembro, a cerca de 250 milhas a leste dos Açores, um bote com cinco tripulantes do lugre “Gaia”, pertencente a António dos Santos Sá, do Porto». Os tripulantes são: Manuel São Marcos, João Simões Negócio, António Oliveira Lima, Domingos de Oliveira Lima e Mário Martins Rocha, tendo os demais tripulantes do navio perecido. Domingos Lima foi internado no hospital, visto encontrar-se ferido. Os outros sobreviventes seguiram viagem com destino a Marselha.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 15 de Outubro de 1918).

Lugre “ Gaia “
1916-1918
António dos Santos Sá, Porto


Nº Oficial: A-181 - Iic.: H.G.A.I. - Porto de registo: Porto
Cttor.: Manuel G. Amaro & Irmão, Azurara, 05.02.1916
Arqueação: Tab 277,57 tons - Tal 198,90 tons
Dimensões: Pp 42,00 mts - Boca 9,54 mts - Pontal 3,38 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 11 tripulantes
Capitães embarcados: José de São Marcos (1916 a 1918)

O lugre “Gaia”, que em anos anteriores terá participado nas campanhas à pesca do bacalhau, com uma equipagem de 45 tripulantes e pescadores, foi afundado ao largo dos Açores pelo submarino alemão U-157, da responsabilidade do capitão Ortwin Rave, quando em viagem do Porto (rio Douro) para Belém do Pará, no Brasil, a 22 de Setembro de 1918. Em resultado do ataque do submarino atrás referido, foram contabilizadas 6 vitimas mortais, uma das quais pode ter sido o próprio capitão do lugre, José de São Marcos, não identificado na relação de sobreviventes.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Pesca do bacalhau - A nau "Esperança"


A pesca na período medieval

Quantas vezes me interrogo sobre que tipo de gente seria esta, que no século XVI e muito provavelmente desde o século XIII ou XIV, se aventurava a navegar desde os pequenos portos e embocaduras dos rios nacionais, até à longínqua Terra Nova, para pescar bacalhau?
Quem seriam os indigitados representantes dos mercadores marítimos e pescadores das cidades e vilas marítimas do norte de Portugal, que no dia 20 de Outubro de 1353, assinaram o tratado (licenciamento) de pesca com o rei Eduardo III de Inglaterra?
Que gente pescava, preparava e secava o peixe, desde os reinados Afonsinos e depois os exportava, novamente pelo mar, para Espanha e portos levantinos, em considerável quantidade?
Quanto da nossa história marítima há para corrigir e dar valor e crédito a quem merece? E quanto mais tempo vamos precisar, para chegarmos mais perto da verdade?

Com um pouco de sorte, as notícias aparecem e espelham uma realidade bem diferente da história que nos foi ensinada! Quanta documentação existe sobre a pesca do bacalhau, a necessitar de pesquisa e divulgação?
Por estes e outros motivos, continuo a afirmar que a pesca do bacalhau a norte, já era merecedora dum tratamento e pesquisa à dimensão das navegações e descobertas quinhentistas. Tenha eu tempo e condições, que me permitam alargar o conhecimento dos factos, tais como a notícia de 1580, que abaixo transcrevo com o seguinte teor:

Cópia transcrita (sic) - Arquivo Distrital do Porto

terça-feira, 12 de julho de 2011

História trágico-marítima (XIX)


Episódios de guerra
(continuação)

Náufragos do rebocador “Villa Franca”
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Estiveram ontem presentes no Instituto de Socorros a Náufragos, em Lisboa, os tripulantes do rebocador “Villa Franca” e os do batelão que este rebocava. Receberam subsídios e guias para se transportarem até às terras da sua naturalidade.
(In jornal “O comércio do Porto”, de 6 de Setembro de 1918).

Como quase sempre aconteceu neste e noutros casos, o rebocador “Villa Franca” e a fragata “Lloyd” foram apanhados na hora certa, no local errado. Em patrulha ao longo da nossa costa, o cap. Hinrich Hermann Hashagen, a bordo do submarino U-22, que horas antes havia afundado a chalupa “Santa Maria”, não desperdiçou a oportunidade de fazer uma dupla vitima, afundando igualmente as duas unidades, quando estas se encontravam em viagem de transito de Lisboa para Setúbal.

O rebocador “ Villa Franca “
?-1918
Companhia Marítima e Fluvial de Transportes, Lisboa

Nº Oficial: 457-C - Iic.: H.V.I.L. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Desconhecido, Holanda, 1912
Arqueação: Tab 41,86 tons - Tal 5,15 tons
Dimensões: Pp 18,12 mtrs - Boca 4,02 mtrs - Pontal 1,80 mtrs
Propulsão: Holanda, 1912 - 1:Di - 100 Nhp
Equipagem: 5 tripulantes

Não disponho de elementos relativos à fragata “Lloyd”, pelo que presumo pudesse pertencer a alguma empresa de navegação estrangeira, com armamento no porto de Lisboa.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

História trágico-marítima (XVIII)


Episódios de guerra
(continuação)

Referi recentemente a inexistência de dados oficiais, relativos aos ataques de submarinos a navios portugueses no decorrer do ano de 1918. A única excepção que conheço, indiscutivelmente digna dos maiores elogios, é o livro do jornalista Costa Júnior, editado pela Editora Marítima-Colonial, de Lisboa, em 1944. Apesar do assunto ser tratado algo superficialmente, faz constar na parte final uma pequena lista de actos de guerra ocorridos entre 1916 a 1918. A importância do livro prende-se à apresentação do resultado de uma dezena de entrevistas a sobreviventes de naufrágios, que se disponibilizaram a recordar algumas dessas histórias, plenas de sofrimento e coragem.
À distancia de quase 100 anos, se por um lado é impossível continuar a resgatar essas memórias, a informação globalizada pela internet faculta a descoberta de elementos, até à poucos anos desconhecida. Lembra-nos por exemplo que nem só os submarinos alemães foram o carrasco de um considerável número de navios, uns mais antigos, outros mais recentes, que outrora foram o orgulho da imensa lista de navios germânicos. Sabe-se hoje que de igual modo passaram e fizeram estragos ao largo da nossa costa, submarinos ingleses, italianos e austríacos.
È pois com esse pensamento, que tenho vindo a recuperar alguns desses factos, todos eles relacionados com a Iª Grande Guerra Mundial, já que a lista de 1918 é longa, abrangendo praticamente todos os tipos de navios, que o país dispunha nesse ano; da Armada (1), do comércio (28), da pesca costeira e longínqua (12) e ainda 1 rebocador e o batelão que o seguia a reboque, que a pouco e pouco espero poder divulgar neste blog.

A próxima escolha recai sobre o ataque à chalupa “Santa Maria”, pela singularidade dum tratamento muito pouco habitual, conforme o relato dos seus tripulantes. O inesperado acto de humanidade e cavalheirismo então participado às autoridades, recai sobre o oficial Hinrich Hermann Hashagen, capitão do submarino U-22, a 4 de Setembro de 1918, no litoral próximo a Peniche.

Náufragos da chalupa “Santa Maria”
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Os tripulantes da chalupa “Santa Maria” apresentaram-se na Delegação Marítima de Peniche, onde participaram o afundamento do seu navio por um submarino alemão. Embarcados na baleeira de bordo, foram rebocados pelo mesmo submarino, que dizem ser enorme, até próximo duma chalupa de pesca.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 6 de Setembro de 1918).

A chalupa “ Santa Maria “
19??-1918
João P. Leite, Lisboa

Nº Oficial: 437-C - Iic.: H.S.M.B. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Desconhecido, Kérity, Bretanha, França, 1910
Arqueação: Tab 55,76 tons - Tal 5,80 tons
Dimensões: Pp 15,70 mtrs - Boca 5,80 mtrs - Pontal 2,75 mtrs
Propulsão: À vela
Equipagem: 4 tripulantes

sábado, 9 de julho de 2011

História trágico-marítima (XVII)


Ataque de submarino próximo a Esposende

Lembro-me de ter havido, vai para 4 anos, um discussão acalorada sobre o naufrágio do lugre -patacho “Venturoso”, tendo permanecido dúvidas, que a informação disponível nessa época dificultava a cabal compreensão dos factos. Porque a procura favorece o conhecimento, foi com alguma surpresa que deparei com os textos abaixo publicados, cujo teor se explica por si, como segue:

Em substituição da notícia que tínhamos para publicar acerca dos afundamentos de três navios, nas alturas de Esposende, lamentavelmente amputada, damos em seguida o texto publicado pelo “Diário de Noticias”, de Lisboa e que escapou à censura.

«Nota oficiosa - Foram afundados ante-ontem de tarde, na costa norte, por submarinos inimigos, o vapor norueguês “Lockshy”, o iate português “Bertha” e o lugre português “Venturoso”, tendo sido salvas as tripulações, que seguiram para o Porto».

Segundo um telegrama de Esposende, sabe-se que ante-ontem pelas 4 horas da tarde se deram 3 tiros de peça de vapor à vista e em perigo, saindo imediatamente o salva-vidas da Póvoa de Varzim em seu socorro. Era o vapor norueguês “Lockshy”, que tinha sido torpedeado por um submarino inimigo a 12 milhas de Esposende, que vinha com carvão de Liverpool para Gibraltar. Foi afundado com 4 bombas, às 6 e meia da tarde, tendo-se salvo a tripulação composta de 23 homens e todas as bagagens e instrumentos de bordo. A seguir foi afundado o lugre português “Venturoso” com carregamento de vinhos para Bordéus, sendo salvos os 11 homens da tripulação e respectivas bagagens e o iate “Bertha” da praça do Porto, pertencente à firma Castro, que ia para Bordéus, sendo salvos os 8 homens que o tripulavam e as bagagens, recolhendo os oficiais ao hotel e as tripulações à hospedaria, onde comeram e pernoitaram, tendo partido na manhã seguinte de comboio para o Porto, estando todos bem.

Esposende, 28 – Desde o meio dia que se tem ouvido um prolongado bombardeamento no mar, supondo-se que se trata do ataque de um submarino a duas embarcações que foram vistas da estação de socorros a náufragos. A tripulação das mesmas embarcações parece seguir para a Póvoa de Varzim, rebocadas por lanchas de pescadores da mesma praia.

Póvoa de Varzim, 28 – Trazidos por heróicos pescadores poveiros chegaram agora aqui as tripulações de dois vapores e um navio bombardeados por um submarino alemão nas alturas de Esposende. Foram recebidos carinhosamente pelo povo povoense.

Vila do Conde, 28 – Hoje, às 2 horas da tarde, foram torpedeados próximo a Esposende o lugre “Venturoso”, o iate “Bertha”, da praça de Lisboa e um vapor norueguês. As tripulações, todas salvas, foram recolhidas no posto de socorros a náufragos da Póvoa de Varzim.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 29 de Julho de 1917)

Achados no mar
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Viana do Castelo, 29 - O barco de pesca de João Gavinho encontrou ontem, a légua e meia a oeste da barra de Viana, dois escaleres, tendo um deles, na popa, a tinta branca - “Locksley - Trondheim” e uma bóia salva-vidas com a mesma inscrição.
O barco de Manoel de Castro encontrou uma jangada, composta de doze câmaras de ar, de zinco. Escaleres e jangada estão na doca dos barcos.

Viana do Castelo, 30 - Além do achado pelos pescadores, de escaleres e jangada, há mais um bote em perfeito estado de conservação, com o letreiro “Locksley - Trondheim”, encontrado por pescadores de Anha, bem como alguns barris vazios.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 31 de Julho de 1917)

Relativamente às noticias publicadas, apurei com alguma facilidade que o ousado ataque aos três navios, por se encontrarem relativamente próximo da costa, foi da responsabilidade do cap. Erwin Wassner, comandante do submarino alemão U-69, no dia 26 de Julho de 1917. Sendo uma unidade do tipo U-66, o U-69 foi construído no estaleiro Germaniawerft, em Kiel, tendo entrado ao serviço a 4 de Setembro de 1915. Durante as 6 campanhas em que participou, de 4 de Março de 1916 até finais de Julho de 1917, afundou 31 navios e danificou um outro dos países aliados. Foi nessa altura tido como perda total, quando em viagem para a estação de control ao largo da Irlanda, sendo os seus 40 tripulantes considerados mortos/ desaparecidos.

Quanto aos navios afundados, cujas tripulações foram salvas pelo salva-vidas “Cego do Maio”, da Póvoa de Varzim, limitei-me a conseguir alguns elementos relativos ao navio norueguês, afundado na posição 41º23’N 08º51’W, quando em viagem de Liverpool para Gibraltar, carregado com carvão, seguindo-se as características mais detalhadas, de ambos os navios nacionais.

Vapor “ Locksley “
1913-1917
Det Selmerske Rederi, Trondheim, Noruega

Construtor: Tyne Iron Shipbuiding Co. Ltd., Newcastle, 10.1903
ex “Alumwell”, Northern Steam Shipping, Newcastle, 1903-1917
Arqueação: Tab 2.506,00 tons
Dimensões: Pp 95,40 mtrs - Boca 13,70 mtrs
Propulsão: 1 motor de tripla-expansão
Equipagem: 23 tripulantes

Lugre-patacho “ Venturoso “
1915-1917
Manuel P. Serrão e outros, Lisboa

Nº Oficial: 440-C - Iic.: H.G.T.V. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Johnson, Bideford, Inglaterra, 11.1871
ex “Aretas”, The Dennery Co. Ltd., Londres, 1871-1911
ex “Aretas”, Luiz da Naya e Silva, Porto, 1911-1913
ex “Silva”, Luiz da Naya e Silva, Aveiro, 1913-1915
Arqueação: Tab 290,53 tons - Tal 276,00 tons
Dimensões: Pp 38,35 mtrs - Boca 7,88 mtrs - Pontal 4,58 mtrs
Propulsão: À vela
Equipagem: 11 tripulantes

Iate “ Bertha “
1917-1917
Firma Castro?, Lisboa

Nº Oficial: A-188 - Iic.: H.B.E..T. - Porto de registo: Lisboa
Cttr.: José Martins de Araújo Jr., Vila do Conde, 14.07.1904
ex “Américo Faria”, Américo de Souza Faria, Porto, 1904-1907
ex “Américo Faria”, José de Souza Faria, Porto, 1907-1917

Publicidade relativa às viagens do iate "Américo Faria"

Arqueação: Tab 107,00 tons - Tal 101,65 tons
Dimensões: Pp 26,52 mtrs - Boca 7,20 mtrs - Pontal 2,57 mtrs
Propulsão: À vela
Equipagem: 8 tripulantes

Ambos os navios navegavam com destino a Bordéus, França.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

História trágico-marítima (XVI)


O ataque ao lugre " Lima "

Estiveram presentes no Instituto de Socorros a Náufragos, em Lisboa, os cinco sobreviventes do lugre “Lima”, naufragado no Canal da Mancha, quando em viagem de Lisboa para Dover, com um carregamento de vinho do Porto. Registaram-se cinco mortos no naufrágio.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 12 de Outubro de 1918)

Imagem sem correspondência ao texto

Por muito interessante que possa parecer, ao contrário dos anos de 1916 e 1917, em que os navios naufragados estão perfeitamente identificados, quer fosse por acidente ou por motivo de ataque inimigo, não existe qualquer lista oficial relativa ao ano de 1918, onde se encontrem essas mesmas informações.

Quanto ao lugre “Lima”, naufragado em data próxima ao armistício, que conduziu ao final da Iª Grande Guerra Mundial, terá eventualmente sido mais uma vitima dos ataques levados a cabo pelos submarinos. Porque este ataque aumenta o caudal de mortes nas tripulações nacionais, a notícia foi por motivos óbvios camuflada pela censura militar.

Lugre construído em madeira “ Lima “
??-1918
Morais, Lda., Lisboa

Nº Oficial: H60-C - Iic.: H.L.M.P. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Não identificado, Baltimore, E.U.A., 1889
Arqueação: Tab 669,76 tons - Tal 611,19 tons
Dimensões: Pp 53,50 mts - Boca 10,16 mts - Pontal 5,24 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 10 tripulantes

sábado, 2 de julho de 2011

Pesca do bacalhau - O lugre "Júlia Quarto "


No mar
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Temporal - Morte e ferimentos - Avarias

Vindo dos bancos da Terra Nova, da pesca do bacalhau, com 18 dias de viagem, entrou anteontem no porto de Leixões o lugre português “Júlia IV”, propriedade da Companhia de Pesca Atlântica, da Figueira da Foz.
Na noite de 4 para 5 do corrente o “Júlia 4º”, pelas alturas da Ilha de S. Miguel, apanhou um violento temporal, levando-lhe o mar o tripulante Ramiro Bola, da praia da Nazaré, que não pode ser salvo, apesar dos esforços empregados pela tripulação.
Na ocasião foi também arremessado à distancia o marítimo José Maria Morranga, de 33 anos, casado, também da praia da Nazaré, primo do Bola, que o mar levara e que ficara com a clavícula esquerda fracturada e muito contuso pelo corpo.
Este ferido veio ontem de Leixões para o hospital da Misericórdia, recolhendo à enfermaria nº 2, tendo-lhe prestado os primeiros socorros o sr. Dr. Arnaldo Mendes.
O “Júlia 4º” sofreu graves avarias a bordo. Outras embarcações, também procedentes da pesca do bacalhau, apanharam o temporal, tendo algumas igualmente sofrido avarias.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 13 de Outubro de 1918).

O lugre “ Júlia IV “ ou “ Júlia Quarto “
1914 - 1949
Companhia de Pesca Atlântica, Figueira da Foz

O lugre "Júlia Quarto" a navegar
Foto de autor desconhecido, eventualmente do arquivo do MMI

Nº Oficial: 436-C - Iic.: H.J.L.B. - Registo: Lisboa, 1915
Construtor: António Maria Bolais Mónica, F. Foz, 04.10.1914
Arqueação: Tab 220,66 tons - Tal 165,44 tons
Dimensões: Pp 38,56 mts - Boca 8,83 mts - Pontal 3,47 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 40 tripulantes
Capitães embarcados: Fernando Mathias Lau (1915), Manoel Tavares Pinto (1916), Gustavo Peixe (1917), José Thomé Rosa (1918), José Augusto Ramos (1919 a 1928 ) e Manuel Fernandes Mathias (1929 e 1930).

Nº Oficial: 436-C - Iic.: C.S.H.A. - Registo: Lisboa, 1934
Arqueação: Tab 256,69 tons - Tal 193,54 tons
Dimensões: Pp 37,58 mts - Boca 8,84 mts - Pontal 3,82 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 42 tripulantes
Capitães embarcados: João de Deus (1934), Manuel Francisco Chula (1935 e 1936)

Alterou o nome para “ Júlia Quarto “ em 1937
Nº Oficial: G-377 - Iic.: C.S.H.A. - Registo: Lisboa, 1939
Construtor: António Maria Bolais Mónica, F. Foz, 04.10.1914
Arqueação: Tab 260,06 tons - Tal 183,59 tons
Dim.: Ff 42,80 mts - Pp 38,21 mts - Bc 8,84 mts - Ptl 3,82 mts
Propulsão: Skandia, 1937 - 1:Sd - 2:Ci - 130 Bhp - 7 m/h
Equipagem: 40 tripulantes
Capitães embarcados: Francisco A. Bichão (1937 a 1940), António Marques (1941 a 1945), João Fernandes Parracho (1946 a 1948) e José Gonçalves da Silva (1949).

O “Júlia IV” foi um lugre de 3 mastros, construído com madeira de pinho e de carvalho, cujo preço orçou em Esc 18.000$00. Tinha proa de beque, popa redonda e convés com salto à ré. A carena estava forrada com latão.
Em 1929 o lugre mais os dóris foram avaliados em Esc. 309.500$00, tendo navegado com 43 tripulantes e utilizado 39 canoas. Para essa campanha foram disponibilizadas 185 linhas com anzóis, adquiridas por Esc. 3.700$00. No período entre 1928 a 1934, teve no ano de 1932, navegando com 36 tripulantes e dispondo de 34 canoas, a melhor campanha, com capturas na ordem das 207 toneladas, o que equivale a cerca de 3.450 quintais de bacalhau, que resultaram num valor comercializado muito próximo a Esc. 415.000$00. Só mais recentemente, por volta de 1946 viu alterado o No. Oficial para "LX-5-N", com o qual navegou até à data do naufrágio, motivado por incêndio, quando se encontrava em plena actividade piscatória no Virgin Rocks, Terra Nova, a 1 de Agosto de 1949.