sábado, 22 de dezembro de 2018

Natal 2018


Boas Festas
Season Greetings


sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

História trágico-marítima (CCCI)


O naufrágio do lugre “Maria Joana”

Garrou o lugre “Maria Joana”, salvando-se a tripulação (1)
No Ministério da Marinha foi recebido hoje (18 de Outubro), um rádio de Angra do Heroísmo comunicando que o lugre “Maria Joana”, da praça de Lisboa, que se encontrava ancorado na Praia da Vitória, garrou debaixo de mau tempo, dando à costa.

Desenho de navio do tipo lugre, sem correspondência ao texto

Características do lugre “Maria Joana”
1930 - 1933
Armador: Bastos & Labrincha, Lda., Lisboa
Nº Oficial: 402-S - Iic: H.M.J.A. – Porto de matrícula: Lisboa
Construtor: João Roque, S. Martinho do Porto, 1922
ex “Sirius”, Sociedade Continental de Pesca, Lisboa
Arqueação: Tab 281,59 tons – Tal 233,77 tons
Dimensões: Pp 40,75 mts – Boca 9,14 mts – Pontal 3,63 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 10 tripulantes

A tripulação foi toda salva, abandonando o navio já com grande risco.

Notícia publicada no jornal “Comércio do Porto”, em:
(1) Quinta-feira, 19 de Outubro de 1933

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

História trágico-marítima (CCC)


O naufrágio do iate "Maria Alice Primeira", em Viana do Castelo

Naufragou, ao entrar a barra, o iate “Maria Alice Primeira”
Como se deu o naufrágio – Salvamento dos tripulantes
Viana do Castelo, 31 – Quando hoje, pela meia hora da tarde, o iate “Maria Alice Primeira” transpunha a barra do porto, uma volta de mar fê-lo desgovernar, indo encalhar junto ao cais da praia do Cabedelo.
Dado sinal de alarme, saiu o barco salva-vidas, bem como alguns barcos da Ribeira, cujas tripulações empregaram todos os esforços para salvarem a tripulação do navio encalhado, que devido à má posição e ao local onde se encontrava a fazia perigar. Devido, porém, à agitação do mar, não conseguiram atracar ao navio.
De bordo foi lançada uma retenida para o salva-vidas, sendo assim salva a tripulação, composta de sete homens, incluindo o mestre.
Eis como se deu o naufrágio: O “Maria Alice Primeira” pairava fora da barra, que, com o “Elvira Covão”, aguardava ocasião de a transpôr. O mar estava um tanto agitado, mas o barco dos pilotos saiu, e, em lugar seguro, fez sinais ao navio, que obedecia. Porém, ao passar na direcção do Bugio, a popa bateu no fundo, dando origem a que a proa, com a violência das vagas, mudasse de posição, sendo arrastado para terra e indo de encontro às pedras que existem próximo do cais do Cabedelo, de onde não sairá mais senão desfeito.
O “Maria Alice Primeira” era um navio elegante, de 117 toneladas, e pertencia à praça de Lisboa. Saíra de Setúbal em 23 do corrente mês, com cimento, consignado à firma Magalhães, Filhos, de Viana. Arribou a Peniche no dia 26, e no dia 29 fez rumo a Viana, onde o esperava tão trágico fim! Considera-se perdido.
A sua tripulação era composta por António Cadilha, mestre já experimentado em bastantes naufrágios; é filho do valente marinheiro Manuel Cadilha, lobo do mar que muitas vidas salvou e que um volvo fez sucumbir há muitos anos; Sebastião de Sousa, contra-mestre; José Pereira, José Maria, Manuel O. Iglésias e João de Sousa, marinheiros, e Dioclécio de Castro Lomba, moço, todos de Viana do Castelo.
Os haveres dos náufragos foram salvos por um barco tripulado por pilotos da barra e alguns pescadores. Ao cais acorreram centenas de pessoas para presenciar o naufrágio.
Um dos náufragos, em virtude de se ter tomado do frio, foi conduzido ao posto de vigia, recebendo ali o tratamento, que lhe foi ministrado pelo enfermeiro Bernardo Cruz. Os bombeiros também compareceram.
O rebocador existente em Viana, se não estivesse fechado na doca, poderia ter prestado bons serviços. É de toda a conveniência conservá-lo fora da doca, quando o mar estiver como hoje.

Desenho de navio do tipo iate, sem correspondência ao texto

Características do iate “Maria Alice Primeira”
1932 - 1934
Armador: Sociedade Além-Mar, Lda., Lisboa
Nº Oficial: A-300 - Iic: H.M.L.P. - Porto de matrícula: Lisboa
Construtor: Não identificado, Aveiro, 1918
ex “Adelaide II”, Junceiro, Nestório, Pereira & Cª., F. Foz, 1918-1921
ex “Estrela do Mar”, Luiz Moço & Cª., Figueira da Foz, 1921-1928
ex “Maria Alice 1º”, Joaquim António Rodrigues, F. Foz, 1928-1932
Arqueação: Tab 116,71 tons - Tal 95,79 tons
Dimensões: Pp 25,68 mts - Boca 7,25 mts - Pontal 3,28 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 7 tripulantes

Ainda o naufrágio do iate “Maria Alice Primeira”
Viana do Castelo, 2 – O iate “Maria Alice Primeira” que ante-ontem naufragou na ponta do cais da Tornada, ainda se conserva na mesma posição. O mar que ante-ontem estava bastante agitado, galgava o casco do navio de bombordo a estibordo, arrebatando-lhe a gaiuta, cozinha e anteparas.
Os mastros ainda se conservam ao alto e assim se conservarão se o cimento se o cimento, que está no porão se solidificar. Se tal suceder, terão de ser picados.
É de crer que esta circunstância acarrete entraves à construção do cais, pois será difícil a destruição do bloco que o cimento formará. O iate naufragou por lhe ter faltado o vento. Foi por esse motivo que as vagas o encarreiraram para a Tornada.
Dizem que o rebocador que existe em Viana, quando o mar está agitado, devia permanecer ancorado no rio e nunca fechado na doca. Se estivesse no rio, logo que o navio navegasse para a barra teria saído e dar-lhe-ia reboque.
Dizem também, que o gasolina dos pilotos também estava na doca e na ocasião em que o “Maria Alice Primeira” vinha para a barra as portas da doca não podiam ser abertas por causa da ondulação.
O navio e a carga estão no seguro.

O naufrágio do “Maria Alice Primeira”
O iate “Maria Alice Primeira” continua no mesmo local onde naufragou. Começaram os trabalhos de salvamento de velas e outros utensílios de bordo. O navio naquele ponto após solidificado o cimento que tem no porão, há de ser um escolho a dificultar a entrada aos navios de vela.

O naufrágio do “Maria Alice Primeira”
Caíram ontem os mastros do iate “Maria Alice Primeira”, naufragado na ponta do cais da Tornada. Parte do casco desfez-se com a violência do mar. Se o cimento que vinha em sacos assentou no fundo, é um bloco que ali fica e que muito dificultará a continuação das obras.

Noticias publicadas no jornal “Comércio do Porto”, em:
(1) Domingo, 1 de Abril de 1934; (2) terça-feira, 3 de Abril de 1934; (3) quinta-feira, 5 de Abril de 1934; e sábado, 7 de Abril de 1934

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

História trágico-marítima (CCIXC)


Ocorrência marítima

O incêndio a bordo do vapor “Lobito” (1)
Leixões, 5 – Ontem, cerca das 15 horas, manifestou-se a bordo do vapor “Lobito”, da Companhia Colonial de Navegação, surto em Leixões, um pequeno incêndio no convés, que originou um grande pânico entre os estivadores, que se encontravam ali a trabalhar.
Alguns mais receosos chegaram mesmo a deitar-se ao mar e a procurar abrigo nas lanchas e barcos que rodeavam aquele vapor.
Entretanto, o pessoal de bordo, com toda a calma, tratou de com o auxílio das bombas extinguir o fogo, que começava a alastrar-se. Os seus esforços foram, porém, coroados do maior êxito, visto que o incêndio dentro em breve estava apagado.
Em Leixões, e chamados por alguns populares que de terra avistaram o fumo, compareceram com material, equipas das corporações de bombeiros locais, que não chegaram a trabalhar.
Os prejuízos são insignificantes.

Foto do vapor "Lobito" em Leixões
Imagem Fotomar - Minha colecção

Características do vapor “Lobito”
1924 - 1950
Armador: Companhia Colonial de Navegação, Lisboa
Nº Oficial: 718-B - Iic: L.D.G.M. - Porto de matrícula: Luanda
Construtor: Eiderwerft A.G., Tonning, Alemanha, Maio, 1906
ex “Porto Alexandre”, Transp. Marítimos do Estado, 1916-1924
ex “Ingbert”, Hamburg-Bremer Linie A.G., Hamburgo, 1907/1916
ex “Thora Menzell”, Chinesische Kst. Menzell A.G., 1906/1907
Arqueação: Tab 2.719,97 tons - Tal 1.663,46 tons
Dimensões: Pp 89,95 mts - Boca 13,38 mts - Pontal 7,44 mts
Propulsão: Eiderwerft A.G. - 1:Te - 3:Ci - 197 Nhp

O incêndio a bordo do vapor “Lobito” (2)
O comandante do vapor “Lobito”, navio que esteve com incêndio a bordo, muito gentilmente esclareceu a ocorrência:
- O incidente deu-se entre os tambores de gasolina que estavam no convés, presumindo-se que tivesse sido atirada para ali qualquer ponta de cigarro, que inflamou um qualquer pequeno derrame que lá houvesse. No entanto, com um pouco de água dum balde atirada sobre o local, por um tripulante do vapor, foi imediatamente extinto o fogo, sem consequências, nem tendo sequer sido necessária a intervenção dos bombeiros.

Noticias publicadas no jornal “Comércio do Porto”, em:
(1) Quarta-feira, 6 de Dezembro de 1933; e (2) quinta-feira, 7 de Dezembro de 1933

domingo, 16 de dezembro de 2018

História trágico-marítima (CCXVIIIC)


Ocorrência marítima

Iate desarvorado (1)
Ontem, cerca das 11 horas da manhã, quando palhabote-motor “Adelaide Terceiro” navegava à vela, a cerca de 10 milhas a Sudoeste de Espinho, devido ao forte vento de Sudoeste e a uma grande vaga de través que apanhou, partiram-se lhes os mastros, motivo porque ficou completamente desarvorado.
Conhecido este incidente por intermédio do Posto Semafórico da Luz, as autoridades marítimas trataram logo de providenciar auxílio, seguindo para o local o rebocador “Lusitânia” e a lancha-motor dos pilotos de Leixões, tendo esta última, por motivo do mestre ter recusado o rebocador, passado um cabo de reboque ao navio, conduzindo-o para Leixões, onde entrou cerca das 15 horas.

Desenho de navio do tipo palhabote, sem correspondência ao texto

Características do palhabote-motor “Adelaide Terceiro”
Armador: Sociedade Ferreira & Cª., Figueira da Foz
Nº Oficial: B-256 - Iic: H.A.D.T. - Porto de registo: Figueira da Foz
Construtor: Jeremias Martins Novais, Vila do Conde, Maio de 1919
ex “Adelaide III”, Lopes, Pereira & Cª., Figueira da Foz, 1919-1924
Arqueação: Tab 81,01 tons - Tal 61,68 tons
Dimensões: Pp 25,60 mts - Boca 6,65 mts - Pontal 2,52 mts
Propulsão: 1 motor semi-diesel - 50 Bhp
Equipagem: 7 tripulantes

Este sinistro, que devido à sua gravidade poderia ter causado algumas mortes, como algumas vezes tem acontecido, desta vez, felizmente, só deu motivo a registar alguns prejuízos materiais, atendendo a que a respectiva mastreação caiu para o mar e não no convés do navio, como tantas vezes tem acontecido.
O “Adelaide Terceiro” vinha procedente de Setúbal, com 15 dias de viagem, tendo sido obrigado, logo após a saída daquele porto, a arribar a Lisboa. Tem um motor que o auxilia nas viagens e nas entradas das barras, mas, desta vez, parece que não funcionou.
É mestre deste palhabote o Sr. Manuel de Sousa, conduzindo a bordo mais 6 tripulantes. Transporta um carregamento de sal para descarregar em Leixões.

Notícia publicada no jornal “Comércio do Porto”, em:
(1) Domingo, 4 de Dezembro de 1932

sábado, 15 de dezembro de 2018

Divulgação!


Conferência do Seminário do Mar
Evolução da Aquacultura em Portugal nos Últimos 20 Anos


sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

História trágico-marítima (CCXVIIC)


O encalhe do navio "Rabat", no rio Douro

Vapor alemão em risco, à saída da barra do rio Douro (1)
Ontem, cerca das 10 horas da manhã, quando o vapor alemão “Rabat” saía a barra, ao passar em frente ao cais da Meia-Laranja, desgovernou para estibordo, sendo obrigado a largar um ferro, não obstando a que o vapor fosse bater violentamente nas pedras do enrocamento do referido cais, ficando encalhado de proa. Minutos depois, acorrentado pela corrente da água do rio, atravessou-se completamente no canal, ficando assim também encalhado de popa na restinga do Cabedelo, que, devido às más condições em que actualmente se encontra, tornou este lugar num verdadeiro funil.
Dado o alarme compareceram, imediatamente as lanchas-motor dos pilotos da barra, os rebocadores “Neiva”, “Aguila”, “Mars 2º”, “Deodato”, “Tritão”, e o salva-vidas da Afurada, a fim de prestarem os seus serviços. Ao mesmo tempo, os pilotos trataram de passar de bordo do “Rabat”, três cabos de arame para a terra, um da popa e dois da proa, que foram amarrados aos peoris que estão no cais, a fim de aguentarem melhor o navio, ao mesmo tempo que os puxavam de bordo, para ver se conseguiam retirá-lo da situação em que estava.
Meia hora depois, como esta experiência não desse o resultado previsto, foi dada ordem ao rebocador “Tritão” para passar uma amarreta para bordo, o que fez, puxando-o pela popa, facto este que deu em resultado o “Rabat” desencalhar da proa, depois do que, auxiliado pela corrente do rio, desencalhou, também de popa.
Descaindo um pouco pela corrente de água, e suspendendo o ferro que antes tinha largado, conseguiu endireitar novamente para o canal, seguindo para o fundeadouro, no Cavaco. É de supor que tivesse sofrido grossas avarias no casco.
Os serviços de manobras para o salvamento do vapor foram dirigidas pelo piloto-mor da barra, e pelo cabo de pilotos Alexandre Meireles, que se encontrava na lancha-motor nº4, coadjuvados por outros pilotos. No cais compareceram os agentes, e o patrão-mor da Capitania do porto, que de terra dirigiram alguns dos trabalhos. A multidão era contida à distancia pela polícia da esquadra da Foz.
O vapor “Rabat”, comandado pelo capitão Thaden, entrou no Douro no dia 25, procedente de Roterdão, com carga diversa e 8 passageiros em transito, e destinava-se a Lisboa e Las Palmas.
Quanto aos outros rebocadores, não foram necessários os seus serviços, bem como do salva-vidas da Afurada, tendo apenas feito serviço as lanchas-motor dos pilotos e o rebocador “Tritão”.

Imagem do navio "Rabat" - Bilhete-postal
Minha colecção

Características do vapor alemão “Rabat”
Armador: Oldenburg-Portugiesische D. Reederei, Oldemburgo
Nº Oficial: N/d - Iic: D.N.A.Y. - Porto de registo: Oldemburgo
Construtor: Deutsche Werft A.G., Hamburgo, Alemanha, 1929
Arqueação: Tab 2.719,00 tons - Tal 1.603,00 tons
Dimensões: Pp 86,33 mts - Boca 14,02 mts - Pontal 7,01 mts
Propulsão: Do construtor - 1 motor diesel - 4:Ci

O vapor alemão “Rabat” (2)
Este vapor, que havia encalhado, ante-ontem, à saída da barra, depois de ter sido vistoriado, saiu ontem com destino a Lisboa, onde possivelmente sofrerá na doca as necessárias reparações no casco.
Caso não possa fazer as reparações em Lisboa, o “Rabat” seguirá ao seu destino, sendo então reparadas as avarias no porto de Hamburgo.

Notícias publicadas no jornal “Comércio do Porto”, em:
(1) Sexta-feira, 1 de Abril; e (2) sábado, 2 de Abril de 1932

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

História trágico-marítima (CXXXI)


O encalhe do vapor " Aviz "

À entrada do porto de Leixões o vapor português “Aviz”
bate na ponta do cais do molhe sul, arrombando o casco (1)
Ontem (12 de Março de 1934), às 9 horas e meia da manhã, quando o vapor português “Aviz”, da Companhia Atlântica de Navegação, demandava o porto de Leixões, uma volta de mar impeliu-o de encontro ao cabeço do molhe sul, abrindo água. Atendendo à gravidade do momento, o capitão do vapor “Aviz”, que tinha conseguido vencer a entrada do porto debaixo de grande maresia, dirigiu o vapor em direcção a uma pequena praia existente dentro do porto ao norte, e um pouco por oeste do cais do porto de serviço, onde o encalhou, pois que o “Aviz” se achava já com a popa bastante submersa.
Dado o alarme, compareceram a prestar assistência aos tripulantes, além do barco-motor salva-vidas “Carvalho Araújo”, as lanchas dos pilotos, e, ainda o rebocador “Mars 2º”, que se colocou próximo do vapor, na eventualidade de serem necessários os seus serviços.
Entretanto, de bordo do “Aviz” eram lançados alguns foguetões para terra, que serviram para estabelecer algumas espias para o cais com o fim de melhor o aguentar em posição direita. Mais tarde, estes mesmos serviços foram prestados pelo rebocador “Mars 2º” e pelas lanchas dos pilotos, que também passaram espias ao “Aviz”, tendo o “Mars 2º” puxado algum tempo por ele para lhe endireitar a proa.
Pelas 3 horas da tarde, como mais nada houvesse para fazer a bordo, pois que, dada a sua situação, o “Aviz” se podia considerar perdido, a sua tripulação, composta de 21 homens, incluindo o capitão, sr. Francisco F. Mano abandonou-o, saltando para o salva-vidas “Carvalho Araújo”, que os conduziu para terra, sendo-lhes, prestada a assistência necessária no Posto de Socorros a Náufragos de Leixões.

Imagem do vapor "Aviz" encalhado em Leixões
Foto de autor desconhecido - minha colecção

Caracteristicas do vapor “Aviz”
Armador: Comp. Atlântica de Navegação, Lisboa, 1934-1934
Construtor: Rijkee & Co., Roterdão, Holanda, 1902
ex “Import”, N.v. Rotterdam-London Mij., Roterdão, 1902-1934
Arqueação: Tab 874,10 tons - Tal 532,49 tons
Dimensões: Pp 63,40 mts - Boca 9,21 mts - Pontal 4,00 mts
Propulsão: Fyenoord, Roterdão - 1:Te - 3:Ci - 200 Nhp - 9 m/h
Equipagem: 21 tripulantes

O vapor “Aviz” vinha de Lisboa, com carga diversa para o Porto, estando previsto carregar, para sair com destino a Hamburgo e outras escalas. Era o antigo vapor holandês “Euterpe” (!?), que também fazia carreiras para este porto, sendo comprado pela Companhia Atlântica de Navegação que, primitivamente o batizou com o nome “Porto”, nome com que chegou a Portugal, e que, pouco depois foi alterado para “Aviz”. Era de 897 toneladas, tendo sido construído em 1903.
Este sinistro causou grande alarido em Matosinhos e Leça da Palmeira, em virtude de se recear vitimas, devido às más condições do tempo e mar que fazia na ocasião em que o “Aviz” demandava o porto, o que foi considerado como uma das maiores temeridades e arrojo do seu capitão, tanto mais que na Capitania do porto de Leixões se achava içado o sinal de mau tempo e de porto impraticável. Só à boa sorte se atribui o não haver, vidas a lamentar, o que apraz sempre registar.

A narrativa do sinistro
Logo após ter sido conhecida a notícia do sinistro, correu a Leixões uma multidão numerosa, ansiosa por saber o que se passava. A gente dos bairros piscatórios também ali acorreu em massa.
Entre as pessoas autorizadas que, próximo da muralha, comentavam o sucedido, encontramos o capitão da marinha mercante sr. Copérnico da Rocha, que sobre o sinistro declarou:
- O navio saiu de Lisboa com pouca carga. O mar, sempre mau, o tempo de forte ventania, impossibilitavam o andamento do navio para barlavento. Desta maneira, o navio, caindo sempre, para sotavento, estava no perigo iminente de vir à costa.
Conseguindo ter chegado fora do porto de Leixões, já muito perto da praia, sem que o tempo tivesse amainado, e ainda na perspectiva de piorarem as condições atmosféricas, resolveu o capitão, de comum acordo com os oficiais e principais elementos da equipagem forçarem a entrada no porto, visto ser esta a única maneira viável para a salvação de vidas e, hipoteticamente, do navio. E, assim, sob uma tempestade no mar com muito vento, depois de ordenar todas as manobras necessárias para um perigo desta ordem, o “Aviz” aproou ao porto de Leixões, tendo, depois de haver sofrido violentas voltas de mar, chegado entre molhes. Neste momento, uma vaga violentíssima arremessou-o, fortemente, contra o molhe sul, no qual bateu com a amura de estibordo.
Ainda em situação de perigo iminente em que tudo estava, o capitão, ordenou, imediatamente, mais força na máquina, a fim de conseguir entrar no porto. Nesta altura o homem do leme anunciava ao capitão que o leme não governava, pois, logo no primeiro embate, ficara desmantelado. Com muito esforço, e já depois do navio se ter arreado da popa, ainda o capitão conseguiu encalhá-lo numa praia limpa, onde só as péssimas condições de tempo e mar, não permitirão que se salve.
- Era inevitável o naufrágio?
- Inevitável. O capitão tinha que proceder assim. De outra maneira, o navio batia contra as rochas, e era uma tripulação irremediavelmente perdida. O capitão, homem experimentado, com 22 anos de comando, fez um prodígio. Não perdeu a serenidade nem a coragem. E estas horas difíceis na vida de um marinheiro nem sempre se aguentam. Esses homens devem-lhe a sua vida, porque se o capitão perdesse a serenidade, teríamos a lamentar uma grande tragédia. Foi um bravo, concluiu o entrevistado.
O vapor “Aviz” (2)
Como dito anteriormente o vapor acha-se encalhado na praia, ao molhe norte, depois de ter embatido no molhe sul, devido à enorme agitação do mar. O navio, apesar da protecção do local, está constantemente a ser batido pelas vagas, que ameaçam partir o navio a meio.
Ontem, à tarde, a popa já estava mais mergulhada na água, sendo esta parte do vapor atravessada pelas ondas, que por vezes se elevavam a grande altura.

Desencalhe do vapor português “Aviz” (3)
Ante-ontem, cerca da meia hora da tarde, o vapor salvádego dinamarquês “Valkyrien”, depois de alguns trabalhos, conseguiu pôr a flutuar o vapor “Aviz”, que se achava encalhado, desde o dia 12 de Março findo, sobre um fundo de areia, próximo das pedras do enrocamento do cais do molhe norte, dentro do porto de Leixões.
O vapor “Aviz” ao qual foram tapados, provisóriamente, os rombos que tinha recebido no casco, aguardará em porto a melhor oportunidade para seguir a reboque, para Lisboa, onde irá fazer reparações.

O vapor “Aviz” segue para Lisboa (4)
Rebocado pelo salvádego dinamarquês “Valkyrien”, saiu ontem, às 8 horas e meia da manhã, de Leixões, o vapor “Aviz”, que, tinha encalhado, no dia 12 de Março, sobre um fundo de areia, próximo ao enrocamento do cais do molhe norte, dentro do porto de Leixões.
O vapor “Aviz”, que, depois de várias tentativas feitas pelo “Valkyrien”, foi posto a flutuar no dia 22 de Abril, vai para Lisboa, para lhe serem feitas as reparações necessárias na doca, pois, em Leixões, somente lhe taparam, provisoriamente, os rombos que tinha no casco, quando do seu encalhe, de forma a poderem desencalhá-lo e seguir viagem.
Até aquele porto o “Aviz” vai rebocado pelo vapor salvádego “Valkyrien”, levando a bordo, além do capitão deste último vapor, Sr. Wittrup, alguns dos seus tripulantes.

Informação complementar
Chegado ao Tejo, o navio foi novamente encalhado, tendo as partes interessadas concluído não se justificar repará-lo, devido à gravidade das avarias, pelo que foi vendido para demolir em Lisboa, em 1936.

Notícias publicadas no jornal “Comércio do Porto”, em: (1) Terça-feira, 13 de Março de 1934; (2) quarta-feira, 14 de Março de 1934 (3) terça-feira, 24 de Abril de 1934; e (4) quarta-feira, 4 de Maio de 1934

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

História trágico-marítima (CCXVIC)


Efemérides tripeiras de há quase 75 anos

No rio Douro, encalhou o rebocador “Urano”,
que se safou mais tarde (1)
O rebocador “Urano” da firma A.J. Gonçalves de Moraes, da rua Nova da Alfândega, no Porto, entrou, ontem, pelas 7 horas da manhã a barra do Douro vindo de Lisboa, rebocando a fragata “Aleluia”. Quando seguia rio acima, devido ao denso nevoeiro, encalhou no local denominado «Insua», em frente a Lordelo do Ouro.

Imagem do rebocador "Urano", ancorado no rio Douro
Foto da minha colecção

Características do rebocador “Urano”
Armador: A.J. Gonçalves de Moraes, Lda., Porto
Nº Oficial: A-118 - Iic: C.S.H.V. - Porto de registo: Porto
Construtor: Eduardo de Sousa Júnior, Porto, 1943
Arqueação: Tab 109,63 tons - Tal 34,09 tons
Dimensões: Ff 27,18 mts - Pp 25,05 mts - Bc 5,90 mts - Ptl 3,57 mts
Propulsão: 1 motor compósito - 260 Ihp
Equipagem: 7 tripulantes

Ali se conservou durante o dia, tendo conseguido desencalhar na praia-mar da tarde, cerca das 19 horas, com o esforço da própria máquina e auxílio da enchente, não tendo havido novidade de maior.
Quanto à fragata “Aleluia”, que tinha ficado no meio do rio, foi, depois rebocada pelo “Mercúrio 2º”, da mesma casa, para o seu fundeadouro.

O navio-motor “Secil” encalhou, ontem, em frente
à Cantareira, mas safou-se pouco depois (2)
Ontem, ao fim da tarde, encalhou num banco de areia, em frente à Cantareira, o navio-motor “Secil”, da Companhia Geral de Cal e Cimento Secil, que vinha para o Porto com um carregamento de areia.

Imagem do navio-motor "Secil", a navegar no rio Douro
Foto da minha colecção

Características do navio-motor “Secil”
Armador: Secil - Companhia Geral de Cal e Cimento, Setúbal
Nº Oficial: 502 - Iic: C.S.B.Q. - Porto de registo: Setúbal
Construtor: De Haan & Oerlemans, Heusden, Holanda, 1938
Arqueação: Tab 427,46 tons - Tal 205,56 tons
Dimensões: Ff 46,53 mts - Pp 43,80 mts - Bc 7,84 mts - Ptl 2,86 mts
Propulsão: 1 motor diesel - 7:Ci - 350 Bhp
Equipagem: 12 tripulantes

Aquele navio, que desloca 425 toneladas, conseguiu, todavia, safar-se à custa dos seus próprios recursos.

Noticias publicadas no jornal “Comércio do Porto”, em:
(1) Terça, 7 de Novembro; e (2) quarta, 8 de Novembro de 1944

domingo, 9 de dezembro de 2018

História trágico-marítima (CCXVC)


O naufrágio do vapor "Corretora Iº"

Vapor incendiado (1)
Está perdido o vapor “Corretora Iº”, que ontem se incendiou no Golfo da Biscaia, com um carregamento de gasolina.

Desenho de vapor, sem correspondência ao texto

Características do vapor “Corretora Iº”
1930 - 1931
Armador: Sociedade Corretora, Lda., Ponta Delgada
Nº Oficial: 945 - Iic: H.C.T.P. – Porto de registo: Ponta Delgada
Construtor: Desconhecido, Cristiania, Dinamarca, 1907
Arqueação: Tab 854,07 tons - Tal 491,60 tons
Dimensões: Pp 61,35 mts - Boca 9,90 mts - Pontal 5,40 mts
Propulsão: 1 motor tripla expansão

O incêndio a bordo e o abandono do vapor pela tripulação, ocorreu no dia 30 de Maio de 1931, no golfo da Biscaia, posição 45º4’N 7º55’W. A tripulação salvou-se pelos próprios meios, tendo sido resgatada pelo navio inglês Dunkwa e desembarcada em Ponta Delgada.
Na fase posterior ao abandono do navio, o mesmo foi encontrado à deriva, em muito mau estado, pelo vapor francês “Seine”, que mesmo assim o manteve rebocado até ao dia seguinte, confirmando-se então o afundamento na posição 44º58’N 7º56W.

Notícia publicada no jornal “Comércio do Porto”, em:
(1) Segunda-feira, 1 de Junho de 1931

sábado, 8 de dezembro de 2018

História trágico-marítima (CCXIVC)


O naufrágio do vapor "Lavi", nos Açores

Ocorrência marítima (1)
A firma Vieira & Labrincha, do Porto, proprietária do vapor “Lavi”, naufragado ante-ontem no mar dos Açores, recebeu hoje um telegrama do Sr. Francisco Duarte, capitão do navio, dizendo que ele e seus companheiros da tripulação chegaram a Ponta Delgada, pedindo ordens e fundos.
Os srs. Vieira & Labrincha deram ordem, por telegrama, a uma importante casa comercial daquela cidade, pedindo para que fosse dada toda a assistência aos náufragos, correndo todas as despesas por conta dos proprietários do navio naufragado.

Imagem do navio "Lavi", ex "Secil", ancorado num porto nacional
Foto da colecção de Francisco Sequeira Cabral

Características do navio “Lavi”
1938-1938
Armador: Vieira & Labrincha, Lda., Porto
Construtor: Eiderwerft A.G., Tonnig, Alemanha, Agosto de 1908
ex “Irmgard Linnemann”, H. Linnemann, Hamburgo, 1908-1910
ex “Jyden”, J. Villemoes, 1910-1913
ex “Rosafred”, Werckbachs Angfartygs A/B, Suécia, 1913-1926
ex “Rosafred”, Hangen Tellefsen, Noruega, 1926-1934
ex “Secil”, Secil - Comp. da Cal e Cimento, Setúbal, 1934-1938
Arqueação: Tab 572,74 tons - Tal 332,51 tons
Dimensões: Pp 53,73 mts - Boca 8,91 mts - Pontal 3,27 mts
Propulsão: 1 motor tripla expansão - 500 Ihp - Velocidade 8 m/h
Naufragou 25 milhas ao largo de Ponta Delgada, na posição 38º13'N 25º9'W, com água aberta, em 30.9.1938. A tripulação salvou-se nas baleeiras do navio.

Os náufragos do “Lavi” chegaram a bordo do “Carvalho Araújo” (2)
Procedente dos Açores e Madeira chegou ontem de tarde, a Lisboa, o vapor “Carvalho Araújo”, da Empresa Insulana de Navegação, que transportou os náufragos do vapor “Lavi”, afundado no mar dos Açores. O “Carvalho Araújo” atracou ao cais de Santos.

Notícias publicadas no jornal “Comércio do Porto”, em:
(1) terça-feira, 4 de Outubro; e (2) Domingo, 9 de Outubro de 1938

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

História trágico-marítima (CCXIIIC)


O afundamento do contra-torpedeiro “Vouga”

Imagem do contra-torpedeiro "Vouga", correspondente ao texto
Desenho da autoria de Luís Filipe Silva

O abalroamento do “Vouga” com o “Pedro Gomes” (1)
São já conhecidos do Governo alguns pormenores da violenta colisão do paquete “Pedro Gomes” com o contra-torpedeiro “Vouga”, no mar da Madeira, aquando das operações contra os revoltosos do Funchal.
Na noite de 30, alguns navios evolucionavam em frente do Machico, tomando posições para o início do bombardeamento na madrugada do dia 1. A noite estava escura e os navios deslocavam-se, de luzes apagadas, a fim de evitar que as suas evoluções próximo de terra fossem observadas das posições dos revoltosos.
De súbito, foi vista de bordo do “Vouga” a silhueta negra do “Pedro Gomes” que avançava. O contra-torpedeiro acelerou a marcha, ao mesmo tempo que o paquete a reduzia. Lamentavelmente não foi possível obstar a uma violenta colisão. A proa alterosa do “Pedro Gomes” apanhou o “Vouga” a meio navio, produzindo-lhe um enorme rombo entre as duas primeiras chaminés.
A tripulação do contra-torpedeiro manifestou, sob a direcção do seu comandante, o capitão-tenente Sr. Álvaro Marta, e dos restantes oficiais, um grande sangue-frio, iniciando desde logo alguns trabalhos tendentes a evitar o imediato afundamento do navio sinistrado. Contudo, a casa das máquinas e outros compartimentos eram rapidamente inundados e o contra-torpedeiro começava a adernar.
Uma parte da tripulação, por ordem do comandante, abandonou o navio, dando entrada a bordo do “Pedro Gomes”. Apesar da escuridão da noite, os trabalhos de salvamento decorreram em perfeita ordem, não havendo a registar qualquer vitima.
Entretanto, o “Pedro Gomes” passou um cabo ao “Vouga”, a fim de o rebocar para Porto Santo, continuando porém, o navio a meter água, que ia inundando sucessivamente os outros compartimentos. O Sr. comandante Álvaro Marta, conservou-se a bordo dirigindo os trabalhos de salvamento, no que foi coadjuvado pelos seus oficiais.
Segundo informaram esta tarde na Presidência do Ministério, o último rádio do Sr. ministro da Marinha diz que o “Pedro Gomes” tentava rebocar cuidadosamente o “Vouga” para Porto Santo e que o comandante ainda se podia conservar a bordo. Posteriormente, não foi recebida outra comunicação referente à situação do navio sinistrado.
Porém, devido à importância das avarias e à extensão do rombo, que permitiu a rápida invasão da água, o contra-torpedeiro deve considerar-se perdido. O “Vouga” prestava serviço na Armada há nove anos, pois foi lançado ao mar no Arsenal de Lisboa, pelo presidente da República, Sr. dr. António José de Almeida.
Na câmara do “Vouga” a única fotografia que se encontrava era um retrato daquele estadista com as seguintes palavras: «Ao “Vouga” com os meus votos de grandes prosperidades – António José de Almeida».

Postal ilustrado do navio "Pedro Gomes", emitido pelo proprietário
Minha colecção

O afundamento do “Vouga” (2)
O afundamento do contra-torpedeiro “Vouga” deu-se quando este navio era rebocado pelo paquete “Pedro Gomes” para Porto Santo, possivelmente a meio do caminho entre a Madeira e aquela ilha.
Depois de terminado o lançamento do reboque, seguiram para bordo as praças da tripulação e oficiais, que ainda estavam no “Vouga”, ficando apenas a bordo o actual comandante Sr. Álvaro Marta.
A certa altura foi verificado que a situação era insustentável, porquanto, o “Vouga” se submergia pouco a pouco com os compartimentos invadidos sucessivamente pela água. Quando o mar varria já o convés, o comandante Sr. Álvaro Marta, vendo a impossibilidade de continuar a bordo, já com o seu navio irremediavelmente perdido, passou então para uma baleeira do “Pedro Gomes”, que o conduziu para aquele paquete.
Nesse momento, os dois navios haviam parado e do “Vouga” apenas se via fora da água a ponte de comando, as chaminés e mastros, que desapareciam lentamente. Foi então cortado o cabo de reboque e poucos minutos depois o contra-torpedeiro desaparecia por completo.
O afundamento daquela unidade naval causou profunda emoção entre todos os oficiais, soldados e marinheiros, que estavam a bordo do “Pedro Gomes”. Havia lágrimas nos olhos de alguns marinheiros. Entretanto dava entrada neste paquete o Sr. comandante Álvaro Marta, a quem todos os presentes manifestaram o seu pesar pelo sucedido.
O Sr. ministro da Marinha comunicou em rádio o sinistro para a Presidência do Ministério, que lamentava profundamente o incidente, acrescentando que o comandante, oficiais e praças do “Vouga” se tinham distinguido nos trabalhos que se tinham seguido ao sinistro, por forma a honrarem o nome da corporação.
Devido ao pouco tempo que o “Vouga” esteve a flutuar depois do abalroamento, não foi possível salvar a artilharia, nem qualquer outro material de bordo.

Notícias publicadas no jornal “Comércio do Porto”, em:
(1) terça-feira, 5 de Maio de 1931; e (2) quarta-feira, 6 de Maio de 1931

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Salva-vidas do I.S.N. "Carvalho Araújo"


A chegada do salva-vidas a Leixões

Imagem do barco salva-vidas "Carvalho Araújo", em Leixões

O barco salva-vidas “Carvalho Araújo” (1)
Pelas 3 horas da tarde, de ontem, deu entrada em Leixões, armado em chalupa, o novo salva-vidas motorizado “Carvalho Araújo”, vindo de Lisboa, que se destina a prestar serviços de salvamento.
É um lindo barco, moderno, e com todas as características próprias ao fim a que é destinado, preenchendo assim uma lacuna que há muito se fazia sentir, satisfazendo ao mesmo tempo as reclamações, que em tempos foram formuladas por grande número de entidades, e, especialmente, pela Associação Comercial do Porto, aquando do triste naufrágio do vapor alemão “Deister”, à entrada do rio Douro, e em que pereceram todos os tripulantes, incluindo o desditoso piloto da barra, Jacinto José Pinto.
Este barco salva-vidas foi construído por uma casa especializada na Alemanha, revelando-se indispensavel para fazer serviço não só no porto de Leixões, como na barra do Douro.

Ecos da tragédia do “Gauss” (2)
O salva-vidas “Carvalho Araújo” completamente reparado,
fundeou, ontem, na bacia de Leixões
Quem corre atrás deste mar de desgraças, certamente já terá ouvido falar da tragédia do “Gauss”. Talvez se lembrem, ainda, da morte dos bravos marítimos que as ondas engoliram, quando tratavam de salvar a tripulação do cargueiro germânico.
É escusado evocar o drama pungente que tocou, fundo, a alma portuguesa, como já o naufrágio espantoso do “Deister”, anos antes, a havia, fortemente, abalado.
O salva-vidas “Carvalho Araújo”, do Instituto de Socorros a Náufragos, adstrito à Capitania de Leixões, fôra a grande vítima. Mortos muitos daqueles que, então, o tripulavam, sobre a sua carcaça frágil se encarniçaram as vagas, quase a reduzindo a destroços.
Finda a tragédia, amainada a fúria dos elementos, o “Carvalho Araújo” recolheu ao seu posto, impossibilitado de cumprir, naquele estado, doravante, a missão admirável para que fôra construído.
Justiça, porém, se lhe fez. A casa alemã que o construíra, informada de que a ele se devia, em enorme parte, o salvamento do “Gauss” e da sua gente, prontificou-se a repará-lo, o que era, afinal, de elementar justiça.
O “Carvalho Araújo” foi, então, para a Alemanha. Lá esteve, nos estaleiros da casa construtora, em porfiada reparação. Foi, de alto a baixo remodelado, renovado. Ficou – dizem – mais sólido, melhor, mais capaz, para a sua missão de salvar, do que, antes, era.
E, ante-ontem, a bordo dum vapor alemão, o “Carvalho Araújo” aportou a Lisboa.
Dali, partiu, por mar, também, navegando, pelas 5 horas da manhã de ontem. E, às 4 horas da tarde, menos poucos minutos, o salva-vidas chegava, bandeira verde e vermelha drapejando no tope do mastro, nas águas mansas da baía de Leixões.
O simpático patrão do “Carvalho Araújo”, Sr. António Rodrigues Crista, confirmou a hora de saída de Lisboa, adiantou que a viagem correu bem e mais não disse.
Quando deixamos o futuro grande porto comercial, cujas obras vão num crescendo animador, as bandeiras do “Carvalho Araújo” brilhavam, sobre o ancoradouro, ao Sol frio da tarde...

Notícias publicadas no jornal “Comércio do Porto”, em:
(1) sexta, 18 de Setembro de 1931; e (2) sábado, 4 de Novembro de 1933

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

História trágico-marítima (CCXIC)


O naufrágio do iate "Helena Santa", na barra de Viana do Castelo

Em consequência do temporal que, ontem, assolou parte da
costa portuguesa, naufragou, à entrada da barra de Viana do
Castelo, o lugre “Helena Santa”, e correu o risco de se afundar,
igualmente, o iate “Maria Lucília” (1)
- - - - - -
O heroísmo e a coragem dos tripulantes do salva-vidas “João
Tomás da Costa” evitaram que perecessem no sinistro 8 homens
Viana do Castelo, 16 - Desde meio da noite, que paira sobre Viana um dos mais furiosos temporais de Oeste, os mais temíveis na nossa costa, pois costumam ser acompanhados de vento ciclónico. A chuva começou a cair com persistência e o vento soprou furiosamente.
Às 8 horas, o piloto de serviço na torre de vigia avistou, ao largo, navegando na direcção de Viana, um iate de dois mastros e logo se lhe afigurou perigo iminente, pois o mar na entrada da barra estava agitadíssimo, com vagas enormes a embater contra os cais do Bugio, Fortim e Cabedelo, entre os quais o navio teria de passar.
Imediatamente, foi dado sinal de perigo e toda a corporação dos pilotos se pôs a postos, ao mesmo tempo que era dada ordem para sair a lancha da corporação, “Comandante Serrão” e o barco salva-vidas deste porto, “João Tomás da Costa”.
Entretanto, o iate aproximava-se da barra, sob um aguaceiro que anulava toda a visibilidade. A "Comandante Serrão”, aprestada com grande urgência, rapidamente largou do ante-porto, levando a bordo os pilotos, Srs. Mário, Jorge e Costa, e colocou-se na barra, tão longe quanto o permitia a formidável rebentação; de terra, a torre de vigia fazia ao navio em perigo, os sinais convencionais, dando-lhe todas as indicações possíveis para que ele demandasse a barra.
Estavam as coisas neste pé, quando o piloto-chefe, Sr. Augusto Silva, que permanecia na torre de vigia, avistou, demandando, também, o porto, outro iate, menor na tonelagem, navegando com o motor, mas aguentando-se muito mal, jogado, positivamente, na crista das ondas enormes. Foi, então, dado o alarme, e o salva-vidas foi mandado sair imediatamente para a barra. Previam-se graves acontecimentos.
Com enorme prontidão, a valente tripulação do “João Tomás da Costa”, resoluta e decidida, apronta-se no cais. Vão arriscar a vida, pois transpor a barra com aquela ondulação e corrente, é uma temeridade, mas é uma temeridade necessária.
Doze fortes rapazes da Ribeira, rodeados das famílias, que não choram nem se lamentam, estão a vestir as roupas próprias, atam os cintos de salvamento. Rostos sérios, mas não se percebe sombra de temor.
Mestre António Gonçalves Gago, veterano do mar, rosto frio de velho marítimo, é o primeiro a saltar, e fixa-se no leme. E faz a chamada dos seus homens: Leopoldo Araújo, João Duarte, José Rodrigues da Costa, José de Castro Alheira, Eduardo Chavarria, Jerónimo Domingues Pires, José de Castro Soares, Miguel de Freitas Lomba, José Lomba Benjamim, João Vieira e Álvaro Vieira.
- «Larga!» - e o “João Tomás da Costa” navega, a caminho do perigo.


Características do iate “Maria Lucília”
Armador: Vergílio Martins Correia, Vila do Conde
Nº Oficial: 1127 - Iic: C.S.D.K. - Porto de matrícula: Vila do Conde
Construtor: Jeremias Martins Novais, Vila do Conde, 1928
ex “Vilacondense”, Vergílio Martins Correia, Vila do Conde
Reconstruído em 1941
Arqueação: Tab 128,52 tons - Tal 75,94 tons
Dimensões: Ff 29,79 mts - Pp 25,37 mts - Bc 7,17 mts - Ptl 2,92 mts
Propulsão: 1 motor semi-diesel - 2:Ci - 100 Bhp

Salva-se o iate “Maria Lucília”, afunda-se o “Helena Santa”
Neste intervalo, milhares de pessoas se juntam, ansiosas, nos cais, seguindo a luta do iate, erguido nas altas ondas, baixando até ao abismo. De bordo da lancha, os pilotos gritam, pelos megafones, ordens. A bordo do iate, que é o “Maria Lucília”, de Faro, está um mestre experimentado, que conhece a fundo a barra de Viana, o valente marinheiro José Joaquim, de Olhão.
Atento aos sinais, manobrando com habilidade e arrojo, mestre José Joaquim, às 8 horas e meia, ante a alegria de milhares de pessoas que não despegaram os olhos daquela luta tremenda, passa a rebentação e, com a vaga a varrer o convés, entra no ante-porto, salvo.
Mas já o outro pequeno iate, que se sabe ser o “Helena Santa", chama as atenções gerais, porque parece que o navio vem já desarvorado, sumido nas vagas, perdido com os seus oito homens. Em terra, é dado o alarme; logo que o “Maria Lucília”, aflitivamente, fizera soar o tom plangente das suas sereias, que reboaram pelo cidade, penetrantes como um lamento.
A sereia dos Bombeiros Voluntários chamou os seus homens; os Bombeiros Municipais e a Cruz Vermelha, imediatamente compareciam, também, na área do porto; a corporação dos Voluntários saía já com o seu material e pessoal de socorros a náufragos. No Hospital da Misericórdia, também era tomadas medidas adequadas, comparecendo logo os médicos Eduardo Valença, Luís Monteverde e Martins Araújo, e pondo-se a postos o pessoal de enfermagem.
No porto, eram 9 horas e 10 minutos, quando o “Helena Santa”, finalmente, se aproximou da entrada da barra, mas, nessa altura, já muito a Norte. Tendo passado por «Entre Portas», o pequeno iate parece que, na ocasião, embateu em qualquer pedra, perdendo o leme, desgovernando-se. Ansiosos, os pilotos transmitem ordens para bordo; mas ninguém ouve nem pode cumprir.
O navio começa a cair para as pedras que, ao Norte do Bugio, orlam a Praia Norte. Em terra ouve-se um clamor; e o piloto Augusto Silva, da torre de vigia, é o primeiro a aperceber-se da tragédia. O “Helena Santa” continua a despedaçar-se nas pedras, é enorme o perigo e trágica a posição dos tripulantes.
Então, uma ordem atravessa o barulho do vento e o roncar do mar:
- Salva-vidas! Para fora da barra…
Mestre António Gonçalves Gago, ouve a ordem e dá um grito rouco aos seus homens. Rema certo, forte! E o leme está firme na sua mão, a proa fende o mar, bravio e alteroso.
De terra a manobra é percebida. Não há um só grito. Somente as mãos daqueles bravos se juntam umas às outras, e, a espaços se ouve os nomes de Nossa Senhora da Agonia, Santa Luzia, em preces e rezas que o bramir do vento leva.
O “João Tomás da Costa” é uma casca de noz naquela imensidade. As respirações estão suspensas. Agora, os milhares de olhos voltam-se, ora para o “Helena Santa”, que vai embater, com fragor enorme, nas rochas da Praia Norte, e o pequeno salva-vidas.


Características do iate “Helena Santa”
1942 - 1945
Armador: Roque & Filhos, Faro
Nº Oficial: A-657 - Iic: C.S.C.R. - Porto de matrícula: Faro
Construtor: Luiz de Lemos, Faro, 1942
Arqueação: Tab 115,38 tons - Tal 82,20 tons
Dimensões: Ff 30,50 mts - Pp 26,05 mts - Bc 7,50 mts - Ptl 2,96 mts
Propulsão: 1 motor diesel - 4:Ci - 88 Bhp
Equipagem: 8 tripulantes

Um homem, arrebatado pelo mar,
salva-se a custo e mercê de muita sorte
O navio, atravessado agora no seu leito de morte, está a ser batido furiosamente, sem defesa, pelo mar. Subitamente há um grito. Um homem é arrebatado pelas vagas e vai cair no mar. Os companheiros olham, estarrecidos, e só há para eles uma esperança, para que não lhes aconteça o mesmo: é refugiar-se nas escadas dos mastros. Para ali fogem, acossados pelo mar, espavoridos. Por uma felicidade, com o homem que o mar arrasta, é arrastada a baleeira de bordo e logo o infeliz, numa decisão arrojada agarra-se ao bote, sua tabua de salvação.
Só da vigia dos pilotos é possível presenciar a tragédia desse homem. Salta para a frágil embarcação, que salta, doidamente, no mar revolto. Há uma tábua perto. E o homem, Domingos Silvério Ferro, com ela governa o barco; consegue entrar nas águas, mais serenas, da Praia Norte e, com enorme alívio das pessoas que ali permanecem, dele e dos companheiros, dentro de minutos atinge a praia. Para a sua salvação concorre o facto da maré estar na preia-mar. Agora, para os pobres náufragos, só há uma esperança: é que o salva-vidas rompa a rebentação da barra e consiga acostar ao navio.
E consegue-o. Deus seja louvado!
Os heróicos rapazes de Viana, músculos e nervos retesados, só tem ouvidos para o mestre António Gago, que dirige o barco, com férrea energia. A manobra é feliz. A pequena embarcação transpõe o perigo. Em terra muita gente chora. Depois, o que se segue é rápido. São 10 horas e 15 minutos. O salva-vidas encosta ao longo da amurada de bombordo do “Helena Santa” e, dentro de minutos ouve-se um brado:
- Todos a bordo! Larga! A tripulação está toda salva!
Na barra, os pilotos, firmes e decididos no seu posto, dirigem as manobras, os gritos dos megafones, abafados pelo mar.
Agora, é o regresso. O vento e a chuva aumentam de fúria, mas aqueles milhares de pessoas não arredam pé. Todos têm os olhos naquela heroica gente. Há minutos angustiosos. Mas novamente, com a mesma perícia, o “João Tomás da Costa” galga a rebentação, saltando no mar revolto; entra nas águas da barra interior, já está no ante-porto, trazendo os tripulantes, molhados até aos ossos, sem nada terem salvo, além da roupa de trabalho que trazem no corpo, mas felizes, - pobres deles – de terem escapado à morte, que esteve tão perto.
Mal penetraram na doca de marés, os náufragos foram logo passados para a ambulância da Cruz Vermelha e levados ao Hospital da Misericórdia onde os médicos e restante pessoal, imediatamente lhes prestaram todos os socorros.
Os tripulantes são: António Gonçalves de Sousa, solteiro, cozinheiro, de 22 anos, de S. Pedro, Faro, com uma ferida contusa na perna direita; José Viegas Conteira, de 42 anos, casado, de Olhão; Domingos Silvério Ferro, de 24 anos, casado, de Olhão, com ferida contusa na perna esquerda; Francisco Eduardo Alexandre, de 34 anos, casado, de Olhão, com ferimentos no ombro direito; António Viegas Ramos, de 29 anos, solteiro, contra-mestre, de Olhão; Joaquim Estrela Ministro, de 35 anos, casado, 1º motorista, de S. Pedro, Faro; António de Sousa Pires, de 34 anos, casado, 2º motorista, de Moncarapacho, Olhão, e o mestre do navio, João Martins dos Santos, de 36 anos, casado, de Olhão.
O navio, um pequeno iate-motor de 200 toneladas, pertence à firma Roque & Filhos, de Faro, sendo seu operador o Sr. José Maria da Silva, de Lisboa, e vinha com um carregamento de sal, de Aveiro, para a firma Manuel Martins Branco, desta praça. Navio e carga estavam no seguro.
Os tripulantes, logo que tratados, deram uma esmola para o templo de Santa Luzia; depois, foram socorridos pelo representante do armador, Sr. Manuel Meira da Costa, seguindo, de tarde, para as suas terras.
O “Helena Santa” está a desfazer-se, dando à costa pedaços de madeira e materiais de bordo.

Notícias publicadas no jornal “Comércio do Porto”, em:
(1) sábado, 17 de Novembro de 1945

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXIIC)


O naufrágio do lugre "Nun'Alvares"

Anúncio publicado na imprensa (1)

Navio abandonado em chamas (2)
Um rádio, recebido ontem, dia 9 de Abril, às 15 horas, do vapor francês “Marrakech”, diz ter recebido a bordo a tripulação do lugre português “Nun’Alvares”, da praça de Aveiro, o qual ficou abandonado em chamas, na latitude 40º48’02”N e longitude 09º41’02”W de Greenwich, com perigo para a navegação. O vapor segue viagem com a tripulação para Casablanca.
O lugre “Nun’Alvares” saiu do Douro no dia 7 do corrente, com destino a Lisboa, em lastro. O vapor “Marrakech”, 1930/1951, de nacionalidade francesa, propriedade da Compagnie Genérale Transatlantique, construído em França em 1914, de 6.288 toneladas de registo bruto, pertencia à praça de Bordéus.

Desenho de navio do tipo lugre, sem correspondência ao texto

Características do lugre construído em madeira “Nun’Alvares“
1929 - 1931
Armador: Empresa Marítima Nun’Álvares, Lda., Aveiro
Nº Oficial: A-248 - Iic: H.N.U.A. - Registo: Capitania de Aveiro
Construtor: José L. Ferreira Maiato, Viana do Castelo, 11 Abril de 1921
ex “Brilhante”, Soc. Vianense de Cabotagem, V. do Castelo, 1921-1923
ex “Brilhante”, Soc. Nacional de Pesca, Viana do Castelo, 1923-1924
ex “Condestável”, Empresa Condestável, Lda., Aveiro, 1924-1929
Arqueação: Tab 371,20 tons - Tal 286,90 tons
Dimensões: Pp 41,98 mts - Boca 9,92 mts - Pontal 3,84 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 12 tripulantes
Lugre adquirido ao anterior proprietário por Esc. 141.000$00. Embarcação com 3 mastros, tinha proa de beque, popa redonda, 1 pavimento e a carena forrada com metal.

O incendio no lugre “Nun’Alvares” (3)
O lugre “Nun’Alvares” foi destruído por um incêndio quando há dias navegava ao largo de Casablanca. Os tripulantes em número de 12, foram salvos pelo vapor “Marrakech”, da Companhia Transatlântica, que os desembarcou ontem naquela cidade africana.
Os restos do navio trazidos pelas correntes marítimas, acabam de ser assinalados na costa portuguesa, constituindo um grave perigo para a navegação. Tendo alguns postos semafóricos e navios em viagem pela costa sul dado conta pela T.S.F. do aparecimento de fragmentos do lugre “Nun’Alvares”, o Ministério da Marinha tomou as providências necessárias ordenando ao princípio da tarde o rápido aprontamento do navio de pronto socorro “Patrão Lopes”, do comando do capitão-tenente sr. Fernando Amor de Barros.
O vapor começou os preparativos para a largada às 13 horas, recebendo o seu comandante instruções para realizar as pesquisas necessárias, a fim de localizar e proceder à destruição dos restos do lugre incendiado.

O naufrágio do lugre “Nun’Alvares” (4)
O comandante do vapor “Patrão Lopes” enviou ao Sr. ministro da Marinha, o seguinte rádio:
«Às 14 horas do dia 13, na posição 40º33’N e 9º33’W encontrei o salva-vidas e o painel da ponte, com o nome de “Nun’Alvares” - Aveiro, que recolhi a bordo. Após minuciosa busca feita ontem e hoje, com certeza que nada mais resta, do lugre “Nun’Alvares”».

Os tripulantes do lugre “Nun’Alvares” (5)
Apresentaram-se hoje no Instituto de Socorros a Náufragos, Jorge Troloró, Lopo de Oliveira, Francisco Branco, Manuel de São Marcos, João Caramonete, Manuel Patarrano, José Ferreira da Silva, Celestino Correia, Manuel Caramonete Júnior, Joaquim Passos, Alexandrino de Carvalho e Carlos Cordeiro Júnior, tripulantes do lugre “Nun’Alvares”, de Aveiro, naufragado em 9 do corrente e recolhidos por um navio francês. Receberam subsídio pecuniário e passagens de comboio, o 2º, 8º 9º e o último, para o Porto e os restantes para Aveiro.

Notícias publicadas no jornal “Comércio do Porto”, em: (1) sexta-feira, 19 de Novembro de 1930; (2) sexta-feira, 10 de Abril de 1931; (3) Domingo, 12 de Abril de 1931; (4) terça-feira, 14 de Abril de 1931; e (5) sábado, 18 de Abril de 1931

sábado, 1 de dezembro de 2018

Memorativo da Armada


Fragatas F333 “Diogo Cão” e F334 “Corte Real”

Duas novas unidades da Armada portuguesa,
entraram ontem no Tejo (1)
As novas fragatas “Diogo Cão” e “Corte Real” chegaram, ontem, de manhã ao Tejo. Comandam as referidas unidades, que foram cedidas à nossa Marinha de Guerra pelo Governo dos Estados Unidos, ao abrigo do acordo mútuo de auxílio militar, respectivamente, os Srs. capitães-de fragata Joaquim José Teixeira e Vieira Lopes.
As duas fragatas acostaram lado a lado (braço dado) ao cais da Marinha, junto do qual se encontravam centenas de pessoas das famílias dos seus tripulantes, e, cerca do meio-dia receberam a visita dos Srs. ministro da Marinha e dos Negócios Estrangeiros, embaixador dos Estados Unidos, em Lisboa, almirantes Alves Leite, sub-chefe do Estado Maior da Armada, Filipe Castela, superintendente dos Serviços da Armada, e Nuno de Brion, comandante-chefe da Força Naval da Metrópole, almirante americano Walter Moore, comodoro Sousa Uva, secretário-adjunto da Defesa Nacional, e Fernando Quintanilha, sub-chefe adjunto do Estado Maior da Armada.  Estas entidades eram aguardadas no cais pelo director dos Serviços Marítimos.
Nas toldas das duas fragatas, as respectivas guarnições formaram em continência e, ao portaló da “Diogo Cão”, os respectivos comandantes receberam os visitantes, acompanhando-os depois enquanto percorriam as instalações desta unidade.
Os novos navios têm a missão de escolta oceânica de comboios e são dotados de poderoso armamento anti-aéreo. Estão equipados também com material moderníssimo, que não existe ainda nos outros navios de guerra portugueses. Cada fragata desloca 2.100 toneladas e tem velocidade de cerca de 30 nós. A tripulação, entre oficiais, sargentos e praças é composta por 205 homens.

Imagem da fragata F333 "Diogo Cão"
Foto da minha colecção

Características do N.R.P. F333 “Diogo Cão”
1957 - 1968
Propriedade da Marinha de Guerra Portuguesa
Construtor: Federal Shipbuilding & Dry Dock, Newark, EUA
ex USS D509 “Formoe”, Marinha do Estados Unidos, 1944-1957
Data de lançamento: 1944 – Material do casco: Aço
Deslocamento máximo: 1.745,00 tons
Dimensões: Pp 93,00 mts - Boca 11,20 mts
Autonomia: 6.000 milhas à velocidade de 12 nós
Propulsão: 2 motores turbinas a vapor - 24 m/h

Imagem da fragata F334 "Corte Real"
Foto da minha colecção

Características do N.R.P. F334 “Corte Real”
1957 - 1968
Propriedade da Marinha de Guerra Portuguesa
Construtor: Federal Shipbuilding & Dry Dock, Newark, EUA
ex USS D440 “McCoy Reynolds”, Marinha Estados Unidos, 1944-1957
Data de lançamento: 1944 – Material do casco: Aço
Deslocamento máximo: 1.745,00 tons
Dimensões: Pp 93,00 mts - Boca 11,20 mts
Autonomia: 6.000 milhas à velocidade de 12 nós
Propulsão: 2 motores turbinas a vapor - 24 m/h

Foi realçada a camaradagem existente entre as armadas
de Portugal e dos Estados Unidos
Aos visitantes, depois de percorrerem as instalações do navio, foi servido um aperitivo, durante o qual o capitão-de-fragata Joaquim Teixeira agradeceu a visita, realçando a camaradagem e entendimento existente entre as armadas dos Estados Unidos e de Portugal.
Falou depois o Sr. almirante Américo Tomás, que cumprimentou o embaixador americano e pôs também em evidência a compreensão que os Estados Unidos tem demonstrado, pela Armada portuguesa. A Marinha portuguesa, afirmou a terminar, está pronta para todas as eventualidades como parte de uma força guiada por um pensamento comum que a todos irmana.
Por fim falaram ainda o embaixador James Bonbright e o Sr. prof. Paulo Cunha, o primeiro para manifestar a sua inteira confiança à Armada portuguesa e o segundo para recordar as atenções que o Governo de Washington sempre nos tem dispensado, em especial no que diz respeito ao auxílio militar.
As novas unidades saem na sexta-feira para um exercício de treino próximo da barra e seguem depois para o Alfeite. No dia 17 voltam para o mar, integradas na formação naval portuguesa, que vai participar nos exercícios que se efectuam no Atlântico, determinados pelo comando naval da “NATO”.

Notícia publicada no jornal “Comércio do Porto”, em:
(1) quarta-feira, 11 de Setembro de 1957

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Divulgação!


Instituto de Socorros a Náufragos
Programa " Cego do Maio "
Póvoa de Varzim, sábado, 1 de Novembro de 2018


Serviço de voluntariado, para ajudar a preservar a vida
dos trabalhadores do mar, quando e sempre que se revele necessário.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

História trágico-marítima (CCXC)


O encalhe do navio de carga "Nereus" em Marrocos

Encalhou na costa marroquina o cargueiro
português “Nereus”
Casablanca, 7 – O navio de carga português “Nereus”, de 475 toneladas, de Lisboa, encalhou, na noite passada, em Moulay Bousslhem, a cerca de 10 km do porto de Larache (ou seja a 270 km ao sul de Casablanca), por causa do nevoeiro. O navio encalhou num baixo rochoso.
A tripulação (28 marinheiros de nacionalidade portuguesa), conseguiu abandonar o navio pelos seus próprios meios.
O “Nereus”, que transportava uma carga de metais e se dirigia para Casablanca, encontra-se actualmente numa situação critica.
É o segundo navio português a encalhar na costa marroquina num período de dez dias.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 8 de Dezembro de 1964)

O navio "Nereus" de saída do rio Douro
Foto da colecção de Rui Picarote Amaro

Características do navio Nereus"
3.7.1947 – 1977
Armador: Bagão, Nunes & Machado, Lda., Lisboa
Nº Oficial : H-450 - Iic: C.S.S.I. - Porto de registo: Lisboa, 03.07.1947
Construtor: Estaleiros de São Jacinto, Lda., Aveiro, 1947
Arqueação: Tab 334,40 tons - Tal 228,22 tons - Porte 530 tons
Dimensões: Ff 45,75 mts - Pp 42,43 mts - Bc 7,17 mts - Ptl 3,11 mts
Propulsão: Sulzer Frères, 1944 - 1:Di - 330 Bhp - Velocidade: 10 m/h
dp “Efii” - A. Myrianthis, Grécia, 1977-1977
dp “Kalathos” - A. Myrianthis, Grécia, 1977-1977

O navio foi desencalhado e retornou ao serviço comercial, tendo aproveitado o auxílio prestado pelo rebocador “Sintra”, da Sociedade Geral, quando esteve se encontrava próximo a Casablanca, a realizar operações de assistência ao navio “Mello”, do mesmo armador.
Viria a naufragar posteriormente a cerca de 120 milhas a Sudoeste de Port Sudan, em 16 de Março de 1977.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXXIX)


O naufrágio do vapor “Mello” em Marrocos

O navio de carga português “Mello” encalhou próximo de
Casablanca, devido ao nevoeiro que encobre a costa
marroquina e considera-se perdido – A tripulação salvou-se
Casablanca, 27 - Em consequência do denso nevoeiro, o cargueiro português “Mello” encalhou esta manhã, pelas 4 horas, na foz do Uede Mellah, a 20 km ao Norte de Casablanca, encontrando-se imobilizado sobre um banco de areia. A tripulação, composta de 35 homens, conseguiu alcançar a costa, pelos seus próprios meios.
Casablanca, 27 – É de 4.500 toneladas o cargueiro português “Mello”, que encalhou hoje no estuário do rio Uede Mellah, a cerca de 20 km de Casablanca, às 4 horas da madrugada (3 horas em Lisboa). O navio é propriedade da Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes, Lda., de Lisboa e vinha carregar fosfatos.
Casablanca, 27 – Considera-se perdido o navio português que encalhou em Uede Mallah, à entrada de Casablanca. Apareceram várias fendas no casco do “Mello” e o mau tempo tem prejudicado os esforços para o libertar do lodo.
O comandante do navio, Sr. António Carrilho, concordou com os técnicos, que consideram perdidas as esperanças de salvar o navio.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 28 de Novembro de 1964)

Imagem do navio "Mello" à chegada a Leixões
Foto minha colecção

Características do navio português “Mello“
21.03.1923 – 27.11.1964
Armador: Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes, Lda.
Nº Oficial : 397-E - Iic.: H.M.E.O. – Portro de registo: Lisboa 21.03.23
Construtor: Blyth Shipbuilding Co., Blyth, Inglaterra, Abril de 1915
ex “Hebburn”, Huddart Parker, Ltd., Londres, Inglaterra, 1915-1919
ex “Graziella”, A. C. Aboaf, Londres, Inglaterra, 1919-1922
Propulsão: Rich. Westgarth & Co., 1915 - 1:Te - 2.000 Ihp - 11 m/h
Arqueação: Tab 4.188,12 tons - Tal 2.993,54 tons
Dimensões: Pp 112,77 mts - Boca 11,54 mts - Pontal 8,37 mts
Equipagem: 36 tripulantes - 6 passageiros
Alteração à matrícula
Nº Oficial: 397-E - Iic.: C.S.B.G. – Porto de registo: Lisboa, 21.03.1923
Arqueação: Tab 4.471,29 tons - Tal 2.693,05 tons
Dimensões: Ff 117,30 mts - Pp 112,96 mts - Bc 15,63 mts - Ptl 7,58 mts
Equipagem: 35 tripulantes - 12 passageiros

O vapor “Mello” continua encalhado
próximo de Casablanca
Contrariamente ao que chegou a constar, o navio “Mello” da Sociedade Geral, que anteontem encalhou, a uns 20 km de Casablanca, não se afundou, embora não haja esperanças de salvá-lo. Em face da precária situação do navio, a administração da empresa proprietária determinou que a respectiva tripulação seguisse para Casablanca, permanecendo próximo do “Mello” o rebocador “Sintra”, que seguiu para o local do encalhe.
O regresso dos tripulantes a Lisboa deve verificar-se num dos primeiros dias desta semana.

A identidade dos 35 tripulantes
Os 35 tripulantes, incluindo o comandante, Sr. António Camarate Carrilho, e imediato, Sr. José Araújo, são os seguintes: António José Fernandes de Oliveira e Carlos Luís de Sousa Rocha, 2º e 3ºs pilotos; José dos Santos, radiotelegrafista; Alberto Artur de Melo Soares, enfermeiro; António Fiel e Emílio Carlos da Cunha Ferreira e Silva, 1º e 2º maquinistas; e António Fernandes e Cristiano Ribeiro, 3ºs. maquinistas; Francisco Barreto Ferreira, artífice; Vidal Fernandes, Manuel Ricardo Generoso, António Bártolo, Abílio Lopes e Custódio Tavares, fogueiros; Primo Marques Patrão, Daniel Filipe Torres de Brito e António Augusto dos Santos, chegadores; Primo Martins Torres de Albuquerque, contramestre; Manuel Rodrigues, Afonso Perre, Estevão Bonança, António Santana Gordinho, e Manuel dos Santos, marinheiros; João Baptista da Rocha Júnior, dispenseiro; Francisco Luís, cozinheiro; Pedro Maria Pereira, padeiro; António Baptista Soares, Armando de Almeida e Laurentino Rodrigues Machado, criados; Sebastião Manuel Martins Fernandes, Raul Aníbal Baptista, João Ramos de Oliveira, e Bernardino Maria Ramalho, moços.
(Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 29 de Novembro de 1964)

Chegaram a Lisboa 15 tripulantes do navio português “Mello”,
que encalhou na costa marroquina
Procedentes de Casablanca chegaram a Lisboa anteontem, de avião, 15 tripulantes do navio português “Mello”, que encalhou na costa de Marrocos, considerando-se perdido. Os restantes náufragos devem chegar a Portugal, provavelmente, por via marítima.
(Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 3 de Dezembro de 1964)

segunda-feira, 26 de novembro de 2018


A nova canhoneira “Diu” (1)

O lançamento ao mar da nova canhoneira “Diu”, tem lugar no próximo sábado, às 3 horas e 15 minutos. Foram hoje dirigidos convites aos membros do governo, governador civil, Câmara Municipal, oficiais do Exército e mais autoridades.

Imagem da canhoneira "Diu" a entrar no porto de Leixões
Foto da minha colecção

Características da canhoneira “Diu”
19.10.1929 - 20.4.1969
Propriedade da Marinha de Guerra Portuguesa
Nº Oficial (Armada): 42 - Iic: C.T.A.L. - Porto de armamento: Lisboa
Construção no Arsenal da Armada
Data de lançamento: 1929 – Material do casco: Aço
Deslocamento standard: 403,00 tons
Deslocamento normal: 451,00 tons
Deslocamento máximo: 500,00 tons
Arqueação: Tab 428,66 tons - Tal 192,00 tons
Dimensões: Pp 45,00 mts - Boca 8,30 mts - Pontal 4,50 mts
Autonomia: 2.300 milhas
Propulsão: 1 motor diesel tripla expansão - 11 m/h

Não será permitida a entrada no Arsenal senão a pessoas munidas de bilhetes, que também serão exigidos ao pessoal operário.
Exceptuam-se os convidados oficiais, autoridades superiores, civis e militares, Câmara Municipal, representantes da imprensa, oficiais e aspirantes do Exército e da Armada, bem como os sargentos do Exército e da Armada uniformizados.
Não há lugares especiais a não ser na tribuna do governo, comitiva e convidados, oficiais e outras autoridades.
A guarda de honra será feita por uma companhia a 2 pelotões, fornecida pela “Sagres”, sob o comando de um 1º tenente, com a banda de música e terno de clarins.

A nova canhoneira “Diu”, foi incorporada na Armada (2)
Realizou-se hoje, pelas 14 horas, a bordo da nova canhoneira “Diu”, recentemente lançada ao mar, no Arsenal, a cerimónia da entrega daquele navio à Armada.
Àquela hora chegaram a bordo o capitão-tenente Sr. Manuel Francisco da Silva, delegado do almirante comandante geral da Armada, e o 1º tenente Sr. Luiz de Oliveira Lima, comandante da nova unidade, prestando honras a guarnição alinhada à ré.
Em seguida, na tolda, o imediato da “Diu” leu a comunicação oficial que manda armar a nova canhoneira e que determina a sua incorporação no efectivo das forças navais, sendo depois içada a flâmula de «navio de guerra ao serviço».
Falou então o capitão-tenente Sr. Francisco da Silva, que deu posse ao novo comandante cujo elogio fez em termos calorosos. Destacou ainda o significado do nome do novo navio, que evoca factos gloriosos da nossa história, terminando com estas palavras:
- «O comandante deste navio é um oficial de tradições liberais, um bom republicano, qualidades que, aliadas ao seu saber, devem constituir motivo de justo regozijo para os que vão servir sob as suas ordens».
O comandante Sr. Oliveira Lima agradeceu as saudações que lhe haviam sido dirigidas, pedindo a colaboração dos seus subordinados, para uma acção conjunta de disciplina, de método e de trabalho que dignifique a Marinha, servindo ao mesmo tempo a Pátria e a República.
Toda a oficialidade desceu depois à câmara da “Diu”, onde foi servido um «Porto de honra», sendo por último visitadas as instalações da nova unidade da nossa esquadra. 

Notícias publicadas no jornal "Comércio do Porto", em:
(1) Sexta, 18 de Outubro de 1929; e (2) quarta, 2 de Novembro de 1932

domingo, 25 de novembro de 2018

Leixões na rota do turismo! (10/2018)


Navios em porto durante o mês de Outubro

As condições adversas de tempo vieram prejudicar as expectativas de ter em porto um simpático número de navios, sendo de lamentar o cancelamente de visitas previstas para este período. Mesmo assim, houve oportunidade de dar as boas vindas aos navios "Seabourne Ovation" e "Le Champlain", de visita a Leixões em escala inaugural.

Foto do navio de passageiros "Star Breeze"
No dia 2, chegou procedente de Bilbao, saindo com destino a Lisboa

Foto do navio de passageiros "Marella Spirit"
No dia 5, chegou procedente de Málaga, tendo saído para Lisboa

Foto do navio de passageiros "Marina"
No dia 8, veio procedente do Ferrol, saindo também para Lisboa

Foto do navio de passageiros "Ocean Dream"
No dia 12, chegou procedente de Tanger, saiu com destino à Corunha

Foto do navio de passageiros "Seabourne Ovation"
Ainda no dia 12, veio procedente da Corunha, saiu para Lisboa

Foto do navio de passageiros "Viking Sun"
No dia 15, chegou procedente de Portsmouth, saindo para Málaga

Foto do navio de passageiros "Azura"
No dia 16, chegou procedente de Lisboa, saindo para Cherbourg

Foto do navio de passageiros "Albatros"
No dia 19, veio procedente do Funchal, também saiu para Cherbourg

Foto do navio de passageiros "Amadea"
No dia 23, chegou procedente de Hamburgo, saiu para o Funchal

Foto do navio de passageiros "MSC Magnifica"
No dia 25, veio procedente do Havre, tendo saído para Lisboa

Foto do navio de passageiros "Le Champlain"
No dia 31, chegou procedente de Vigo, saiu também para Lisboa

sábado, 24 de novembro de 2018

Divulgação!


Conferência do Seminário do Mar
"Avaliação do Estado do Oceano
(O Processo Regular das Nações Unidas)"


quinta-feira, 15 de novembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXXVIII)


No Norte do Brasil - A catástrofe do Camará

O “Paes de Carvalho” em chamas nas águas do Solimões,
Amazonas - Dezenas de náufragos mutilados - 12 mortos
Manaus, 31 de Março – Conforme o telégrafo comunicou já, a madrugada de 22 do corrente veio trazer à nossa população a emoção mais profunda que temos sentido nestes últimos tempos: o sinistro do vapor fluvial “Paes de Carvalho”, da frota da «Amazon River».
Ainda todos os corações pulsam no mesmo sentimento de piedade e horror, de tristeza e comoção, ao evocar essa tremenda hecatombe, que supera outras desgraças análogas, tal a amplitude de consequências trágicas e inesperadas, com o séquito extenso de luto, a trazer inúmeros lares presos de mágoa infinda causada pelas irreparáveis perdas.
À meia-noite de 19 do corrente, o “Paes de Carvalho” deixava o «roadway» da «Manaus Harbour», continuando, assim, a viagem da linha do Juruá, empreendida de Belém, porto inicial.
Comandado pelo piloto João de Deus Cabral dos Anjos, marítimo bastante conhecido e conceituado na nossa marinha mercante, o “Paes de Carvalho” conduzia elevado número de passageiros e avultada quantidade de carga, como aliás o fazem todos os gaiolas empregados na navegação do Amazonas.
O percurso do “Paes de Carvalho” ia sendo feito sem novidade, quando, ao chegar ao porto da vila de Codajás, o comandante notou que dois reboques de pescadores portugueses atrasavam a marcha da embarcação. Verificando esse facto, que, realmente, já vinha retardando em quatro horas a viagem, aquele oficial deliberou propôr aos pescadores que largassem o reboque, transmitindo-lhes essa resolução, por intermedio do praticante Mário de Assis Costa, que se tornou, mais tarde, num verdadeiro herói.
Atendendo às ponderações do comandante um dos pescadores procedeu logo à resolução tomada, desamarrando a canoa do navio, enquanto o seu colega de ofício se obstinava em continuar a viagem, já tendo, a esse tempo, o “Paes de Carvalho” deixado o porto de Codajás.
Diante da desobediência das suas ordens, o comandante Cabral dos Anjos renovou o aviso de que não podia continuar a conduzir o reboque, até que, vendo a insistência do pescador, mandou um marinheiro desatar os nós das cordas.
Esse facto não enfureceu o mariscador lusitano.

Foto do navio fluvial «gaiola» "Paes de Carvalho"
Retirada do corpo da notícia abaixo discriminada

Aliviado desse reboque, o navio prosseguiu a rota, costeando o Camará, à margem esquerda do Solimões. Nesse percurso, o “Paes de Carvalho” defrontou a ilha de Ajurá, situada na foz do paraná do Mamiá, conseguindo atingir a ponta da ilha da Botija, que, digamos de passagem, é circundada por barrancos intransponíveis. Essa ilha, que fica localizada a dez metros do canal de navegação, é o ponto que, nessa altura da viagem, todas as embarcações costeiam, não chegando, porém, o “Paes de Carvalho” a costear, porque, exactamente nessa travessia, se verificou o início do incêndio, às três horas e quarenta e cinco minutos da madrugada.
É de notar que a ilha da Botija, situada, como fica, no rio Solimões, divide esse rio em dois braços: um que segue para a esquerda – denominado paraná do Mamiá – e outro que se estende à direita – o Solimões propriamente dito, e onde fica situada a ilha do Trocary, pouco abaixo do porto do mesmo nome, para onde se destinava a embarcação sinistrada, a fim de descarregar mercadorias. Uma vez no Trocary, o “Paes de Carvalho” devia voltar ao local onde se deu o sinistro, entrando no paraná do Mamiá e seguindo o seu rumo.
Nesse momento, isto é, às 3 horas e quarenta minutos da madrugada, o vapor “Índio do Brazil”, que fazia a viagem inversa ao “Paes de Carvalho”, apitava para o porto do Mamiá, situado no paraná do mesmo nome, a fim de tomar lenha. O prático do “Índio do Brazil”, sr. Raimundo Baptista da Silva, que fez a atracação em Mamiá, diz que realmente observou, na direcção da ponta extrema da ilha da Botija, um clarão e fumo intenso. Acreditou que se tratasse de uma queimada na ponta da referida ilha. Não ouviu os apitos soltados pelo “Paes de Carvalho”, que a menos de trinta minutos, servia de pasto ao mais pavoroso incêndio em águas amazónicas.
Explicou este profissional que não admira de não ouvir o pedido de socorro do “Paes de Carvalho”, pois o vento soprava em sentido contrário e, portanto, levava o som noutra direcção. A profundidade do rio Solimões, no local onde o “Paes de Carvalho” soçobrou é, mais ou menos, de doze braças. O incêndio teve origem no presumível gesto de uma passageira de 3ª classe que, após fumar um cachimbo, sacudiu as cinzas, sem se aperceber de que estava próxima a inflamáveis.
- - - - - -
Eis o que sobre a catástrofe disse a um jornalista o 3º maquinista do navio, Leonardo Severo de Jesus, de serviço no momento angustioso:
- Era o maquinista do quarto de vigilância, e, como de costume, entrei à meia-noite e devia largar às 4 horas da manhã. Saímos desta capital à meia-noite do dia 19, tendo sido eu o maquinista que deu saída à embarcação. Até ao dia 22, às 3 e meia da madrugada, a viagem prosseguiu, como de costume, sem incidentes.
Às 3 horas e quarenta minutos o segundo cozinheiro deu o alarme de fogo a bordo, tendo eu deixado por breves instantes a casa das máquinas a certificar-me se era exacto o sinal e de onde irrompia o incêndio. Conjugando os meus esforços com dois tripulantes, conseguimos atirar à água o enxergão incendiado, não fazendo outro tanto com a outra banda porque a esse tempo já o fogo se começava a propagar a uma das caixas que ia vazando combustível.
Nesse momento então os gritos de alarme foram mais intensos e como o meu lugar era junto à caldeira, corri à casa das máquinas onde cheguei exactamente quando o telégrafo me determinava parada imediata da embarcação. Procedi de acordo com o determinado, sabendo depois que essa ordem fora efectivada pelo comandante Cabral dos Anjos.
Por essa altura, fui sobressaltado por dois estampidos, quase simultâneos: eram as primeiras explosões das centenas que depois se verificaram. Uma vez parado o “Paes de Carvalho”, determinei ao cabo-fogueiro que estava de plantão que tocasse o aparelho denominado «burro» para que puxasse e conduzisse a água para extinguir o fogo. Era tarde; o fogo havia tomado proporções agigantadas; qualquer esforço para dominar a fogueira era improfícuo e insensato; nem um dilúvio, naquela altura, conseguiria acalmar os ímpetos das chamas; o navio estava irremediavelmente perdido e as nossas vidas colocadas num fatal dilema: ou morrer pelo fogo, ou morrer pela água.
Os lotes de caixas que estavam próximos à casa das máquinas invadiram aquele recinto, comunicado o fogo ao dínamo gerador da luz a bordo. Todo o navio ficou, desde esse momento, completamente às escuras. Pela porta que me tinha dado entrada era impossível sair, porque o incêndio nessa altura já me assoberbava a passagem, resolutamente procurei sair pela frente da caldeira.
Conquanto surpreso, estava completamente senhor de mim, e pude com calma procurar abrigo seguro contra a avassaladora ira das chamas. Fui à procura de sossego na proa do navio, onde já encontrei o comandante Cabral dos Anjos, o prático Josino do Carmo Palheta, o prático Milton Angelin, o mestre José Ezequiel de Salles e o 1º maquinista. Foi mesmo neste momento que o pânico atingiu o mais alto grau, pois os passageiros totalmente desorientados gritavam muito alto, clamando por socorro, confundindo preces com imprecações, orações com blasfémias.
Muitos passageiros solicitavam ao comandante que aproasse o navio a terra, mas, quando o comandante quis tomar essas providências era demasiado tarde…
(Jornal "Comércio do Porto", Domingo, 9 de Maio de 1926)