sexta-feira, 29 de abril de 2011

Novo terminal de Leixões


Inauguração

O paquete "Boudicca" em Leixões
Foto de José Modesto

O paquete “Boudicca”, da companhia norueguesa Fred Olsen Cruises, que é à algum tempo visita regular no porto, ficará para sempre referenciado como tendo sido o primeiro navio de passageiros, a atracar no novo terminal de Leixões, ontem inaugurado pelo Ministro das Obras Públicas.

O novo cais de acostagem, que visa essencialmente permitir escalas a embarcações a operar no turismo internacional, tem um comprimento de 343 metros, pelo que Leixões poderá receber a visita de navios até 300 metros, assegurando igualmente fundos até 10 metros.

A obra em curso, que foi terminada dentro do prazo acordado, orçou em cerca de 21 milhões de euros. A nova infra-estrutura portuária, será continuada com os necessários arruamentos, parques e um excelente edifício para gare marítima, cuja conclusão está prevista para o decorrer do ano de 2013.

Está portanto de parabéns, a pessoa ou grupo de pessoas, que numa primeira fase idealizou ser possível melhorar as condições do exíguo recinto portuário, com esta construção. Paralelamente estão também de parabéns a administração portuária, por ter concretizado o projecto, o sr. ministro das Obras Públicas por convencer o digníssimo chefe de governo, que o trabalho ora parcialmente finalizado é uma mais valia para o norte do país e o primeiro ministro por ter acedido libertar a verba necessária aos trabalhos.

Espero desde já poder antecipar o regresso dos navios a Leixões, dos paquetes da mais prestigiada companhia de navegação inglesa, a Cunard de Londres, que tudo indica poderá trazer a Leixões uma das suas principais unidades, o “Queen Elizabeth”, ainda no decorrer deste ano, ao qual seguramente se seguirão outros colossos do mercado turístico.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

25 de Abril


37 anos - Decepção na idade adulta

1974, dias de glória
Postal ilustrado

Achei que nesta data devia escrever um texto de retórica e de esperança. Lamento a falta de inspiração, numa época em que o desapontamento e o desanimo superam qualquer expectativa. Resta-me continuar a escrever e a transcrever histórias de navios, de gente e do mar. Contudo, guardo para mim a convicção, que um dia destes, os navios voltarão ao mar com a bandeira nacional, continuando a encher os portos com alegria e trabalho.
Talvez, qualquer dia!…

domingo, 24 de abril de 2011

História trágico-marítima (IX)


O naufrágio do caça-minas “Roberto Ivens”

A exemplo de diversos navios requisitados pela marinha, durante o ano de 1916, alguns navios que foram utilizados para patrulha da costa e rocegagem de minas, eram embarcações de arrasto, identificados à época como vapores de pesca do alto. Um desses navios, o “Roberto Ivens”, pertenceu à praça do Porto, onde esteve matriculado com o nome “Lordello”.

O arrastão “ Lordello “
1914 - 1916
Sociedade de Pescarias a Vapor, Lda., Porto

O caça-minas "Roberto Ivens"
Desenho de Luís Filipe Silva

Nº Oficial: A-176 - Iic.: H.G.W.P. - Porto de registo: Porto
Construtor: Cochrane & Sons, Ltd., Selby, Inglaterra, 10.1906
ex “Lord Nunburnholme”, -?-, Hull, Inglaterra, 1906-1914
Arqueação: Tab 281,49 tons - Tal 107,63 tons
Dimensões: Pp 42,72 mts - Boca 6,80 mts - Pontal 3,63 mts
Propulsão: 1:Te - 520 Bhp - 9,5 m/h
Mestre embarcado: Manuel dos Santos Viegas (1914-1915)
Equipagem: 16 tripulantes

Colocado pela Armada no serviço de patrulhamento da costa durante um ano, acabou for se afundar a 26 de Julho de 1917, em resultado da colisão com uma mina submersa, que obviamente causou danos irreparáveis. Do acto de guerra foi publicada a seguinte nota oficiosa:

O vapor “Roberto Ivens”, em serviço de patrulhas, quando hoje, de tarde, andava no seu serviço, na costa, chocou com uma mina inimiga, um pouco ao norte do Cabo Espichel, que o fez afundar, sendo logo socorrido pelo rebocador “Berrio”, que juntamente andava em serviço idêntico. Os nomes dos sobreviventes, alguns dos quais tem ligeiros ferimentos, são:
Civis ao serviço auxiliar da divisão naval: 2º tenente Francisco da Costa Biaia; 2º fogueiro 248 Abixo Senna; 2º fogueiro 247 Francisco da Cunha; 2º sargento João Viegas Trabuco e o 2º marinheiro Alexandre Fragoso da Silva.
Militares: 1º marinheiro timoneiro-sinaleiro 4123 António de Souza Oliveira; 1º grumete timoneiro-sinaleiro 4761 Tiago Gil.
Mortos – civis ao serviço auxiliar da divisão naval: sargento 242 António Simões; 2º marinheiro 243 Jaime Constantino; 2º marinheiro 249 Domingos Jones Dapão; 2º grumete 398 Joaquim Bento; chegador 400 Américo Fernandes Ribeiro e o 2º marinheiro 241 Gabriel Pereira.
Militares: 1º tenente (comandante) Raul Alexandre Cascais; 1º sargento 442 Narciso Bento António; 1º artilheiro 2864 Júlio Cardoso; 2º marinheiro 4790 Alexandre dos Santos Godinho; 2º artilheiro 4159 José dos Santos; 1º grumete 4310 Francisco de Matos Maleiro; 1º grumete 5314 Anselmo de Carvalho e o 1º marinheiro 3339 António Afonso.

O 1º tenente Cascais, comandante do vapor “Roberto Ivens”, era um oficial muito distinto. Depois da declaração de guerra da Alemanha a Portugal, comandou um destroyer. Em seguida esteve no serviço de rocegagem na barra de Lisboa e há tempo comandava aquele vapor. Os náufragos recolheram ao Bom Sucesso, indo para o hospital dois deles, um que ficou ligeiramente ferido e outro que, por estar muito tempo na água, teve um princípio de congestão. Há ainda um outro ferido, que depois de pensado, recolheu a casa.
O comandante da Divisão Naval, logo que teve conhecimento do caso, partiu para o local do sinistro, onde procedeu a rigoroso inquérito, que durante a noite entregou ao sr. Ministro da Marinha.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 27 de Julho de 1917)

O caça-minas “Roberto Ivens”, conforme noticiado naufragou por ter esbarrado com uma mina, que fazia o serviço de rocegagem entre Cascais e o Cabo Espichel, era o vapor de pesca “Lordello”, pertencente à companhia de Pescarias, Lda.
Entre os mortos há ainda a enumerar o 2º marinheiro Domingos José Alves. O comandante 1º tenente Raul Cascais, tinha ido abaixo, à câmara, quando se deu o desastre Não resta dúvida que foi uma mina, por isso que a explosão produziu um fumo intenso e negro, o que é provocado pelas composições químicas que constituem aquele explosivo, tendo ficado a água em torno, numa zona de 100 metros quadrados, muito enegrecida.
O capitão da marinha mercante sr. Biaia ficou ferido na cabeça e contuso nos joelhos pelos estilhaços de vidros. O fogueiro Francisco da Cunha ficou com traumatismo no tórax. Com pequenas escoriações e contusões: 0 1º marinheiro faroleiro-sinaleiro, um 1º grumete, o 2º sargento graduado João Viegas Trabuco e o 2º marinheiro graduado Alexandre Fragoso da Silva.
As autoridades da Marinha têm recebido numerosos telegramas e ofícios de pêsames pela catástrofe sofrida. O general comandante da 1ª divisão militar oficiou ao comando da divisão naval, manifestando-lhe, em seu nome e no das tropas do seu comando, todo o pesar pelo sinistro e da perda de vidas e em especial pela morte do 1º tenente Cascais, que fez parte da coluna de marinha em Angola, sob o seu comando.
Recebeu também telegramas de sentimento de várias agremiações e do adido naval francês. Ainda não apareceu nenhum cadáver.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 28 de Julho de 1917)

Os diversos adjectivos utilizados, tais como acidente, desastre ou catástrofe, perdem o significado quando a realidade aponta para o que é vulgarmente designado por “acto de guerra”. É verdade que o perigo de rocegar minas com navios de ferro/ aço, sabendo que a barra do porto podia encontrar-se minada e que as minas dispunham dum considerável campo magnético, devia ter sido melhor acautelada, mas eventualmente a falta de meios apropriados, transformaram os arrastões em alvos preferenciais.
País de heróis ou mártires? Ambos certamente, porque imperava a noção de defender o mar que é nosso, levados pela dignidade, orgulho e respeito conquistado pelos nossos antepassados.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Pesca do bacalhau


Lisboa, resultados da campanha de 1913

A notícia publicada no jornal "O Comércio do Porto", de 5 de Fevereiro de 1914, ajuda a compreender a enorme margem evolutiva da pesca do bacalhau no país, porquanto já se encontravam disponíveis neste período 41 unidades, de pequeno e médio porte. Espelha igualmente a capacidade nacional em recuperar do atraso de varias décadas, se mais uma vez recordar, que a actividade foi apenas liberalizada em 1902.

A notícia em causa

Relativamente aos navios de Lisboa, que foram e vieram a ser empregues na pesca, constato a existência de 16 embarcações. Partindo do princípio que a informação é fidedigna, devo concluir que unidades como o arrastão "Elite", poderia já estar amarrado algures à espera de comprador. Outros navios da Parceria Geral de Pescarias, tais como os lugres "Argus" e "Hortense", em função do limitado número de tripulantes embarcados e da mesma forma os restantes, só posso especular que pudessem estar colocados no serviço comercial e muito provavelmente a situação ter-se-à repetido em 1914, em função do decréscimo de peixe capturado. Abaixo segue a lista dos navios, que acredito tenham estado presentes nessa campanha.

Palhabote “Açor”
1903-1917
Parceria Portuguesa de Pescarias
Nº Oficial: 408-B - Iic.: H.B.K.T. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: António Dias dos Santos, Fão, 1891
ex “D. Theresa”, J. José da Encarnação, Porto, 1891-1903
Arqueação: Tab 182,82 tons - Tal 173,08 tons
Dimensões: Pp 31,79 mts - Boca 7,94 mts - Pontal 3,30 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 29 tripulantes
Afundado por submarino alemão com carga explosiva, ao largo do Cabo de S. Vicente, em 16 de Agosto de 1917.

Escuna “Creoula”
1909-1936
Parceria Geral de Pescarias

A escuna "Creoula"
Imagem de autor desconhecido

Nº Oficial: 404-A - Iic.: H.G.P.J. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: -??-, Brixham, Inglaterra,1862 (reconst. 1895)
ex “Hydrantha”, Aikaim Mayer, Inglaterra, 1862-1886
ex “Creoula”, Victorino Augusto d’Oliveira, 1886-1895
ex “Creoula”, Guilherme Silva Spratley e outros, 1895-1909
Arqueação: Tab 151,85 tons - Tal 144,26 tons
Dimensões: Pp 30,51 mts - Boca 7,00 mts - Pontal 3,70 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 25 tripulantes
Supostamente demolida em Lisboa, durante o ano de 1936.

Lugre “Gamo”
1891-1918
Parceria Geral de Pescarias
Nº Oficial: 491 - Iic.: H.J.M.K. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: -??-, Inglaterra, 1874
ex “Reindeer”, -??-, Inglaterra, 1874-1885
ex “Gamo”, Bensaúde & Cª., Horta, 1885-1891
Arqueação: Tab 315,09 tons - Tal 300,01 tons
Dimensões: Pp 38,90 mts - Boca 7,77 mts - Pontal 4,04 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 42 tripulantes
Afundado por submarino alemão com carga explosiva, durante a pesca nos bancos da Terra Nova, a 31 de Agosto de 1918.

Lugre “Gazela”
1891-1969
Parceria Geral de Pescarias
Nº Oficial: 375-B - Iic.: H.G.V.Q. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: -??-, Southampton, Inglaterra, 1837
ex “Gaselle”, -??-, Inglaterra, 1837-1874
ex “Gaselle”, Bensaúde & Cª., Horta/ Lisboa, 1874-1891
Arqueação: Tab 325,48 tons - Tal 309,21 tons
Dimensões: Pp 41,70 mts - Boca 8,22 mts - Pontal 5,12 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 46 tripulantes
Vendido ao Museu Marítimo de Filadélfia em 1969.

Lugre “Labrador”
1902-1916
Parceria Geral de Pescarias
Nº Oficial: 490 - Iic.: H.G.W.V. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: -??-, Inglaterra
Arqueação: Tab 216,04 tons - Tal 205,06 tons
Dimensões: Pp 31,78 mts - Boca 7,28 mts - Pontal 3,90 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 32 tripulantes
Vendido a António P. da Costa, Lda., de Lisboa, em 1916, mudou o nome para “Sado”. Afundado por submarino alemão com carga explosiva, ao largo do Cabo Sardão, em 14 de Novembro de 1917.

Lugre “Náutico”
1902-1917
António Marques de Freitas, Lisboa
Nº Oficial: 401-B - Iic.: H.D.P.R. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: José Maria Bolais Mónica, Gafanha. 20.08.1899
ex “Nazareth”, José Maria Bolais Mónica, Aveiro, 1899-1902
Arqueação: Tab 186,83 tons - Tal 177,49 tons
Dimensões: Pp 32,17 mts - Boca 8,70 mts - Pontal 3,40 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 30 tripulantes
Vendido a Augusto Rego, Lda., de Lisboa, em 1917. Eventualmente demolido em 1935.

Lugre “Nautilus”
1906-1918
Sociedade Nacional de Pesca, Lda.
Nº Oficial: 471-B - Iic.: H.K.B.P. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: António Dias dos Santos, Caminha, 01.1907
Arqueação: Tab 341,61 tons - Tal 324,53 tons
Dimensões: Pp 39,66 mts - Boca 9,35 mts - Pontal 3,95 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 36 tripulantes
Sem rasto após 1918.

Patacho “Neptuno”
1897-1937
Parceria Geral de Pescarias
Nº Oficial: 485 - Iic.: H.D.K.W. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Rodrigues, Vila do Conde, 1873 (reconst. 1896)
ex “Victor”, José A. dos Santos e outros, Lisboa, 1873-1885
ex “Neptuno”, Manoel d’Avelar e outros, Lisboa, 1885-1889
ex “Neptuno”, Bensaúde & Cª., Lisboa, 1889-1897
Arqueação: Tab 191,71 tons - Tal 172,63 tons
Dimensões: Pp 34,80 mts - Boca 7,77 mts - Pontal 3,19 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 30 tripulantes
Vendido à empresa Pesca de Portugal, de Aveiro em 1937, mudou o nome para “Neptuno II”. Por motivo de encalhe à entrada da barra de Aveiro, foi considerado irrecuperável em 1948.

Patacho “Social”
1902-1918
Parceria Geral de Pescarias
Nº Oficial: 486 - Iic.: H.G.K.J. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: -??-, S. Martinho do Porto, 1876
ex “Luso”, -??-, Lisboa, 1876-1902
Arqueação: Tab 187,61 tons - Tal 178,23 tons
Dimensões: Pp 26,82 mts - Boca 7,40 mts - Pontal mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 30 tripulantes
Não consta na lista de 1918. Sem rasto.

Lugre “Terra Nova”
1912-1917
Parceria Portuguesa de Pescarias, Lisboa
Nº Oficial: 386-C - Iic.: H.J.S.W. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: -??-, Arendal, Noruega, 1876
ex “ -?? -, Noruega, 1876-1912
Arqueação: Tab 294,52 tons - Tal 241,66 tons
Dimensões: Pp 38,60 mts - Boca 8,88 mts - Pontal 3,88 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 35 tripulantes
Vendido à Sociedade “A Marítima”, de Lisboa, em 1917. Afundado por submarino alemão com carga explosiva, ao largo de Aveiro, em 17 de Agosto de 1917.

sábado, 16 de abril de 2011

A divulgação da pesca do bacalhau


O afundamento do lugre "Gamo"

De uns tempos a esta parte, tenho notado um considerável aumento de interesse, no que concerne à divulgação da pesca do bacalhau à linha, com retratos de exemplos multi-disciplinares. Torna-se evidente o acréscimo de edições de livros sobre o tema, no continente e nas ilhas e simultaneamente através de notícias publicadas em jornais e revistas. Refiro uma das facetas mais recentes, na vã esperança de não ter passado despercebida e que está relacionada com o ataque ao lugre “Gamo”, no já longínquo ano de 1918, pelo submarino alemão U-155. O relato que se apresenta assinado pelo jornalista Jorge Fonseca, que contou com o apoio histórico do neto do capitão Agualusa, vem uma vez mais salientar as dificuldades duma actividade, notoriamente agravada em tempos de guerra.
A publicação em causa é a revista “em Foco”, que acompanhou o jornal “Público”, de 15 de Fevereiro último, eventualmente um resumo extraído do texto publicado pelo jornalista Costa Júnior, na sua obra “Ao Serviço da Pátria”, de 1944, com alguns detalhes então desconhecidos e que actualmente estão disponíveis, pelas facilidades obtidas através duma informação mais globalizada. Esta ideia que poderá vir a ter continuação, face à curiosidade que estes episódios merecem, vai seguramente agradar aos apaixonados pela história marítima e aos mais jovens, pelo que na minha opinião, justifica plenamente a inclusão do texto no blog.


O referido submarino U-155, nas diversas patrulhas efectuadas em diferentes teatros de guerra, durante o ano de 1918, teve como comandantes os capitães de fragata Erich Eckelmann, entre Janeiro e Maio e Ferdinand Studt, desde 1 de Junho até 24 de Novembro, data em que se apresentou à Marinha Inglesa, com a rendição da sua tripulação, no final do conflito armado da Iª Grande Guerra mundial. Contabilizou nos seus registos 43 navios afundados e 3 danificados, de diferentes nacionalidades. No que respeita à frota nacional, foi carrasco do iate “Rio Ave”, da Parceria de Pesca Portuense, Porto, em 25 de Março de 1918, quando em viagem dos Açores para Lisboa; do lugre “Lusitano”, da Companhia União Fabril, Lisboa, a 1 de Abril de 1918; do lugre “Gamo”, da Parceria Geral de Pescarias, Lisboa, a 31 de Agosto de 1918 e do lugre “Sofia”, da Empresa de Pesca Boa Esperança, de Aveiro, a 7 de Setembro de 1918, ambos durante a campanha de pesca na Terra Nova, finalizando com o vapor “Leixões”, dos Transportes Marítimos do Estado, Lisboa, em 12 de Setembro de 1918.
A rigorosa verificação das notícias nos jornais da época, montada pela censura militar, evitava que chegasse ao conhecimento das pessoas o número e o nome das vitimas, que ocorriam durante os ataques de submarinos, próximo ou longe da nossa costa. Se na maior parte dos casos os submarinistas se limitavam à destruição dos navios, poupando a vida às tripulações, as más condições de tempo e mar abriram sepulturas, que o tempo não conseguiu ainda apagar.
Tal foi o caso do “Gamo”, que registou 5 mortos, durante a cavalgada heróica sobre as vagas, ao encontro dum local de acostagem, que levasse as pequenas jangadas, baleeiras ou doris a salvamento. Recuperei apenas uma notícia não anulada pela censura, com origem em Viana do Castelo, a 15 de Setembro desse mesmo ano. Dizia o jornal “O Comércio do Porto”, que um dos marinheiros falecidos era natural de Viana. Chamava-se Joaquim Gonçalves Mota, tendo deixado viúva e filhos menores. Para os marinheiros dos submarinos alemães, muitos deles mortos durante o conflito e tendo muitos outros passado por campos de concentração, até ao regresso ao seu país, deram por terminada a inglória e nefasta noção do dever cumprido. Por outro lado, o grosso volume das vítimas nacionais, suas viúvas e órfãos, obriga-nos a reflectir sobre a nossa memória colectiva, não nos permitindo deixar cair no esquecimento, um rio de lágrimas perdidas, com sabor a sal.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Notícias dos Açores (VI)


O nm “ Cecília A “
2010 - (em serviço)
Empresa de Barcos do Pico, Madalena, Ilha do Pico

O "Cecília A" no porto da Madalena, ilha do Pico

Outra embarcação que se encontra a operar na cabotagem local, com escalas relâmpago nas ilhas do grupo central, tem-se revelado insubstituível pela sua utilidade, apesar de já contar mais de 40 anos de serviço activo. Com uma construção pensada para navegar entre os pequenos portos Noruegueses, tem a necessária solidez que lhe permitia enfrentar situações de mar bonançoso e simultaneamente resistir às condições de clima adversos, nos mares do norte.

Nº Oficial: H-231-TL - Iic.: -?- - Registo: Horta (02.12.2010)
Construtor.: Mandals Slip & M/V., Mandal, Noruega, 1968
ex “Gullfjord”, (proprietário desconhecido), 1968-1973
ex “Solvstjernen”, Harry J. Teigland, Sandnessjoen, 1973-1983
ex “Terningen”, Kristoffer Saeternes, Trondheim, 1983-1994
ex “Gullfjell”, Jan Saevroy, Bergen, Noruega, 1994-1997
ex “Gullfjord”, (proprietário desconhecido), 1997-2010
Arqueação: Tab 383,00 tons - Tal 219,00 tons
Dim.: Ff 40,38 mts - Pp 36,86 mts - Bc 8,20 mts - Ptl 5,00 mts
Propulsão: Caterpillar, 1998 - 1:Di - 6:Ci - 448 Bhp - 11 m/h

O navio ainda na versão original como "Gullfjell"
Imagem Photoship.Uk

O navio apresenta o formato típico das embarcações nórdicas, dos anos sessenta, muitas vezes utilizados no transporte de bacalhau fresco para os portos do continente. De regresso à Escandinávia, carregavam pequenas parcelas de granito a granel, com destino a portos na Noruega e Dinamarca.

Notícias dos Açores (V)


O nm “ Lusitania “
2002 - (em serviço)
Empresa de Barcos do Pico, Madalena, Ilha do Pico

O "Lusitania" no cais do porto da Madalena, na ilha do Pico

Uma das embarcações empregues na cabotagem local, que pode ser apreciado a navegar entre as ilhas do grupo central, é indiscutivelmente o cargueiro aqui representado, em função da sua agradável combinação de cores, que lhe favorece a elegância de linhas, em nítido contraste com as suas pequenas dimensões.

O navio visto pela amura de estibordo

Nº Oficial: H-227-TL - Iic.: -?- - Porto de registo: Horta
Cttor.: Steiner Shipyard, Bayou Labaire, Luisiana, EUA, 03.1982
ex “Sea Server”, (proprietário desconhecido), 1982-1995
ex “Lusitania”, Transmaçor, Lda., Horta, 1995-03.12.2002
Arqueação: Tab 155,0 tons - Tal 56,00 tons
Dimensões: Pp 27,78 mtrs - Boca 7,31 mtrs - Pontal 3,20 mtrs
Propulsão: Baudouin, 1980 - 1:Di - 350 Bhp - 8 m/h

O navio visto pela alheta de estibordo

Por uma questão de sorte, surgiu a oportunidade de encontrar o navio em processo de manutenção, na carreira do porto da Madalena, na ilha do Pico.
Desse momento ficam as imagens dos trabalhos em curso, no sentido de manter o navio a operar durante vários anos, no exigente serviço que lhe é programado.

O navio visto pela popa e aparelho propulsor

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Notícias dos Açores (IV)


O n/m “Paulo da Gama”
1997 - (em serviço)
Transp. Marítimos Graciosenses, Lda.
Santa Cruz da Graciosa

O "Paulo da Gama" saíndo de S. Roque

Nº Oficial: -?- - Iic.: -?- - Reg.: Santa Cruz da Graciosa
Cttor.: Elbewerften Bolzenburg, Rosslau, R.D.A., 07.1972
ex “Joett”, (proprietário desconhecido), Noruega, 1972-1973
ex “Spenning”, Hans Rodahl P/R., Svolvaer, Noruega, 1973-1990
ex “Broa”, P/R Brodrene Opstad, Molde, Noruega, 1990-1997
Arqueação: Tab 197,00 tons - Tal 117,00 tons - Pm 599,00 tons
Dimensões: Ff 49,59 mt - Pp 44,00 mt - Bc 10,11 mt - Ptl 5,62 mt
Propulsão: MWM, Mannheim - 1:Di - 6:Ci - 810 Bhp - 12 m/h

O navio à descarga no porto de S. Roque

Visto a descarregar no dia 27 de Março, no cais do porto de S. Roque, na ilha do Pico.