Chegaram os Russos!…
3ª parte
3ª parte
O tanque “Neftesyndicat S.S.S.R.“ era um navio novo, encontrando-se a realizar uma das suas primeiras viagens, com um carregamento completo de benzina, previsto para ser descarregado no porto de Amesterdão. Mantendo-se na rota programada, o capitão do navio aproximou-o ligeiramente de terra, no sentido de estabelecer a posição com rigor, através da localização dos faróis espalhados ao longo da costa. Depois de passar por Vigo, avistou ao largo o iate “Famalicão III“, sensívelmente em frente ao porto da Corunha, estabelecendo contacto com ele face aos insistentes apelos de socorro. Depois de manobrar e passar cabo de reboque, interrompeu a viagem rumando a sul, com destino a Leixões, para trazer o iate até ao porto nacional mais próximo, onde deixaria a embarcação em segurança.
Contactadas as autoridades portuguesas, meteu o respectivo piloto para ser auxiliado na manobra portuária e ancorou. Conforme solicitado, seguiu para bordo o Oficial Adjunto do Capitão do Porto, 2º Tenente Benigno de Carvalho, dois agentes da Polícia Marítima e o Sr. Diniz Leuschner, com funções de interprete, logo se estabelecendo uma rigorosa incomunicabilidade com o navio e seus tripulantes. Pretendia o capitão Russo ter assinado, local e oficialmente o respectivo protesto de mar. Preenchidas as formalidades, o capitão deu por findo o motivo que o trouxe até ao porto, pelo que logo que possível o navio estaria preparado para sair, retomando a viagem.
Apesar de muita gente ter acorrido ao anteporto de Leixões para observar o vapor, a muralha de incomunicabilidade montada para o efeito, também em terra, manteve afastados todos os curiosos. Não conseguiram contudo as autoridades impedir que esta escala do navio russo, tomasse foros de acontecimento de vulto, marcando um facto histórico digno de menção. Disse quem esteve perto da tripulação russa, terem ficado bem impressionados pelo seu aprumo e apresentação, achando que o navio era moderno, poderoso e com muito boa aparência.
Na hora da despedida o capitão do navio sublinhou ter ficado surpreendido pela inusitada falta de cortesia e pela forma grosseira como foi evitado o contacto com a tripulação do iate, que tinham acabado de salvar. Não somos selvagens, adiantou, selvagens foram os outros que lhes recusaram o direito de serem assistidos…
Com o navio já em marcha para sair, à passagem pelo iate, ouviu-se a sirene do tanque soar várias vezes, em sinal de despedida, cumprimento retribuído pelo apito do “Famalicão III”. Todos os tripulantes desceram à coberta, acenando com os seus lenços, num adeus particularmente singelo e sentido. Nesse momento foi quebrada a barreira política de ambos os países e levantado bem alto os grandes valores da solidariedade e amizade, que um pouco à volta do mundo é ainda apanágio dos valorosos trabalhadores do mar.
Contactadas as autoridades portuguesas, meteu o respectivo piloto para ser auxiliado na manobra portuária e ancorou. Conforme solicitado, seguiu para bordo o Oficial Adjunto do Capitão do Porto, 2º Tenente Benigno de Carvalho, dois agentes da Polícia Marítima e o Sr. Diniz Leuschner, com funções de interprete, logo se estabelecendo uma rigorosa incomunicabilidade com o navio e seus tripulantes. Pretendia o capitão Russo ter assinado, local e oficialmente o respectivo protesto de mar. Preenchidas as formalidades, o capitão deu por findo o motivo que o trouxe até ao porto, pelo que logo que possível o navio estaria preparado para sair, retomando a viagem.
Apesar de muita gente ter acorrido ao anteporto de Leixões para observar o vapor, a muralha de incomunicabilidade montada para o efeito, também em terra, manteve afastados todos os curiosos. Não conseguiram contudo as autoridades impedir que esta escala do navio russo, tomasse foros de acontecimento de vulto, marcando um facto histórico digno de menção. Disse quem esteve perto da tripulação russa, terem ficado bem impressionados pelo seu aprumo e apresentação, achando que o navio era moderno, poderoso e com muito boa aparência.
Na hora da despedida o capitão do navio sublinhou ter ficado surpreendido pela inusitada falta de cortesia e pela forma grosseira como foi evitado o contacto com a tripulação do iate, que tinham acabado de salvar. Não somos selvagens, adiantou, selvagens foram os outros que lhes recusaram o direito de serem assistidos…
Com o navio já em marcha para sair, à passagem pelo iate, ouviu-se a sirene do tanque soar várias vezes, em sinal de despedida, cumprimento retribuído pelo apito do “Famalicão III”. Todos os tripulantes desceram à coberta, acenando com os seus lenços, num adeus particularmente singelo e sentido. Nesse momento foi quebrada a barreira política de ambos os países e levantado bem alto os grandes valores da solidariedade e amizade, que um pouco à volta do mundo é ainda apanágio dos valorosos trabalhadores do mar.
6 comentários:
Nos idos de 50, do século passado, também tivemos russos a chegar ao porto de Ponta Delgada, em S.Miguel, Açores.
A noticia correu rápidamente e, pouco depois, já havia gente na doca olhando de soslaio para o navio e seus tripulantes, que não podiam desembarcar. Pois é, ali estavam, então, os célebres comunistas..que, afinal, não pareciam ser assim muito diferentes de nós..tinham braços, pernas, falavam (embora não entendessemos o que diziam)e até se riam..
Mas não chegou ser um navio russo, da União Soviética, havia outra novidade - tinha uma mulher a bordo,imagine-se!
Como o meu pai tinha o vicio da pesca desportiva e eu o acompanhava, numa noite em que fomos aos sargos, e o navio ainda lá estava, o guarda-fiscal que estava de serviço e que nos conhecia - quem não se conhecia num meio pequeno? - acabou por nos confirmar que sim senhor, havia mulher no navio, e que era radio-telegrafista..Além disso, ainda consentiu numa troca de cigarros, e assim conheci aquele estranho tabaco russo - que ainda existe - cujos cigarros, em dois terços do comprimento são uma espécie de filtro em cartão..
Soube mais tarde que navio comunista era aquele, que tanto alvoroço trouxe ao nosso porto - era um veleiro, chamado "Zarya", na altura o único navio não-magnético no Mundo, que estava a desenvolver estudos cientificos integrados no Ano Geofisico Internacional, que decorreu de Julho de 1957 a Dezembro de 58. A iniciativa que reuniu cientistas de 66 países,tinha por objectivo estudar o nosso planeta. Entre outros resultados levou ao estabelecimento do Tratado do Antárctico, que declarou aquele continente como património comum da Humanidade.
Anos mais tarde conhecerìamos outros navios comunistas - os cubanos das "Lineas Mambisas" - que escalavam P.Delgada, na viagem de Cuba para a URSS, transportando açúcar. Mas essa é outra história..
Continuação do excelente trabalho, com saudações marinheiras.
João Coelho
Caros Reimar e João Coelho
È obra, o comandante do NEFTESYNDICAT S.S.S.R (longo nome para navio, fora as iniciais, se bem que nos anos 80 atendia c/ regularidade em Leixões um navio Paraguaio, cujo nome quase ultrapassava os 90m do seu comprimento – MARISCAL JOSÉ FELIX ESTIGARRIBIA – era um navio mercante armado em “Nave Escuela de la Armada”) retroceder uma enormidade de milhas e colocar o pequeno FAMALICÃO lll, velame desfeito, na bacia de Leixões, quando o poderia ter deixado num dos muitos portos Galegos, e ainda por cima demandou o porto. Só mostrou uma verdadeira abnegação e solidariedade própria dos homens do mar, e nem sequer fora agraciado pelo ISN. Enfim, Politiquices!
Os navios Soviéticos e os da chamada Cortina de Ferro, nunca lhes foi vedada o acesso a portos Portugueses, e a prova é que os navios Polacos sempre os escalaram com regularidade, e mais tarde apareceram os Jugoslavos, Búlgaros, Romenos, etc., só que às tripulações e passageiros era-lhes vedada a vinda a terra, e para isso permanecia a bordo um agente da PIDE durante a estadia, mas pelo que me relatavam tripulações de várias nacionalidades, naqueles países o sistema era muito parecido, pois sentiam-se sempre vigiados com alguém a segui-los.
Eu prestei durante muitos anos assistência aos navios Polacos, e tanto eu como o agente da PIDE recebíamos protestos dos respectivos capitães mas eles tinham que aceitar os regulamentos do porto. Um certo Domingo de manhã de finais da década de 60, um navio Polaco, vindo de portos Africanos do Mediterrâneo, trazendo passageiros cooperantes, como católicos que eram, à viva força queriam assistir à missa numa capela que existia próximo. Está claro que o Pide não autorizou, no entanto disse-me para a agência expor por escrito o problema à directoria da PIDE/DGS, e assim se procedeu, levando eu a carta em mão, o subdirector leu a carta e disse que de facto não fazia sentido. Falou para a Directoria em Lisboa e disse-me que o assunto ia ser resolvido, e foi! Milagre! A partir daí deixou haver a presença do Pide a bordo e tripulantes e passageiros passaram a poder vir a terra e passear livremente dentro da área da região do Porto, como sucedia com os de outras nacionalidades, mas dentro dos países da Cortina de Ferro, somente Polacos, Jugoslavos, Búlgaros e Romenos tiveram essa facilidade.
Mas pior, eram os Goeses, tripulantes dos navios da Clan Line, eom nomes Portugueses, BI ainda do Estado Português da Índia, também na década de 60, com familiares no cais, que os vinham buscar para os levar às suas casas, não eram autorizados a vir a terra, aí é que foi ter de ouvir o bom e o bonito, dos tripulantes e do comandante!
Saudações marítimo-entusiásticas
Rui Amaro
Caros amigos !
Em virtude do interessante relato deste caso, foi com intenção prepositada que pretendi levantar o véu sobre a forma desumana de tratamento, que mereciam todos aqueles que sem culpa nenhuma, pagavam pelos excessos dos governantes dos seus países. A história demonstra bem, casos de grande solidariedade estiveram sempre além do interesse politico.
Com os vossos depoimentos, estamos seguramente a recordar uma página da nossa história, que os mais novos devem conhecer e na medida do possível não esquecer.
Um abraço a ambos,
Reimar
Ainda os Russos.
O único navio Russo que atendi, foi nos finais da década de 70, um navio de cerca de 80m, que já não me recordo do nome, o qual na década de 60 afundara-se no rio Tamisa, tendo mais tarde sido posto a reflutuar. Aconteceu, que perto das 22h30 indo despachar um navio de saída, aproveitei para levar uns telexes urgentes para o capitão, qual foi o meu espanto a prancha estava levantada, às que era usual alguns navios Russos assim proceder. Quem chegasse até às 22h00 entrava, quem se atrasa-se ficava em terra. Chamei o vigia Russo, que baixasse a prancha ou fosse chamar o capitão mas ele com uma grande “naça” e de vasilhame de álcool 95º, já vazio, pelo que eu entendia, pois só falava a sua língua pátria, pedia-me para ir à farmácia comprar mais álcool, mas que “watchman”! Como ele não atava nem desatava, fui tratar de libertar o outro navio, e quando voltei apareceram vários tripulantes Russos vindos de terra, que como a borda estava ao nível da muralha saltaram para bordo e levaram os telexes ao capitão e vindo embora deixei o vigia a berrar por mais álcool.
No dia seguinte, pelas 17h00, fui tratar da largada do navio, e se o vigia era um adepto fervoroso do álcool, o capitão ultrapassava-o de longe!. Pois numa mesa farta de uísques, vodkas e outras bebidas espirituosas e respectivos aperitivos, nem dava acordo de si, mas lá me assinou a papelada. Chegado o piloto da barra, vendo o estado em que o capitão se encontrava, disse-me que não dava saída ao navio, e estava no seu direito. O meu pai também foi piloto, e teve muitos casos idênticos. Chamou-se o imediato e este disse ao piloto que não se preocupasse, ele tomava conta do comando do navio, para não criar problemas ao capitão perante o armador e a Marinha Mercante Soviética, e o navio lá saiu comandado pelo imediato. Ainda bem!
Saudações marítimo-entusiásticas
Rui Amaro
Caro Reimar, a conversa é como as cerejas..
A propósito de situações inusitadas, soube duma nos anos 60 que passo a narrar; em P.Delgada, S. Miguel, Açores, estávamos habituados às escalas regulares de navios, portugueses e estrangeiros, mas era também usual arribarem outros navios, para reabastecimento - tomar água e óleo ou com avaria, para além dos que, por acidente a bordo, vinham desembarcar feridos ou mortos. Neste último caso, o navio entrava, desembarcava os acidentados, e zarpava..
Certo dia, aparece no porto um cargueiro que tinha sofrido uma explosão na casa das máquinas. Entrou de manhã e, estranhamente, à tarde, ainda continuava acostado ao molhe..Sempre atentos, fomos à procura de justificação para aquele atraso..que se devia ao facto de o falecido (ou falecidos, já não recordo) ser chinês, de Taiwan, ou Hong Kong, por certo.
Então, como a tradição na China manda que à familia do morto se entreguem as unhas do dito, a demora no porto tinha a ver com a procura das referidas unhas - tarefa dificultada pelo facto de a explosão ter sido violenta e ter mutilado o desgraçado (ou desgraçados).
Noutra altura, um graneleiro norte-americano, com feridos a bordo, não esteve com meias-medidas - deixou a lancha dos pilotos a correr atrás dele,feita parva, meteu a proa à entrada da baía da doca e só parou em cima duma baixa de areia, junto à Avenida Marginal e quase em frente à Praça Gonçalo Velho - o centro da nossa cidade. Valeu-lhe vir em lastro para se safar na maré alta - mas durante algumas horas animou a orla maritima de Ponta Delgada, "decorada" com aquele matacão plantado à beira da Marginal..
Saudações atlânticas
João Coelho
Boa noite meus SRES .Gostei de ler estas histórias dos então comunistas ,más no fundo muito melhores que muitos que se diziam democratas ! Também vou contar uma história que foi real !.Um certo dia do ano 76 estáva-mos a pescar a oeste de leixões ,quando vém um arrastão fabrica e éra da Russia ,isto no governo do então Presidente Vasco Gonçalves ,nós com os aparelhos na água e eu fiquei preócupado porque o arrastão russo vinha na nossa direção ,eu mandei emboiar as redes e naveguei direito a ele e quando cheguei a ele os óficiais na ponte a dar-me sinais que já estavam a virar o arrasto e que não me preócupasse que eles estávam com atenção ! Agradeçi e fiquei sensivilizado com a prestação do navio Russo que se calhar um Portuges não fazia melhor e assim evitou de me fazer algumas dezenas de contos de prejuizo ,que na altura éra muito ?Comprimentos a todos saudações maritimas J.Pontes .
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