Um draga-minas português
O Governo dos Estados Unidos da América entregou a Portugal, ao abrigo do programa de defesa e assistência mútua, o primeiro draga-minas, que foi baptizado com o nome “Ponta Delgada”. A cerimónia da entrega realizou-se nos estaleiros navais de Brooklyn, em Nova York. É o primeiro de diversas unidades do mesmo tipo, especialmente construídos na América do Norte, para os países que pertencem à Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 13 de Abril de 1953
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 13 de Abril de 1953
Draga-minas “Ponta Delgada”
Foi publicada no «Diário do Governo» uma portaria que aumenta ao efectivo dos navios da Armada, na situação de armamento normal, o draga-minas “Ponta Delgada”, que é o primeiro dos navios daquela classe cedido pelos Estados Unidos da América do Norte ao nosso País, ao abrigo dos acordos resultantes do Pacto do Atlântico. Aquela portaria estabelece como lotação provisória do “Ponta Delgada”, constituída por quatro oficiais e trinta e cinco sargentos e praças.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 13 de Abril de 1953
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 13 de Abril de 1953
O draga minas “Ponta Delgada”, primeiro navio de guerra cedido pelos
Estados Unidos à Marinha Portuguesa, entrou, ontem, no Tejo
Estados Unidos à Marinha Portuguesa, entrou, ontem, no Tejo
Escoltado desde Cascais pelo aviso “Afonso de Albuquerque” e pelo navio-patrulha “Espadilha”, entrou, ontem, no Tejo, o novo draga-minas “Ponta Delgada”, o primeiro navio de guerra cedido pelos Estados Unidos à Marinha Portuguesa. Era cerca das 7 horas quando chegaram em frente a Cascais, o “Afonso de Albuquerque” e o “Espadilha”, que recebera o navio, com as saudações da ordenança entre toque de sentido e sinais de bandeiras a expressar as boas-vindas.
Eram 7 horas e 40, quando foi constituído o cortejo naval a caminho de Lisboa. À frente navegava o “Ponta Delgada” seguido pelo “Espadilha” e logo após o “Afonso de Albuquerque”. Quando o “Ponta Delgada” passou em frente da Praça do Comércio, a fim de ir amarrar à boia em frente da doca de Marinha, o draga-minas “Terceira” e o navio-escola “Sagres” içaram os sinais de boas-vindas, ao mesmo tempo que os rapazes da “D. Fernando” saudavam a nova unidade com os bonés.
Entretanto a bordo do “Ponta Delgada”, que é comandado pelo 1º tenente Emmanuel Ricou, tudo estava a postos para receber a visita dos membros do Governo, do embaixador dos Estados Unidos e demais entidades oficiais.
Pelas 10 horas começaram a reunir-se na muralha da doca de Marinha as entidades oficiais que iam visitar o novo navio e que eram recebidas pelo director dos Serviços Marítimos, sr. capitão de mar-e-guerra, Correia Monteiro, e pelo oficial de serviço.
Foi o sr. almirante Ortins de Bettencourt, chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, o primeiro a chegar, logo seguido pelo comandante geral da Armada interino, sr. contra-almirante Guerreiro de Brito, chefe do Estado Maior Naval, contra-almirante Nuno de Brion, comandante-chefe da força naval da Metrópole, e contra-almirante Alves Leite, superintendente da Armada, comodoro Quintanilha de Mendonça Dias, e sub-chefe do Estado Maior Naval, capitão de mar-e-guerra, Galeão Roma, comandante da defesa marítima, general Frank Camm, chefe da missão americana com todos os oficiais da secção naval da mesma missão, acompanhados pelo capitão Oliveira Júnior, do Estado Maior Naval.
Pouco depois chegava o sr. contra-almirante Américo Tomás, ministro da Marinha, que foi recebido pelas entidades presentes, o mesmo acontecendo ao sr. coronel Guggenheim, embaixador dos Estados Unidos, acompanhado pelo adido naval americano. Por fim chegou o sr. ministro da Defesa. Após os cumprimentos a este membro do Governo, tos os convidados seguiram num gasolina para bordo do “Ponta Delgada, onde por determinação do sr. ministro da Marinha foi içado o distintivo do sr. ministro da Defesa. Recebidos pelo novo comandante do novo draga-minas ao portaló, as entidades oficiais, enquanto a guarnição do navio se encontrava formada, visitaram as principais dependências do navio.
Usa da palavra o ministro da Marinha:
Finda a visita, foi oferecido pelo comandante do novo navio um «Porto de Honra» aos convidados. Foi então que usou da palavra o sr. ministro da Marinha, que começou por agradecer aos srs. embaixador dos Estados Unidos, ministro da Defesa, almirantes e membros da Missão Militar Americana, a sua presença, após o que disse:
O “Ponta Delgada”, o primeiro dos três draga-minas costeiros já entregues pelos Estados Unidos a portugal é, como V.Exas., verificaram na visita que acabam de realizar às suas principais instalações, um navio valioso pela complicada e moderníssima aparelhagem de que dispõe para poder desempenhar eficazmente a sua difícil e arriscada faina, mas de diminuta tonelagem.
Em síntese, as nossas impressões podem, talvez, exprimir-se dizendo que se trata de um navio que não deve ser visto de fora, mas apenas apreciado por dentro. No entanto, não é esse apreciável valor intrínseco que justifica ou é causa do relevo dado a esta cerimónia, ou seja da vossa vinda a bordo. A razão da vossa presença e o seu significado são bem diversos.
As nações do Ocidente da Europa, pelos erros que, irreparávelmente foram cometendo, em sucessivas auto-liquidações deveras impressionantes, perderam, a hegemonia que durante séculos detiveram. Outras se lhes agigantaram a Leste e a Oeste, constituindo a de Leste uma terrível ameaça à milenária civilização ocidental. Não admira, por isso, que os Estados Unidos e as nações do Ocidente da Europa buscassem, numa coligação de nações pacíficas - que, para ser perfeita deveria abranger todas - a força defensiva capaz de obstar, no seu conjunto, ao perigo que o Oriente da Europa mais uma vez representava e nunca com tamanha gravidade.
E o sr. almirante Américo Tomás prosseguiu nestes termos:
- «A coligação assim nascida, embora de natureza exclusivamente defensiva, talvez, até por essa circunstância, cumprirá tanto melhor a sua missão quanto mais forte conseguir ser. È certo que o desenvolvimento económico terá de sofrer com isso, mas não pode esquecer-se, por um lado, que se pretende evitar o mal maior e mais calamitoso e, por outro, que infelizmente as nações, como os homens, só muitas vezes respeitam que vale. Ora Portugal que, há mais de cinco séculos, começou levando às cinco partidas do Mundo a civilização ocidental e que antes de quaisquer outros atingiu, por mar, a Terra Nova, a Índia, o Brasil, o Japão e a Austrália, não podia desinteressar-se, sentindo em risco a civilização que primeiro, mais e talvez melhor do que ninguém difundiu. Não podia desinteressar-se e não se desinteressou e isso explica sobejamente o significado relevante dado à cerimónia de hoje. Ela exprime que a Marinha continua conscia, talqualmente o Exército e a Aviação, de que é necessário prosseguir sem hesitações nem desfalecimentos.»
E a terminar:
- «Da modernização dos seus meios e da preparação do seu pessoal dependerá a sua força. E essa força, conjugada com as restantes, que desejamos tão firme como a nossa, evitará que a Humanidade se precipite no seu extermínio».
O sr. almirante Américo Tomás ergueu, no final, um brinde pela coligação do Atlântico Norte e pelas três forças armadas de Portugal.
Depois usou da palavra o embaixador dos Estados Unidos, que disse:
- «Este excelente navio - o “Ponta Delgada” - toma agora o seu lugar entre os navios da Marinha Portuguesa - uma Marinha que tem uma longa, valorosa e famosa tradição. Vem apropósito salientar aqui a verdade, tantas vezes repetida, de que as nações do Pacto do Atlântico, ao erguerem as suas defesas na terra, no mar e no ar, têm apenas um fim em vista - a manutenção da Paz. Portugal, os Estados Unidos e todas as outras nações da N.A.T.O. estão certas de que os sacrifícios necessários para manter a Paz serão menos pesados do que aqueles que resultariam da falta de preparação. Portugal é um aliado com quem se pode contar entre as nações do Mundo livre, um aliado que partilha das vicissitudes da época presente e das orações para uma Paz duradoura».
Depois de uma breve troca de impressões, os membros do Governo e as restantes personalidades abandonaram o “Ponta Delgada”, voltando para desembarcar novamente na doca de Marinha.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 1 de Setembro de 1953
Eram 7 horas e 40, quando foi constituído o cortejo naval a caminho de Lisboa. À frente navegava o “Ponta Delgada” seguido pelo “Espadilha” e logo após o “Afonso de Albuquerque”. Quando o “Ponta Delgada” passou em frente da Praça do Comércio, a fim de ir amarrar à boia em frente da doca de Marinha, o draga-minas “Terceira” e o navio-escola “Sagres” içaram os sinais de boas-vindas, ao mesmo tempo que os rapazes da “D. Fernando” saudavam a nova unidade com os bonés.
Entretanto a bordo do “Ponta Delgada”, que é comandado pelo 1º tenente Emmanuel Ricou, tudo estava a postos para receber a visita dos membros do Governo, do embaixador dos Estados Unidos e demais entidades oficiais.
Pelas 10 horas começaram a reunir-se na muralha da doca de Marinha as entidades oficiais que iam visitar o novo navio e que eram recebidas pelo director dos Serviços Marítimos, sr. capitão de mar-e-guerra, Correia Monteiro, e pelo oficial de serviço.
Foi o sr. almirante Ortins de Bettencourt, chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, o primeiro a chegar, logo seguido pelo comandante geral da Armada interino, sr. contra-almirante Guerreiro de Brito, chefe do Estado Maior Naval, contra-almirante Nuno de Brion, comandante-chefe da força naval da Metrópole, e contra-almirante Alves Leite, superintendente da Armada, comodoro Quintanilha de Mendonça Dias, e sub-chefe do Estado Maior Naval, capitão de mar-e-guerra, Galeão Roma, comandante da defesa marítima, general Frank Camm, chefe da missão americana com todos os oficiais da secção naval da mesma missão, acompanhados pelo capitão Oliveira Júnior, do Estado Maior Naval.
Pouco depois chegava o sr. contra-almirante Américo Tomás, ministro da Marinha, que foi recebido pelas entidades presentes, o mesmo acontecendo ao sr. coronel Guggenheim, embaixador dos Estados Unidos, acompanhado pelo adido naval americano. Por fim chegou o sr. ministro da Defesa. Após os cumprimentos a este membro do Governo, tos os convidados seguiram num gasolina para bordo do “Ponta Delgada, onde por determinação do sr. ministro da Marinha foi içado o distintivo do sr. ministro da Defesa. Recebidos pelo novo comandante do novo draga-minas ao portaló, as entidades oficiais, enquanto a guarnição do navio se encontrava formada, visitaram as principais dependências do navio.
Usa da palavra o ministro da Marinha:
Finda a visita, foi oferecido pelo comandante do novo navio um «Porto de Honra» aos convidados. Foi então que usou da palavra o sr. ministro da Marinha, que começou por agradecer aos srs. embaixador dos Estados Unidos, ministro da Defesa, almirantes e membros da Missão Militar Americana, a sua presença, após o que disse:
O “Ponta Delgada”, o primeiro dos três draga-minas costeiros já entregues pelos Estados Unidos a portugal é, como V.Exas., verificaram na visita que acabam de realizar às suas principais instalações, um navio valioso pela complicada e moderníssima aparelhagem de que dispõe para poder desempenhar eficazmente a sua difícil e arriscada faina, mas de diminuta tonelagem.
Em síntese, as nossas impressões podem, talvez, exprimir-se dizendo que se trata de um navio que não deve ser visto de fora, mas apenas apreciado por dentro. No entanto, não é esse apreciável valor intrínseco que justifica ou é causa do relevo dado a esta cerimónia, ou seja da vossa vinda a bordo. A razão da vossa presença e o seu significado são bem diversos.
As nações do Ocidente da Europa, pelos erros que, irreparávelmente foram cometendo, em sucessivas auto-liquidações deveras impressionantes, perderam, a hegemonia que durante séculos detiveram. Outras se lhes agigantaram a Leste e a Oeste, constituindo a de Leste uma terrível ameaça à milenária civilização ocidental. Não admira, por isso, que os Estados Unidos e as nações do Ocidente da Europa buscassem, numa coligação de nações pacíficas - que, para ser perfeita deveria abranger todas - a força defensiva capaz de obstar, no seu conjunto, ao perigo que o Oriente da Europa mais uma vez representava e nunca com tamanha gravidade.
E o sr. almirante Américo Tomás prosseguiu nestes termos:
- «A coligação assim nascida, embora de natureza exclusivamente defensiva, talvez, até por essa circunstância, cumprirá tanto melhor a sua missão quanto mais forte conseguir ser. È certo que o desenvolvimento económico terá de sofrer com isso, mas não pode esquecer-se, por um lado, que se pretende evitar o mal maior e mais calamitoso e, por outro, que infelizmente as nações, como os homens, só muitas vezes respeitam que vale. Ora Portugal que, há mais de cinco séculos, começou levando às cinco partidas do Mundo a civilização ocidental e que antes de quaisquer outros atingiu, por mar, a Terra Nova, a Índia, o Brasil, o Japão e a Austrália, não podia desinteressar-se, sentindo em risco a civilização que primeiro, mais e talvez melhor do que ninguém difundiu. Não podia desinteressar-se e não se desinteressou e isso explica sobejamente o significado relevante dado à cerimónia de hoje. Ela exprime que a Marinha continua conscia, talqualmente o Exército e a Aviação, de que é necessário prosseguir sem hesitações nem desfalecimentos.»
E a terminar:
- «Da modernização dos seus meios e da preparação do seu pessoal dependerá a sua força. E essa força, conjugada com as restantes, que desejamos tão firme como a nossa, evitará que a Humanidade se precipite no seu extermínio».
O sr. almirante Américo Tomás ergueu, no final, um brinde pela coligação do Atlântico Norte e pelas três forças armadas de Portugal.
Depois usou da palavra o embaixador dos Estados Unidos, que disse:
- «Este excelente navio - o “Ponta Delgada” - toma agora o seu lugar entre os navios da Marinha Portuguesa - uma Marinha que tem uma longa, valorosa e famosa tradição. Vem apropósito salientar aqui a verdade, tantas vezes repetida, de que as nações do Pacto do Atlântico, ao erguerem as suas defesas na terra, no mar e no ar, têm apenas um fim em vista - a manutenção da Paz. Portugal, os Estados Unidos e todas as outras nações da N.A.T.O. estão certas de que os sacrifícios necessários para manter a Paz serão menos pesados do que aqueles que resultariam da falta de preparação. Portugal é um aliado com quem se pode contar entre as nações do Mundo livre, um aliado que partilha das vicissitudes da época presente e das orações para uma Paz duradoura».
Depois de uma breve troca de impressões, os membros do Governo e as restantes personalidades abandonaram o “Ponta Delgada”, voltando para desembarcar novamente na doca de Marinha.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 1 de Setembro de 1953
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