quarta-feira, 11 de agosto de 2021

História trágico-marítima (CCCXXI)


O arrastão "Santa Teresinha"
fez ontem experiências ao largo da costa
Em viagem de experiência, largou ontem de manhã para a costa e regressou ao princípio da noite, o novo arrastão "Santa Teresinha", que deve partir na próxima semana para a pesca em Cabo Branco.
Fonte: Jornal "Comércio do Porto", sábado, 3 de Novembro de 1951

Naufragou ao largo das Canárias, o barco “Santa Teresinha”
tendo morrido, no sinistro, 16 pescadores portugueses
Las Palmas, 19 – Dezasseis marítimos portugueses encontraram a morte no naufrágio do arrastão “Santa Teresinha”, de 383 toneladas, que se deu na sexta-feira de manhã, a cerca de 20 quilómetros de Lanzarote. Os sete sobreviventes foram recolhidos pelo navio espanhol que faz o correio entre Porto Ventura e a ilha grande das Canárias.
Las Palmas, 19 - O vapor da carreira chegou, hoje, a este porto, com sete náufragos, que recolheu numa lancha em que estiveram 24 horas, depois de se ter afundado o pesqueiro “Santa Teresinha”, da matrícula de Lisboa. Este arrastão havia saído de Lisboa para pescar no Cabo Branco e voltou-se, devido a um golpe de mar, que fez deslocar para um lado a carga de 120 toneladas de gelo, provocando o afundamento.
A tripulação era constituída por vinte e três homens, faltando, portanto, dezasseis, que os náufragos supõem não terem podido salvar-se pela rapidez do afundamento. Os tripulantes salvos foram os seguintes: Albano Dias Campos, António Joaquim Paulo, José Joaquim Firmino, Inácio Raminhos, Manuel Ávila, Inácio Silva e Jorge Cristóvão da Silva. O arrastão “Santa Teresinha”, era comandado pelo capitão José Ribeiro Cardoso, pertencia à praça de Lisboa e era propriedade da Sociedade de Pesca Santa Fé.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 20 de Julho de 1952

Imagem do arrastão "Santa Teresinha"

Desconhece-se ainda a sorte de dezasseis náufragos do vapor de pesca
“Santa Teresinha”, que se afundou ao largo das Canárias
O naufrágio do barco de pesca “Santa Teresinha”, trouxe para a gente do mar, especialmente, consternação e ansiedade. Nada mais se sabe dos 16 desaparecidos. O sinistro registou-se na sexta-feira, ao largo das Canárias, e apenas sete náufragos foram recolhidos por um vapor espanhol que os conduziu a Las Palmas.
Ontem, de manhã, na capitania de Lisboa, foi recebido um telegrama do Funchal a dar conta do acontecimento. O sr. comandante Tenreiro, delegado do Governo junto dos organismos da pesca, deu instruções à Junta Central das Casas dos Pescadores no sentido de procederem urgentemente à entrega de pensões às famílias dos náufragos desaparecidos. Ao mesmo tempo, foram dadas indicações para o imediato repatriamento dos sobreviventes, que devem embarcar no primeiro navio que tocar em Las Palmas.
Durante o dia, os srs. Ernesto Júlio Santiago e Manuel Moreira Rato, gerentes da Sociedade de Pesca Santa Fé, Lda., com sede em Lisboa, proprietária do arrastão afundado, procuraram por sua vez informações sobre o paradeiro dos restantes náufragos, tendo comunicado com o seu arrastão “Santa Fé”, em viagem para Lisboa, onde deverá chegar amanhã à noite, a fim de, através da sua estação de rádio, tentar obter informações sobre os náufragos.
Os armadores enviaram também, durante o dia, telegramas para Las Palmas, dirigidos a várias entidades pedido atenção aos náufragos. Entre os desaparecidos há três marítimos de Ílhavo, onde a notícia causou profunda consternação. Estes são: João António Lavrador, natural da Murtosa, casado com Palmira Lavrador, mestre de pesca, de 52 anos, que vivia em Lisboa; José Cipriano Pinho Fernandes, de 21 anos, solteiro, filho de José Fernandes Barracha e Rosa Pinho, que frequentou a Escola de Pesca e, há um ano, trabalhava no referido arrastão; e João Brito Namorado, casado, de 46 anos, com dois filhos.
A lista oficial da tripulação do arrastão afundado é a seguinte:
José Ribeiro Cardoso, capitão; João António Lavrador, mestre de pesca; António Carvalho Matos, contra-mestre; António Joaquim Paulo, mestre de redes; Inácio Raminhos, José Joaquim Firmino, Francisco Pereira Pérola, Leonel Ramos, Joaquim Feliciano Barroca e Pedro Marques Fidalgo, marinheiros; João Brito Namorado, cozinheiro; João Maria Pardal e António Ferreira Júnior, marinheiros; Jorge Cristóvão Sintra e José António Major, moços; Albino Dias Campos, marinheiro; Mário Sanches, 1º maquinista; José Lima Maciel Barbosa, 2º maquinista; José Brasinha dos Santos e Agostinho da Silva, ajudantes de maquinista; Manuel da Vila Inácio e José Cipriano Fernandes, marinheiros, e Alfredo Lopes, ajudante de maquinista. Salvaram-se Albino Campos, António Paulo, José Firmino, Mário Raminhos, Manuel da Vila Inácio Silva e Jorge Cristóvão da Silva.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 21 de Julho de 1952

Teria o “Santa Teresinha” sido afundado por três vagas?
Embora sem notícias ou informações categóricas, julga saber-se que o arrastão “Santa Teresinha”, que se perdeu no mar das Canárias, teria sido violentamente sacudido por três vagas quase seguidas e de grande poder, e com o barco coberto de água, ter-se-ia voltado.
A Mútua dos Armadores da Pesca de Arrasto e a Sociedade de Pesca Santa Fé, Lda., empresa armadora do arrastão desaparecido, providenciam para que os sobreviventes embarquem na próxima sexta-feira em Las Palmas para Cadiz.
Um dos desaparecidos, o 2º maquinista José Lima Manuel Barbosa, era natural e residente na freguesia de Darque, Viana do Castelo, onde casou somente há nove meses, devendo a sua mulher dar à luz brevemente um filho.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 22 de Julho de 1952

Os sobreviventes do arrastão “Santa Teresinha” consideram
o seu salvamento um verdadeiro milagre
Las Palmas, 21 - «Foi um milagre termo-nos salvo» - disse um dos sobreviventes do arrastão “Santa Teresinha” que, no dia 18 do corrente, naufragou ao largo das Canárias. «Mantendo-nos ao cimo da água com as boias de salvação», continuou o marinheiro, «sacudidos pelas vagas, remando com os braços, tentamos dirigir-nos para a ilha de Lanzarote ou Fuerte Ventura. Mas, se o vapor correio não nos encontrasse, e se não tivesse conseguido recolher-nos, com certeza que teríamos morrido como os outros. Aquele salvamento, no meio da noite, foi verdadeiramente um milagre». Todos os sobreviventes contaram a angústia de ver desaparecer um por um os seus 16 companheiros, entre eles o capitão do arrastão, sem poder prestar-lhes qualquer socorro.
Os náufragos tiveram da parte do cônsul de Portugal, todo o auxílio e assistência; antes do fim desta semana, poderão embarcar de regresso. Os sete sobreviventes do desastre são: António Joaquim Paulo, mestre de redes e os marítimos Albino Dias Campos, Inácio Raminho Silva, Joaquim Feliciano Barroca, Joaquim José Silvino, Jorge Cristóvão da Silva e Manuel da Vila Inácio.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 23 de Julho de 1952

O regresso do náufragos do arrastão “Santa Teresinha”
De Cadiz, saíram ontem para Lisboa, os náufragos do arrastão “Santa Teresinha”, que naufragou próximo a Las Palmas. A chegada ao Terreiro do Paço está prevista para hoje de manhã.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 31 de Julho de 1952

Regressaram a Lisboa os sete náufragos do arrastão “Santa Teresinha”
Acompanhados pelo sr. Luís Baena Nunes da Silva, funcionário superior do Grémio da Pesca de Arrasto, chegaram ontem a Lisboa, os sete sobreviventes do arrastão de pesca “Santa Teresinha”, que se afundou no dia 18 do mês passado, ao largo das Canárias. Seguiram imediatamente para a capitania do porto de Lisboa, onde foram ouvidos pela Polícia Marítima.
O primeiro dos tripulantes a ser ouvido foi o mestre de redes, António Joaquim Paulo, cujo interrogatório demorou cerca de quatro horas. Como o capitão do navio morreu no terrível naufrágio as autoridades marítimas ouviram o seu testemunho, por ser ele que poderia, pela sua função a bordo, contar em que condições se deu o afundamento. Enquanto os homens estavam a ser ouvidos pela polícia, davam-se cenas confrangedoras com as pessoas de família. Uma mulher de nome Ana Rosa, moradora em Cascais, estava ali numa dupla situação de alegria e de tristeza. Veio esperar o pescador Inácio Raminhos, um dos sobreviventes da tragédia e lamentar a morte do sobrinho, o marinheiro Leonel Ramos.
António Joaquim Paulo, que foi ouvido durante toda a manhã, contou em pormenor como se deu o naufrágio. Disse: O “Santa Teresinha” navegava a caminho do pesqueiro, com vaga alta. Era noite. O capitão e quase todos os tripulantes dormiam. Estavam acordados apenas três homens. De súbito, o arrastão foi sacudido por uma vaga, logo seguida por mais duas. O navio não aguentou e submergiu. Os sete sobreviventes dormiam, mas mais lestos, conseguiram pôr-se a salvo agarrando-se a uma rede que caiu do barco. A situação aflitiva dificilmente poderia prolongar-se, valendo-lhes o facto de, pouco depois, quase inesperadamente, ter aparecido uma baleeira do navio naufragado.
Os pobres náufragos, conforme puderam, aproximaram-se daquela embarcação, ouvindo ainda a voz do capitão gritar no meio da confusão lancinante e da ansiedade, que entre todos suscitaram, que arreassem as baleeiras. Foi tudo quanto ficou do drama, que vai ficar gravado nas suas memórias para sempre.
Depois, andaram na baleeira horas e horas, quase um dia inteiro, até ter aparecido o navio espanhol “La Palma”, que com grande abnegação da parte dos seus tripulantes, salvou os náufragos do “Santa Teresinha”, os quais manifestaram ao chegar a Lisboa a satisfação recebida do cônsul, que lhes deu acolhimento em Las Palmas, e o facto dum funcionário do Grémio da Pesca de Arrasto, os ter ido buscar a Cadiz. Mostram-se reconhecidos àquele organismo, pelas atenções que lhes proporcionou.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 1 de Agosto de 1952

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