quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Salva-vidas do I.S.N. "Carvalho Araújo"


A chegada do salva-vidas a Leixões

Imagem do barco salva-vidas "Carvalho Araújo", em Leixões

O barco salva-vidas “Carvalho Araújo” (1)
Pelas 3 horas da tarde, de ontem, deu entrada em Leixões, armado em chalupa, o novo salva-vidas motorizado “Carvalho Araújo”, vindo de Lisboa, que se destina a prestar serviços de salvamento.
É um lindo barco, moderno, e com todas as características próprias ao fim a que é destinado, preenchendo assim uma lacuna que há muito se fazia sentir, satisfazendo ao mesmo tempo as reclamações, que em tempos foram formuladas por grande número de entidades, e, especialmente, pela Associação Comercial do Porto, aquando do triste naufrágio do vapor alemão “Deister”, à entrada do rio Douro, e em que pereceram todos os tripulantes, incluindo o desditoso piloto da barra, Jacinto José Pinto.
Este barco salva-vidas foi construído por uma casa especializada na Alemanha, revelando-se indispensavel para fazer serviço não só no porto de Leixões, como na barra do Douro.

Ecos da tragédia do “Gauss” (2)
O salva-vidas “Carvalho Araújo” completamente reparado,
fundeou, ontem, na bacia de Leixões
Quem corre atrás deste mar de desgraças, certamente já terá ouvido falar da tragédia do “Gauss”. Talvez se lembrem, ainda, da morte dos bravos marítimos que as ondas engoliram, quando tratavam de salvar a tripulação do cargueiro germânico.
É escusado evocar o drama pungente que tocou, fundo, a alma portuguesa, como já o naufrágio espantoso do “Deister”, anos antes, a havia, fortemente, abalado.
O salva-vidas “Carvalho Araújo”, do Instituto de Socorros a Náufragos, adstrito à Capitania de Leixões, fôra a grande vítima. Mortos muitos daqueles que, então, o tripulavam, sobre a sua carcaça frágil se encarniçaram as vagas, quase a reduzindo a destroços.
Finda a tragédia, amainada a fúria dos elementos, o “Carvalho Araújo” recolheu ao seu posto, impossibilitado de cumprir, naquele estado, doravante, a missão admirável para que fôra construído.
Justiça, porém, se lhe fez. A casa alemã que o construíra, informada de que a ele se devia, em enorme parte, o salvamento do “Gauss” e da sua gente, prontificou-se a repará-lo, o que era, afinal, de elementar justiça.
O “Carvalho Araújo” foi, então, para a Alemanha. Lá esteve, nos estaleiros da casa construtora, em porfiada reparação. Foi, de alto a baixo remodelado, renovado. Ficou – dizem – mais sólido, melhor, mais capaz, para a sua missão de salvar, do que, antes, era.
E, ante-ontem, a bordo dum vapor alemão, o “Carvalho Araújo” aportou a Lisboa.
Dali, partiu, por mar, também, navegando, pelas 5 horas da manhã de ontem. E, às 4 horas da tarde, menos poucos minutos, o salva-vidas chegava, bandeira verde e vermelha drapejando no tope do mastro, nas águas mansas da baía de Leixões.
O simpático patrão do “Carvalho Araújo”, Sr. António Rodrigues Crista, confirmou a hora de saída de Lisboa, adiantou que a viagem correu bem e mais não disse.
Quando deixamos o futuro grande porto comercial, cujas obras vão num crescendo animador, as bandeiras do “Carvalho Araújo” brilhavam, sobre o ancoradouro, ao Sol frio da tarde...

Notícias publicadas no jornal “Comércio do Porto”, em:
(1) sexta, 18 de Setembro de 1931; e (2) sábado, 4 de Novembro de 1933

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