O naufrágio do vapor “Bacchante”,
na barra do rio Douro a 28 de Março de 1857
na barra do rio Douro a 28 de Março de 1857
Cópia do anúncio do naufrágio
(Jornal "O Comércio do Porto", de 28 de Março de 1857
(Jornal "O Comércio do Porto", de 28 de Março de 1857
A barra do Porto acaba de sorver mais uma embarcação. O vapor inglês “Bacchante” quando no sábado vinha a entrar na barra bateu nas pedras de Felgueiras e pouco depois estava submergido, sem que tempo houvesse para salvar coisa alguma, a não ser a correspondência do consignatário e o manifesto da carga, que o comandante e o irmão daquele cavalheiro com muito risco puderam ainda ir tirar. A tripulação que constava de 24 pessoas e um passageiro que vinha a bordo, salvaram-se no bote do vapor! Consta que as catraias não se quiseram aproximar ao “Bacchante”, com receio que ele caísse sobre elas. O vapor encontrava-se pilotado.
Procedente de Londres, trazia uma carga valiosa, na qual constava perto de 3.000 sacas de arroz, uns 100 fardos de linho, alguma farinha, etc. Não existia dinheiro a bordo. Na ocasião do naufrágio o vento era de rumo noroeste (brando) e o mar estava pouco agitado. As partes telegráficas que da Foz foram transmitidas à Associação Comercial, no sábado a respeito do vapor foram as seguintes:
11 horas e 30 minutos: Apareceu a oeste o vapor “Bacchante”
2 horas e 30 minutos: O vapor “Bacchante” vindo para entrar, bateu nas pedras de Felgueiras e foi ao fundo.
2 horas e 40 minutos: O vapor “Bacchante” desfez-se em pedaços – saíram 7 catraias para o lugar do naufrágio.
4 horas e 15 minutos: Salvou-se toda a gente do vapor.
5 horas e 45 minutos: A mala das cartas que vinha no “Bacchante” perdeu-se, salvando-se apenas a correspondência do consignatário.
A parte que o piloto dirigiu à Associação Comercial é a seguinte; Ontem tendo sido chamado à barra o vapor “Bacchante”, procedente de Londres, com vários géneros aconteceu que ao vir de sul para norte a procurar o canal de «Entre as Lages», este não obedeceu de pronto; o piloto supra que se achava a bordo mandou imediatamente parar e andar com toda a força para trás, porém como levasse tempo primeiro que parasse, veio bater nas pedras de Felgueiras, chamadas «Ponta do dente» e com a agitação do mar ali se arrombou e foi ao fundo, salvando-se toda a tripulação. – Foz, 29 de Março de 1857 (ass.) Manuel Luiz Monteiro.
Procedente de Londres, trazia uma carga valiosa, na qual constava perto de 3.000 sacas de arroz, uns 100 fardos de linho, alguma farinha, etc. Não existia dinheiro a bordo. Na ocasião do naufrágio o vento era de rumo noroeste (brando) e o mar estava pouco agitado. As partes telegráficas que da Foz foram transmitidas à Associação Comercial, no sábado a respeito do vapor foram as seguintes:
11 horas e 30 minutos: Apareceu a oeste o vapor “Bacchante”
2 horas e 30 minutos: O vapor “Bacchante” vindo para entrar, bateu nas pedras de Felgueiras e foi ao fundo.
2 horas e 40 minutos: O vapor “Bacchante” desfez-se em pedaços – saíram 7 catraias para o lugar do naufrágio.
4 horas e 15 minutos: Salvou-se toda a gente do vapor.
5 horas e 45 minutos: A mala das cartas que vinha no “Bacchante” perdeu-se, salvando-se apenas a correspondência do consignatário.
A parte que o piloto dirigiu à Associação Comercial é a seguinte; Ontem tendo sido chamado à barra o vapor “Bacchante”, procedente de Londres, com vários géneros aconteceu que ao vir de sul para norte a procurar o canal de «Entre as Lages», este não obedeceu de pronto; o piloto supra que se achava a bordo mandou imediatamente parar e andar com toda a força para trás, porém como levasse tempo primeiro que parasse, veio bater nas pedras de Felgueiras, chamadas «Ponta do dente» e com a agitação do mar ali se arrombou e foi ao fundo, salvando-se toda a tripulação. – Foz, 29 de Março de 1857 (ass.) Manuel Luiz Monteiro.
A praça do Porto e a imprensa estão cansadas de pedir os possíveis melhoramentos na barra. A sua voz até hoje ainda não foi escutada e já descremos que o seja. Esses terríveis escolhos têm sido a causa de tanta desgraça e de tão grandes perdas, estão aí como um padrão para atestar a nossa vergonha e quão pouco os governos se têm interessado por nós. Este tema de obras da barra já está estafado, tem-se dito tudo quanto se pode se pode dizer, mas são tão frequentes as ocasiões que se dão para clamar, que não podemos dispensar-nos de pedir mais uma vez ao governo que faça alguma coisa. Se há obra em Portugal que mereça mais pronta atenção é por certo a barra do Porto. A inércia neste caso é um crime, que cada dia se agrava mais.
No sábado ainda chegamos a dar à última hora notícia deste naufrágio nas folhas que não tinham saído do prelo. O correio porém já tinha sido expedido e em parte da cidade andava-se já fazendo a entrega do jornal.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 29 de Março de 1857)
No sábado ainda chegamos a dar à última hora notícia deste naufrágio nas folhas que não tinham saído do prelo. O correio porém já tinha sido expedido e em parte da cidade andava-se já fazendo a entrega do jornal.
In (Jornal “O Comércio do Porto”, de 29 de Março de 1857)
Anúncio do regresso do vapor a Londres
(Jornal "O Comércio do Porto, de 20 de Março de 1857)
(Jornal "O Comércio do Porto, de 20 de Março de 1857)
O naufrágio do “Bacchante”
No lugar competente publicamos uma carta da Foz, que ontem nos dirigiram e em que se nos diz que não fomos muito exactos na notícia do naufrágio deste navio, relativamente ao salvamento dos náufragos. Não fomos testemunhas do naufrágio, escrevemos por informações e todas elas eram concordes em que as catraias nenhuns serviços haviam prestado, não se aproximando do vapor com receio de que caísse sobre elas – esta era a voz pública, na praça não corria outra coisa e até muito mais; entendemos por isso que não devíamos omitir esta circunstância na notícia. Folgaremos pois que ela não seja exacta e que os pilotos da Foz, para honra da sua corporação, se justifiquem das censuras que geralmente lhes fazem.
In (Jornal "O Comércio do Porto, de 1 de Abril de 1857
In (Jornal "O Comércio do Porto, de 1 de Abril de 1857
A efeméride 50 anos depois
(Jornal "O Comércio do Porto", de 7 de Abril de 1907
(Jornal "O Comércio do Porto", de 7 de Abril de 1907
Mais uma vez a barra do Douro viu-se fechada por um casco atravessado no canal de navegação, situação que se repetiu ao longo dos anos. Como aconteceu com muitos navios, houve necessidade de recorrer à utilização de explosivos, de forma a destruir os vapores naufragados, evitando um extenso avolumar de trafego, ora desviado para o norte de Espanha, ou sujeito a longas demoras ancorados junto à barra, com o inconveniente de serem obrigados a suportar condições de tempo adversas.
Provavel imagem do vapor "Westminster", em 1909, naufragado
na barra do Douro, também atravessado no canal de navegação.
Imagem de autor desconhecido - colecção de Francisco Cabral
na barra do Douro, também atravessado no canal de navegação.
Imagem de autor desconhecido - colecção de Francisco Cabral
A confirmar-se ser realmente o vapor "Westminster", a água que inundou os porões foi parcialmente retirada, de forma a permitir a reflutuação. Já a navegar foi levado pela corrente para o largo, encalhando mais tarde a sul, na areia do Cabedelo. Ali pode ser reparado e reflutuado, voltando ao serviço comercial.
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