domingo, 29 de agosto de 2021

História trágico-marítima (CCCXXV)


O encalhe do iate "Flor de Setúbal" em Marrocos

Um navio de carga português encalhou à entrada de
Port Liautey, mas a tripulação já foi salva
Telegramas recebidos ontem em Lisboa e Setúbal informam que o navio de carga português “Flor de Setúbal”, de 249 toneladas, da praça de Setúbal, pertencente à firma Chaves & Mateus, Lda., encalhou ante-ontem à entrada de Port Liautey e que se encontrava em perigo.
O iate “Flor de Setúbal” tinha a bordo a seguinte tripulação, sob a chefia do mestre José Machado; António Freitas, contra-mestre, e José Fernandes, motorista, todos de Viana do Castelo; José Bomba Marro, ajudante de motorista, de Portimão; António Pereira, cozinheiro, Manuel Passos e Henrique Araújo, marinheiros, também todos de Viana do Castelo; e Ilídio Malhão, moço, de Vila Praia de Âncora.
O navio procedia ao transporte de mais de 200 toneladas de cimento para aquele porto, tendo saído de Setúbal no dia 20 de Agosto. Os primeiros telegranas eram alarmantes mas informações posteriores dizem que foi possível salvar toda a tripulação, a qual já se encontra em terra. A situação do navio, que foi construído há 5 anos, continua, porém, a ser muito crítica. Entretanto, sabe-se que seguiram socorros para o local do encalhe.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 8 de Agosto de 1951
Características do iate “Flor de Setúbal”
Armador: Chaves & Mateus, Setúbal
Nº Oficial: 514 - Iic: C.S.N.J. - Porto de registo: Setúbal, 16.3.1946
Construtor: Chaves & Chaves, Lda., Setúbal, 1946
Arqueação: Tab 148,76 tons - Tal 93,75 tons - Pm 243 tons
Dimensões: Ff 32,07 mt - Pp 28,10 mt - Boca 7,65 mt - Pontal 3,40 mt
Propulsão: Jonkopings, 1945 - 1:Sd - 2:Ci - 165 Bhp - 6 nós
Equipagem: 8 tripulantes

O naufrágio do “Flor de Setubal”
Um telegrama recebido pelos armadores do iate “Flor de Setúbal”, que se encontra encalhado na barra de Port Liautey, na costa marroquina, informa que o navio está encalhado em fundo de areia, e que, na baixa-mar, fica em seco. Por esse motivo continuam a aguardar a chegada dum rebocador, possivelmente de Casablanca, pois a circunstância do navio estar sobre areia, admite a possibilidade de vir a ser desencalhado numa preia-mar, sem avarias de maior importância.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 9 de Agosto de 1951

O naufrágio do "Flor de Setúbal"
No rebocador "Atlético" chegaram ontem a Lisboa, cinco náufragos do iate "Flor de Setúbal", que há cerca de três meses naufragou quando seguia para Marrocos. Entre os cinco náufragos conta-se o mestre do iate, sr. José Gonçalves Muchacho.
Fonte: Jornal "Comércio do Porto", segunda-feira, 26 Novembro 1951

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Navios portugueses - O "Ana Mafalda"


O navio “Ana Mafalda” foi ontem lançado à água,
com a assistência de vários membros do Governo
Nos estaleiros da C.U.F. foi ontem lançado à água o navio “Ana Mafalda”, destinado à Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes, para a carreira da Guiné. À cerimónia assistiram os srs. ministro da Marinha, das Colónias, da Economia e das Corporações, sub-secretário de Estado do Comércio e Indústria, capitão de mar-e-guerra Pereira Viana, presidente da Junta Nacional da Marinha Mercante; almirantes Oliveira Pinto, comandante-geral da Armada, Pereira da Fonseca, director-geral de Marinha; Jaime Thompsom, engº Fernando de Abreu Reis, comandante Celestino Ramos; directores da Companhia Nacional de Navegação; major Raposo Ferreira, administrador da Companhia Colonial de Navegação; Visconde de Botelho, pela Companhia dos Carregadores Açoreanos; comandante José dos Santos, pelo Sindicato Nacional da Marinha Mercante; funcionários superiores das Alfândegas, muitas senhoras, etc.
Os convidados foram recebidos pelos srs. D. Manuel José de Melo, Jorge de Melo e pelo engº Aulânio Lobo, administradores da C.U.F., da Sociedade Geral e dos estaleiros. Numa tribuna montada para o efeito, assistiram as autoridades, várias individualidades, e as senhoras das famílias de Alfredo da Silva e D. Manuel José de Melo. O prior de Santos, monsenhor Fernandes Duarte, lançou a bênção ao novo navio.
Depois, a menina Ana Mafalda da Cunha Melo, neta do sr. D. Manuel José de Melo e bisneta do falecido industrial Alfredo da Silva, partiu a simbólica garrada de champanhe no casco do navio, enquanto este deslizava pela carreira em direcção ao rio. Neste momento as sirenes de bordo tocaram festivamente.
O presidente do conselho de administração da Sociedade Geral e dos estaleiros, sr. D. Manuel José de Melo, agradeceu a comparência do sr. ministro da Marinha e dos seus colegas do Governo. É o segundo navio desta série - disse - que a sociedade encomendou nestes estaleiros; outros se seguirão em execução no plano traçado e para a contribuição do desolvolvimento da Marinha Mercante nacional, de que o sr. ministro da Marinha tem sido o grande impulsionador. Defendeu a construção de mais navios mercantes nos estaleiros portugueses, que pela sua qualidade de construção, dada a técnica dos nossos engenheiros navais, não são inferiores aos que são construídos lá fora. E terminou dizendo:
Para o sr. ministro da Marinha, a quem o país deve já a importante obra da reconstrução da frota mercante nacional, apelamos para em complemento da sua grande obra realizada, continue a impulsionar o progresso da construção naval, protegendo-a e dando-lhe condições económicas possíveis e assim trabalhara para um Portugal maior.
O sr. ministro da Marinha disse fora fôra com prazer que assistira ao lançamento à água de mais uma unidade mercante destinada à Sociedade Geral e elogiou a acção e perseverança dos seus dirigentes. Concordou com o alvitre do sr. D. Manuel José de Melo para que o Governo da Nação apoiassa a construção de mais navios mercantes no nosso país, assim como já protegeu largamente a renovação da Marinha Mercante Nacional.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 10 de Janeiro de 1951
Foto do navio “Ana Mafalda”, em Leixões

Características do navio
Armador: Soc. Geral de Comércio, Industria e Transportes, Sarl.
Nº Oficial: H-397 - Iic: C.S.L.Y. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Companhia União Fabril, Lisboa
Arqueação: Tab 3.317,78 tons - Tal 1.882,56 tons
Dimensões: Ff 103,07 mt - Pp 98,57 mt - Bc 13,90 mt - Ptl 7,51 mt
Propulsão: Atlas, Suécia, 1949 - 2:Di - 14:Ci - 2x1.330 Bhp

Dois membros do Governo assistiram à entrega do navio
“Ana Mafalda”, nova unidade da Marinha Mercante Nacional
No estaleiro naval da C.U.F., à Rocha do Conde de Óbidos, fizeram ontem a entrega à Sociedade Geral, do navio-motor “Ana Mafalda”, de 5.500 toneladas, nova unidade da Marinha Mercante nacional, encomendada por aquela empresa, em obediência ao plano de renovação da frota de comércio do nosso país.
Pelas 17,30 horas chegaram os srs. ministro da Marinha e das Comunicações, que eram aguardados pelos srs. almirante Pereira da Fonseca, director-geral da Marinha, comandante Simões Vaz, vice-presidente da Junta Nacional da Marinha Mercante, comandante Oliveira Lima, director da Marinha Mercante, capitão-de-fragata João Francisco Fialho, capitão do porto de Lisboa, D. Manuel José de Melo, presidente dos conselhos de administração da C.U.F. e da Sociedade Geral, dr. Jorge de Melo e engº Aulânio Lobo, administradores, D. Vasco de Melo, director do estaleiro, funcionários superiores da C.U.F., oficiais da Marinha Mercante, etc.
Os membros do Governo e outras individualidades percorreram demoradamente todas as dependências do “Ana Mafalda”, que é o segundo navio construído naquele estaleiro possuindo óptimas instalações para 60 passageiros das três classes, onde nada falta em termos de conforto e comodidade, pois até possui uma sala apetrechada com brinquedos para crianças, e grandes alojamentos para a tripulação e oficialidade. Após a visita, na sala da 1ª classe, perante os ministros e outras individualidades, a menina Ana Mafalda, que deu o nome à nova unidade, descerrou o seu retrato, que estava coberto com a bandeira da Sociedade Geral. A seguir, no convés da 1ª classe, foi oferecido um lanche aos ministros e demais convidados.
O sr. ministro da Marinha felicitou o conselho de administração da Sociedade Geral pela nova unidade que acaba de adquirir, de óptima construção, feito em estaleiros portugueses, com todos os apetrechos modernos, adiantando ter grande alegria em afirmar que a Sociedade Geral tem dia a dia aumentado e renovado a sua frota mercante, sem pedir o auxílio do Estado.
Dirigiu palavras de louvor ao sr. D. Manuel José de Melo pelo seu entusiasmo e dedicação no ressurgimento da marinha mercante, a quem entregou depois o diploma e as insígnias de Grande Oficial da Ordem de Cristo, com que fora agraciado pelo chefe de Estado.
O sr. D. Manuel José de Melo recordou a figura inolvidável do sr. marechal Carmona, que durante a sua presidência tanto entusiasmo teve no aumento e renovação da marinha mercante nacional, agradecendo as amáveis referências que lhe fez o sr. comandante Américo Tomás, afirmando que tinha grande honra em ter sido agraciado pelo Chefe do Estado. Terminou, garantindo que trabalharia sempre com dedicação e entusiasmo para o progresso da nossa marinha mercante.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 10 de Maio de 1951

O “Ana Mafalda” vai partir para a sua viagem inaugural
O navio “Ana Mafalda”, nova unidade da Sociedade Geral de Transportes, construída nos estaleiros da C.U.F., e da qual o sr. ministro da Marinha, no acto da inauguração, disse ser a melhor construção feita em Portugal, tem sido submetido a experiências de navegação em velocidade, no Tejo e no mar. Amanhã, o “Ana Mafalda” vai a Leixões, e no dia 5, iniciará a sua viagem inaugural, saindo de Lisboa para Bissau, Praia e S. Vicente, com carga e passageiros.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 28 de Maio de 1951

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Memorativo da Armada


O Departamento Marítimo do Norte
Brasão heráldico do Departamento Marítimo do Norte

A criação do Departamento Marítimo dos portos do Douro e
Leixões, satisfez uma das maiores aspirações da cidade do Porto
Causou geral satisfação na cidade do Porto a publicação, no «Diário do Governo», do decreto-lei que cria o Departamento Marítimo dos portos do Douro e Leixões. A promulgação deste diploma veio satisfazer uma das maiores aspirações desta cidade que estava, também sob este aspecto, numa situação de grande inferioridade em relação a Lisboa, não obstante tratar-se da segunda cidade do País, com um considerável movimento portuário e volumosa exportação.
Além de, mercê da construção da doca e cais acostável de Leixões e seu moderno apetrechamento, dia a dia era mais premente a necessidade de reunir numa única entidade os dois portos, dada a manifesta situação de inferioridade a que se achava condenado o porto do Douro.
Segundo a letra do decreto-lei agora publicado, a Capitania do porto do Douro passa a designar-se por Capitania do porto do Douro e esta e a de Leixões a ficar reunidas num departamento, que se designará por Departamento Marítimo dos portos do Douro e Leixões, sob a chefia dum capitão de mar-e-guerra da classe de marinha, do activo, acumulando as suas funções com as de Capitão do porto do Douro, com a designação abreviada de Chefe do Departamento Marítimo.
Estipula-se, mais, no referido diploma, que o chefe do novo Departamento Marítimo ficará directamente subordinado ao director-geral da Marinha, enquanto que o Capitão do porto de Leixões ficará subordinado ao chefe do Departamento.
O decreto-lei, que entrou já em vigor no dia 1 do corrente, estipula, ainda, que para a administração e contabilidade do Departamento Marítimo existirá um conselho administrativo, presidido pelo chefe do Departamento, que manterá as actuais atribuições do conselho administrativo da Capitania do porto do Porto, que substitui.
Compete ao chefe do Departamento Marítimo dos portos do Douro e Leixões: A superintendência e inspecção dos serviços das respectivas capitanias; A organização de trabalhos estatísticos concernantes ao pessoal e material marítimos, aos de pesca e quaisquer outros indicados nos respectivos regulamentos; A direcção e superintendência dos serviços de fiscalização marítima da zona Norte, que compreende o litoral desde a foz do rio Minho até ao extremo Sul do litoral do concelho da Figueira da Foz, e o comando dos navios quando constituam uma esquadrilha, apenas no que respeita aos serviços específicos da fiscalização; A jurisdição disciplinar, policial e fiscal, em conformidade com a legislação em vigor.
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Cumprimentos ao ministro da Marinha pela criação
do novo Departamento Marítimo
Pela presidência da Câmara Municipal do Porto, foi ontem enviado ao sr. comandante Américo Tomás o seguinte telegrama:
«Ministro da Marinha - A Câmara Municipal do Porto cumprimenta e agradece a V.Exa., a distinção conferida à cidade do Porto, pela promulgação do Decreto que cria o Departamento Marítimo dos portos do Douro e Leixões, e, ainda, pelos termos honrosos com que V.Exa., fundamenta as medidas adoptadas. (a) Lucínio Presa, coronel» Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 4 de Janeiro de 1951

A criação do Departamento Marítimo dos portos do Douro e Leixões
Mais telegramas de congratulação ao sr. ministro da Marinha
Pelo motivo da recente criação do Departamento Marítimo dos portos do Douro e Leixões, foram enviados ao sr. comandante Américo Tomás, ministro da Marinha, telegramas de congratulação e agradecimento por mais as seguintes entidades:
Direcção da Associação Comercial do Porto, Associação Industrial Portuense, Associação dos Armadores Marítimos e Agentes de Navegação do Porto e Leixões, Delegação do Grémio dos Armadores de Navios da Pesca do Bacalhau, Delegação dos Armadores da Pesca de Arrasto e Delegação dos Armadores da Pesca da Sardinha.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 6 de Janeiro de 1951

sábado, 21 de agosto de 2021

A inundação a bordo do paquete "Serpa Pinto"


O paquete “Serpa Pinto”
esteve em risco de se afundar na doca de Alcântara, devido a ter
sofrido forte inundação que chegou a atingir três metros de altura
Cerca das 2 horas da madrugada de ontem, o piloto de serviço a bordo do paquete “Serpa Pinto”, da Companhia Colonial de Navegação, atracado dentro da doca de Alcântara, notou que o navio perdia a sua posição normal, adernando para estibordo. Numa rápida volta pelo navio, teve a certeza que o navio estava a meter água por qualquer circunstância, que ainda se ignora e, auxiliado pelo pessoal de serviço a bordo, distribuiu os homens para diversas missões, enquanto uns iam à Administração Geral do porto de Lisboa pedir bombas para esgotar a água, outros telefonavam para a residência do comandante do navio, sr. capitão Paulo Baptista e do imediato, sr. Vasconcelos e Sá, os quais compareceram sem demora, seguidos pelos restantes oficiais e outro pessoal, a pequenos intervalos.
Imagem do paquete "Serpa Pinto" - Postal da companhia
Entretanto, a inclinação do navio para bombordo acentuava-se, pondo, também, em risco o paquete “Guiné”, que estava atracado de braço dado, obrigando os rebocadores da empresa, com compreensível urgência a transferi-lo para o outro lado da doca.
Quando o comandante e o imediato tentaram descer à casa das máquinas, não puderam ir além do primeiro patim, porque a água já atingia, naquele compartimento, a altura de três metros, o que constituía uma indicação segura da gravidade da situação e da necessidade de assistência urgente. Todavia, os serviços do porto de Lisboa ainda não tinham comparecido e o navio continuava a adernar fortemente para estibordo. Foram então passadas para terra catorze fortes espias de aço, no sentido de manter o navio, pelo menos naquela posição, enquanto não fosse dado início ao esgotamento da água.
Às 5 horas da manhã, compareceu no cais o sr. Bernardino Correia, presidente da Companhia Colonial, tendo assistido aos vários trabalhos preliminares, para o ataque à crítica situação em que o navio se encontrava. A bordo, alguns dos tripulantes arrombaram portas de camarotes de estibordo, para fecharem as vigias, pois que a inclinação do navio fazia recear a entrada de água por ali, o que tornaria a situação irremediável.
Seis horas depois de terem pedido socorros, começou a trabalhar uma pequena bomba do porto de Lisboa, cujo rendimento não resolvia o problema. Compareceram, depois, bombas e outro material dos estaleiros Parry & Son e da C.U.F., com os respectivos engenheiros e outros técnicos, o que permitiu então encarar a situação sob um aspecto prático. A inclinação do navio, que chegou a ser de 25 graus, tornava difícil andar a bordo, mas todo o pessoal revelou grande decisão e perfeito espírito de trabalho.
O inspector da C.C.N., sr. comandante Júlio Ramos, e o seu adjunto sr. comandante Benevenuto, permaneceram por largos períodos a bordo e no cais, dirigindo vários trabalhos ou coadjuvando os oficiais do navio e os técnicos dos estaleiros, numa árdua tarefa, que se prolongou por quase todo o dia.
Com a baixa-mar, cerca das 8 horas, o navio assentou no fundo da doca, mas quando a maré subiu, o navio ainda oferecia tendência para adernar mais, apesar do intenso trabalho das bombas de esgotamento. Assim, entre as 11 horas e o meio-dia, rebentaram duas espias de aço e o “Serpa Pinto” adernou mais um pouco. Em face da situação, não houve almoço à hora habitual, para o pessoal empregado naquela faina, pelo que foram estabelecidos turnos às bombas, a fim de evitar interrupções no trabalho de esgotamento da água.
Logo que a notícia da ocorrência se espalhou pela área das docas, onde a estranha posição do navio chamava as atenções, começaram a acorrer muitos curiosos à muralha. Um serviço de Polícia mantinha os populares à distância, especialmente longe dos peoris de amarração, dado o risco das espias rebentarem, como algumas vezes se verificou.
Ainda sem certezas, os técnicos supõe que o alagamento do navio possa ter ocorrido através duma válvula de um condensador. A água continua a ser esgotada, estando agora o “Serpa Pinto” com 10 graus de inclinação, antecipando estar definitivamente fora de risco.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 1 de Setembro de 1948

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

História trágico-marítima (CCCXXIV)


O naufrágio do submarino inglês "Affray"
Foi encontrado na zona em que desapareceu o submarino “Affray”
um barco de pesca, sem ninguém a bordo, e que apresenta, no
casco, indícios que levam a supor que chocou com o submersível
Londres, 20 - O barco de pesca “Twinkling Waters”, que tinha desaparecido há dias, precisamente na zona onde se afundou o submarino inglês “Affray”, no dia 17 de Abril, foi hoje encontrado e trazido para Plymouth. Não há notícias da tripulação, que era composta por sete homens. Como se sabe, devido ao facto de este barco ter aparecido, no mesmo sítio onde se afundou o “Affray”, foi sugerido que talvez pudesse ter ocorrido uma colisão entre ambos. O estado do casco do “Twinkling Waters”, leva também a pensar que o pesqueiro possa ter chocado com uma mina. No entanto, não está completamente afastada a hipótese da colisão com o submarino.
* * *
Plymouth, 20 - Uma comunicação recebida, hoje, do Almirantado, informa que as forças necessárias agora para encontrar o “Affray”, eram consideravelmente menores do que as utilizadas, quando havia ainda esperança de encontrar sobreviventes. Por isso, tinham sido mandados retirar muitos navios, incluindo a fragata belga “Victor Billet” e os navios franceses e americanos, que tomaram parte nas buscas. Os navios que continuam a procurar o “Affray” tentarão determinar a posição exacta do submarino e estabelecer com mergulhadores, a causa do desastre. Esses trabalhos poderão continuar ainda por algum tempo e serão influenciados pelo estado do mar.
Foto do submarino "Affray" - blog “Efemérides Navais”
 
A bordo do navio de guerra “Starling”, no Canal da Mancha, 20 - Através de transmissão vinda do Canal da Mancha, chegou uma mensagem lacónica de desespero. A grande esquadra que procedeu às buscas, assinalou o fim dos esforços febris de três dias para encontrar sobreviventes, dos 75 homens que se encontravam no submarino inglês “Affray”. Só há agora uma probabilidade de um num milhão de os encontrar com vida. Toda a Marinha é dessa opinião.
Embora sejam quase nulas as probabilidades de salvamento, as buscas continuarão por mais quatro dias, antes do Almirantado abandonar oficialmente as esperanças. Mas a bordo deste navio os marinheiros sabem, como em todos os outros navios da esquadra, que passaram 80 horas desde o momento fatídico em que o submarino mergulhou, e que nenhum submarino dispõe de oxigénio para mais de 80 horas.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 21 de Abril de 1951

A perda do submarino “Affray”
O sr. ministro da Marinha mandou apresentar condolências à Embaixada Britânica em Lisboa, por motivo da perda do submarino “Affray”. Essa missão foi desempenhada, ontem, de manhã, pelo seu chefe de gabinete, sr. comandante Joaquim José Teixeira.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 25 de Abril de 1951

Apareceu o submarino “Affray”, que havia naufragado
ao largo da ilha de White
Londres, 14 - Apareceu o submarino “Affray”, a 40 milhas a Oeste do ponto onde mergulhou, ao largo da ilha de White. Ao ser anunciado que o submarino “Affray” fôra encontrado, o sub-secretário de Estado para o Almirantado, Callagan, declarou que lhe parece ser muito difícil pô-lo de novo a flutuar. Como se sabe, o submarino desapareceu em 17 de Abril, quando procedia a exercícios de imersão. A notícia da localização foi dada pelo navio da Marinha Britânica “Reclaim”.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 15 de Junho de 1951

terça-feira, 17 de agosto de 2021

História trágico-marítima (CCCXXIII)


O encalhe do navio "Pebane" no rio Escalda

O vapor “Pebane” apesar de continuar encalhado no
Escalda (ou Schelde, em flamengo), não corre perigo
Flessingue - Holanda, 8 - Terceira tentativa, na madrugada de hoje para reflutuar o navio “Pebane”, que aqui encalhou ontem, não teve êxito, porque devido à preia-mar ser mais baixa do que na altura em que o “Pebane” encalhou, não havia ainda condições para libertá-lo, pelo que os rebocadores regressaram a este porto. Estão agora a ser feitos planos para descarregar o carvão que o navio transportava, no sentido de aumentar o seu poder de flutuação.
- - -
As notícias recebidas durante a madrugada e a manhã de ontem pela Companhia Colonial de Navegação, de bordo do vapor “Pebane”, encalhado na barra do Escalda, dizem que o navio não corre perigo de imediato e que prosseguem, com o auxílio de quatro rebocadores, as tentativas para o desencalhar. O estado do tempo melhorou e, a bordo, todos continuam sem novidade. O carregamento do “Pebane” é constituído por 1.050 toneladas de cimento.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 9 de Novembro de 1952

O navio “Pebane” ainda não pôde ser desencalhado
Não se modificou a situação do “Pebane”, encalhado na foz do Escalda, na Holanda, devido ao temporal que lhe partiu as âncoras, com as quais estava fundeado, procurando resistir às arremetidas do mar.
As informações recebidas ontem, na Companhia Colonial de Navegação, dizem que continuam os esforços para salvar o navio.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 10 Novembro 1952
Imagem do navio “Pebane”, em Leixões

Características do navio
Armador: Companhia Colonial de Navegação, Lisboa
Nº Oficial: H-352 - Iic: C.S.L.K. - Porto de registo: Lisboa 30.3.1948
Construtor: Pennsylvania Shipyards, E.U. da América, 1944
ex “Phineas Winsor”, Adm. de Navegação de Guerra dos EUA
Arqueação: Tab 1.952,70 tons - Tal 1.063,95 tons - Pm 2.747 tons
Dimensões: Ff 78,50 mts - Pp 75,95 mts - Bc 12,85 mts - Ptl 5,61 mts
Propulsão: Ajax Iron Works - 1:Te - 3:Ci - 1.300 Bhp - 12 nós

O navio foi vendido pela Comp. Colonial à Comp. Navigacion Gulf-Cuba, em 1956, tendo mudado o nome para “Bahia de Santiago de Cuba”. Foi posteriormente transferido para a Comp. Navegacion Mambisa, de Havana, alterou novamente o nome para “Bahia de Tanamo. Demolido em Havana em 1985.

O navio “Pebane” começou ontem a ser aliviado do seu carregamento
Por informações recebidas de Flessingue, na Companhia Colonial de Navegação, sabe-se que o estado do tempo na foz do rio Escalda melhorou, pelo que principiaram ontem a proceder ao transbordo de parte do carregamento do “Pebane”, ali encalhado desde o dia 7, para bordo de batelões expressamente requisitados para esse efeito.
Quando o navio estiver aliviado de cerca de 400 toneladas de cimento, é de esperar que possam conseguir rápidamente o seu desencalhe. Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 11 Novembro 1952

O navio “Pebane” continua encalhado na foz do rio Escalda
As últimas informações recebidas pela Companhia Colonial de Navegação, de bordo do navio “Pebane”, encalhado na foz do rio Escalda, dizem que prosseguem os trabalhos de transbordo de uma parte da carga para bordo de batelões. Esperam que o navio possa ser posto novamente a flutuar por toda a presente semana. A tripulação continua de perfeita saúde.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 12 Novembro 1952

O navio “Pebane” foi ontem desencalhado
De bordo do navio “Pebane”, foi ontem emitido um rádio para a Companhia Colonial de Navegação, informando que o navio foi desencalhado às 11 e 30, com o auxílio de rebocadores holandeses e que seguiu para Flessingue, onde receberá a carga de que tinha sido aliviado, como o objectivo de ser conseguido o seu salvamento. O navio não apresenta avarias e a tripulação encontra-se bem.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 17 Novembro 1952

domingo, 15 de agosto de 2021

Os rebocadores "Praia da Adraga" e "Praia Grande" da Sociedade Geral


Novo rebocador de alto mar

Concluída a construção do novo rebocador “Praia da Adraga”, executado no Estaleiro Naval da C.U.F., para a Sociedade Geral, de Comércio, Indústria e Transportes, realizaram ontem a experiência no alto mar, com os melhores resultados.
O “Praia da Adraga” saíu ontem de manhã do Tejo, com os srs. comandante João Francisco Fialho, capitão do porto de Lisboa; engº. Simões Coimbra, pela Capitania do porto de Lisboa; D. Manuel de Melo, presidente do conselho de administração da Sociedade Geral; director, secretário e técnicos daquela empresa, etc.
Foto do "Praia da Adraga" - Postal da Companhia

Características do rebocador
1951 - 1972
Armador: Soc. Geral de Comércio, Indústria e Transportes, Sarl
Nº Oficial: H-411 - Iic.: C.S.P.L. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Companhia União Fabril, Lisboa, 1951
Tonelagens: Tab 516,57 tons - Tal 143,95 tons
Dimensões: Ff 48,35 mts - Pp 43,74 mts - Bc 9,22 mts - Ptl 3,62 mts
Propulsão: Sulzer Frères, Suiça, 1937 - 1:Di - 8:Ci - 1.360 Bhp
Transferido em 1972 para a Companhia Nacional de Navegação

As experiências agradaram sobremaneira às entidades oficiais que a elas assistiram. O rebocador foi ao encontro do navio “Borba”, que procedia de Inglaterra, com um carregamento de 6.000 toneladas de carvão. Embora houvesse denso nevoeiro, foi possível encontrar facilmente o navio escolhido para as experiências, para o que foi empregue o radar.
Uma vez passado o cabo de aço, com esticador automático, o “Praia da Adraga” rebocou, durante algum tempo, o “Borba”, fazendo arriscadas evoluções à velocidade de 8 milhas horárias, considerada esplêndida, se se atender que o rebocador puxava um peso de mais de 10.000 toneladas, no total.
O porto de Lisboa tem, pois, a partir de agora, um novo rebocador de alto mar, que servirá para reboques e para toda a natureza de socorros a prestar a navios em situação de emergência.
Fonte: Jornal "Comércio do Porto", quinta-feira, 7 de Agosto de 1951

O “Praia Grande” é lançado à água depois de amanhã
No Estaleiro Naval da C.U.F. realiza-se, na quarta-feira, a cerimónia do lançamento à água do rebocador de alto-mar “Praia Grande”, encomendado pela Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes. É igual ao “Praia da Adraga”, há dias lançado ao Tejo e destina-se, também, àquela Sociedade Geral.
No mesmo dia, será cravado o primeiro rebite do navio bacalhoeiro de pesca à linha, destinado à firma Mariano & Silva, da Figueira da Foz, com capacidade para 18.000 quintais de bacalhau.
Entre outras pessoas, devem assistir à cerimónia, os srs. ministro da Marinha, vice-presidente da Junta da Marinha Mercante e presidente do conselho de administração do porto de Lisboa.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 1 de Outubro 1951
Foto do "Praia Grande" - postal da Companhia

Características do rebocador
1951 - 1972
Armador: Soc. Geral de Comércio, Indústria e Transportes, Sarl
Nº Oficial: H-415 - Iic.: C.S.P.M. - Porto de registo: Lisboa, 12.2.52
Construtor: Companhia União Fabril, Lisboa, 1951
Tonelagens: Tab 511,98 tons - Tal 137,43 tons
Dimensões: Ff 48,35 mts - Pp 43,73 mts - Bc 9,22 mts - Ptl 3,62 mts
Propulsão: Sulzer Frères, Suiça, 1942 - 1:Di - 8:Ci - 1.360 Bhp
Transferido em 1972 para a Companhia Nacional de Navegação

O rebocador de alto-mar “Praia Grande” foi ontem lançado à água
O rebocador “Praia Grande” construído no Estaleiro Naval da C.U.F. e, destinado à Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes, igual ao “Praia da Adraga”, há dias posto a flutuar foi ontem lançado à água. São os maiores rebocadores construídos em Portugal, apetrechados para serviços de socorro no alto mar e nos rios, com 48 metros de comprimento e o deslocamento de 730 toneladas.
Ao acto assistiram o sr. ministro da Marinha, o sub-secretário do Comércio e Indústria, o director-geral da Marinha, o director e vice-director da Junta da Marinha Mercante, e o capitão do porto, tendo sido recebidos pelos srs. D. Manuel de Melo, presidente do conselho de administração da Sociedade Geral, dr. Jorge de Melo e engº. Aulânio Lobo, administradores da mesma empresa, e pelo sr. engº. Vasco de Melo, director do estaleiro.
O rev. Moreira, prior de Santos, procedeu à bênção da nova unidade e em seguida a Srª. Dª. Antónia da Rocha e Melo, esposa do sr. engº. Rocha e Melo, director da C.U.F., como madrinha do rebocador, quebrou a tradicional garrafa de espumante. O rebocador deslizou pela carreira e entrou nas águas entre aclamações dos operários.
A velocidade destes rebocadores será de 12,5 nós, com uma autonomia para mais de 10.000 milhas.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 4 de Outubro de 1951

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Memorativo da Armada


O navio oceanográfico “Albacora”

A Marinha de Guerra Portuguesa em 1924 adquiriu o navio “Albacora”, para realizar estudos de oceanografia física e de biologia marítima. Desde essa data até 1942 efectuou diversos trabalhos de muito interesse na sua especialidade. Continuou, assim, os estudos que sob o patrocínio de el-rei D. Carlos haviam sido realizados de 1896 a 1907, a bordo, sucessivamente, pelos cinco iates reais, todos eles designados pelo nome “Amélia”.
O navio foi construído na Noruega, especialmente para operar como navio oceanográfico. Tinha um deslocamento máximo de 135 toneladas, com uma guarnição total de 15 tripulantes. Esteve ao serviço da Estação de Biologia Marítima, do Ministério da Marinha, tendo efectuado pesquisas nas águas de Portugal continental, e na área Atlântica de Gibraltar à Ilha da Madeira.
Fonte: A Marinha nos últimos 40 anos, 1926-1946, Minist. da Marinha
Imagem do navio-oceanográfico "Albacora"
 
O navio oceanográfico “Albacora” vai ser vendido
Foi mandado proceder à venda do antigo navio oceanográfico “Albacora”, que pertenceu à Marinha de Guerra e se encontrava actualmente sob a jurisdição directa da Estação de Biologia Marítima. Este navio construído no Noruega por encomenda da Governo português, em 1924, quando era ministro da Marinha o falecido almirante Pereira da Silva.
Tratou-se de uma elegante unidade a motor e à vela, tendo efectuado durante muitos anos cruzeiros de estudos oceanográficos ao longo da costa portuguesa. A abertura das propostas para a compra do navio efectua-se no dia 10 de Janeiro do próximo ano.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 16 de Dezembro 1952

Foi vendido o navio oceanográfico “Albacora”
Na Direcção dos Serviços Marítimos do Alfeite realizou-se a segunda praça para a venda do antigo navio oceanográfico “Albacora”. Apresentadas cinco propostas, o navio foi adjudicado à firma de António Teixeira Mendes, pela quantia de Esc. 66.156$50.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 28 de Fevereiro de 1953

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

História trágico-marítima (CCCXXI)


O arrastão "Santa Teresinha"
fez ontem experiências ao largo da costa
Em viagem de experiência, largou ontem de manhã para a costa e regressou ao princípio da noite, o novo arrastão "Santa Teresinha", que deve partir na próxima semana para a pesca em Cabo Branco.
Fonte: Jornal "Comércio do Porto", sábado, 3 de Novembro de 1951

Naufragou ao largo das Canárias, o barco “Santa Teresinha”
tendo morrido, no sinistro, 16 pescadores portugueses
Las Palmas, 19 – Dezasseis marítimos portugueses encontraram a morte no naufrágio do arrastão “Santa Teresinha”, de 383 toneladas, que se deu na sexta-feira de manhã, a cerca de 20 quilómetros de Lanzarote. Os sete sobreviventes foram recolhidos pelo navio espanhol que faz o correio entre Porto Ventura e a ilha grande das Canárias.
Las Palmas, 19 - O vapor da carreira chegou, hoje, a este porto, com sete náufragos, que recolheu numa lancha em que estiveram 24 horas, depois de se ter afundado o pesqueiro “Santa Teresinha”, da matrícula de Lisboa. Este arrastão havia saído de Lisboa para pescar no Cabo Branco e voltou-se, devido a um golpe de mar, que fez deslocar para um lado a carga de 120 toneladas de gelo, provocando o afundamento.
A tripulação era constituída por vinte e três homens, faltando, portanto, dezasseis, que os náufragos supõem não terem podido salvar-se pela rapidez do afundamento. Os tripulantes salvos foram os seguintes: Albano Dias Campos, António Joaquim Paulo, José Joaquim Firmino, Inácio Raminhos, Manuel Ávila, Inácio Silva e Jorge Cristóvão da Silva. O arrastão “Santa Teresinha”, era comandado pelo capitão José Ribeiro Cardoso, pertencia à praça de Lisboa e era propriedade da Sociedade de Pesca Santa Fé.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 20 de Julho de 1952

Imagem do arrastão "Santa Teresinha"

Desconhece-se ainda a sorte de dezasseis náufragos do vapor de pesca
“Santa Teresinha”, que se afundou ao largo das Canárias
O naufrágio do barco de pesca “Santa Teresinha”, trouxe para a gente do mar, especialmente, consternação e ansiedade. Nada mais se sabe dos 16 desaparecidos. O sinistro registou-se na sexta-feira, ao largo das Canárias, e apenas sete náufragos foram recolhidos por um vapor espanhol que os conduziu a Las Palmas.
Ontem, de manhã, na capitania de Lisboa, foi recebido um telegrama do Funchal a dar conta do acontecimento. O sr. comandante Tenreiro, delegado do Governo junto dos organismos da pesca, deu instruções à Junta Central das Casas dos Pescadores no sentido de procederem urgentemente à entrega de pensões às famílias dos náufragos desaparecidos. Ao mesmo tempo, foram dadas indicações para o imediato repatriamento dos sobreviventes, que devem embarcar no primeiro navio que tocar em Las Palmas.
Durante o dia, os srs. Ernesto Júlio Santiago e Manuel Moreira Rato, gerentes da Sociedade de Pesca Santa Fé, Lda., com sede em Lisboa, proprietária do arrastão afundado, procuraram por sua vez informações sobre o paradeiro dos restantes náufragos, tendo comunicado com o seu arrastão “Santa Fé”, em viagem para Lisboa, onde deverá chegar amanhã à noite, a fim de, através da sua estação de rádio, tentar obter informações sobre os náufragos.
Os armadores enviaram também, durante o dia, telegramas para Las Palmas, dirigidos a várias entidades pedido atenção aos náufragos. Entre os desaparecidos há três marítimos de Ílhavo, onde a notícia causou profunda consternação. Estes são: João António Lavrador, natural da Murtosa, casado com Palmira Lavrador, mestre de pesca, de 52 anos, que vivia em Lisboa; José Cipriano Pinho Fernandes, de 21 anos, solteiro, filho de José Fernandes Barracha e Rosa Pinho, que frequentou a Escola de Pesca e, há um ano, trabalhava no referido arrastão; e João Brito Namorado, casado, de 46 anos, com dois filhos.
A lista oficial da tripulação do arrastão afundado é a seguinte:
José Ribeiro Cardoso, capitão; João António Lavrador, mestre de pesca; António Carvalho Matos, contra-mestre; António Joaquim Paulo, mestre de redes; Inácio Raminhos, José Joaquim Firmino, Francisco Pereira Pérola, Leonel Ramos, Joaquim Feliciano Barroca e Pedro Marques Fidalgo, marinheiros; João Brito Namorado, cozinheiro; João Maria Pardal e António Ferreira Júnior, marinheiros; Jorge Cristóvão Sintra e José António Major, moços; Albino Dias Campos, marinheiro; Mário Sanches, 1º maquinista; José Lima Maciel Barbosa, 2º maquinista; José Brasinha dos Santos e Agostinho da Silva, ajudantes de maquinista; Manuel da Vila Inácio e José Cipriano Fernandes, marinheiros, e Alfredo Lopes, ajudante de maquinista. Salvaram-se Albino Campos, António Paulo, José Firmino, Mário Raminhos, Manuel da Vila Inácio Silva e Jorge Cristóvão da Silva.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 21 de Julho de 1952

Teria o “Santa Teresinha” sido afundado por três vagas?
Embora sem notícias ou informações categóricas, julga saber-se que o arrastão “Santa Teresinha”, que se perdeu no mar das Canárias, teria sido violentamente sacudido por três vagas quase seguidas e de grande poder, e com o barco coberto de água, ter-se-ia voltado.
A Mútua dos Armadores da Pesca de Arrasto e a Sociedade de Pesca Santa Fé, Lda., empresa armadora do arrastão desaparecido, providenciam para que os sobreviventes embarquem na próxima sexta-feira em Las Palmas para Cadiz.
Um dos desaparecidos, o 2º maquinista José Lima Manuel Barbosa, era natural e residente na freguesia de Darque, Viana do Castelo, onde casou somente há nove meses, devendo a sua mulher dar à luz brevemente um filho.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 22 de Julho de 1952

Os sobreviventes do arrastão “Santa Teresinha” consideram
o seu salvamento um verdadeiro milagre
Las Palmas, 21 - «Foi um milagre termo-nos salvo» - disse um dos sobreviventes do arrastão “Santa Teresinha” que, no dia 18 do corrente, naufragou ao largo das Canárias. «Mantendo-nos ao cimo da água com as boias de salvação», continuou o marinheiro, «sacudidos pelas vagas, remando com os braços, tentamos dirigir-nos para a ilha de Lanzarote ou Fuerte Ventura. Mas, se o vapor correio não nos encontrasse, e se não tivesse conseguido recolher-nos, com certeza que teríamos morrido como os outros. Aquele salvamento, no meio da noite, foi verdadeiramente um milagre». Todos os sobreviventes contaram a angústia de ver desaparecer um por um os seus 16 companheiros, entre eles o capitão do arrastão, sem poder prestar-lhes qualquer socorro.
Os náufragos tiveram da parte do cônsul de Portugal, todo o auxílio e assistência; antes do fim desta semana, poderão embarcar de regresso. Os sete sobreviventes do desastre são: António Joaquim Paulo, mestre de redes e os marítimos Albino Dias Campos, Inácio Raminho Silva, Joaquim Feliciano Barroca, Joaquim José Silvino, Jorge Cristóvão da Silva e Manuel da Vila Inácio.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 23 de Julho de 1952

O regresso do náufragos do arrastão “Santa Teresinha”
De Cadiz, saíram ontem para Lisboa, os náufragos do arrastão “Santa Teresinha”, que naufragou próximo a Las Palmas. A chegada ao Terreiro do Paço está prevista para hoje de manhã.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 31 de Julho de 1952

Regressaram a Lisboa os sete náufragos do arrastão “Santa Teresinha”
Acompanhados pelo sr. Luís Baena Nunes da Silva, funcionário superior do Grémio da Pesca de Arrasto, chegaram ontem a Lisboa, os sete sobreviventes do arrastão de pesca “Santa Teresinha”, que se afundou no dia 18 do mês passado, ao largo das Canárias. Seguiram imediatamente para a capitania do porto de Lisboa, onde foram ouvidos pela Polícia Marítima.
O primeiro dos tripulantes a ser ouvido foi o mestre de redes, António Joaquim Paulo, cujo interrogatório demorou cerca de quatro horas. Como o capitão do navio morreu no terrível naufrágio as autoridades marítimas ouviram o seu testemunho, por ser ele que poderia, pela sua função a bordo, contar em que condições se deu o afundamento. Enquanto os homens estavam a ser ouvidos pela polícia, davam-se cenas confrangedoras com as pessoas de família. Uma mulher de nome Ana Rosa, moradora em Cascais, estava ali numa dupla situação de alegria e de tristeza. Veio esperar o pescador Inácio Raminhos, um dos sobreviventes da tragédia e lamentar a morte do sobrinho, o marinheiro Leonel Ramos.
António Joaquim Paulo, que foi ouvido durante toda a manhã, contou em pormenor como se deu o naufrágio. Disse: O “Santa Teresinha” navegava a caminho do pesqueiro, com vaga alta. Era noite. O capitão e quase todos os tripulantes dormiam. Estavam acordados apenas três homens. De súbito, o arrastão foi sacudido por uma vaga, logo seguida por mais duas. O navio não aguentou e submergiu. Os sete sobreviventes dormiam, mas mais lestos, conseguiram pôr-se a salvo agarrando-se a uma rede que caiu do barco. A situação aflitiva dificilmente poderia prolongar-se, valendo-lhes o facto de, pouco depois, quase inesperadamente, ter aparecido uma baleeira do navio naufragado.
Os pobres náufragos, conforme puderam, aproximaram-se daquela embarcação, ouvindo ainda a voz do capitão gritar no meio da confusão lancinante e da ansiedade, que entre todos suscitaram, que arreassem as baleeiras. Foi tudo quanto ficou do drama, que vai ficar gravado nas suas memórias para sempre.
Depois, andaram na baleeira horas e horas, quase um dia inteiro, até ter aparecido o navio espanhol “La Palma”, que com grande abnegação da parte dos seus tripulantes, salvou os náufragos do “Santa Teresinha”, os quais manifestaram ao chegar a Lisboa a satisfação recebida do cônsul, que lhes deu acolhimento em Las Palmas, e o facto dum funcionário do Grémio da Pesca de Arrasto, os ter ido buscar a Cadiz. Mostram-se reconhecidos àquele organismo, pelas atenções que lhes proporcionou.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 1 de Agosto de 1952

sábado, 7 de agosto de 2021

Navios portugueses - O "Rita Maria"


O navio “Rita Maria” foi visitado pelos representantes da Imprensa
A convite da Sociedade Geral, representantes da Imprensa de Lisboa e do Porto, visitaram ontem, à tarde, o novo navio “Rita Maria”, de 5.450 toneladas, destinado à linha da Guiné e Cabo Verde.
Para a visita à nova unidade mercante, que foi construída no estaleiro naval da C.U.F., para a referida empresa, os jornalistas foram recebidos a bordo pelos srs. engº Aulânio Lobo, administrador da C.U.F., engº Vasco de Melo, engº Artur Lobo, comandantes Sales Henriques, Boaventura Gonçalves e António Francisco Boto, etc.
Após a visita às óptimas instalações ultramodernas, quer de carga, quer para passageiros, foi oferecido no «deck» de primeira classe um «Porto de Honra» aos convidados. Na ocasião falaram o engº Aulânio Lobo pela C.U.F. e Luís Figueira pela Imprensa.
Na próxima terça-feira, às 10,30 horas, com a assistência do sr. ministro da Marinha, realiza-se a bordo do “Rita Maria”, a cerimónia da entrega do navio pelo estaleiro naval à Sociedade Geral.
Às 11 horas, o sr. Presidente da República, acompanhado por alguns membros do Governo, visitará, este navio, acompanhado por alguns membros do Governo, e às 17 horas, realizar-se-á, também, a bordo do “Rita Maria”, a visita de várias entidades oficiais e exportadores, etc.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 4 de Outubro de 1953
Foto do "Rita Maria" em Leixões

Características
Armador: Soc. Geral de Comércio, Indústria e Transportes, Lisboa
Nº Oficial: H-420 - Iic: C.S.L.Z. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Companhia União Fabril, Lisboa, 1952
Arqueação: Tab 3.403,65 tons - Tal 2.467,00 tons
Dimensões: Ff 103,32 mt - Pp 98,36 mt - Bc 13,86 mt - Ptl 7,45 mts
Propulsão: Atlas - Suécia, 1949 - 2:Di - 14:Ci - 2.660 Bhp
Equipagem: 35 tripulantes

Cinco membros do Governo assistiram ontem à cerimónia
da entrada nas águas do Tejo do navio misto “Rita Maria”
Ao princípio da tarde de ontem, foi lançado à água no estaleiro naval da Companhia União Fabril, do navio misto “Rita Maria”, nova unidade da marinha de comércio, destinada à Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes.
Para o acto, que teve numerosa assistência, foram convidados os srs. ministro da Marinha, do Ultramar, Comunicações, Economia e Corporações, estando presentes ainda, além dos directores e técnicos da C.U.F. e da Sociedade Geral, representantes de outras companhias de navegação, da A.P.L., Arsenal do Alfeite e outros organismos.
Ao novo navio foi dado o nome de uma das filhas do sr. dr. Jorge de Melo, administrador da empresa proprietária. O navio tem alojamento para 70 passageiros; 103 metros de comprimento; desloca 5.450 toneladas, e destina-se à carreira da Guiné.
Após o lançamento, o sr. D. Manuel de Melo, presidente do conselho de administração da companhia, proferiu um discurso, durante o qual apontou o desenvolvimento da frota da Sociedade Geral e referiu as construções levadas a cabo naquele estaleiro.
Por último, o sr. ministro da Marinha regozijou-se com o facto de ter sido aumentada com o “Rita Maria” a nossa frota mercante, dirigindo, por isso, saudações aos directores dos estaleiros e da Sociedade Geral.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 1 de Novembro de 1952

A primeira viagem do navio “Rita Maria”
Largou, ontem, do Tejo, com carga e passageiros, para a sua viagem inaugural a Cabo Verde e à Guiné, o novo navio “Rita Maria”, que entrará hoje em Leixões, onde a Sociedade Geral oferece, a bordo, uma recepção às entidades oficiais, exportadores e outros convidados.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 11 Novembro de 1952

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Memorativo da Armada - O “Ponta Delgada"


Um draga-minas português
O Governo dos Estados Unidos da América entregou a Portugal, ao abrigo do programa de defesa e assistência mútua, o primeiro draga-minas, que foi baptizado com o nome “Ponta Delgada”. A cerimónia da entrega realizou-se nos estaleiros navais de Brooklyn, em Nova York. É o primeiro de diversas unidades do mesmo tipo, especialmente construídos na América do Norte, para os países que pertencem à Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 13 de Abril de 1953

Draga-minas “Ponta Delgada”
Foi publicada no «Diário do Governo» uma portaria que aumenta ao efectivo dos navios da Armada, na situação de armamento normal, o draga-minas “Ponta Delgada”, que é o primeiro dos navios daquela classe cedido pelos Estados Unidos da América do Norte ao nosso País, ao abrigo dos acordos resultantes do Pacto do Atlântico. Aquela portaria estabelece como lotação provisória do “Ponta Delgada”, constituída por quatro oficiais e trinta e cinco sargentos e praças.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 13 de Abril de 1953


O draga minas “Ponta Delgada”, primeiro navio de guerra cedido pelos
Estados Unidos à Marinha Portuguesa, entrou, ontem, no Tejo
Escoltado desde Cascais pelo aviso “Afonso de Albuquerque” e pelo navio-patrulha “Espadilha”, entrou, ontem, no Tejo, o novo draga-minas “Ponta Delgada”, o primeiro navio de guerra cedido pelos Estados Unidos à Marinha Portuguesa. Era cerca das 7 horas quando chegaram em frente a Cascais, o “Afonso de Albuquerque” e o “Espadilha”, que recebera o navio, com as saudações da ordenança entre toque de sentido e sinais de bandeiras a expressar as boas-vindas.
Eram 7 horas e 40, quando foi constituído o cortejo naval a caminho de Lisboa. À frente navegava o “Ponta Delgada” seguido pelo “Espadilha” e logo após o “Afonso de Albuquerque”. Quando o “Ponta Delgada” passou em frente da Praça do Comércio, a fim de ir amarrar à boia em frente da doca de Marinha, o draga-minas “Terceira” e o navio-escola “Sagres” içaram os sinais de boas-vindas, ao mesmo tempo que os rapazes da “D. Fernando” saudavam a nova unidade com os bonés.
Entretanto a bordo do “Ponta Delgada”, que é comandado pelo 1º tenente Emmanuel Ricou, tudo estava a postos para receber a visita dos membros do Governo, do embaixador dos Estados Unidos e demais entidades oficiais.
Pelas 10 horas começaram a reunir-se na muralha da doca de Marinha as entidades oficiais que iam visitar o novo navio e que eram recebidas pelo director dos Serviços Marítimos, sr. capitão de mar-e-guerra, Correia Monteiro, e pelo oficial de serviço.
Foi o sr. almirante Ortins de Bettencourt, chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, o primeiro a chegar, logo seguido pelo comandante geral da Armada interino, sr. contra-almirante Guerreiro de Brito, chefe do Estado Maior Naval, contra-almirante Nuno de Brion, comandante-chefe da força naval da Metrópole, e contra-almirante Alves Leite, superintendente da Armada, comodoro Quintanilha de Mendonça Dias, e sub-chefe do Estado Maior Naval, capitão de mar-e-guerra, Galeão Roma, comandante da defesa marítima, general Frank Camm, chefe da missão americana com todos os oficiais da secção naval da mesma missão, acompanhados pelo capitão Oliveira Júnior, do Estado Maior Naval.
Pouco depois chegava o sr. contra-almirante Américo Tomás, ministro da Marinha, que foi recebido pelas entidades presentes, o mesmo acontecendo ao sr. coronel Guggenheim, embaixador dos Estados Unidos, acompanhado pelo adido naval americano. Por fim chegou o sr. ministro da Defesa. Após os cumprimentos a este membro do Governo, tos os convidados seguiram num gasolina para bordo do “Ponta Delgada, onde por determinação do sr. ministro da Marinha foi içado o distintivo do sr. ministro da Defesa. Recebidos pelo novo comandante do novo draga-minas ao portaló, as entidades oficiais, enquanto a guarnição do navio se encontrava formada, visitaram as principais dependências do navio.
Usa da palavra o ministro da Marinha:
Finda a visita, foi oferecido pelo comandante do novo navio um «Porto de Honra» aos convidados. Foi então que usou da palavra o sr. ministro da Marinha, que começou por agradecer aos srs. embaixador dos Estados Unidos, ministro da Defesa, almirantes e membros da Missão Militar Americana, a sua presença, após o que disse:
O “Ponta Delgada”, o primeiro dos três draga-minas costeiros já entregues pelos Estados Unidos a portugal é, como V.Exas., verificaram na visita que acabam de realizar às suas principais instalações, um navio valioso pela complicada e moderníssima aparelhagem de que dispõe para poder desempenhar eficazmente a sua difícil e arriscada faina, mas de diminuta tonelagem.
Em síntese, as nossas impressões podem, talvez, exprimir-se dizendo que se trata de um navio que não deve ser visto de fora, mas apenas apreciado por dentro. No entanto, não é esse apreciável valor intrínseco que justifica ou é causa do relevo dado a esta cerimónia, ou seja da vossa vinda a bordo. A razão da vossa presença e o seu significado são bem diversos.
As nações do Ocidente da Europa, pelos erros que, irreparávelmente foram cometendo, em sucessivas auto-liquidações deveras impressionantes, perderam, a hegemonia que durante séculos detiveram. Outras se lhes agigantaram a Leste e a Oeste, constituindo a de Leste uma terrível ameaça à milenária civilização ocidental. Não admira, por isso, que os Estados Unidos e as nações do Ocidente da Europa buscassem, numa coligação de nações pacíficas - que, para ser perfeita deveria abranger todas - a força defensiva capaz de obstar, no seu conjunto, ao perigo que o Oriente da Europa mais uma vez representava e nunca com tamanha gravidade.
E o sr. almirante Américo Tomás prosseguiu nestes termos:
- «A coligação assim nascida, embora de natureza exclusivamente defensiva, talvez, até por essa circunstância, cumprirá tanto melhor a sua missão quanto mais forte conseguir ser. È certo que o desenvolvimento económico terá de sofrer com isso, mas não pode esquecer-se, por um lado, que se pretende evitar o mal maior e mais calamitoso e, por outro, que infelizmente as nações, como os homens, só muitas vezes respeitam que vale. Ora Portugal que, há mais de cinco séculos, começou levando às cinco partidas do Mundo a civilização ocidental e que antes de quaisquer outros atingiu, por mar, a Terra Nova, a Índia, o Brasil, o Japão e a Austrália, não podia desinteressar-se, sentindo em risco a civilização que primeiro, mais e talvez melhor do que ninguém difundiu. Não podia desinteressar-se e não se desinteressou e isso explica sobejamente o significado relevante dado à cerimónia de hoje. Ela exprime que a Marinha continua conscia, talqualmente o Exército e a Aviação, de que é necessário prosseguir sem hesitações nem desfalecimentos.»
E a terminar:
- «Da modernização dos seus meios e da preparação do seu pessoal dependerá a sua força. E essa força, conjugada com as restantes, que desejamos tão firme como a nossa, evitará que a Humanidade se precipite no seu extermínio».
O sr. almirante Américo Tomás ergueu, no final, um brinde pela coligação do Atlântico Norte e pelas três forças armadas de Portugal.
Depois usou da palavra o embaixador dos Estados Unidos, que disse:
- «Este excelente navio - o “Ponta Delgada” - toma agora o seu lugar entre os navios da Marinha Portuguesa - uma Marinha que tem uma longa, valorosa e famosa tradição. Vem apropósito salientar aqui a verdade, tantas vezes repetida, de que as nações do Pacto do Atlântico, ao erguerem as suas defesas na terra, no mar e no ar, têm apenas um fim em vista - a manutenção da Paz. Portugal, os Estados Unidos e todas as outras nações da N.A.T.O. estão certas de que os sacrifícios necessários para manter a Paz serão menos pesados do que aqueles que resultariam da falta de preparação. Portugal é um aliado com quem se pode contar entre as nações do Mundo livre, um aliado que partilha das vicissitudes da época presente e das orações para uma Paz duradoura».
Depois de uma breve troca de impressões, os membros do Governo e as restantes personalidades abandonaram o “Ponta Delgada”, voltando para desembarcar novamente na doca de Marinha.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 1 de Setembro de 1953