domingo, 4 de novembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXXIV)


O incêndo a bordo do navio brasileiro "Duque de Caxias"

Ao largo da costa brasileira, está a arder o paquete “Duque de Caxias”,
que transportava mil passageiros para Lisboa e Génova, os quais  foram
todos salvos por cinco navios de guerra brasileiros e um navio
mercante inglês. Morreram dez tripulantes do navio incendiado
Na sua maior parte os passageiros são de origem portuguesa
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Rio de Janeiro, 31 – O navio “Duque de Caxias”, com mil passageiros a bordo, e que partira na noite passada deste porto, incendiou-se ao largo do Cabo Frio, quando se dirigia para a Europa. O fogo foi descoberto esta madrugada e diz-se que tomou grandes proporções.
Pouco depois do meio dia, havia a notícia que o fogo que lavra a bordo do “Duque de Caxias” está sob controle de alguns navios de guerra brasileiros e do navio mercante inglês “Dover Hill”, tendo ficado a bordo do transporte brasileiro, apenas a respectiva tripulação, que está a combater o fogo com o maior denodo.
Cinco navios de guerra brasileiros permanecem ao lado do transporte, que está em chamas, estando a auxiliar a combater o fogo.
O “Duque de Caxias” é um paquete de dezasseis mil toneladas e, durante a guerra, transportou tropas brasileiras para a Itália, dirigindo-se, agora, para Lisboa e Génova, a fim de recolher emigrantes.
O “Duque de Caxias” será rebocado para o Rio de Janeiro.
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Rio de Janeiro, 31 – A maioria dos passageiros do transporte brasileiro “Duque de Caxias”, que se incendiou, quando ia a caminho da Europa, é de nacionalidade portuguesa. Precisamente, 680 passageiros iam com destino a Lisboa, e 377 da totalidade dos passageiros embarcados no Rio de Janeiro seguiam para Génova, e três para Marselha.
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Rio de Janeiro, 31 – Anuncia-se que morreram dez membros da tripulação do transporte brasileiro “Duque de Caxias”, devido ao incêndio que nele se declarou, esta manhã. Todos os 1.067 passageiros e restantes membros da tripulação – 500 homens – foram salvos.
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O Ministério da Marinha comunicou que 17 navios de guerra, 3 navios mercantes e dois aviões se aproximaram e entraram em contacto com o navio incendiado, ao largo de Cabo Frio, e procederam ao trabalho de salvamento, no máximo das suas possibilidades.

O incêndio começou próximo da caldeira
Rio de Janeiro, 31 – O incêndio no “Duque de Caxias” começou próximo de uma caldeira. Mais de mil passageiros que se encontram a bordo estão a ser recolhidos por dois navios de guerra brasileiros e dois navios britânicos, segundo dizem as primeiras notícias. O paquete partira ontem, do Rio de Janeiro para a Europa.

Perderam a vida dez passageiros?
Rio de Janeiro, 31 – Segundo notícias ainda não confirmadas, perderam a vida, devido ao incêndio, pelo menos vinte pessoas ao que se supõe, dez passageiros e dez tripulantes.
Não foi, ainda, possível identificar completamente os passageiros, que foram salvos num ambiente de terrível pânico, que irrompeu imediatamente ao ter soado o alarme, quando as chamas começaram a crepitar nas instalações superiores de 1ª classe.
Um dos passageiros declarou:
- Vi um pequeno barco afundar-se, quando um homem, uma mulher e uma criança procuravam salvar-se. A mulher e a criança morreram, afogadas, e o homem ainda foi salvo.
Outro sobrevivente declarou:
- Era tremenda a confusão a bordo, entre os ocupantes da 1ª classe.
E um terceiro sobrevivente é quem fornece os dados referentes à informação de que, pelo menos, dez passageiros perderam a vida.

Os passageiros eram portugueses e italianos, que vinham,
pela primeira vez à sua Pátria, depois da guerra
Rio de Janeiro, 31 – As autoridades do Rio de Janeiro prepararam todas as camas disponíveis nos hospitais, por se crer haver muitos feridos, e ambulâncias estão, agora, no cais, a aguardar os sobreviventes, transportados em navios de guerra brasileiros e no vapor britânico “Dover Hill”.
Ao dar-se a explosão, o navio encontrava-se a 6 milhas do Cabo Frio, cerca de 120 quilómetros ao norte do Rio de Janeiro. A maior parte dos passageiros era de nacionalidade portuguesa e italiana que iam, pela primeira vez, à sua Pátria, desde o fim da guerra. O navio devia escalar os portos de Lisboa e Génova.
O “Duque de Caxias” era, originalmente, o transporte norte-americano “Orizaba” e tinha sido entregue ao Brasil para substituir, parcialmente, a tonelagem perdida por este país na campanha submarina alemã.
(Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 1 de Agosto de 1946)

Foto do transporte brasileiro "Duque de Caxias"
Imagem em www.naval.com.br

Características do transporte U-11 “Duque de Caxias”
Armador: Marinha do Brasil, Rio de Janeiro
Nº. Oficial: N/d - Iic: N/d - Porto de Registo: Rio de Janeiro
Construtor: W. Cramp & Sons, Filadelfia, U.S.A., Junho de 1918
ex “Orizaba”, New York and Cuba S.S. Co., Nova York
Arqueação: Tab 6.937,00 tons - Tal 3.420,00 tons
Dimensões: Pp 135,11 mts - Boca 18,28 mts - Pontal 7,43 mts
Propulsão: Do construtor, 4:Tv - 1.908 Nhp - 16,5 m/h
Equipagem: Cerca de 500 tripulantes
Abatido aos efectivos da Marinha brasileira em Abril de 1959

Já chegaram ao Rio de Janeiro os corpos de dezassete vitimas
do incêndio no paquete brasileiro “Duque de Caxias”
Ainda não está estabelecido, com precisão, o número de mortos, mas há indicações de que, vinte e três pessoas, incluindo dez tripulantes e cinco freiras perderam a vida no trágico sinistro.
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Rio de Janeiro, 1 – Foi afirmado, hoje, aqui, que perderam a vida, no incêndio que ontem houve a bordo do transporte brasileiro “Duque de Caxias", ao largo da costa do Brasil, 23 pessoas, incluindo 5 freiras e dez homens da tripulação. Depois da explosão de uma caldeira, o fogo ateou-se a todo o navio, no momento em que este estava a um dia de viagem do Rio de Janeiro, a caminho de Lisboa e Génova. As cinco freiras iam de viagem para Itália. O navio britânico “Dover Hill”, que foi o primeiro a chegar junto do transporte, salvou 500 passageiros.
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Rio de Janeiro, 1 – As primeiras informações dos sobreviventes do “Duque de Caxias” revelam que à explosão seguiu-se o pânico e o caos.
Os passageiros que estavam deitados nas suas cabines, foram projectados, e em breve, as chamas espalhavam-se pelo navio. Muitos lançaram-se ao mar e alguns deles foram salvos, ao amanhecer, por aviões «Catalina», da Força Aérea Brasileira.
Oficialmente, o número de mortos, entre os tripulantes, é de 10, mas pensam que esse número deve ser muito mais elevado.
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Rio de Janeiro, 1 – Os corpos das 17 vitimas do incêndio, foram desembarcados de bordo dum barco auxiliar e transportados para uma câmara ardente, onde ficarão até serem sepultados.
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Rio de Janeiro, 1 – Entre as 17 vítimas do incendio no “Duque de Caxias”, que acabam de dar entrada na câmara ardente, figuram duas religiosas – a italiana Magdalena Oggiene, de 44 anos e a brasileira Teresa Lima, de 33 anos – e, ainda, o industrial italiano Giuseppe Mondollofe e sua esposa, ambos de 60 anos.
Sabe-se que o Lloyd Brasileiro já começou a tratar do embarque dos sobreviventes, que serão transportados em novos navios com destino à Europa. Os primeiros grupos de passageiros começaram a partir, provavelmente, em meados de Agosto.

A Embaixada do Brasil em Lisboa foi incansável
para obter notícias do Rio de Janeiro
Ao ter conhecimento do gravíssimo sinistro a bordo do “Duque de Caxias”, a Embaixada do Brasil no nosso País entrou em contacto com o Ministério da Marinha no Rio, a fim de colher pormenores que a habilitassem a informar as famílias dos passageiros de nacionalidade portuguesa, sobre a extensão do sinistro e suas consequências.
À espera de comunicações passaram a noite, a pé, na Embaixada, o embaixador Sr. dr. Henrique Dodsworth, o adido naval Sr. capitão-de-fragata Saldanha da Gama e outros funcionários superiores daquela missão diplomática, tanto mais que entre os passageiros para Lisboa, contava-se a Srª Dª Madalena de Abaté Saldanha da Gama, esposa do adido naval brasileiro.
Pela madrugada de hoje foi recebida na Embaixada o primeiro telegrama oficial do Rio, assinado pelo próprio Ministro da Marinha, almirante Jorge Dodsworth Martins, primo do embaixador em Lisboa, dirigido ao Sr. comandante Saldanha da Gama e que continha apenas esta informação:
«Madalena bem no Rio. Nada sofreu» (a) Ministro da Marinha
Pouco depois era recebido outro telegrama, assinado pelo almirante Noronha, chefe do Estado Maior da Armada, que continha idêntica informação. Pelas 13 horas, o Ministério da Marinha voltou a informar a Embaixada, nestes termos:
«”Duque de Caxias” viagem Europa teve incêndio 1 hora 45 minutos, proximidades Cabo Frio. Prontamente socorrido navios de guerra, aviões e navios mercantes. Passageiros recolhidos estão a chegar Rio. Há dezassete mortos e alguns feridos entre passageiros e guarnição».
O Sr. comandante Saldanha da Gama informou ainda, esta tarde, na Embaixada, de que foram 17 os navios de guerra e mercantes que acorreram em auxílio do paquete sinistrado e de que a respectiva tripulação se manteve a bordo, a combater o incêndio, dando provas de decisão e valentia, sob as ordens do seu comandante.
A origem do incêndio não está perfeitamente averiguada mas parece, todavia, que o sinistro foi provocado pela rotura de um tubo de óleo.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 2 de Agosto de 1946)

Morreram, apenas, quatro portugueses dos seiscentos e oitenta
que o “Duque de Caxias” transportava quando se incendiou
O Sr. embaixador do Brasil em Lisboa, que se mostrou incansável para averiguar as consequências que, para os portugueses, poderia ter tido o incêndio a bordo do “Duque de Caxias”, recebeu do seu primo, o Sr. Ministro da Marinha brasileira, o seguinte telegrama:
«Rio de Janeiro, 2 – Respondendo, agradecido, à expressão de pesar de V.Exa., informo que, devido à acção eficiente da guarnição do navio, o sinistro foi reduzido a proporções mínimas. Lamentamos a morte de dezoito pessoas, incluindo quatro portugueses: Olímpia Madureira da Silva, António Macedo, Maria Dias Pacheco e Emília da Silva Soares. Passageiros embarcaram no Rio confortados pelas autoridades de Marinha (a) Jorge Dodsworth Martins, Ministro da Marinha».
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Rio de Janeiro, 2 – Sabe-se, agora, que morreram cerca de trinta pessoas em consequência do incendio que deflagrou a bordo do transporte brasileiro “Duque de Caxias” no Atlântico, depois da explosão de uma caldeira.
O sinistro deu-se às primeiras horas de quarta-feira e provocou o pânico entre as mil pessoas que se encontravam a bordo, algumas das quais saltaram para o mar numa zona infestada por tubarões.
O capitão Ivor Llewelin Price, de 44 anos, comandante do navio britânico “Dover Hill” descreveu, hoje, a cena do vapor, em chamas, quando o seu navio em viagem para carregar arroz mudou de direcção para auxiliar os passageiros e tripulantes do “Duque de Caxias”.
Veterano da batalha do Atlântico e dos desembarques na Noruega, o capitão Price, declarou que, o imediato o despertou às quatro horas e disse-lhe que se avistava um navio em chamas.
O capitão Price continuou:
«Modificamos o rumo e aproximámo-nos do navio em chamas onde se desenrolavam cenas de terror. Os meus tripulantes procederam com uma rara coragem. O serviço de transporte de pessoas entre o “Duque de Caxias” e o meu navio decorreu segundo as normas mais perfeitas do regulamento. Sendo essas águas infestadas de tubarões é de espantar que o número de mortos tenha sido tão reduzido.
Louvo o capitão e os tripulantes do “Duque de Caxias” pela forma como agiram numa situação tão critica».
Espera-se que o Governo brasileiro conceda ao capitão Price a «Ordem do Cruzeiro do Sul».
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 3 de Agosto de 1946)

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