quarta-feira, 26 de setembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXV)


Nota de abertura

Venho notando desde há algum tempo que pessoas de poucos escrúpulos, tem vindo a copiar o trabalho de pesquisa apresentado neste blog, sendo utilizado anónimamente, sem que seja cumprida a mais elementar regra de educação, que seria obter a necessária autorização, omitindo dessa forma valores éticos, e morais.
Por inacreditavel que pareça, sou obrigado a informar que as fotos e textos, entretanto resumidos, compõe actualmente a base de dados relacionada com naufrágios, disponível no Museu Marítimo de Ílhavo, sem que disso me fosse dado conhecimento.
De ora avante, por favor respeitem o meu trabalho!...

O naufrágio do vapor inglês "Coventry"

Navio encalhado na barra do Douro
Por volta das seis horas da tarde de ontem enca-lhou à entrada da barra do rio Douro um vapor inglês, que está em risco de fechar o porto se o mar o deslocar da posição em que se encontra sobre as pedras.
Damos em seguida os pormenores que colhemos sobre o sinistro:
O vapor inglês “Coventry”, ao demandar a barra, guinou para o norte, indo encalhar sobre as pedras denominadas «Ponta do Dente», que se em frente à Meia-Laranja, no Passeio Alegre.
O navio, considerado logo perdido, foi abandonado pela tripulação, que retirou para terra no barco salva-vidas, da Cantareira, e nas catraias dos pilotos, tendo afluído a esse tempo numerosas pessoas ao paredão do Passeio Alegre, a presenciar os trabalhos de salvamento.
Segundo ouvimos, se o mar se agitar, o “Coventry” correrá risco de sair da posição em que ficou e causar a interrupção do movimento marítimo, o que, a dar-se, originaria grandes prejuízos a esta praça.
O vapor de 1.043 toneladas, consignado à casa Kendall, Pinto Basto & Cª., vinha de Newport, trazendo 2.043 toneladas de carvão para os caminhos de ferro do Minho e Douro.
O capitão, dois pilotos e dois engenheiros, ficaram hospedados no Hotel da Boavista, à Foz; e os treze restantes homens da tripulação foram mandados pelo sr. cônsul da Inglaterra para o Hotel Malhão.
A Guarda-fiscal adoptou desde logo as providências que é costume pôr em prática em casos de naufrágio, e na Capitania do porto está sendo levantado o costumado auto acerca do sinistro.
O vapor já tinha descarregado ontem em Leixões cerca de 300 toneladas de carvão.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 2 de Outubro de 1908)

Foto do vapor "Coventry" encalhado na barra do rio Douro
Minha colecção

Características do vapor inglês “Coventry”
1897-1908
Armador: F. Child, West Hartlepool, Sunderland, Inglaterra
Construtor: Edward Withy & Co., West Hartlepool, Julho de 1883
ex “Coventry”, Hessler Shipping Co., Londres, 1895-1897
ex “Coventry”, Sivewright, Bacon & Co., West Hartlepool, 1883-1895
Arqueação: Tab 1.678,00 tons – Tal 1.043,00 tons
Dimensões: Pp 78,50 mts - Boca 10,50 mts - Pontal 5,90 mts
Propulsão: T. Richardson & Sons, Hartlepool - 1:Cp - 2:Ci - 150 Bhp
Equipagem: 18 tripulantes

Vapor encalhado na barra do Douro
Durante o dia de ontem afluíram numerosas pessoas à Foz, para ver o vapor “Coventry”, que desde ante-ontem se encontra encalhado nas pedras denominadas «Ponta do Dente», à entrada da barra.
Por indicação do sr. cônsul inglês foi realizada de manhã uma vistoria ao “Coventry”, sendo peritos os capitães Jarvis, do vapor “Tagus”, e Thompson, do vapor “Starley Hall”.
Pelo que consta, os dois marítimos foram de opinião que se deve tratar desde já do salvamento da carga e dos aprestos do navio. Quanto ao casco, consideram-no perdido; mas depois de aliviada a carga irão proceder a trabalhos de tentativa de salvamento, que, segundo os entendidos, não parece crível que deem resultado satisfatório.
O navio e a carga estão seguros em Companhias estrangeiras e, segundo as opiniões dos peritos, já ontem começaram os trabalhos de retirada dos salvados, tendo atracado a bordo algumas catraias com vários trabalhadores que ao fim da tarde transportaram para a Cantareira diversos utensílios do navio, os quais foram entregues à delegação da Alfândega.
O capitão B. Cox, do “Coventry” foi a bordo com alguns tripulantes, sendo retirados os viveres, roupas, livros e instrumentos náuticos.
Hoje devem prosseguir os trabalhos de salvamento de materiais, sempre sob a fiscalização dos empregados aduaneiros.
Na repartição do Departamento Marítimo do Norte foi ontem levantado o auto acerca do sinistro, prestando declarações o piloto sr. José Martins, que dirigia a manobra do navio quando demandava a barra. Parece estar apurado que não houve imperícia por parte do prático da barra e que o sinistro se deve ao desgoverno do leme por motivo de duas grandes vagas que bateram na popa.
O piloto sr. José Martins é um homem experimentado, tendo andado 21 anos no mar e há 30 que exerce o cargo de piloto, sem que nunca tivesse sofrido um desastre.
Até ontem, ao fim da tarde, o “Coventry” não mudou de posição e não prejudicou o movimento marítimo, pois que entraram quatro vapores e saíram três vapores, duas chalupas, dois iates e uma escuna.
Como foi dito acima, uma multidão de curiosos estacionou durante o dia de ontem no paredão da Meia-Laranja e no molhe do Castelo a ver o navio naufragado.
No areal, sob um amplo guarda-sol branco, o grande artista Artur Loureiro esboçava na tela o casco do vapor, enquanto um grupo numerosos de curiosos, mais ou menos importunos, se comprimia em volta dele, estorvando-lhe por vezes a vista e o movimento do pincel.
Em outros pontos, diversos fotógrafos assestavam para o “Coventry”, as objectivas das suas máquinas.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 3 de Outubro de 1908)

O vapor “Coventry”
Este vapor continua na mesma posição, encalhado nas pedras «Ponta do Dente», à entrada da barra do Douro.
Ontem atracaram a ele alguns barcos e o vapor “Liberal”, tendo ido a bordo vários trabalhadores fluviais, que retiraram para a Cantareira utensílios de bordo e diferentes materiais. Quanto à carga ainda não começou a ser descarregada.
(Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 4 de Outubro de 1908)

O vapor “Coventry”
Ante-ontem afluiu à Foz do Douro um acrescido número de pessoas a ver o vapor “Coventry”, encalhado à entrada da barra sobre as pedras «Ponta do Dente». Foi uma verdadeira romaria, vendo-se os carros americanos repletos de passageiros, especialmente de tarde.
Ontem continuava o vapor na posição em que ficou, quando se deu o sinistro, tendo sido retirada grande quantidade de carvão que constituía a carga e vem assim vários utensílios de bordo.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 6 de Outubro de 1908)

O vapor “Coventry” – Obstrução da barra
O mar bravio acabou de escangalhar o vapor inglês Coventry”, que há dias se encravara no rochedo “Ponta da Dente”, existente muito perto da barra do Douro.
Ainda no Domingo o navio estava direito, apenas com a popa um pouco afundada. Visto das proximidades do castelo da Foz mais parecia estar ali fundeado, do que na situação perigosa em que o azar o colocou.
O sinistro deu-se há uns poucos de dias, como é notório. Tendo ocorrido muito perto do estreito canal da barra, era de presumir que, logo que o mar se mexesse e agitasse um pouco mais, fragmentasse o navio e os destroços obstruíssem a barra.
Urgia, portanto, tomar medidas rápidas e decisivas, e não esperar os efeitos violentos do mar. Como tais medidas não viessem, vagas alterosas incumbiram-se de zombar da impotência dos homens. Destroçaram-no pela madrugada, pouco antes do nascer do sol, de sorte que quando a gente da Foz se ergueu, do vapor apenas restavam leves vestígios.
O que muitos temiam no tocante à obstrução da barra, deu-se. Segundo informações do telégrafo da Associação Comercial, um pedaço da proa do “Coventry” foi arremessado para o canal da barra, um pouco a leste da «Lage do Geão» e presumindo-se que parte dos destroços estejam dispersos pelo mesmo canal, impedindo assim a passagem dos navios.
O mar, como foi dito, tem estado alteroso, obstando por isso a uma rigorosa sondagem. Um barco com pilotos da barra, sob as ordens do piloto-mor, sr. Domingos Pereira da Silva, lá andou ontem no local em trabalhos de investigação; mas nada ou quase nada ficou apurado porque a braveza do mar não consente por enquanto os trabalhos práticos dê resultados definitivos.
O que se sabe de positivo é que os navios surtos no Douro estão engarrafados, como sucedeu àquela celebre esquadra que, em audaciosa viagem, correra em socorro de possessões ameaçadas. Nem uma triste light (laita) passa na barra com grave prejuízo do comércio da praça do Porto.
Da obstrução indicada foi logo dado conhecimento ao ilustre capitão de mar-e-guerra sr. conselheiro Marques da Costa, chefe do Departamento Marítimo do Norte, o qual, acto contínuo, telegrafou à Direcção Geral de Marinha, dando parte do ocorrido, e oficiou à Junta das Obras da Barra no mesmo sentido.
O engenheiro da Junta, sr. Manuel de Sousa Machado Júnior, teve logo uma conferencia com aquele oficial de marinha, ponderando os inconvenientes resultantes da obstrução e assentando-se na realização de sondagens tão depressa o mar o permita. Um mergulhador procederá a investigações e ver-se-á então o que é necessário fazer para o restabelecimento do movimento marítimo.
A Companhia Carris de Ferro do Porto dispôs de todo o seu material de carga, isto é, de 26 zorras abertas e fechadas e de quatro reboques para o transporte de mercadorias de Leixões para a Alfândega e vice-versa.
As laitas surtas no Douro descarregaram logo as mercadorias prontas a seguir para Leixões e outro tanto fizeram as embarcações do mesmo padrão e tonelagem, que deviam seguir de Leixões, onde estão, para o Douro. O material da Companhia Carris foi que andou no transporte das mercadorias.
Todavia, se acaso a desobstrução da barra se não faz quanto antes, o comércio sofrerá irreparáveis prejuízos com a chegada de vapores e navios de vela, que se esperam a todo o momento, visto não ser fácil dar vazão ao movimento de mercadorias.
Se, com efeito, a barra está excessivamente obstruída, como se supõe, urge que os fragmentos do vapor naufragado voem pela dinamite, por meio de correntes eléctricas, segundo o uso nestes casos.
A fúria do mar não permitiu a pesca dos barcos à vela, que se refugiaram em Leixões os que an-davam ao largo, visto não poderem entrar no Douro.
Ao Cabedelo, que nestes dias se vê muito concorrido, tem o mar arrojado objectos que constituíam o recheio do navio. À Foz, como nos dias anteriores, acudiu ontem muita gente, curiosa de acompanhar o seguimento dos trabalhos.
(Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 14 de Outubro de 1908)

O vapor “Coventry” – Obstrução da barra
O mar amainou ontem bastante, mantendo-se ainda assim um tanto agitado, especialmente de tarde.
Como havia sido combinado, o piloto-mor sr. Domingos Pereira da Silva foi ontem, cerca do meia hora da tarde, numa catraia dos pilotos até à altura das pedras denominadas «Lages», onde se afundou o vapor “Coventry”, e procedeu a uma rigorosa sondagem para conhecer o estado do canal de acesso ao rio, e qual a situação do navio naufragado, a fim de verificar se poderiam entrar ou sair quaisquer embarcações.
Nessa ocasião, o mesmo piloto-mor colocou uma boia no ponto onde está a proa do “Coventry” e mudou mais para a entrada da barra uma outra boia que estava próximo.
Realizada esta sondagem e feitas as demarcações, o mesmo marítimo participou às respectivas estâncias oficiais que o casco do “Coventry” está atravessado no fundo do canal, no lugar das «Lages», achando-se, portanto, obstruída a maior parte do canal. Diz, porém, haver pelo sul da marca nova, «Anjo», uma passagem bastante dificultosa, devido à restinga do Cabedelo e ao cabeço de areia do sudoeste da barra, o que permitirá a entrada e saída de embarcações de pequena lotação.
Com o piloto-mor, que é um prático habilíssimo, esteve conferenciando o mergulhador sr. Alfredo Pinto Monteiro, ao serviço da Junta das Obras da Barra, sobre a situação do “Coventry”, não podendo, porém, o referido mergulhador ir ao fundo do canal em virtude do estado do mar. Ficou assente que procurará ir hoje e, só depois do resultado do exame, será indicada a melhor forma de se realizar a desobstrução da barra, que parece só se conseguirá por meio da dinamite.
Depois da uma hora da tarde começou a haver algum movimento marítimo, entrando e saído em serviço de reboque de laitas os vapores “Veloz”, “Ligeiro”, “Victória”, “Max” e Lusitânia”.
Entraram depois os vapores de pesca “Laureate”, “Sachsen” e “King Edward” e a chalupa “D. Feli-cidade”; e saíram os três torpedeiros portugueses e os vapores de pesca “Saale” e “Neskar”.
No molhe da Cantareira, junto da delegação adu-aneira, estão depositados vários materiais que pertenciam ao “Conventry”.
Ontem continuaram durante o dia vários comboios de vagonetes, tirados a rebocadores eléctricos, a empregar-se no serviço de transporte de mercadorias para Leixões.
(Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 15 de Outubro de 1908)

O vapor “Coventry” – Obstrução da barra
Os consignatários de vapores conferenciaram ontem com o ilustre presidente da Associação Comercial, sr. dr. Júlio Araújo, a quem pediram a sua interferência para que quanto antes se restabeleça plenamente o movimento marítimo na barra do Douro, que está obstruída, como é notório, pelos destroços do naufragado vapor “Coventry”, visto que a interrupção da barra, ainda mesmo que parcialmente, causa não pequenas perdas à praça do Porto.
O sr. dr. Júlio Araújo expôs as diligências que tem empregado desde o dia do naufrágio daquele navio. Desfeito o vapor em duas partes, a proa, como está verificado, foi impelida para a parte norte da barra e a popa foi arremessada para o lado sul. De conferencias que nos últimos dias tem realizado com o piloto-mor da barra, ficou assente uma minuciosa investigação ao canal da barra por um mergulhador, que ontem se efectuou, especialmente à parte sul do canal, que é a mais acessível aos navios de maior calado e por onde já ante-ontem e ontem passaram navios.
Urgia, porém, repôr a barra nas condições anteriores e nesse propósito, - acrescentou o sr. presidente da Associação Comercial - depois de ouvidas as informações do mergulhador, tudo se dispôs para que hoje começasse a destruição do casco por meio de dinamite. A barra ficaria assim desimpedida muito rapidamente.
Os consignatários de vapores ficaram muito satisfeitos com estas explicações, que agradeceram, bem como a amabilidade com que foram recebidos.
Com efeito, o mergulhador sr. Alfredo Pinto Monteiro, quando explorou o canal, pode amarrar uma corda à popa do “Coventry”, tendo assistido aos trabalhos, de bordo de uma catraia, o piloto-mor sr. Domingos Pereira da Silva, o qual mandou colocar uma boia na referida amarra, a fim de se conhecer o rumo que os navios devem tomar na saída e entrada da barra.
Todos os navios que entram tomam o rumo sul, descrevendo depois uma curva em volta do sítio onde se encontra afundada a popa do “Coventry”, até entrarem no referido canal. Parece que hoje de manhã poderão entrar navios que demandem 16 pés de calado.
Com destino a Leixões saíram ontem a barra cinco laitas, levando algumas delas várias mercadorias.
Durante o dia entraram na barra os vapores de carga “Sir Walter” e de pesca “Portuense” e ainda o vapor “Santiago”, o iate “Flor de Setúbal” e os lugres “Vouga” e “Hamlet”, sendo estes quatro navios rebocados, respectivamente, pelos vapores “Veloz”, “Mars” e “Lusitânia”.
Também saíram os vapores alemães “Stahleck”, “Sines” e “Nestor”, e o iate inglês “Gladys S”, sendo este rebocado pelo “Victória”.
À Foz continua a afluir muita gente, para ver… o sítio onde está o vapor naufragado.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 16 de Outubro de 1908)

O vapor “Coventry” – Obstrução da barra
O mergulhador sr. Alfredo Pinto Monteiro, devia ter começado ontem os trabalhos de destruição do vapor “Coventry”. Esses trabalhos, porém, não puderam iniciar-se, em consequência do mar se apresentar um tanto alteroso.
Logo que esteja mais bonançoso, será começada a destruição por meio de dinamite, sendo realizados esses trabalhos na ocasião da vazante.
A fim de obstar a qualquer acidente motivado pelos explosivos, o chefe do Departamento Marítimo do Norte, sr. conselheiro Marques da Costa, mandou afixar no átrio do departamento o seguinte aviso:
«Procedendo-se desde já, quando o tempo permitir, a trabalhos de mergulhador no casco do vapor “Coventry”, é expressamente proibido na barra o trânsito de embarcações; e, enquanto elas durarem estará içado no castelo da Foz o sinal de impedimento.
Os transgressores serão punidos com a multa na conformidade do artº 238 do regulamento.
Havendo explosões, este trabalho será indicado por uma bandeira branca, içada na embarcação do mergulhador, e outra no mastro do castelo da Foz, a fim de prevenir os moradores da localidade e as embarcações que navegam nas proximidades.
Departamento Marítimo do Norte, 15 de Outubro de 1908»
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 17 de Outubro de 1908)

O vapor “Coventry” – Obstrução da barra
Ainda ontem não foi iniciada a operação de destruição do vapor “Coventry”, que naufragou à en-trada da barra, em virtude do mar não permitir o trabalho dos mergulhadores.
Logo que o mar melhore, será dado inicio aos trabalhos. Diz-se que serão dois os mergulhadores empregados na destruição do vapor.
Apesar do mar se ter apresentado bastante alteroso, houve ontem numerosas entradas e saídas de navios de calado inferior a 16 pés.
(Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 18 de Outubro de 1908)

A destruição do vapor “Coventry”
Como o mar permitisse, tiveram inicio ontem os trabalhos de destruição do vapor “Coventry”.
Esses trabalhos começaram às seis horas e meia da manhã, tendo-se dado quatro explosões, sendo empregues em cada uma delas dois cartuchos de dinamite. As descargas eram produzidas por meio de electricidade, achando-se as respectivas pilhas colocadas no barco da junta das obras da barra.
A destruição começou por ser feita pela popa do “Coventry”, que fica do lado sul da barra, sendo os explosivos colocados ali pelo mergulhador sr. Alfredo Pinto Monteiro.
Ao darem-se as explosões, a água levantava-se em cachão, aparecendo então à superfície pedaços de madeira, que eram apanhados pelas tripulações de pequenos barcos que andavam distantes do sítio onde se encontra o vapor.
Do barco da junta das obras da barra assistia aos trabalhos de destruição o engenheiro da mesma junta, sr. Manuel de Sousa Machado Júnior, encontrando-se também ali de prevenção um outro mergulhador.
Ignoram-se por enquanto os destroços causados no vapor, produzidos pelos explosivos, devendo desse facto ser lavrado um relatório.
Num outro barco também assistiram aos trabalhos, os srs. Domingos Pereira da Silva e Joaquim Ferreira Viseu, respectivamente piloto-mor e sota piloto-mor da barra.
Os trabalhos terminaram cerca das dez horas e meia, devendo recomeçar hoje, às sete horas, caso o mar o permita.
No paredão ao longo do Passeio Alegre encontravam-se numerosas pessoas, que assistiram com interesse aos trabalhos de destruição. A polícia não consentiu que nos pontos mais próximos da barra estacionasse qualquer pessoa, a fim de evitar acidentes.
Conforme a determinação do capitão de mar-e-guerra, sr. conselheiro Marques da Costa, ilustre chefe do Departamento Marítimo do Norte, foram colocados os respectivos sinais nos sítios indicados pelo mesmo funcionário, já antes referidos.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 20 de Outubro de 1908)

A destruição do vapor “Coventry”
Em consequência do mar se apresentar ontem um pouco agitado, não puderam prosseguir os trabalhos de destruição do vapor “Coventry”. No caso do mar o permitir, esses trabalhos continuarão hoje, de manhã.
(Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 21 de Outubro de 1908)

A destruição do vapor “Coventry”
Ainda ontem não puderam prosseguir os trabalhos da destruição do vapor “Coventry”, devido ao estado do mar. Esses trabalhos recomeçarão, porém, com celeridade, logo que se ofereça oportunidade para isso.
O sr. Joaquim Augusto da Silva Magalhães, solicito presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, recebeu dos srs. Ministros das Obras Públicas, da Marinha, da Justiça e dos Estrangeiros, telegramas em resposta aos que o mesmo município lhes havia dirigido, solicitando prontas providências para se desobstruir a barra do porto, cujo impedimento ocasiona sensíveis prejuízos a esta cidade.
Aqueles estadistas prometeram interessar-se pelo assunto, tendo já sido ordenadas as providências pedidas, em virtude das quais, como é sabido, se iniciaram os trabalhos de desobstrução da barra.
O sr. Joaquim Magalhães telegrafou novamente aos referidos ministros, agradecendo-lhes, penhorado, os seus valiosos serviços.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 22 de Outubro de 1908)

A destruição do vapor “Coventry”
Continuaram ontem com muita actividade os trabalhos de destruição do casco do vapor “Coventry”, assistindo a esses trabalhos um dos engenheiros da junta das obras da barra e o piloto-mor.
Como de costume, estiveram muitas pessoas no Passeio Alegre assistindo à destruição, na qual foram empregados quatro tiros.
Se o mar o permitir, os trabalhos da destruição do vapor devem prosseguir hoje.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 23 de Outubro de 1908)

A destruição do vapor “Coventry”
Continuaram ontem os trabalhos de destruição do vapor “Coventry”. Deram mais cinco tiros de dinamite, que produziram bastantes destroços no casco.
(Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 24 de Outubro de 1908)

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