segunda-feira, 24 de setembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXIV)


O naufrágio do paquete “Lusitânia”

Lisboa, 19 de Abril – No Cabo da Boa Esperança encalhou hoje o paquete “Lusitânia”, da Empresa Nacional de Navegação, ficando completamente perdido. Passageiros e tripulação foram salvos.

Imagem do paquete "Lusitânia"
Bilhete postal da companhia armadora do navio

Lisboa, 19 de Abril – Hoje, de manhã, na Empresa Nacional de Navegação, foram recebidos alguns telegramas, assim como no ministério dos Estrangeiros, dando conta que o paquete “Lusitânia” pertencente à Empresa Nacional de Navegação, ao passar no Cabo da Boa Esperança, encalhara, ficando logo completamente perdido, salvando-se, a custo, toda a tripulação e passageiros. Um outro telegrama acrescentava que havia falecido uma passageira.
Esta última informação não é desmentida nem confirmada na Empresa a que pertence o navio, e que ainda não há muito tempo perdeu um outro dos seus melhores paquetes, o “Lisboa”. Esse mesmo telegrama refere que um cruzador inglês, informado do sinistro, partiu imediatamente com o fim de prestar socorros. O desastre deu-se às dez horas da manhã de hoje e, segundo outras informações recebidas ao começo da tarde, perdeu-se a carga na sua totalidade.
O “Lusitânia”, era actualmente o mais importante paquete da Empresa. Foi construído em 1906, na Alemanha, e custou 104.000 libras. Tinha 32 lugares de 1ª classe para 104 passageiros; 58 de 2ª para 172 passageiros e 14 de 3ª para 140. Possuía duas enfermarias, quatro beliches e boticas.
As suas carreiras eram para a África Oriental, vindo agora de Lourenço Marques com 874 pessoas, entre passageiros e tripulação. A oficialidade de bordo compunha-se do capitão, César José Faria; imediato, Joaquim Fernandes de Oliveira; 1º piloto, Duarte Alfredo Bacia; 2º piloto, Ramos de Almeida Lopes; e 3º piloto José Bernardo Camelo; médico, Júlio Proença Fortes; 1º engenheiro, Robert Ireland; 2º engenheiro, Jacinto Martins e 3º engenheiro, José L. dos Santos.
O “Lusitânia” devia chegar a Lisboa no dia 11 de Maio próximo.
Como é de prever, a notícia deste lamentável desastre tem causado grande consternação em Lisboa.
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Londres, 19 de Abril – Um telegrama da Cidade do Cabo, recebido pelo Lloyds, diz que o paquete português “Lusitânea”, em viagem de Moçambique para Lisboa, encalhou em Betlows Rock e julga-se estar totalmente perdido.
O cruzador “Forte” e um rebocador do governo saíram para o socorrer.
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Londres, 19 de Abril – Um telegrama de Simonstown para o almirantado diz que tanto os passageiros como a tripulação do “Lusitânia”, em número de cerca de 800 pessoas, foram recolhidos a bordo do cruzador “Forte” e do rebocador “Scotsman”.
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Londres, 19 de Abril – Telegrafaram da Cidade do Cabo à Agência Reuter, que o “Lusitânia” naufragou por causa do nevoeiro, pois o mar estava sossegado.
O rebocador “Scotsman” levou muitos passageiros para Simon’s Bay. Os outros vão por terra, em vagões e carros; 400 foram levados a Table Bay, a bordo do cruzador “Forte”. Morreu afogada uma senhora e falta um rapaz. A lancha do “Lusitânia” voltou-se em frente da praia, afogando-se duas pessoas.
Os porões nºs 1 e 2 estão cheios de água.
(Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 20 de Abril de 1911)

O naufrágio do “Lusitânia”
Lisboa, 20 de Abril – Sabe-se que 400 náufragos do vapor “Lusitânia” desembarcaram em Simon’s Bay, chegando já à Cidade do Cabo trinta e oito dos que mais sofreram. Está confirmado ter morrido uma mulher, um homem e ainda um terceiro, chamado Raúl Lopes. No desembarque, as mulheres queixavam-se de frio, pois quase iam desprovidas de roupa. Muitos passageiros apresentavam-se apenas meio cobertos com cobertores.
Quando o “Lusitânia” encalhou, ficou preso nos rochedos, de contrário teria soçobrado rapidamente, morrendo todos.
O cônsul português no Cabo da Boa Esperança telegrafou ao governo, dizendo que o almirante da esquadra de Simon’s Bay, em seguida ao naufrágio, providenciou ao salvamento da tripulação e passageiros.
Duzentos passageiros e a tripulação seguem para Lisboa no primeiro vapor inglês que chegar à Cidade do Cabo.
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Lisboa, 20 de Abril – O último telegrama que a Empresa Nacional de Navegação recebeu esta tarde, do Cabo da Boa Esperança, diz que o paquete “Lusitânia”, está completamente perdido. Tripulantes e passageiros foram salvos, à excepção de madame Carvalho Nunes, soldado Souza Rosa, piloto Raúl de Almeida Lopes e um passageiro de nome Mendes. Uma parte da carga foi salva.
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Lisboa, 20 de Abril – Chama-se Madalena Pedroso a mulher que morreu vitima do naufrágio do vapor “Lusitânia”.
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Londres, 20 de Abril – Telegrafaram da Cidade do Cabo para a Agência Reuter a informar que o capitão César Faria, do “Lusitânia”, se recusou a abandonar o vapor. Tendo sido infrutíferos os meios de persuasão empregados, o comandante do cruzador inglês “Forte”, dirigiu-se num escaler para bordo do “Lusitânia” e obrigou o capitão Faria a sair.
Este, então, pôs a bandeira a meia haste, deixando o “Lusitânia” com relutância, tendo sido conduzido para bordo do cruzador “Forte”.
As malas do “Lusitânia”, bem como outras coisas aparentemente perdidas, foram salvas pelo “Forte”.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 21 de Abril de 1911)

Os náufragos do “Lusitânia”
Londres, 21 de Abril – Comunicam da Cidade do Cabo à Agência Reuter que os passageiros e a tripulação do “Lusitânia” partirão, provavelmente, no dia 24, a bordo do vapor inglês “Comrie Castle”, à excepção dos 475 indígenas, que partem para S. Tomé na próxima semana. (Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 22 de Abril de 1911)

O vapor “Lusitânia”
Lisboa, 22 de Abril – Na Empresa Nacional de Navegação foi hoje recebido um telegrama dizendo que soçobrara de todo o paquete “Lusitânia”, que será substituído pelo novo paquete “Beira”, adquirido em Hamburgo e que deve chegar ao Tejo no próximo dia 9 de Maio.
(Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 23 de Abril de 1911)

O naufrágio do “Lusitânia”
Londres, 24 de Abril - Telegrafaram da Cidade do Cabo para a Agência Reuter informando que foi arrojado à praia, na margem de Falsebay, um cadáver do “Lusitânia”, tendo sido já identificado como sendo o de madame Carvalho Nunes.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 25 de Abril de 1911)

Náufragos do vapor “Lusitânia”
Lisboa, 9 de Maio – Chegaram hoje à Madeira, a bordo do vapor “Corfe Castle”, os primeiros náufragos do paquete “Lusitânia”. São 18 passageiros de 1ª classe e 10 de segunda. Entre os primeiros figura, com destino a essa cidade, o sr. dr. Arnaldo Dinis da Silva Viana, conservador na Beira, África Oriental. Os restantes embarcaram já na Cidade do Cabo, a bordo do “Comrie Castle”.
(Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 10 de Maio de 1911)

O naufrágio do “Lusitânia”
Lisboa, 15 de Maio – Amanhã devem chegar a bordo do “Rio Negro” oito passageiros de 3ª classe, náufragos do “Lusitânia”, procedentes do Funchal. Os passageiros de 2ª classe ainda aí se encontram, devido à negligência da empresa, tendo sido a este respeito pedidas providências ao governador civil.
A direcção da Liga dos Oficiais da Marinha Mercante reuniu esta noite para protestar contra o artigo publicado pelo “Século”, acerca do naufrágio do paquete “Lusitânia”, artigo que produziu indignação entre a classe, porquanto o comandante Faria goza da melhor reputação entre os colegas. Brevemente será publicado o protesto.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 16 de Maio de 1911)

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