quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Acredite, se quiser!


Fait divers

Até que ponto a aproximação de um cometa à terra pode, ou não, influenciar o comportamento das pessoas?
Esta é, à partida, uma questão de difícil e complicada resposta, porém, face aos acontecimentos, fica no ar a ideia de existir algo, que o bom senso não consegue explicar. Senão vejamos:

O cometa Halley

Face à aproximação do cometa Halley ao nosso planeta, em meados de 1910, sendo visível em vários pontos o seu rasto longo e luminoso, que encantou uns e assustou outros, mais abaixo o impensável ia acontecendo!

Com origem no Rio de Janeiro, chegou uma notícia desde Toulon, que informava ter sido roubado o cofre do navio-escola “Benjamim Constant”, quando este se encontrava atracado num cais do porto de La Seyne-sur-Mer, em França, em reparação prolongada. Tratava-se do cofre forte do navio, onde o comandante guardava todos os documentos, e a simpática quantia de 172 mil francos franceses.

Logo que o roubo foi conhecido, de imediato tiveram início as compreensíveis diligências policiais, para tentarem identificar os autores de tão audaciosa proeza. Feitas as necessárias pesquisas, não ficou qualquer indício dos criminosos, mas pelo menos o cofre forte foi encontrado, naturalmente afundado em La Seyne, muito próximo do ancoradouro do navio.
Pelo que foi possível apurar, os ladrões foram para bordo do navio brasileiro num pequeno barco, para o qual desceram o cofre, que continha além da soma já indicada, mais documentação substancialmente importante e algumas joias de um oficial recentemente falecido.
A polícia francesa que colaborou activamente nas buscas, para dar solução a este estranho caso, está convencida, por falta de melhor evidência, que o roubo do cofre do “Benjamim Constant”, partiu de pessoas de bordo.

Entretanto, de Londres chega a notícia que várias companhias firmaram contratos com o governo português, para a construção de três couraçados do tipo “Dreadnought”, dez caça-torpedeiros e dez submarinos, e que os orçamentos estavam aprovados, sendo o prazo para a construção de vinte e oito meses, a contar do mês de Junho.
Houve naturalmente a preocupação de verificar a data da notícia, não fosse brincadeira do primeiro de Abril, mas não era, e se não fosse para levar a sério, passaríamos a ter uma marinha muito bem equipada, e as finanças do país em total bancarrota.

Quadro com a figura do conselheiro Azevedo Coutinho
Imagem do sítio da Sociedade de Geografia de Lisboa

Ainda na mesma época, o Almirante João de Azevedo Coutinho, distinto oficial com uma longa e meritória carreira militar, entre outros serviços prestados ao país, deslocou-se de propósito a Matosinhos, para o lançamento da primeira pedra, no local onde posteriormente funcionou a Escola de Alunos Marinheiros, depois de despojados de instalações, devido ao triste e infeliz naufrágio da canhoneira “Estephânia”, na cheia do rio Douro, em Dezembro de 1909.
No regresso a Lisboa, à noite, na viagem do comboio rápido de ligação entre ambas as cidades, por altura do Entroncamento, estando no salão-restaurante, encontrou o sr. Marquês de Gouveia, irmão do sr. D. Fernando de Serpa, a quem muito delicadamente estendeu a mão para o cumprimentar.
Como aquele titular lhe não correspondesse, o sr. conselheiro Azevedo Coutinho, recusando-se a levar o desaforo para casa, assestou-lhe um valente soco, que o sr. Marquês fez questão de retribuir. Obviamente, intervieram na contenda vários passageiros, o secretário e ajudante do sr. Ministro, que por vias de facto, acabou com uma escoriação no rosto.
Posto isto, a culpa não será mesmo do cometa?

Sem comentários: