quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Pesca do bacalhau - A E.N.E.P.


Empreza de Navegação e Exploração de Pescas, Lda.
Aveiro
1917 - 1927
10 anos na pesca do bacalhau

Consigo imaginar o início da actividade da empresa, considerando o ano anterior à construção do primeiro lugre, o “Ernani”, que deve ter efectuado a primeira campanha à Terra Nova em 1918. Mais fácil foi chegar à dissolução da firma, face aos anúncios publicados na imprensa nacional, nos dias 24, 25, 29 e 30 de Novembro de 1927. Esse anúncio apresentava o seguinte teor :

Concretizado o negócio de venda durante os meses seguintes, estamos em crer ter-se verificado através da compra, o nascimento de uma nova sociedade registada como Testa & Cunhas, Lda., também de Aveiro, que vingaria durante muitos anos ligada ao sector. Podemos igualmente ajuizar da verba dispendida, através do valor estimado por cada navio, a saber :

O lugre “Ernani” mais dóries estava avaliado em 200.000 escudos
O lugre “Silvina” mais dóries estava avaliado em 200.000 escudos
O lugre “Laura” mais dóries estava avaliado em 300.000 escudos

Acreditamos que a valorização do lugre “Laura”, entretanto imobilizado durante o ano de 1927, ficou a dever-se à sua maior dimensão e ao trabalho de reconstrução levada a cabo por Manuel Maria Bolais Mónica. Todos os navios estiveram presentes na campanha de 1928, com a única alteração do nome do “Laura”, que à saída do estaleiro já detinha registo como “Cruz de Malta”.

Lugre “ Ernani ”
1922 - 1934

Nº Oficial : A-236 > Iic.: H.E.R.N. > Registo : Aveiro
Construtor : Manuel Maria Bolais Mónica, Gafanha, 1918
ex "Estrela do Mar" - Comp. Aveirense de Pesca, 1918-1921
ex "Apollo" - Comp. Aveirense de Pesca, Aveiro, 1921-1922
Tonelagens : Tab 256,70 to > Tal 182,92 to
Cpmts.: Pp 37,10 mt > Boca 8,90 mt > Pontal 3,85 to
Máquina : Não tinha motor auxiliar
Capitães embarcados: Augusto Fernandes Pinto (1922 a 1924), Júlio António Lebre (1928 a 1930)
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Depois de vendido manteve as mesmas características

Na última campanha realizada em 1933, o lugre navegou com 42 tripulantes dispondo de 40 dóries. Registou nesse ano a captura de 4.560 quintais de peixe, tendo ainda produzido 2.000 kgs. de óleo de fígado de bacalhau. O valor do produto pescado rendeu 552.000$00 (escudos). Naufragou após incêndio a partir da cozinha, propagado por uma porção de azeite que estava a ser utilizado para fritar peixe, nos bancos da Gronelândia, em 14.07.1934. A tripulação abandonou o navio nos dóries, tendo sido recolhida na totalidade por outros navios a pescar nas proximidades.

Lugre “ Silvina ”
1921 - 1941

O lugre "Silvina" - foto de Henrique Ramos, Aveiro
Colecção de imagens da Napesmat - Matosinhos

Nº Oficial : A-216 > Iic.: H.S.I.L. > Registo : Aveiro
Construtor : Manuel Maria Bolais Mónica, Gafanha, 1919
ex "Águia" - Comp. Aveirense de Pesca, Aveiro, 1919-1921
Tonelagens : Tab 212,33 to > Tal 169,88 to
Cpmts.: Pp 35,50 mt > Boca 8,80 mt > Pontal 3,60 mt
Máquina : Não tinha motor auxiliar
Capitães embarcados: Manuel Simões da Barbeira (1922 a 1925), Ambrósio Godinho (1928), António d'Oliveira Souza (1929 e 1930)
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Nº Oficial : A-216 > Iic.: C.S.K.E. > Registo : Aveiro
Tonelagens : Tab 207,76 to > Tal 152,65 to
Cpmts.: Ff 40,42 mt > Pp 34,67 mt > Bc 8,92 mt > Ptl 3,62 mt
Máquina : Dresdner Maschin A.G., Dresden, Alemanha

No ano de 1928, correspondente ao primeiro ano de serviço para a nova empresa, o navio foi à Terra Nova com 37 tripulantes, tendo utilizando 32 dóries. Numa campanha de fracas capturas, foram apurados apenas 1.148 quintais de peixe e 1.100 kgs. de óleo de fígado de bacalhau. O valor conseguido com a venda foi de 140.000$00 (escudos), certamente muito abaixo das melhores perspectivas, resultando daí um considerável prejuízo. Naufragou devido a incêndio durante a pesca no grande banco da Terra Nova, em 25.05.1941. A tripulação abandonou o navio nos dóries, tendo sido recolhida na totalidade por outros navios a pescar no banco.

Lugre “ Laura “
1921-1927


O lugre "Laura" - foto de Henrique Ramos, Aveiro
Colecção de imagens da Napesmat - Matosinhos

Nº Oficial : A-228 > Iic.: H.L.A.U. > Registo : Aveiro
Construtor : José Soares, Gafanha da Nazaré, 1921
Reconstruído por Manuel Maria Bolais Mónica, em 1927
Tonelagens : Tal 223,07 to > Tal 211,92 to
Cpmts.: Pp 40,80 mt > Boca 9,15 mt > Pontal 3,50 mt
Máquina : Não tinha motor auxiliar
Capitães embarcados: João Fernandes Mano (1921 a 1924), António d'Oliveira Souza (1925)

Lugre " Cruz de Malta "
1927 - 1958

O lugre "Cruz de Malta" - foto de Henrique Ramos, Aveiro
Colecção de imagens da Napesmat - Matosinhos

Nº Oficial : B-204 > Iic.: C.S.J.V. > Registo : Aveiro
Tonelagens : Tal 295,65 > Tal 213,93 to
Cpmts.: Ff 44,65 mt > Pp 36,90 mt > Bc 9,40 mt > Ptl 3,96 mt
Máquina : Guldner > 150 Bhp > Velocidade 8 m/h

Na primeira campanha do navio, para a empresa Testa & Cunhas, levando 47 tripulantes e 42 dóries, tal como no caso anterior, a captura limitou-se a 1.597 quintais de peixe e 2 toneladas de óleo de fígado de bacalhau, que renderam 195.600$00. A grave escassez de peixe neste período, foi certamente o ponto de partida que levaria os navios nos anos seguintes até à Gronelândia, onde foram encontrados bons cardumes, revelando-se local obrigatório de pesca. Afundou-se por alquebramento (água aberta) no Virgin Rocks (Terra Nova), em 07.08.1958. A tripulação foi recolhida na totalidade, por outros navios a pescar nas proximidades.

3 comentários:

Ricardo Matias disse...

Parabéns pelo trabalho.
Aprendo imenso consigo.
Permito-me uma pequena precisâo, a Testa & Cunhas ainda existe, vendeu o seu arrastão Inácio Cunha mas mantêm uma razoàvel frota de arrastôes costeiros no activo.
Por outro lado o Cruz de Malta só foi motorizadp para a campanha de 1934, aliás integrado na motorização de toda a frota do bacalhau, uma das primeiras medidas do Estado Novo para desenvolver esta pesca.

Ricardo Matias

Aline disse...

Isto foge um pouco ao assunto, mas parabéns pelas 20.000 visitas ao Navios e Navegadores! Um reconhecimento mais do que justo. :)

reimar disse...

Caro Sr Ricardo Matias,

Muito obrigado pelo comentário, no entanto penso que aprendemos todos
uns com os outros.

Cumprimentos, Reimar