quinta-feira, 11 de outubro de 2018

História trágico- marítima (CLIX) Repetição


O lugre “Maria Helena“
1922 - 1923

Desenho de um lugre, sem correspondência ao texto

Nº Oficial: A-191 - Iic: -?- - Porto de registo: Porto
Armador: Não identificado, Lisboa
Construtor: D.S. Howard, Parsboro, Nova Escócia, 1894
ex "Maria Helena", Santos Amaral, Lda., Porto
ex “Maria Helena”, Leonardo A. Dos Santos, Porto, 1920-1921
ex “Minho”, J. Mourão & Cª., Porto, 1917-1920
ex “Earl of Aberdeen”, Bridgetown, Barbados, 1894-1917
Arqueação: Tab 450,36 tons - Tal 392,05 tons
Dimensões: Pp 50,00 mts - Boca 10,50 mts - Pontal 3,75 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 9 tripulantes

Ocorrência marítima
Viana do Castelo, 16 – Continua o mau tempo. O mar brame encolerizado. Não constam mais desastres, além daqueles já conhecidos, felizmente sem vítimas a lamentar.
Ainda não houve notícias do lugre “Maria Helena”, saído do Porto no último Domingo. Deus as mande satisfatórias para sossego das famílias dos seus tripulantes.
(Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 18 de Janeiro de 1922)

Viana do Castelo, 18 - O lugre "Maria Helena", quando já desamarrado na doca para seguir viagem para Lisboa, foi de encontro ao cais rebentando um cabresto, não podendo sair no sábado. Saiu ontem e talvez a esta hora tenha arribado, devido ao mau tempo.
(Jornal "Comércio do Porto", quinta-feira, 19 de Janeiro de 1922)

Viana do Castelo, 24 - Ainda não há notícia do lugre "Maria Helena", que no Domingo saiu a barra de Viana com destino a Lisboa e no qual embarcou, a fazer a primeira rota de tirocínio para piloto, o sr. Jerónimo Aguiar, filho do industrial sr. José Pereira de Aguiar.
(Jornal "Comércio do Porto", quarta, 25 de Janeiro de 1922)

Viana do Castelo, 25 – Da viagem tormentosa do lugre “Maria Helena”, foram recebidas as seguintes informações:
No dia 16, imediato ao dia da saída, achava-se o navio nas alturas dos «Cavalos de Fão», quando foi surpreendido por um forte temporal de sudoeste; procurando então arribar, tal não conseguiu, devido ao nevoeiro, pelo que se pôs de capa rigorosa. O mar estava agitadíssimo, as vagas varriam o convés, levando o que encontravam.
O vento, saltando para O.N.O. (oeste-noroeste), fez-se ciclone e o navio adernou, tendo de alijar a carga de convés, com grande risco. Dando a popa ao mar correu à mercê, visto o pano ter ido pelos ares.
A tripulação quase esmoreceu, pois a todo o momento esperava que o navio fosse varar numa praia, onde ninguém escaparia. Entretanto, no dia foi o “Maria Helena” socorrido por um vapor alemão, rebocando-o para a bacia de Peniche, onde por ordem da capitania, o navio ficou ancorado com dois ferros pela proa. Às 3 horas da manhã do dia 20, rebentaram as amarras e o “Maria Helena” foi à praia, onde se desfez.
Ontem chegaram os náufragos a Viana. Alguns deles, ao transporem os umbrais das suas habitações, ajoelhavam e beijavam a soleira da porta! Parece que um dos náufragos vai cumprir uma promessa à Virgem da Agonia, de joelhos desde a sua casa até ao santuário.
Bendita crença!
(Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 26 de Janeiro de 1922)

Apesar de tanta turbulência, há que corrigir a notícia do naufrágio deste lugre de três mastros, construído em madeira, que iria ainda sofrer uma pequena alteração na arqueação, depois de passar por eventuais trabalhos de recuperação.
Aumentou a Tab para 457 tons e a Tal para 385 tons, o que não é muito significativo, mas permite ajuizar da existência do navio num período mais recente. Todos os acontecimentos relatados e o estado degradado do navio, terão levado o armador portuense a colocar o navio à venda, conforme se comprova pelo anúncio publicado no “Comércio do Porto”, em 7 de Setembro de 1922.


Concretizado o objectivo da venda, apareceu um comprador interessado, que não foi possível identificar, dado que o navio transferiu a matrícula para a praça de Lisboa. Infelizmente havia de navegar por pouco tempo, pois nova ocorrência ditou o ponto final.

Sinistro marítimo - Encalhe de um navio
Sagres, 24 - A 2 milhas a norte do Cabo Carvoeiro encalhou o navio português "Maria Helena". Para o socorrer partiram para ali várias embarcações.
O navio considera-se perdido, mas a tripulação foi toda salva.
(Jornal "Comércio do Porto", terça-feira, 24 de Setembro de 1923)

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