quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Memorativo da Armada


O navio hidrográfico “Almirante Lacerda” foi solenemente
entregue à Marinha de Guerra Portuguesa

Com a presença de toda a missão naval portuguesa e representantes do Almirantado inglês, realizou-se no porto de Sheerness à cerimónia de entrega a Portugal do novo navio hidrográfico “Almirante Lacerda”, recentemente adquirido por iniciativa do Sr. ministro da Marinha.
A cerimónia decorreu com grande simplicidade, na presença da guarnição formada na tolda. No convés da popa reuniram-se os oficiais do navio e os pilotos aviadores de Marinha, que foram a Inglaterra para conduzir ao Tejo as vedetas-ambulâncias para a Aviação Naval, também adquiridas recentemente naquele país.
Depois de lidas as portarias de incorporação do “Almirante Lacerda” no efectivo da Armada Portuguesa e de nomeação do Sr. capitão-de-fragata Luís de Noronha Andrade para exercer o seu comando, procederam à cerimónia do içar de bandeira nacional à popa, do «jack» à proa e da flamula no mastro grande. O pavilhão português foi arvorado ao som dos toques regulamentares e perante a oficialidade e a marinhagem em continência.

Imagem do navio hidrográfico "Almirante Lacerda"
Foto na Revista da Armada, nº 462 de Abril de 2012

Findo o acto, o Sr. comandante Luís de Noronha Andrade recebeu os cumprimentos de toda a oficialidade, passou revista à guarnição, alinhada no convés e assistiu, depois, ao desfile dos seus marinheiros.
Depois de assumir o comando do novo navio da Armada Nacional, o Sr. capitão-de-fragata Noronha Andrade expediu um rádio de cumprimentos ao Sr. ministro da Marinha, no qual também fazia votos para que a Armada possa continuar a sua bela tarefa de hidrografia.
O “Almirante Lacerda” e as vedetas-ambulância devem largar dentro de breves dias do Tamisa para o Tejo, donde o primeiro partirá, depois de alguns trabalhos de adaptação, para Moçambique, a fim de continuar o levantamento da carta hidrográfica do respectivo litoral, começada há anos pelo “Bérrio” e nunca interrompida, apesar deste navio já ontem, não oferecer condições para tal serviço.
Há dias, os oficiais da missão naval portuguesa, actualmente em Inglaterra, efectuaram uma visita a alguns dos pontos de Londres mais atingidos pelos bombardeamentos aéreos e, mais tarde, falaram pela B.B.C., para as suas famílias.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 12 de Julho de 1946)


O texto acima foi publicado, tal como a fotografia do navio, na Revista da Armada nº 462, correspondente ao mês de Abril de 2012, com a colaboração do Instituto Hidrográfico. Trata-se de um excelente resumo, que permite ficar a conhecer melhor o navio, durante muito tempo destacado em Moçambique, onde seguramente prestou bons serviços à Marinha e ao país.

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXXIII)


O encalhe em Leixões do vapor dinamarquês "Broholm"

Mau tempo – O porto sob a acção dum violento temporal
Ontem em Leixões um tufão que produziu grandes prejuízos
O temporal que assolou o porto de Leixões começou a sentir-se mais pronunciadamente ao princípio da noite de ante-ontem, Domingo.
O vento soprava do quadrante sudoeste, aumentando a cada momento a sua velocidade. O mar agitou-se muito, por tal motivo tornando-se perigosa a situação dos navios ancorados dentro da bacia do porto.
Como medida preventiva o capitão do porto de Leixões, Sr. capitão-de-fragata Carlos Rodrigues Coelho, ordenou que fossem reforçadas as amarras dos navios ali surtos, mandando ainda recolher aos pontos mais abrigados traineiras e fragatas ancoradas no meio da bacia.
O paquete “Hilary”, da companhia Booth Line, que havia ali entrado no Domingo, procedente de Liverpool, para receber passageiros com destino ao Pará, Manaus e outros portos brasileiros, teve de suportar durante largo tempo o forte temporal.
O comandante do vapor, vendo a segurança do seu navio ameaçada, dado as grandes dimensões do paquete e o atravancamento da bacia tomou as disposições aconselhadas pela sua larga experiência de homem do mar, mandando pôr as caldeiras em pressão, para o que desse e viesse…
O temporal, longe de abrandar, redobrava de violência cada vez mais, não permitindo a agitação do mar que desembarcassem, sequer, os pilotos, empregados da agência da companhia, estivadores e outro pessoal que, no exercício das suas funções, havia subido a bordo.
Pelas 22,30 horas, o comandante do “Hilary”, vendo que a tempestade ameaçava tornar-se maior ainda, mandou levantar ferro, saindo para o mar e tomando o rumo de Lisboa, onde fará escala para desembarcar aquele pessoal que levou a bordo.
Porque chegasse a oferecer certo risco a situação do “Hilary”, foi-lhe prestada assistência pelo rebocador “Mars II”, que, sob o comando do patrão Marcelino Justino, e tendo como maquinista Firmino Neves, se manteve junto dele até o “Hilary” se fazer ao mar.
O temporal aumentou extraordinariamente cerca da meia-noite, soprando o vento com velocidade de verdadeiro ciclone. Alguns navios estiveram por vezes em iminente risco de partirem as amarras e soçobrarem, apitando as sereias em aflitivos pedidos de socorro, aos quais o salva-vidas “Carvalho Araújo”, em rigorosa e continua prevenção, acorria pressuroso, ajudando a mudar de fundeadouro uns, reforçando as amarras de outros num labor constante e exaustivo.
Um desses navios, o lugre “João José Iº”, chegou a garrar, descaindo perigosamente sobre uma fragata, que esteve quase a perder-se. Também o aviso de 1ª classe “Bartolomeu Dias”, que veio ao Porto por motivo da visita do chefe do Estado, chegou a correr certo risco. Devido à ventania e à ondulação forte do mar, garrou, sendo impelido na direcção do molhe sul. Valeu-lhe o facto de a bordo estar tudo a postos e disposto para prevenir qualquer eventualidade. Prontamente as possantes máquinas entraram em funcionamento e, ao cabo de algumas manobras, habilmente executadas, aquela magnifica unidade da nossa marinha de guerra estava de novo em bom fundeadouro. Não obstante, manteve-se a bordo tudo de prevenção.

Imagem do navio "Broholm" em mar aberto
Foto do Norsk Digital Museum

O encalhe do vapor dinamarquês “Broholm”
O salvamento da tripulação
O balanço do temporal no porto de Leixões não podia deixar de incluir um navio encalhado, pelo menos. De facto, outro vapor de carga lá está encalhado, quase defronte do “Ashanti”, que o vendaval da noite de 27 de Janeiro passado arremessou sobre as pedras do cais do embarque, a uma escassa centena de metros do casco do “Orania”, que emerge ainda das águas, à entrada do porto, e emergirá, não se sabe até quando…
O vapor encalhado, desta vez, é um belo navio mercante, de nacionalidade dinamarquesa – o “Broholm” – que desloca 781 toneladas liquidas e 1.350 toneladas brutas.
Entrara Domingo, pelas 17 horas, procedente de Lisboa, vindo a Leixões receber um carregamento de vinhos e caixas de ardósias, com destino a Copenhaga. Trazia, estivados no convés, grande quantidade de fardos de cortiça, tendo fundeado a nordeste, na bacia.
Como tempo ameaçasse piorar ainda mais, pela manhã, o comandante do “Broholm” resolveu mudar de fundeadouro, para o que reclamou o auxílio do rebocador “Mars II”. Eram 8 horas e meia quando procederam à manobra. Suspensos os ferros, e no momento que o “Mars II” o auxiliava a manobrar, uma rajada mais violenta de vento, batendo-lhe fortemente de lado – pois o vento mudara bruscamente do quadrante sudoeste, para oeste noroeste – impeliu-o sobre as pedras da praia do pescado, onde encalhou.
O vapor deve ter ficado preso nos rochedos a meio navio, por isso que momentos depois, outra rajada de vento fazia-o rodar sobre o seu eixo, mudando-lhe a proa para o lado onde estava a popa – a praia do pescado de Matosinhos!
Do rebocador foi-lhe passada uma forte amarra, sendo feitas várias tentativas para o retirar daquela situação, o que não foi conseguido, por rebentarem os cabos.
O “Broholm”, que, além dos fardos de cortiça, trazia muita carga diversa, tinha a bordo 23 homens de tripulação, que foram retirados pelo salva-vidas “Carvalho Araújo”, comparecendo também, com o seu material de socorros a náufragos, os Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça e de Leixões, cujos bons serviços, felizmente, não chegaram a ser necessários. Para terra vieram apenas 16 homens, ficando a bordo o capitão A. Henriksen, e alguns oficiais.
Ao princípio da tarde, foi feita a bordo a vistoria da praxe, tendo sido verificado que o navio havia sofrido alguns rombos, tendo a água nos porões nºs. 2 e 3 a altura de 13 pés e achando-se ainda totalmente inundadas a casa das máquinas e das caldeiras, assim como todas as divisões e compartimentos situados abaixo da linha de flutuação.
Na preia-mar, foi verificado, ainda, que a água subira alguns pés, à popa e à vante, denunciando claramente achar-se o navio assente e preso nos rochedos.
Embora sejam mínimas as esperanças de salvarem o vapor (?), pelo motivo dos grandes rombos sofridos e, ainda, da sua critica posição, deve ser tentado retirá-lo do local depois de descarregadas por completo as mercadorias. Para esse efeito, vem já a caminho de Leixões o salvádego dinamarquês “Geir”.
Não obstante o mau tempo, foi considerável o número de pessoas que se dirigiu a Leixões e Matosinhos para observar o vapor e presenciar os trabalhos de salvamento da tripulação.

Diversas notas
O “Broholm” pertence à companhia Det Forened Dampskib Selskab, de Copenhaga, Dinamarca, proprietária de mais 109 vapores, que amiúde vem aos portos do Douro e Leixões. Foi construído em 1925, em Frederikshavn, mede 254.6 pés de comprimento, 37.7 pés de largura e 16 pés de pontal.
Vinha consignado à firma Kendall, Pinto Basto & Cª., Lda., do Porto, cujo representante, o Sr. capitão Eduardo Romero, esteve durantev a tarde em Leixões, a fim de prestar assistência à tripulação do vapor e tomar outras providências.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 13 de Abril de 1937)

Em Leixões
Chegou o salvádego “Geir” que vem cooperar nos
trabalhos de salvamento do vapor dinamarquês
Ontem, em Leixões, nada mais de registou de anormal. O vento abrandou e o mar também.
O vapor dinamarquês “Broholm”, encalhado na praia do pescado, para onde uma forte rajada de vento e a ressaca o arremessaram na manhã de ante-ontem, manteve-se na mesma situação.
A tripulação que, por ordem da capitania, abandonara o vapor durante a noite, como medida preventiva, embarcou às primeiras horas da manhã, desenvolvendo desde logo grande actividade para preparar a descarga dos fardos de cortiça acumulados no convés.
Foram passados fortes cabos para evitar que o navio, impelido por alguma vaga mais alterosa, descaísse sobre a praia, mantendo-se próximo e pronto a prestar os seus serviços o salva-vidas “Carvalho Araújo”, sob o comando do seu arrojado patrão António Crista.
Ao princípio da tarde, deu entrada no porto de Leixões o salvadego dinamarquês “Geir”, cujo comandante desembarcou logo depois, indo proceder a um rigoroso exame a bordo do “Broholm”, para se certificar da verdadeira situação do navio.
Como o estado do mar melhorasse, acostaram ao “Broholm” diversas barcas para onde começou a ser retirada a carga, trabalho que prosseguirá hoje, se o tempo e o mar continuarem a permiti-lo.
Há esperança de salvar o vapor, o qual deverá, depois de aliviado da carga, sofrer algumas reparações no próprio local onde está encalhado, após o que irão tentar a reflutuação. O “Broholm” logo que esteja a flutuar, terá de ser rebocado para Lisboa, a fim de ser submetido a uma vistoria rigorosa, na doca seca e ali convenientemente reparado.
Em Matosinhos esteve ontem muita gente a presenciar os trabalhos de salvamento.
Como medida preventiva, o aviso “Bartolomeu Dias”, assim como outros navios surtos no porto, mantiveram durante a noite de ante-ontem e dia de ontem as caldeiras sob pressão e as tripulações a postos.
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A acrescentar à informação relativa ao encalhe do vapor, há o seguinte:
Depois do “Broholm” estar encalhado nas pedras, e ainda na vazante da maré, foi solicitado o auxílio do rebocador “Mars II”, que lhe passou um cabo de reboque, puxando-o durante cerca de uma hora, sem resultado.
O sinistro deu-se rapidamente, devido à violência do vento; de contrário, e se os serviços do “Mars II” fossem reclamados a tempo, o “Broholm” com as suas máquinas, auxiliado pelo rebocador, safar-se-ia facilmente.
(Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 14 de Abril de 1937)

Imagem do vapor "Broholm" na Dinamarca
Foto do Vaerftshistorisk Selskab

Características do vapor “Broholm”
Armador: Det Forened Dampskib Selskab, Copenhaga, Dinamarca
Nº Oficial: N/d - Iic: O.Y.B.B. - Porto de registo: Copenhaga
Construtor: Frederikshavn Skibsvaerft & Flydedok A/S, 1925
Arqueação: Tab 1.544,00 tons - Tal 913,00 tons
Dimensões: Pp 85,52 mts - Boca 11,46 mts - Pontal 4,88 mts
Propulsão: Svendborg Msk., Svendborg - 1:Tv - 4:Ci
Equipagem: 23 tripulantes
Vendido em 1941 à United States Maritime Commission, Panama

Ainda o encalhe do vapor dinamarquês “Broholm”
A bordo do vapor “Broholm”, encalhado, há dias, no porto de Leixões, têm procedido à descarga da sua mercadoria, a fim de verem se conseguirão reparar as grossas avarias sofridas no casco daquele vapor, aquando do seu encalhe.
Esses trabalhos têm sido executados pelos mergulhadores do salvádego da mesma nacionalidade “Geir”, que, parece, ainda não puseram de parte as possibilidades de salvar aquele vapor.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 17 de Abril de 1937)

É posto a flutuar o vapor dinamarquês “Broholm”
Ontem, cerca das 11 horas, foi posto a flutuar o vapor dinamarquês “Broholm”, encalhado, há dias, numas pedras dentro do porto de Leixões e próximo da praia do pescado, de Matosinhos.
O vapor salvádego, da mesma nacionalidade, “Geir”, que tinha vindo a Leixões para se dedicar ao salvamento daquele vapor, conseguiu, após uma segunda tentativa, retirá-lo do lugar onde se encontrava.
Assim, depois dos mergulhadores do referido salvádego terem procedido aos trabalhos provisórios, a fim de tapar os rombos no casco do vapor encalhado, foi puxado pela popa pelo citado salvádego que, numa segunda tentativa, foi melhor sucedido, rebocando-o para o fundeadouro do lado norte do porto.
O vapor “Broholm” aguardará agora uma nova vistoria, para seguir para Lisboa, no sentido de entrar em doca seca, para sofrer as devidas reparações.
(Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 21 de Abril de 1937)

sábado, 27 de outubro de 2018

Divulgação!


Conferência do Seminário do Mar
Segunda-feira, 29 de Outubro de 2018
"O estuário do Tejo: 20 anos depois"


quarta-feira, 24 de outubro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXXII)


O encalhe do navio-motor "Sonami"

Na enseada de Buarcos encalhou o navio de carga “Sonami”,
havendo, contudo, esperanças de o salvar
Ante-ontem, à noite, devido ao espesso nevoeiro, encalhou na enseada de Buarcos, a pouco mais de duzentos metros de terra, o navio de carga “Sonami”, pertencente à Socieda-de de Navegação Mista, de Lisboa.
Este cargueiro, de cerca de 200 toneladas, que mede apro-ximadamente 34 metros de comprimento e que foi construí-do em 1938, nos estaleiros de Vila Real de Santo António, será salvo, possivelmente, amanhã, durante a preia-mar.

Características do navio-motor “Sonami”
Armador: Sociedade de Navegação Mista, Lda., Lisboa
Nº Oficial: G-447 - Iic: C.S.T.B. - Porto de matrícula: Lisboa
Construtor: Artur do Carmo Sousa, V. R. de Santo António, 1938
ex “Mar Azul”, José Braz Alves, Faro
Arqueação: Tab 211,49 tons - Tal 144,59 tons
Dimensões: Ff 33,89 mts - Pp 31,37 - Bc 7,63 mts - Ptl 3,04 mts
Propulsão: motor fabricado na Alemanha, 1:Di - 5:Ci - 210 Bhp
Equipagem: 9 tripulantes

Até agora, não puderam ir além dos trabalhos preparatórios para a salvação do navio que terá, ainda, de ser aliviado de parte da carga. Nestes trabalhos preliminares têm-se empe-nhado dedicadamente os srs. comandante Pires da Rocha e engenheiro Geraldes.
O “Sonami”, que está no seguro, transportava uma carga de carvão, avaliada em 250 contos, para a Figueira da Foz, consignada à Companhia dos Caminhos de Ferro Portugue-ses da Beira Alta.
A tripulação constituída por nove homens, bem como o respectivo comandante, sr. Teodoro Bento de Lima, salvaram-se.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 24 de Março de 1944)

domingo, 21 de outubro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXXI)


Uma ocorrência e o naufrágio do palhabote-motor "Irene Doraty"

O iate-motor “Irene Doraty” que viajava a Lisboa, por avaria no motor
e devido à impetuosidade do mar, foi forçado a retroceder para Leixões
Pelas 13 horas de ontem entrou em Leixões o iate-motor “Irene Doraty”, que se dirigia para Lisboa, carregado de carvão.
O “Irene Doraty” saíra da barra do Douro no dia 30 do mês passado, em direcção a Lisboa, levando como mestre José Simões Calhau e como tripulantes João do Carmo, João Francisco Pereira, João Clemente Bordelas, Mário dos Santos Agostinho, Domingos Fernandes Mano e Albino de Freitas Dantas.
Não obstante a impetuosidade do mar, que o vento rijo dos últimos dias tem mantido encrespado, o “Irene Doraty”, navegava regularmente, embora com bastante dificuldade. Mas por alturas das Berlengas, após alguns dias de viagem, o motor teve tal avaria que o “Irene Doraty” não podendo seguir a sua rota por o vento lhe ser contrário, teve de retroceder.
Navegando agora com mais custo ainda, impelido sempre pelo vento, foi cair ao norte da Boa-Nova, de onde içou sinais de pedido de auxílio.
De Leixões, saiu, então, o rebocador “Mars II”, que o rebocou para o porto, ficando a aguardar pela vistoria da capitania e proceder às necessárias reparações no motor, para poder dar rumo ao seu destino.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 7 de Abril de 1939)

Desenho de navio do tipo palhabote, sen correspondência ao texto

Características do palhabote-motor “Irene Doraty”
Armador: Calhau & Andrade, Lda., Porto
Nº Oficial: 119 - Iic: C.S.M.E. - Porto de matrícula: Porto
Construtor: Sebastião Gonçalves Amaro, Figueira da Foz
Arqueação: Tab 127,28 tons - Tal 99,57 tons
Dimensões: Ff 34,00 mts - Pp 28,60 - Bc 7,20 mts - Ptl 2,93 mts
Propulsão: motor fabricado na Suécia, 1:Di - 2:Ci - 100 Bhp
Equipagem: 8 tripulantes

Temporal no mar
O palhabote português “Irene Doraty”, que vinha para Lisboa com um
carregamento de fosfatos, naufragou nas proximidades de Marrocos
Nos últimos dias, devido ao temporal que se fez sentir no mar, a navegação tem corrido sério risco.
Alguns navios portugueses que estavam em viagem entre a costa africana e o continente, sofreram as consequências da tormenta e um deles afundou-se, perdendo-se o respectivo carregamento.  Felizmente, salvaram-se os tripulantes.
O palhabote “Irene Doraty”, propriedade da firma Calhau & Andrade, Lda., da praça da Figueira, com oito homens de tripulação, saiu dali com um carregamento de 85 toneladas de madeira, com destino a Safi, na Tunísia, e passou, em Lisboa, no dia 18 de Fevereiro.
Descarregou a mercadoria na Tunísia, carregou 190 toneladas de fosfatos para Lisboa e largou para a viagem de regresso no dia 25. A viagem afigurou-se desde logo bastante tormentosa, devido à agitação do mar; mas, perto de Larache, no extremo do Marrocos espanhol, na noite de ante-ontem para ontem, o estado do mar agravou-se e o navio começou a meter água.
Os tripulantes tentaram, na medida das suas forças, esgotar a água, mas a tarefa resultou infrutífera e o palhabote afundou-se, quando já os tripulantes se tinham refugiado na pequena baleeira de bordo, onde, aliás, também correram grande perigo.
Ao fim de algumas horas a remar, conseguiram, finalmente, muito extenuados, aportar a Larache. Aí, foram carinhosamente tratados e aguardam pelas diligências habituais para serem repatriados.
O navio e a carga perderam-se totalmente. O “Irene Doraty” estava no seguro apenas por um quinto do seu valor.
Os oito tripulantes são os seguintes: José Simões Calhau, mestre; João Francisco Pereira, Luís Esteves e João Clemente Boudelas, marinheiros; Inácio Lopes, motorista; António Santos Lopes, ajudante de motorista; e José Coelho, cozinheiro.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 3 de Março de 1944)

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXX)


O incêndio a bordo do vapor "North Pacific"

Em Leixões
Vapor incendiado sofre importantes prejuízos
Os socorros - O navio está salvo
A bordo do vapor “North Pacific”, fundeado na bacia de Leixões, deu-se ante-ontem, de madrugada, alarme de fogo, pedindo socorros para terra, pois a tripulação descobrira que lavrava incêndio no porão nº 2.
Compareceram com presteza ao bombeiros voluntários de Matosinhos-Leça, que trabalharam com a tripulação, mas uns e outros eram impotentes para dominar o incêndio, que tomava grande incremento no mencionado porão, onde havia grande quantidade de milho, farinha de pau, açúcar e cortiça, esta última embarcada em Lisboa.
Dada a impossibilidade de ser conseguido um ataque eficaz, foram solicitados os socorros dos bombeiros voluntários e municipais do Porto, que avançaram para Leixões. Entretanto, acudiram os rebocadores “Douro” e “Lusitânia”, para inundar o porão incendiado, utilizando as suas potentes bombas de água.
Para facilitar os trabalhos de extinção, fizeram encalhar a proa do “North Pacific” na praia de Matosinhos, junto à foz do Leça. Atracaram ao vapor os rebocadores “Douro”, “Lusitânia” e a draga “Porto”, que trataram de inundar o porão nº2, lançando para lá uma enorme quantidade de água.
Os trabalhos muito fatigantes, porque o calor era intenso, prosseguiram durante todo o dia de ante-ontem; mas ao fim da tarde já havia sido rendido o pessoal, que verificaram que o incêndio se tinha propagado ao porão nº1, também na proa, onde existiam muitas mercadorias. Os bombeiros e mais pessoal mantiveram-se a trabalhar toda a noite, havendo grande dificuldade nos serviços para evitar que a casa das máquina fosse inundada.

Desenho de vapor. sem correspondência ao texto

Características do vapor inglês “North Pacific”
Armador: Newfoundland Maritime Co., Ltd., Sunderland
Operador: E.H. Mundy & Co., Ltd., Sunderland
Nº Oficial: N/d - Iic: J.C.G.Q. - Porto de registo: Sunderland
Construtor: J.L. Thompson & Sons, Ltd., Sunderland, Maio de 1913
Arqueação: Tab 5.287,00 tons - Tal 3.908,00 tons
Dimensões: Pp 115,65 mts - Boca 16,15 mts - Pontal 6,91 mts
Propulsão: J. Dickinson & Sons - 1:Te - 3:Ci - 399 Nhp

O vapor inglês “North Pacific”, comandado pelo capitão W.A. Donnely, entrou em Leixões no dia 22 do corrente, procedente de Buenos Aires, Rio de Janeiro, Pernambuco (via Lisboa), com carga geral para este porto e em transito. O vapor, todo de ferro, foi construído nos estaleiros de J.L. Thompson & Sons, Ltd., de Sunderland, praça onde está registado. Tem 379,5 pés de comprimento, 53 de boca e 22,8 de pontal. Está classificado pelo Lloyd como de 1ª classe e pertence a Nicholas E. Ambaticlos (Felix Steam Ship Co., Ltd.). O vapor vinha consignado à casa Garland, Laidley & Cª., do Porto.
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Para melhor poderem trabalhar, ficou atracado ao navio um lanchão, onde os bombeiros manobravam, bem como alguns alunos da Escola de Marinheiros. Os trabalhos demoraram ontem durante o dia, tendo sido feitos rombos a certa altura do casco, para ali se descarregarem jatos de água, o que deu o melhor resultado. Também prestou serviços o rebocador “Mars”. Para Leixões foi o pessoal da Cruz Vermelha, com algum material, pronto a prestar socorro, em caso de desastre.
A bordo do vapor incendiado estiveram o chefe do Departamento Marítimo do Norte, Sr. contra-almirante Alfredo Howell e o capitão do porto, Sr. capitão de mar-e-guerra Carlos Braga.
Os trabalhos de extinção continuaram durante o dia até que às 4 horas da tarde estava extinto o incêndio, passando o pessoal a tratar dos serviços de rescaldo e algumas remoções. Às 5 horas e meia retiraram os bombeiros de bordo, assim como a draga “Porto”. Ficaram perto, de prevenção, os rebocadores “Lusitania”, “Douro” e “Mars”.
O vapor deve ser hoje desencalhado e levado para outro fundeadouro. Os prejuízos, que são grandes, no vapor e na carga, estão cobertos por diversas Companhias de Seguros. Durante os dias de ante-ontem e ontem afluíram à praia de Matosinhos numerosas pessoas, a ver o vapor incendiado.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 26 de Março de 1921)

O vapor incendiado
Têm continuado afanosamente de dia e de noite, os serviços de esgotamento da água atirada para os porões nºs. 1 e 2, do vapor inglês “North Pacific”, que se encontrou incendiado na bacia de Leixões. Nesse serviço têm sido empregadas as bombas dos rebocadores “Lusitania”, “Mars” e “Douro”.
Na baixa-mar de ontem foram tapados os rombos no casco do vapor, para o inundar. O “North Pacific” deve ser desencalhado na maré desta manhã e rebocado para novo ancoradouro, onde irão começar a fazer a remoção do seu carregamento.
(Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 27 de Março de 1921)

O vapor incendiado
Ainda não procederam aos trabalhos de desencalhe do vapor inglês “North Pacific”, que esteve incendiado na bacia do porto de Leixões. Com o auxílio das bombas dos rebocadores, continuam a fazer o esgotamento da água atirada para os porões incendiados.
Também têm procedido à remoção de mercadorias.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 29 de Março de 1921)

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXIX)


O naufrágio do iate "Flor de Setúbal"

Um navio de carga português encalhou à entrada
de Port Lyautey, mas a tripulação já foi salva
Telegramas recebidos em Lisboa e Setúbal informam que o navio de carga “Flor de Setúbal” de 249 toneladas, da praça de Setúbal, pertencente à firma Chaves & Mateus, Lda., encalhou ante-ontem à entrada de Port Lyautey (Marrocos), e que se encontrava em perigo.

Desenho de navio do tipo iate, sem correspondência ao texto

Caracteristicas do iate "Flor de Setúbal"
1946 - 1951

Armador: Chaves & Mateus, Lda., Setúbal
Nº Oficial: 514 - Iic: C.S.N.J. - Porto de matrícula: Setúbal
Construtor: Chaves & Chaves, Setúbal, 1946
Arqueação: Tab 148,76 tons - Tal 93,75 tons
Dimensões: Ff 32,07 mts - Pp 28,10 mts - Boca 7,65 mts - Ptl 3,40 mts
Propulsão: 1 motor semi-diesel - 2:Ci - 410 Rpm - 150 Bhp
Equipagem: 8 tripulantes

O “Flor de Setúbal” tinha a bordo a seguinte tripulação, sobre a chefia do capitão José Machado, de Viana do Castelo; António Freitas; contra-mestre; José Fernandes, motorista; Manuel Passos e Henrique Araújo, marinheiros, António Pereira, cozinheiro, todos também de Viana do Castelo; José Bomba Marro, ajudante de motorista, de Portimão; e Ilídio Malhão, moço, de Vila Praia de Âncora.
O navio transportava mais de 200 toneladas de cimento para aquele porto e tinha saído de Setúbal no dia 20 de Agosto. Os primeiros telegramas eram alarmantes, mas informações posteriores dizem que foi possível salvar toda a tripulação, a qual já se encontra em terra.
A situação do navio, que foi construído há cinco anos, continua, porém, a ser muito critica. Seguiram socorros para o local do encalhe.
(Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 8 de Agosto de 1951)

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Navios portugueses


O navio-tanque “Cercal”

Terceira unidade da empresa armadora, encomendada na Belgica aos estaleiros John Cockerill, foi lançado à água em 8 de Dezembro de 1952, embandeirando em português através da entrega ao proprietário em 9 de Setembro de 1952. A viagem inicial, de Antuérpia para Lisboa tem lugar em 12 de Setembro, entrando pela primeira vez no Tejo, em 16 de Setembro. A primeira viagem comercial, a partir de Lisboa com destino a Aruba, tem com comandante o capitão da Marinha Mercante, Sr. António Dionísio de Jesus.
Ao fim de 24 anos de incessante actividade, quer ao serviço da Soponata, ou em fretamentos esporádicos, o navio foi vendido à empresa João Luís Russo & Filhos, de Setúbal, em 20 de Setembro de 1976, data a partir da qual foram iniciados os trabalhas de demolição.

Foto do navio-tanque "Cercal", em Leixões
Minha colecção

Características do navio-tanque “Cercal”
1952 - 1976
Armador: Soponata – Soc. Portuguesa de Navios Tanques, Lda., Lisboa
Nº Oficial: H-414 - Iic: C.S.M.F. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: John Cockerill S.A., Hoboken, Bélgica, 1952
Arqueação: Tab 11.143,42 tons - Tal 7.179,50 tons - Pm 16.849 tons
Dimensões: Pp 155,73 mts - Boca 21,10 mts - Pontal 11,55 mts
Propulsão: Burmeister & Wein, Bélgica - 1:Di - 6.000 Bhp - 12,7 m/h

O novo petroleiro “Cercal” foi visitado pelo ministro da Marinha
O navio petroleiro português “Cercal”, recentemente construído na Bélgica para a frota mercante e que ante-ontem chegou ao Tejo, foi visitado, ontem, pelo Sr. ministro da Marinha. O Sr. almirante Américo Tomás, chegou às 10 horas, ao cais da Rocha de Conde de Óbidos, sendo recebido, à entrada do navio, pelos administradores e directores da empresa armadora do “Cercal”, pelo respectivo comandante Sr. António Dionísio de Jesus e por alguns funcionários afectos aos serviços da Marinha Mercante.
Depois de uma visita pormenorizada, que durou cerca de duas horas e que terminou na câmara do comandante, foi ali servida ao Sr. ministro da Marinha, uma taça de «champagne»- Em nome da empresa armadora, o Sr. major Vitorino Branco agradeceu a visita do Sr. almirante Américo Tomás e os auxílios prestados pelo Governo àquela empresa e à Marinha Mercante.
O Sr. almirante Américo Tomás manifestou o seu agrado por ver a marinha nacional enriquecida, com uma unidade de categoria semelhante à das melhores do mundo, e desejou felicidades ao navio e à sua tripulação.
(Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 18 de Setembro de 1952)

domingo, 14 de outubro de 2018

Leixões na rota do turismo! (9/2018)


Navios em porto na 2ª quinzena de Setembro

Nesta quinzena, os navios que estiveram de visita ao porto, são já conhecidos de escalas anteriores.
Mesmo assim, não pode ser ignorado o facto, relacionado com o número de navios em Leixões, ter atingido um valor muito significativo. Ficou apenas por salientar os muitos dias de sol, ocasionalmente combinados com imenso nevoeiro, a dificultar novamente melhor recolha de imagens.

Navio de passageiros "Midnatsol"
No dia 16, Chegou procedente da Corunha, saíu para Lisboa

Navio de passageiros "Zenith"
No dia 17, veio proveniente de Bilbau, também saíu para Lisboa
Foto retirada do sítio «Mercado de Eventos»

Lugre-patacho de passageiros "Gulden Leeuw"
No dia 17, chegou procedente de Amesterdão, saíu para Bonifácio
Escala com estudantes, permaneceu durante vários dias no rio Douro

Navio de passageiros "Marella Spirit"
No dia 18, veio procedente de Málaga, tendo saído para Lisboa

Navio de passageiros "Azamara Journey"
No dia 19, chegou procedente de Bilbao, saíndo para Lisboa

Navio de passageiros "Koningsdam"
No dia 21, veio proveniente da Corunha, também saíu para Lisboa

Navio de passageiros "Seven Seas Explorer"
No dia 23, veio procedente da Corunha, tendo saído para Lisboa

Navio de passageiros "Aida Cara"
No dia 23, chegou procedente de Lisboa, saíu com destino a Vigo

Navio de passageiros "Clio"
No dia 29, chegou proveniente de Vigo, tendo saído para Lisboa

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

História trágico- marítima (CLIX) Repetição


O lugre “Maria Helena“
1922 - 1923

Desenho de um lugre, sem correspondência ao texto

Nº Oficial: A-191 - Iic: -?- - Porto de registo: Porto
Armador: Não identificado, Lisboa
Construtor: D.S. Howard, Parsboro, Nova Escócia, 1894
ex "Maria Helena", Santos Amaral, Lda., Porto
ex “Maria Helena”, Leonardo A. Dos Santos, Porto, 1920-1921
ex “Minho”, J. Mourão & Cª., Porto, 1917-1920
ex “Earl of Aberdeen”, Bridgetown, Barbados, 1894-1917
Arqueação: Tab 450,36 tons - Tal 392,05 tons
Dimensões: Pp 50,00 mts - Boca 10,50 mts - Pontal 3,75 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 9 tripulantes

Ocorrência marítima
Viana do Castelo, 16 – Continua o mau tempo. O mar brame encolerizado. Não constam mais desastres, além daqueles já conhecidos, felizmente sem vítimas a lamentar.
Ainda não houve notícias do lugre “Maria Helena”, saído do Porto no último Domingo. Deus as mande satisfatórias para sossego das famílias dos seus tripulantes.
(Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 18 de Janeiro de 1922)

Viana do Castelo, 18 - O lugre "Maria Helena", quando já desamarrado na doca para seguir viagem para Lisboa, foi de encontro ao cais rebentando um cabresto, não podendo sair no sábado. Saiu ontem e talvez a esta hora tenha arribado, devido ao mau tempo.
(Jornal "Comércio do Porto", quinta-feira, 19 de Janeiro de 1922)

Viana do Castelo, 24 - Ainda não há notícia do lugre "Maria Helena", que no Domingo saiu a barra de Viana com destino a Lisboa e no qual embarcou, a fazer a primeira rota de tirocínio para piloto, o sr. Jerónimo Aguiar, filho do industrial sr. José Pereira de Aguiar.
(Jornal "Comércio do Porto", quarta, 25 de Janeiro de 1922)

Viana do Castelo, 25 – Da viagem tormentosa do lugre “Maria Helena”, foram recebidas as seguintes informações:
No dia 16, imediato ao dia da saída, achava-se o navio nas alturas dos «Cavalos de Fão», quando foi surpreendido por um forte temporal de sudoeste; procurando então arribar, tal não conseguiu, devido ao nevoeiro, pelo que se pôs de capa rigorosa. O mar estava agitadíssimo, as vagas varriam o convés, levando o que encontravam.
O vento, saltando para O.N.O. (oeste-noroeste), fez-se ciclone e o navio adernou, tendo de alijar a carga de convés, com grande risco. Dando a popa ao mar correu à mercê, visto o pano ter ido pelos ares.
A tripulação quase esmoreceu, pois a todo o momento esperava que o navio fosse varar numa praia, onde ninguém escaparia. Entretanto, no dia foi o “Maria Helena” socorrido por um vapor alemão, rebocando-o para a bacia de Peniche, onde por ordem da capitania, o navio ficou ancorado com dois ferros pela proa. Às 3 horas da manhã do dia 20, rebentaram as amarras e o “Maria Helena” foi à praia, onde se desfez.
Ontem chegaram os náufragos a Viana. Alguns deles, ao transporem os umbrais das suas habitações, ajoelhavam e beijavam a soleira da porta! Parece que um dos náufragos vai cumprir uma promessa à Virgem da Agonia, de joelhos desde a sua casa até ao santuário.
Bendita crença!
(Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 26 de Janeiro de 1922)

Apesar de tanta turbulência, há que corrigir a notícia do naufrágio deste lugre de três mastros, construído em madeira, que iria ainda sofrer uma pequena alteração na arqueação, depois de passar por eventuais trabalhos de recuperação.
Aumentou a Tab para 457 tons e a Tal para 385 tons, o que não é muito significativo, mas permite ajuizar da existência do navio num período mais recente. Todos os acontecimentos relatados e o estado degradado do navio, terão levado o armador portuense a colocar o navio à venda, conforme se comprova pelo anúncio publicado no “Comércio do Porto”, em 7 de Setembro de 1922.


Concretizado o objectivo da venda, apareceu um comprador interessado, que não foi possível identificar, dado que o navio transferiu a matrícula para a praça de Lisboa. Infelizmente havia de navegar por pouco tempo, pois nova ocorrência ditou o ponto final.

Sinistro marítimo - Encalhe de um navio
Sagres, 24 - A 2 milhas a norte do Cabo Carvoeiro encalhou o navio português "Maria Helena". Para o socorrer partiram para ali várias embarcações.
O navio considera-se perdido, mas a tripulação foi toda salva.
(Jornal "Comércio do Porto", terça-feira, 24 de Setembro de 1923)

terça-feira, 9 de outubro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXVIII)


O naufrágio do vapor grego “Eugenia”

O navio grego “Eugenia” naufragou, não se sabendo da tripulação
Em Lisboa foi hoje recebido um rádio do comandante do vapor italiano “Sicania”, dizendo que às 8 horas, na latitude 39º Norte e longitude 9º35’ Oeste, vira naufragar o navio grego “Eugenia”, não encontrando vestígios da tripulação.
Esta comunicação foi feita às autoridades de Marinha.

Desenho de navio do tipo do vapor naufragado correspondente ao texto

Características do navio grego “Eugenia”
1920-1921
Armador: J.B. Culucundis, Piréu, Grécia
Construtor: Russel & Co., Ltd., Greenock, Escócia, 1898
ex “Foreric”, Bank Line (Andrew Weir Ltd), Londres, 1898-1916
ex “Foreric”, Egypt & Levant Steam Navigation Co., Londres, 1916-1920
ex “Eugenia”, Eugenia Shipping, Piréu, Grécia, 1920-1920
Arqueação: Tab 3.974,00 tons
Dimensões: Pp 105,20 mts - Boca 15,20 mts - Pontal 5,50 mts
Propulsão: Rankin & Blackmore, Greenock - 1:Te - 364 Nhp

Segundo um telegrama do Cabo Carvoeiro, parece que a tripulação do vapor “Eugenia” se salvou, porque o vapor belga “Minerva”, que passou ali, vindo do Sul, anunciou que ia desembarcar em Peniche a tripulação dum navio naufragado.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 16 de Abril de 1921)

Numa informação complementar, consta que o navio grego “Eugenia” deve ter naufragado no dia 15 de Abril de 1921, por suposta colisão com uma mina, próximo às Berlengas, quando em viagem de Huelva para Hamburgo.

sábado, 6 de outubro de 2018

Salva-vidas do I.S.N. "Gago Coutinho"


A entrega do salva-vidas "Gago Countinho" em Olhão

Mais uma vez o blog recorda a notícia de um novo barco salva-vidas, que na ocasião foi entregue aos Socorros a Náufragos de Olhão.
E muito me apraz poder fazê-lo, pelo respeito e reconhecimento que as tripulações destes barcos merecem, devido às provas de coragem e abnegação demonstrados ao longo dos anos.
Porém, foi imprescindível estarem dotados de equipamento adequado, pois só assim foi possível dar responta às perigosas missões de salvamento, que lhes foram confiadas.
A estatistica que abaixo se apresenta, é disso a principal evidência.


A estação de Socorros a Náufragos de Olhão tem um novo salva-vidas
A entrega do salva-vidas “Gago Coutinho” teve um festivo entusiasmo
Olhão, 24 – Chegou hoje a este porto, vindo de Lisboa, o novo salva-vidas “Gago Coutinho”, que à entrada da barra foi recebido festivamente por vários vapores, gasolinas e outras embarcações repletas de pessoas desta vila e da Filarmónica Olhanense.
O novo barco foi conduzido a esta ria, pelo sr. comandante Borges de Carvalho, pelo mestre Joaquim Casaca e pelo maquinista José Rodrigues Rocha. Após a sua chegada, organizou-se um cortejo fluvial em direcção à vila, onde depois se realizou, na Câmara Municipal, uma sessão solene, que foi presidida pelo sr. capitão de mar-e-guerra Eduardo Soares, secretariado pelos srs. Celestino Pereira, chefe da Repartição do Instituto de Socorros a Náufragos, comandante Borges de Carvalho e Duval Pestana, presidente da Câmara, que usou da palavra em primeiro lugar.

Foto do salva-vidas "Gago Coutinho" à chegada a Olhão
Imagem publicada no jornal referido no texto

O sr. Duval Pestana que se congratulou por tão importante melhoramento, pediu ao sr. comandante Eduardo Soares, que transmitisse ao sr. Ministro da Marinha, a quem o país devia tão relevantes serviços, a sua imensa gratidão. Enalteceu a figura prestigiosa do sr. comandante Borges de Carvalho. Terminou com palavras de louvor para o sr. Celestino Pereira e expondo a grave situação em que a classe piscatória se encontra, a qual podia ser remediada pelas entidades superiores.
A seguir falou o sr. Celestino Pereira, que como algarvio manifestou muita satisfação por vir associar-se a esta simpática festa, motivada pela vinda do salva-vidas, para esta ridente vila do Algarve e manifesta, também, o seu regozijo por ver Olhão dotado com uma bela estação de Socorros a Náufragos, o melhor edifício deste género, que o Instituto até hoje mandou construir, a qual fica devidamente apetrechada.
Rendeu preito de sincera homenagem ao prestigioso inspector dos Serviços de Socorros a Náufragos, capitão de mar-e-guerra, sr. Eduardo Soares, pessoa de inteligência lúcida e grande orientador dos mesmos serviços, a quem Olhão deve a vinda deste belo salva-vidas.
A seguir usou da palavra o sr. Cruz Azevedo, que como algarvio se congratulou também pela vinda do novo salva-vidas, afirmando que era o melhor preito de homenagem que poderia prestar, por tal motivo. Relembrou a nobilitante figura do Patrão Joaquim Lopes, honra e glória da terra portuguesa e pediu aos assistentes 2 minutos de silencio, de respeito e gratidão pela memória daquele que foi um verdadeiro lobo do mar e que abnegadamente tantas vidas salvou.
Finalmente falou o sr. comandante Eduardo Soares, que se associou a esta tocante manifestação de gratidão e saudade, pela memória de tão prestimoso algarvio. Agradeceu as palavras que lhe foram dirigidas, prometendo dirigir ao sr. Ministro da Marinha o reconhecimento e as aspirações do laborioso povo de Olhão.
(Jornal "Comércio do Porto", terça-feira, 26 de Julho de 1938)

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXVII)


O incêncio a bordo do vapor África", em Lisboa

Manifestou-se incêndio com violência no porão nº1 do
paquete “África”, atracado no Jardim do Tabaco.
Os bombeiros trabalham com dificuldade na extinção.
O vapor “*Africa” pertencente à Companhia Nacional de Navegação, viera no dia 27 do mês findo do Porto, onde estivera a receber carga diversa, principalmente caixas de vinho e fardos de fazendas.
Acostara ao cais de Santa Apolónia, onde esteve a receber mais carga, a fim de seguir para os portos de África.
Hoje, cerca das 2 horas da tarde, foi visto sair muito fumo pelos respiradores do porão nº2. Dado o alarme compareceram, dentro em pouco, os bombeiros municipais e voluntários, assim como vapores e rebocadores, sendo estabelecido, imediatamente, o ataque ao fogo.
Foram fechadas as escotilhas e o porão começou por ser inundado, no local onde o incêndio se manifestara. Pelas 4 horas e 45 minutos foram abertas as escotilhas, sendo verificado que o fogo continuava, pelo que um bombeiro com escafandro desceu ao porão, a fim de localizar o sítio exacto, conseguindo extinguir assim o incêndio.
O vapor está um tanto adernado a estibordo.
Ao posto de socorros, estabelecido no cais, foram receber curativo o bombeiro voluntário da 3ª secção Amorim, tripulante Laranjeira, João dos Santos Ferreira, José Nunes Ferreira e Joaquim Mendes Raimundo dos Santos, 3º piloto, e o comandante João Augusto Ferreira, intoxicados pelo fumo, ao tentarem descer ao porão.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 8 de Novembro de 1921)

Foto-postal do "África", emitido pela Cª Nacional de Navegação
Minha colecção

Características do paquete “África”
Armador: Companhia Nacional de Navegação, Lisboa
Nº Oficial: 443-B - Iic: H.B.G.K. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Raylton Dixon & Co., Ltd., Middlesbrough, Agosto 1905
Arqueação: Tab 5.490,81 tons - Tal 3.582,87 tons
Dimensões: Pp 127,52 mts - Boca 15,70 mts - Pontal 5,80 mts
Propulsão: N.E. Marine Engineering, Newcastle, 1:Tv - 6:Ci - 752 Nhp
Equipagem: 156 tripulantes
Abatido à frota da companhia durante o ano de 1932

Imagem do incêndio no vapor "África" da autoria de Salgado
Ilustração Portuguesa, Nº 821 de 12 de Novembro de 1921, pp.371

O incêndio a bordo do “África”
Morte de um estivador – Os prejuízos materiais
Ficou hoje, ao meio dia, extinto o incêndio que ontem se declarou no porão nº2 do vapor “África”.
A experiência feita com uma máquina de ar quente, que encheu por completo o porão, não deu os resultados desejados, pois que às 4 horas da madrugada, sendo o porão destapado, viu-se que o incêndio continuava a lavrar com a mesma intensidade.
Foram então, para debelar o incêndio, postos a funcionar os rebocadores “Cabo da Roca”, “Buarcos” e “Josephina”, bem como duas bombas a vapor, uma auto-bomba dos bombeiros municipais e várias mangueiras, que começaram a despejar água em grande quantidade (850 metros cúbicos aproximadamente), sendo o incêndio debelado.
Pouco depois começaram a proceder ao esvaziamento da água que enchia o porão, a fim de serem recolhidos os salvados.
Os prejuízos, tanto no porão como no resto do vapor são importantes, principalmente nos beliches que ficam próximo do porão e que a acção do calor muito danificou.
Os trabalhos decorriam com toda a regularidade, quando apareceu, numa embarcação, a mulher do estivador José Firmino Pinto, a dizer que o seu marido, que estava empregado no “África”, não tinha aparecido em casa.
Alguns empregados de bordo tiveram logo a suspeita de que o infeliz tivesse morrido no incêndio, pois que tinha sido visto a bordo quando este se declarou.
Vários bombeiros desceram imediatamente ao porão, sendo encontrado o cadáver do estivador à tona da água. Retirado para o cais, foi entregue à família, depois de verificado o óbito pelo respectivo sub-delegado de saúde.
Hoje de manhã também foi retirado o empregado de bordo Joaquim António Reis, sendo conduzido ao posto médico, onde foi submetido a ginástica respiratória, seguindo depois para sua casa.
Ao meio dia retiraram o material de incêndios e os rebocadores. Como medida de precaução, ficou junto do “África” uma bomba a vapor.
Os prejuízos estão cobertos por várias companhias de seguros.
(Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 9 de Novembro de 1921)

Leixões na rota do turismo! (8/2018)


Navios em porto na primeira quinzena de Setembro

Neste período Leixões recebeu três navios em escala inaugural. De entre estes, aquele que atraiu maior atenção foi certamento o novo "Mein Shiff 1", com 315 metros, portanto um recorde absoluto.
Foi igualmente interessante a escala do novo navio francês "Le Laperouse", que apresenta diversas caracteristicas inovadoras.
Se congratulamos a visita ao porto de um agradável conjunto de navios, o nevoeiro que esteve presente a maior parte do tempo, dificultou a possibilidade de colher melhor imagens, motivo que nos levou a utilizar uma foto de Luís Miguel Correia, até que o "Costa Mediterranea", por exemplo, possa regressar a Leixões.

Navio de passageiros "Mein Schiff 1"
Foto do Arqtº Fernando Paiva Leal
No dia 3, chegou procedente da Corunha, tendo saído para Lisboa

Navio de passageiros "Marella Spirit"
No dia 4, chegou procedente de Vigo, continuou viagem para Lisboa

Navio de passageiros "Azamara Pursuit"
No dia 6, chegou procedente de Bilbao, seguiu também para Lisboa

Navio de passageiros "Balmoral"
No dia 6, chegou procedente de Newcastle, saiu para Málaga

Navio de passageiros "Boudicca"
No dia 8, veio proveniente de Dover, saiu com destino a Cadiz

Navio de passageiros "Le Laperouse"
No dia 12, chegou procedente da Corunha, saindo para Lisboa

Navio de passageiros "Black Watch"
No dia 12, veio procedente de Lisboa, saiu para Liverpool

Navio de passageiros "Costa Mediterranea"
Excelente foto de Luís Miguel Correia
No dia 14, chegou procedente da Corunha, saíu com destino a Lisboa