domingo, 18 de março de 2018

Navios da pesca do bacalhau


Entraram ontem em Leixões os lugres “Aviz” e “Brites” que
regressaram da Gronelândia com apreciável carregamento

Foto do lugre bacalhoeiro "Brites" em Leixões
Imagem da Fotomar, Matosinhos

Correu bem – rápida e abundante – a pesca do bacalhau na Terra Nova e na Gronelândia.
Há dias chegaram os arrastões “Santa Joana”, “Santa Princesa” e “Álvaro Martins Homem”, e ontem entraram em Leixões o “Aviz” e o “Brites” – os primeiros dos 42 lugres que seguiram, em devido tempo, para aquelas paragens, a fim de tomarem parte na safra deste ano.
A entrada no porto efectuou-se pouco depois das 7 horas, estando no cais, numerosas mulheres e crianças – mães, esposas e filhos dos pescadores – que aguardavam, com ansiedade e inquietação o momento de os poderem abraçar.
O “Brites” pertence à praça de Aveiro, e o “Aviz” à Companhia de Pesca Transatlântica, do Porto.

Foto do lugre bacalhoeiro "Aviz", ancorado no rio Douro
Colecção particular

A bordo do “Aviz” – o maior navio-motor de madeira que se emprega na pesca do bacalhau – recebeu-nos o comandante sr. Manuel Nunes Guerra. No convés acastelavam-se os «dóris». Quase todos os homens tinham desembarcado. Aos poucos que se conservavam a bordo, estava a ser feito, no camarote do capitão, o pagamento pelos seus serviços.
Uns minutos de espera. Depois duas cervejas. O sr. Manuel Nunes Guerra, gentil como quase todos os homens do mar, bebe e quer que o jornalista beba também.
Fizemos perguntas – esboçamos uma entrevista.
- Coisas da guerra?
Não vi – respondeu-nos com um sorriso.
- Não viram aviões, submarinos, transportes?
Do nosso barco não vimos coisa alguma – insistiu.
Compreendemos a conveniência que o capitão do “Aviz” teria em guardar segredo. Mudamos, portanto, de rumo à conversa.
- Notícias dos outros navios?
Boas – o melhor possível. Exceptuando os lugres “Florentina”, “Milena”, “José Alberto” e “Ílhavense”, cuja pesca está mais demorada, os restantes – prosseguiu o nosso entrevistado – vem já de regresso. O pescado é do melhor – os carregamentos completos.
O “Aviz” conduz dez mil quintais de bacalhau, e esta viagem – acentuou o sr. Manuel Guerra – é a mais rápida dos últimos anos. Pode considerar-se viagem recorde. Gastamos, ao todo, 103 dias, e a viagem de regresso fez-se, da Gronelândia, em 28 dias. As condições de tempo foram-nos sempre favoráveis.
O “Aviz” conduziu três pescadores do lugre “Leopoldina”, que estavam hospitalizados no “Gil Eanes”. O “Brites” trouxe um. São: Francisco Matoso e Joaquim Francisco Ribeiro, de Buarcos; Álvaro dos Santos Reboque, da Figueira da Foz e José Gavina, da Póvoa de Varzim.
(In jornal "Comércio do Porto", sexta-feira, 4 de Setembro de 1942)

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