domingo, 11 de março de 2018

História trágico-marítima! (CCXLIV)


O vapor “Estrellano” em risco no rio Douro

Barcaças que se afundam – Prejuízos importantes
O temporal destes últimos dias originou uma subida inesperada das águas do rio Douro as quais, na madrugada de ontem, provocaram bastante corrente a ponto de causar alguns acidentes.
Assim, o vapor inglês “Estrellano”, que estava fundeado no lugar dos Vanzeleres, do lado de Gaia, rebentou as amarras, arrastando consigo um dos peoris e atravessando o rio foi abalroar com o vapor da mesma nacionalidade “Backworth”, que se achava fundeado próximo do cais do Terreiro, ficando empastado a este último vapor.
Do embate resultou correrem sério risco os rebocadores “Record”, “Aquila” e “Mariazinha”, que estavam fundeados próximo de terra e junto ao vapor “Backworth”, os quais estiveram prestes a submergirem-se, principalmente o último daqueles rebocadores dado o seu pequeno tamanho e construção.
Dado o alarme, cerca das 4 horas, pelos constantes apitos dos vapores em perigo, foram tomadas as devidas providências, tendo comparecido os pilotos da barra e o Sr. Patrão-mor da Capitania do Porto, saltando para bordo das embarcações. Aliviando as amarrações de umas e suspendendo os ferros de outras conseguiram de momento aliviar um tanto o perigo que corriam.
Devido ao alarme compareceram, também, alguns rebocadores, tendo o “Vouga Iº” passado um cabo ao vapor “Estrellano” aguentando-o, até que, foram reclamados os serviços do vapor salvadego dinamarquês “Valkyrien” que, acidentalmente, se achava fundeado no rio Douro. Este último vapor passou, então, um cabo de reboque ao “Estrellano”, conseguindo retirá-lo da sua posição, levando-o para novo fundeadouro no lugar do Cavaco.
Após estas manobras, e na eventualidade de maior risco, foram ordenadas as mudanças de alguns vapores fundeados na Ribeira, para os fundeadouros do Cavaco e Santo António do Vale da Piedade.
Para estes fundeadouros seguiram, também, os vapores ingleses “Backworth” e “Darino”, dinamarquês “Viking”, e o lugre inglês “Bastian”, tendo a sua mudança sido auxiliada por vários rebocadores, entre eles o “Lusitânia”.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 21 de Janeiro de 1936)

Imagem do vapor inglês "Estrellano"
Foto de autor desconhecido

Características do navio “Estrellano”
Armador: Ellerman Lines Ltd., Liverpool
Nº Oficial: N/d - Iic: G.D.P.K. - Porto de registo: Liverpool
Construtor: Hall, Russel & Co., Ltd., Aberdeen, Escócia, 1920
Arqueação: Tab 1.963,00 tons - Tal 1.226,00 tons
Dimensões: Pp 76,40 mts - Boca 11,63 mts - Pontal 5,21 mts
Propulsão: Do construtor - 1:Te - 3:Ci - 230 Nhp

No rio Douro devido ao nevoeiro encalharam dois vapores
Pouco depois das 13 horas de ontem, quando os vapores ingleses “Seamew” e “Estrellano”, seguiam rio abaixo a fim de saírem a barra, com destino aos portos de Inglaterra, ao passarem em frente ao Ouro, devido ao denso nevoeiro colidiram um no outro.
Devido ao acidente os vapores foram encalhar: o primeiro, num banco de areia, pelo sul do canal, e o outro um pouco ao norte do canal, ficando atravessado com a proa ao norte.
Dado o alarme compareceram os rebocadores “Record”, “Vouga Iº”, “Lusitânia” e “Mars II”, não tendo sido utilizados os seus serviços por, naquele momento, se tornarem desnecessários.
Os vapores, em virtude de terem encalhado no rio, não correram grande risco, sendo, somente, depois do encalhe, convenientemente espiados pelo pessoal dos pilotos da barra, que, prontamente, compareceram, tomando as providências que o caso requeria.
Supõe-se que o vapor “Estrellano” tivesse encalhado em alguma barcaça afundada e levada para aquele local pela última cheia, o que contribuiria para formar naquele lugar um pequeno banco de areia.
Os dois vapores desde há muito que estavam no rio Douro, prontos a seguir aos seus destinos, esperando, apenas, pela devida oportunidade.
O vapor “Estrellano” foi um dos navios que sofreu mais com a última cheia, correndo sério risco na ocasião em que lhe rebentaram as amarrações e atravessou o rio, embatendo com o vapor inglês “Backworth”. Teve algumas avarias e foi retirado da crítica situação em que se achava pelo vapor salvádego “Valkyrien”.
…..
Como as tentativas para desencalhar ambos os navios não dessem os necessários resultados, devido também à maré já estar na vazante, ficaram esses trabalhos para serem repetidos na preia-mar da noite, pela uma hora da madrugada. No local ficaram de prevenção os rebocadores antes referidos, para o caso de serem precisos os seus serviços.
…..
Apesar do denso nevoeiro não deixar ver nitidamente de terra os vapores, na margem direita juntaram-se bastantes curiosos a presenciar os trabalhos nas tentativas de desencalhe.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 5 de Fevereiro de 1936)

Imagem do navio "Seamew" na barra do rio Douro
Foto da colecção de Francisco Cabral

Características do navio “Seamew”
Armador: General Steam Navigation Co. Ltd., Londres
Nº Oficial: N/d - Iic: M.F.R.P. - Porto de registo: Londres
Construtor: Ailsa Shipbuilding Co. Ltd., Ayr, Escócia, 1915
Arqueação: Tab 1.332,00 tons - Tal 656,00 tons
Dimensões: 76,20 mts - Boca 11,40 mts - Pontal 4,32 mts
Propulsão: Do construtor - 1:Te - 3:Ci - 266 Nhp

O encalhe dos vapores ingleses “Estrellano” e “Seamew”
A posição dos vapores ingleses “Estrellano” e “Seamew”, encalhados ante-ontem no rio Douro, em frente ao Ouro, é a mesma. Apesar das tentativas feitas ontem, na maré, às primeiras horas do dia, com o fim de os desencalhar, nada foi conseguido. Durante o dia continuaram a aliviar a carga dos dois vapores, para na maré de hoje fazerem novas tentativas. O vapor “Seamew”, dadas as condições do encalhe, assentando totalmente num banco de areia, é provável que tenha de aliviar toda a carga que conduzia.
Quanto ao vapor “Estrellano”, os trabalhos de descarga foram bastante difíceis devido ao vapor se encontrar um pouco adornado a estibordo, não dando, por esse motivo, o efeito desejado, obrigando o vapor a ter de ficar na mesma posição por mais um dia.
Este último vapor, que tomou com o seu encalhe quase todo o canal, ficando atravessado, com a proa para o norte, deu origem a não poderem entrar os vapores que estavam fora, para demandar a barra, e a sair outros, cujo calado fosse superior a 12 pés.
Apenas entrou o salvadego dinamarquês “Valkyrien”, que após ter chegado a Lisboa, ido do Porto, recebeu ordem para voltar para o rio Douro, a fim de oferecer os seus serviços aos vapores encalhados.
Saíram cinco vapores em lastro, cujo calado não ia além do previsto para poderem passar na garganta do canal, entre a proa do vapor “Estrellano” e o fundeadouro do rebocador “Tritão”, próximo à margem direita.
Fora da barra ficaram, portanto, onze vapores e um navio, tendo seguido para Lisboa os vapores alemães “Tanger” e “Ceuta” que há dois dias se encontravam ao largo para entrar no rio Douro. De Lisboa voltarão ao Porto.
As novas tentativas para o desencalhe, devem efectuar-se hoje, na maré da tarde, se as condições do tempo forem favoráveis.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 6 de Fevereiro de 1936)

O encalhe do vapor “Estrellano”, no rio Douro
Continuaram, ontem, os trabalhos para o desencalhe do vapor inglês “Estrellano”, que se acha encalhado no rio Douro, em frente ao lugar do Ouro, atravessado no canal do rio.
O vapor salvadego dinamarquês “Valkyrien”, ontem, pouco depois das 14 horas passou um cabo de arame à popa do referido vapor, puxando-o, até depois das 16 horas, sem ter obtido um resultado satisfatório. Por este motivo teve de adiar as tentativas para a maré da madrugada de hoje, ou então para a maré da tarde.
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Devido ao encalhe do vapor “Estrellano” notou-se um regular banco de areia no lugar do Ouro não podendo, de futuro, entrar ou sair vapores com mais de 15 pés de calado, enquanto não forem feitas as dragagens necessárias.
Logo que o vapor “Estrellano” se safe do local serão tomadas as devidas providências, dando início, depois, àquelas dragagens, que provavelmente serão efectuadas pela draga “Porto”.
…..
Ao largo ainda ficaram 10 vapores, cujo calado não permite a passagem no canal e no ponto referido. Apenas entraram, ontem, 3 vapores e um navio, tendo saído cinco vapores.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 9 de Fevereiro de 1936)

O desencalhe do vapor “Estrellano”
Às primeiras horas da manhã de Domingo, e após porfiados esforços levados a efeito pelo salvadego “Valkyrien”, foi desencalhado do banco de areia o vapor inglês “Estrellano”, que havia encalhado, há dias, em frente ao Ouro.
O “Estrellano”, que se supõe nada ter sofrido com o encalhe, foi levado para o lugar do Cavaco, onde ficou fundeado, devendo ser vistoriado para ser certificado se precisa ou não de qualquer reparação.
Os navios que se conservam ao largo e se destinam ao rio Douro e que, devido ao encalhe do “Estrellano” e do “Seamew” não puderam demandar a barra, vão permanecer na mesma situação, agora prejudicada pelo agravamento do mar, até que tenham oportunidade de poder fazê-lo.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 11 de Fevereiro de 1936)

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