segunda-feira, 21 de agosto de 2017

História trágico-marítima (CCXXIX)


Sinistro marítimo
O “Highland Hope” encalhou nas Berlengas
4ª Parte

O naufrágio do “Highland Hope”
O navio “Highland Hope” continua na mesma situação, com grandes rombos no fundo. Parte de meio-navio até à ré, está já destruída pelas vagas, e o casco, por vezes, estremece, ouvindo-se o ruído do choque com as rochas, e a popa está inteiramente submersa.
Como o mar está numa agitação constante, devido ao temporal, está posta de parte a ideia do salvamento da carga pelos mergulhadores.
Na Alfândega estão armazenados, sob a vigilância das autoridades locais, vários salvados feitos ultimamente.

Poster publicitário da empresa proprietária do navio
Pinterest - Colecção de Jean Dwulit

O chefe do posto aduaneiro prossegue a buscas nos subúrbios de Peniche, por ter denúncia de que neles se acham objectos pertencentes aos náufragos, tendo sido encontrados, nas dunas da praia de Peniche de Cima, dentro da areia, diversas peças de vestuário. O marítimo José da Costa, a quem foram apreendidos alguns salvados, pagou a multa de três mil escudos, na Alfândega, por descaminho de direitos.
Durante o dia de hoje muitos passageiros de terceira classe estiveram na delegação do Posto Marítimo de Desinfecção procurando ainda, alguns dos seus haveres.
A maior parte dos náufragos segue amanhã para a América do Sul.
(In jornal “Comércio do Porto”, segunda, 24 de Novembro de 1930)

O naufrágio do “Highland Hope”
Segundo comunicação telefónica recebida de Peniche, o mar continua muito agitado, motivo porque tem sido muito difícil retirar de bordo do “Highland Hope” a parte do seu rico mobiliário.
Os passageiros de 3ª classe do paquete naufragado seguiram hoje para a América do Sul, no “Darro”.

Cartão postal do navio "Darro" emitido pela Mala Real Inglesa

Para Londres vão ser remetidos os vários utensílios e bagagens de bordo que não foram até hoje requisitados no Posto de Desinfecção.
O que resta do “Highland Hope”, ao que parece, vai ser posto em leilão, a fim de ser adjudicado a uma companhia que se dedique a salvados.
Acusados de terem em seu poder alguns colares de pérolas, foram presos oito indivíduos, residentes nos subúrbios de Peniche.
Por motivo do temporal, não foram para o mar as traineiras de pesca.
Tanto o sr. Howe, como o primeiro-oficial e maquinista do “Highland Hope”, aguardam instruções para seguir viagem para o seu país.
O “Highland Hope”
Durante a madrugada, o temporal recrudesceu de violência, soprando vento rijo. O estado do mar continua péssimo, sendo temerária e por vezes impossível qualquer tentativa de aproximação ao paquete naufragado nos Farilhões. Às primeiras horas da manhã começaram a dar à costa, ao norte do Cabo Carvoeiro, destroços do “Highland Hope”. As vagas alterosas sacudidas pela ventania, iniciaram a destruição do transatlântico, açoitando-o incessantemente. Mais vinte e quatro horas de temporal e o “Highland Hope” terá desaparecido por completo.
As praças da Guarda-fiscal que estavam a bordo retiraram para terra, devido ao perigo a que estavam expostas, vistoriando agora na praia qualquer traineira que regresse do mar.
À praia chegam ainda, trazidas pelas vagas, grandes quantidades de nafta e outros lubrificantes do navio naufragado, os quais dão, por vezes, um aspecto curioso à superfície do mar.
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Rio de Janeiro, 29 – É esperada a senhorita espanhola Vitória Parish, irmã do popular empresário de circo Leonardo Parish, náufraga do “Highland Hope”, tendo perdido tudo. Por notícias enviadas por ela, diz ter-se voltado a lancha em que se encontrava com outras senhoras e crianças e que foi salva pelos pescadores de Peniche. Nessa ocasião caiu-lhe ao mar um cofre de ferro com jóias. Tinha embarcado na Corunha e vinha com destino ao Rio de Janeiro.
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O paquete inglês naufragado continua, a despeito de ser batido com violência pelas ondas, na mesma situação.
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O naufrágio do “Highland Hope”
Pelo Ministério do Comércio vai ser assinado um decreto, isentando do pagamento de taxas de passageiros e bagagens devidas à administração do porto de Lisboa, pelos náufragos do navio inglês “Highland Hope”.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 25 de Novembro de 1930)

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