sexta-feira, 1 de maio de 2015

História trágico-marítima (CXLVIII)


O afundamento do vapor "Alpha"

O vapor de carga português “Alpha” foi afundado
Lisboa, 24 – A Sociedade Luso-Marítima recebeu comunicação telegráfica de que o seu vapor de carga “Alpha” se perdeu em viagem para o Norte, ignorando a causa do naufrágio.
Depois de ter recebido aquela informação a empresa armadora do “Alpha” foi informada que 23 dos náufragos tinham seguido ontem de manhã, em comboio, de S. Sebastião para Lisboa.
A tripulação chegou a Vilar Formoso, ontem, às 23 e 30, chegando hoje no correio do Norte, às 7 e 50, à estação do Rossio.
O “Alpha” seguia para Liverpool, com um carregamento de bananas. Perto do porto de Brest foi afundado. A tripulação salvou-se em duas baleeiras, que andaram à deriva durante dois dias, até que avistaram a costa da Bretanha, desembarcando os náufragos num porto francês, de onde seguiram para S. Sebastião.
O “Alpha é o antigo vapor “Ibo”, da Companhia Nacional de Navegação, fazendo carreiras costeiras como navio de carga entre o Porto e Lisboa.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 25 de Julho de 1940)

Imagem do vapor "Ibo", da Companhia Nacional de Navegação
Pormenor em postal ilustrado, sobre a Ribeira no Rio Douro

Características do vapor “Ibo”, em Dezembro de 1939
anteriores à venda do navio, que ocorreu em Fevereiro de 1940
Armador: Sociedade Luso-Marítima, Lda., Lisboa
Construtor: Raylton Dixon & Co. Ltd., Middleborough, 1907
Arqueação: Tab 852,84 tons - Tal 421,55 tons
Dimensões: Ff 63,88 mt - Pp 60,97 mt - Bc 9,16 mt - Ptl 4,93 mt
Propulsão: Marine Engines, Newcastle - 1:Te - 3:Ci - 584 Ihp
Equipagem: 23 tripulantes

Ocorrência
No dia 15, pelas 6 horas e 40 minutos, foi avistado uma avião militar, vindo de sueste, voando na direcção do navio, situação entendida face à passagem por uma área identificada como teatro de guerra. Mais tarde às 08 horas e 20 minutos dois aviões semelhantes sobrevoaram o navio e às 10 horas e 15 minutos outros dois aviões passaram na área e desapareceram.
Os aviões em questão eram trimotores, pintados de verde-escuro, ostentando uma cruz preta sobre fundo branco. Todos eles limitaram-se a observar o vapor português, até que pelas 13 horas e 10 minutos, foi avistada uma esquadrilha composta por oito aviões, idênticos aos anteriores, que, sem aviso prévio, deram início a um ataque planeado, lançando bombas, enquanto simultaneamente disparavam rajadas de metralhadora.
Por força do ataque, e na firme convicção de que o navio estava seriamente danificado, a tripulação não teve alternativa senão tratar de abandonar o navio, pelas 15 horas, quando se encontravam na posição 48º51’N e 06º43’W.
Verificando que o navio submergia-se, os aviões retiraram e por sua vez os náufragos acondicionados nas respectivas baleeiras rumaram em direcção a terra, até encontrarem uma chalupa de pesca francesa, que os rebocou para o porto francês de Audierne.

Os náufragos do vapor português “Alpha”
chegaram ontem a Lisboa
Lisboa, 25 – Chegaram esta manhã a Lisboa, num dos comboios correios da noite, os náufragos do vapor português “Alpha”, que se perdeu quando navegava para Inglaterra com um carregamento de bananas.
Na estação do Rossio eram os náufragos aguardados por familiares e por um funcionário superior da empresa Luso-Marítima, proprietária do navio.
Os náufragos são os seguintes: José Ferreira de Oliveira, comandante; José Dias Laranjeira, imediato; Francisco Silvestre, 2º piloto; Cândido Cruz, contra-mestre; José Cageira, António de Oliveira e Pedro Lopes, marinheiros; João Charrão e Renato Ricardo, moços; António Cruz Paiva, 1º maquinista; Horácio Santos Simões, 2º maquinista; Álvaro Santos Alves, 3º maquinista; António Pedroso, António Cunha e José Santos, fogueiros; Francisco Beato e António Silva, chegadores; João Brito Namorado, cozinheiro; José Maria, ajudante de cozinheiro; Henrique dos Reis e João Silva, criados.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 26 de Julho de 1940)

Aos náufragos do vapor “Alpha” foram concedidas passagens
para as suas terras e um subsídio pecuniário
No Instituto de Socorros a Náufragos apresentaram-se, ontem, os náufragos do vapor “Alpha” que se afundou no mar do Norte, em 15 do corrente. Foram-lhes dadas passagens para as suas terras e um subsídio pecuniário.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 28 de Julho de 1940)

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