O naufrágio do vapor “Roumania”
1ª Parte
Horroroso naufrágio - 120 mortos
Leiria, 28 de Outubro – Naufragou ontem (28.10.1892), há 1 hora da noite, na Foz do Arelho, praia do concelho de Óbidos, o paquete inglês “Roumania”, procedente de Liverpool e com destino a Bombaim. Morreram 120 pessoas, escapando apenas dois passageiros e sete homens da tripulação, que chegaram hoje, ao meio-dia, a Peniche. O vapor trazia a bordo 55 passageiros e 74 tripulantes.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 29 de Outubro de 1892
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 29 de Outubro de 1892
O naufrágio do paquete “Roumania
Horrorosos pormenores
Horrorosos pormenores
Leiria, 29 de Outubro – Ignora-se por enquanto a causa do naufrágio do vapor “Roumania”. Ontem apareceram nove cadáveres e uma criança no berço.
A carga do vapor constava de fazendas, cerveja e vinhos. Na lagoa de Óbidos andam à tona de água muitos barris. Os guardas-fiscais têm apanhado poucos despojos e algumas peças de pano-cru.
Foram arrebatados pelo mar três homens que andavam apanhando despojos. Os náufragos que se salvaram estão no hospital de Peniche.
Peniche, 29 de Outubro às 7 horas e 53 minutos da tarde – O paquete inglês “Roumania”, procedente de Liverpool e com destino a Bombaim, naufragou, pela 1 hora da madrugada, no sítio denominado «Gronho», completamente despovoado e a 15 quilómetros de Peniche. A noite estava tempestuosa.
Vinham a bordo 77 tripulantes e 55 passageiros. Apenas se salvaram o capitão Hamilton e o tenente Rooke, das tropas da Índia, e sete índios lascares, que faziam parte da tripulação. O sinistro foi causado por desvio de rumo, devido à cerração e mar de grossa vaga.
A carga, que era importante e que se compunha de muitos fardos de tecidos, máquinas industriais e agrícolas, algodões e outras fazendas várias, foi quase toda ao fundo do mar com o paquete e as 123 vítimas!
Neste importante ponto da costa não há salva-vidas nem serviço montado de socorros a náufragos. Em compensação a natureza dotou esta população de muito arrojo, humanidade e carinho. Todos acorreram para tratar dos náufragos, protege-los e curar-lhes os ferimentos que todos mais ou menos receberam no desastre quando lutavam com o elemento imenso da água para salvar as suas vidas.
O sr. Ministro da Guerra mandou recolher ao Hospital Militar os oficiais salvos, que estão sendo cercados dos maiores cuidados prodigalizados pelos médicos e oficiais ali destacados.
Peniche, 29 de Outubro às 8 horas e 15 minutos da noite – Vão aparecendo os cadáveres das vitímas do horroroso naufrágio do paquete “Roumania”. Está vindo também à praia alguma carga, que vai sendo arrecadada pela guarda-fiscal.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 29 de Outubro de 1892
A carga do vapor constava de fazendas, cerveja e vinhos. Na lagoa de Óbidos andam à tona de água muitos barris. Os guardas-fiscais têm apanhado poucos despojos e algumas peças de pano-cru.
Foram arrebatados pelo mar três homens que andavam apanhando despojos. Os náufragos que se salvaram estão no hospital de Peniche.
Peniche, 29 de Outubro às 7 horas e 53 minutos da tarde – O paquete inglês “Roumania”, procedente de Liverpool e com destino a Bombaim, naufragou, pela 1 hora da madrugada, no sítio denominado «Gronho», completamente despovoado e a 15 quilómetros de Peniche. A noite estava tempestuosa.
Vinham a bordo 77 tripulantes e 55 passageiros. Apenas se salvaram o capitão Hamilton e o tenente Rooke, das tropas da Índia, e sete índios lascares, que faziam parte da tripulação. O sinistro foi causado por desvio de rumo, devido à cerração e mar de grossa vaga.
A carga, que era importante e que se compunha de muitos fardos de tecidos, máquinas industriais e agrícolas, algodões e outras fazendas várias, foi quase toda ao fundo do mar com o paquete e as 123 vítimas!
Neste importante ponto da costa não há salva-vidas nem serviço montado de socorros a náufragos. Em compensação a natureza dotou esta população de muito arrojo, humanidade e carinho. Todos acorreram para tratar dos náufragos, protege-los e curar-lhes os ferimentos que todos mais ou menos receberam no desastre quando lutavam com o elemento imenso da água para salvar as suas vidas.
O sr. Ministro da Guerra mandou recolher ao Hospital Militar os oficiais salvos, que estão sendo cercados dos maiores cuidados prodigalizados pelos médicos e oficiais ali destacados.
Peniche, 29 de Outubro às 8 horas e 15 minutos da noite – Vão aparecendo os cadáveres das vitímas do horroroso naufrágio do paquete “Roumania”. Está vindo também à praia alguma carga, que vai sendo arrecadada pela guarda-fiscal.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 29 de Outubro de 1892
O grande naufrágio em Óbidos
Publicam-se hoje novos pormenores do horrível naufrágio de um paquete, ocorrido na costa do concelho de Óbidos e no qual morreram 123 pessoas. Os correspondentes de Leiria e de Peniche ampliam as notícias a respeito de tão horrível catástrofe.
O naufrágio do vapor “Roumania”
Peniche, 31 de Outubro – Do vapor “Roumania” apenas se vê parte da proa e da popa. O casco tem sido desfeito pelas vagas e têm sido arrojados à praia muitos artigos que faziam parte da carga, dos quais o povo também se tem aproveitado. O valor da carga deve ser superior a 400:000$000 réis.
O capitão do vapor chama-se W.S. Young e já há anos havia naufragado quando comandava o vapor “Anaulia”. Conta a tripulação salva que estavam todos recolhidos quando se ouviu um choque seguido de outros. O capitão ainda veio ao convés, mas o vapor submergiu-se logo.
Tem aparecido alguns cadáveres de homens, senhoras e crianças, que não se puderam reconhecer. Apenas um deles, diz-se que é de uma senhora chamada Lellie.
As fazendas salvas e que constam de fardos de chitas e outros tecidos de algodão, barris de cerveja, etc., tem sido conduzidas para a alfândega de Peniche. Para ser evitado o roubo de salvados o administrador do concelho requisitou uma força de cavalaria. A guarda-fiscal tem tido denúncia de várias casas onde existem salvados já subtraídos e, por isso, vão ser feitas algumas buscas.
São aqui esperados o cônsul inglês em Lisboa, o engenheiro Douvers e o aspirante da alfândega Marcolino de Almeida, e o representante da Anchor Line, à qual pertencia o vapor “Roumania”. A firma Mascarenhas & Cª. declarou que era representante do capitão do navio, e que desejava por isso assumir a direcção dos trabalhos de salvamento.
Tem sido expedidas de Inglaterra para aqui muitas comunicações, pedindo notícias sobre os passageiros do paquete. Algumas dessas comunicações patenteiam bem o desespero das famílias dos infelizes vítimas do horrível naufrágio. Há uma comunicação que verdadeiramente compunge: Um indivíduo de Manchester, sabendo que morreram dois irmãos que vinham a bordo, pede notícia do aparecimento dos corpos dos infelizes e solicita encarecidamente que sepultem os cadáveres reverentemente, prontificando-se a pagar todas as despesas e indicando que o capitão Hamilton poderá reconhecer esses cadáveres.
Idênticas solicitações têm sido dirigidas não só às autoridades de Peniche como, especialmente, ao capitão militar Hamilton, que se salvou do naufrágio e que aqui permanece ainda, para reconhecer os cadáveres e dar informação sobre os objectos que o mar arroja à costa. No naufrágio morreram umas poucas de criancinhas que o mar devorou abraçadas às mães. A sra. Burgess e uma filhinha ali morreram.
O capitão Hamilton relata cenas verdadeiramente lancinantes, passadas, em alguns segundos, no meio do bramir do mar e no seio da escuridão de uma noite de tempestade.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 1 de Novembro de 1892)
O capitão do vapor chama-se W.S. Young e já há anos havia naufragado quando comandava o vapor “Anaulia”. Conta a tripulação salva que estavam todos recolhidos quando se ouviu um choque seguido de outros. O capitão ainda veio ao convés, mas o vapor submergiu-se logo.
Tem aparecido alguns cadáveres de homens, senhoras e crianças, que não se puderam reconhecer. Apenas um deles, diz-se que é de uma senhora chamada Lellie.
As fazendas salvas e que constam de fardos de chitas e outros tecidos de algodão, barris de cerveja, etc., tem sido conduzidas para a alfândega de Peniche. Para ser evitado o roubo de salvados o administrador do concelho requisitou uma força de cavalaria. A guarda-fiscal tem tido denúncia de várias casas onde existem salvados já subtraídos e, por isso, vão ser feitas algumas buscas.
São aqui esperados o cônsul inglês em Lisboa, o engenheiro Douvers e o aspirante da alfândega Marcolino de Almeida, e o representante da Anchor Line, à qual pertencia o vapor “Roumania”. A firma Mascarenhas & Cª. declarou que era representante do capitão do navio, e que desejava por isso assumir a direcção dos trabalhos de salvamento.
Tem sido expedidas de Inglaterra para aqui muitas comunicações, pedindo notícias sobre os passageiros do paquete. Algumas dessas comunicações patenteiam bem o desespero das famílias dos infelizes vítimas do horrível naufrágio. Há uma comunicação que verdadeiramente compunge: Um indivíduo de Manchester, sabendo que morreram dois irmãos que vinham a bordo, pede notícia do aparecimento dos corpos dos infelizes e solicita encarecidamente que sepultem os cadáveres reverentemente, prontificando-se a pagar todas as despesas e indicando que o capitão Hamilton poderá reconhecer esses cadáveres.
Idênticas solicitações têm sido dirigidas não só às autoridades de Peniche como, especialmente, ao capitão militar Hamilton, que se salvou do naufrágio e que aqui permanece ainda, para reconhecer os cadáveres e dar informação sobre os objectos que o mar arroja à costa. No naufrágio morreram umas poucas de criancinhas que o mar devorou abraçadas às mães. A sra. Burgess e uma filhinha ali morreram.
O capitão Hamilton relata cenas verdadeiramente lancinantes, passadas, em alguns segundos, no meio do bramir do mar e no seio da escuridão de uma noite de tempestade.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 1 de Novembro de 1892)
O naufrágio do paquete “Roumania”
São verdadeiramente horrorosos os pormenores que vão sendo conhecidos acerca do sinistro com o vapor inglês “Roumania”. Publicamos em seguida alguns desses pormenores, ampliando as notícias sobre a catástrofe, que tem chegado desde Leiria e Peniche.
Na praia da Junceira apareceram quatro cadáveres, um de mulher e três de crianças, que teriam uma 7 meses, outra 4 anos e a terceira 10. Na praia do Gronho apareceram mais 6 cadáveres, sendo 4 de mulheres, entre as quais uma indiana, e dois de homens.
Na margem da lagoa apareceram os cadáveres de duas meninas de 3 e 4 anos, de uma mulher adulta e de um negro indiano. A mulher e as crianças, pelos fragmentos do vestuário, anéis e cuidado de unhas, deviam ser pessoas finas. O negro seria tripulante; apenas vestia uma tanga. De umas feridas na senhora vertia sangue. Seguindo, na costa do oceano (praia de banhos), apareceram mais três cadáveres de mulheres, sendo um de preta, também indiana, um pouco mais bem vestida, com bom fato, um botão de ouro encravado numa venta e as mãos e cara pintadas com alguma arte. Tinha furos nas orelhas, mas os brincos e um cinto com moedas de ouro e prata dizia-se que foram roubados. Os cadáveres das duas outras mulheres, pelos fragmentos do vestuário, anéis, e por tudo o mais, levam a crer que eram pessoas de fino trato. Na camisa da mais nova, de uns 30 anos, lia-se a marca a tinta - «Ida Pizani».
Apareceram também algumas folhas de um álbum de retratos, sem estes, de grande formato e luxuoso; numa das folhas, em que devia estar um retrato, lia-se em inglês e com os caracteres bem traçados: «A minha preciosa filha Lillie Burgess, do seu extremoso pai John Hay. Edimburgo, 14 de Outubro de 1892».
Dizia o jornal “A Tarde”, de Lisboa, recebido ontem:
«Por pessoa que hoje chegou do local onde se deu o naufrágio do paquete “Roumania”, sabe-se que tem dado à praia da Junceira (Foz) grande número de cadáveres que se acham ainda cobertos com trapos, sem estarem enterrados.
Tem sido roubadas quase todas as bagagens e mais objectos que aparecem na praia, havendo casas que se acham cheias desses objectos. Foi preciso por algumas vezes a guarda-fiscal abrir fogo sobre os indivíduos que pelos matos e em carros levam os fardos roubados.
Dos 9 náufragos que estavam no hospital já faleceram 3. Apareceu o cadáver do comandante. Está junto de um rochedo, na praia de Gronho, meio enterrado na areia e horrivelmente desfigurado.
Uma senhora, que estava a tomar banho na lagoa da Foz, próximo da praia de Gronho, encontrou com os pés um cofre, que foi depois apreendido pelo capitão da guarda-fiscal.
Não se descrevem as cenas de vandalismo que se tem dado na praia. Os cadáveres estão insepultos desde o dia 27».
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 2 de Novembro de 1892)
Na praia da Junceira apareceram quatro cadáveres, um de mulher e três de crianças, que teriam uma 7 meses, outra 4 anos e a terceira 10. Na praia do Gronho apareceram mais 6 cadáveres, sendo 4 de mulheres, entre as quais uma indiana, e dois de homens.
Na margem da lagoa apareceram os cadáveres de duas meninas de 3 e 4 anos, de uma mulher adulta e de um negro indiano. A mulher e as crianças, pelos fragmentos do vestuário, anéis e cuidado de unhas, deviam ser pessoas finas. O negro seria tripulante; apenas vestia uma tanga. De umas feridas na senhora vertia sangue. Seguindo, na costa do oceano (praia de banhos), apareceram mais três cadáveres de mulheres, sendo um de preta, também indiana, um pouco mais bem vestida, com bom fato, um botão de ouro encravado numa venta e as mãos e cara pintadas com alguma arte. Tinha furos nas orelhas, mas os brincos e um cinto com moedas de ouro e prata dizia-se que foram roubados. Os cadáveres das duas outras mulheres, pelos fragmentos do vestuário, anéis, e por tudo o mais, levam a crer que eram pessoas de fino trato. Na camisa da mais nova, de uns 30 anos, lia-se a marca a tinta - «Ida Pizani».
Apareceram também algumas folhas de um álbum de retratos, sem estes, de grande formato e luxuoso; numa das folhas, em que devia estar um retrato, lia-se em inglês e com os caracteres bem traçados: «A minha preciosa filha Lillie Burgess, do seu extremoso pai John Hay. Edimburgo, 14 de Outubro de 1892».
Dizia o jornal “A Tarde”, de Lisboa, recebido ontem:
«Por pessoa que hoje chegou do local onde se deu o naufrágio do paquete “Roumania”, sabe-se que tem dado à praia da Junceira (Foz) grande número de cadáveres que se acham ainda cobertos com trapos, sem estarem enterrados.
Tem sido roubadas quase todas as bagagens e mais objectos que aparecem na praia, havendo casas que se acham cheias desses objectos. Foi preciso por algumas vezes a guarda-fiscal abrir fogo sobre os indivíduos que pelos matos e em carros levam os fardos roubados.
Dos 9 náufragos que estavam no hospital já faleceram 3. Apareceu o cadáver do comandante. Está junto de um rochedo, na praia de Gronho, meio enterrado na areia e horrivelmente desfigurado.
Uma senhora, que estava a tomar banho na lagoa da Foz, próximo da praia de Gronho, encontrou com os pés um cofre, que foi depois apreendido pelo capitão da guarda-fiscal.
Não se descrevem as cenas de vandalismo que se tem dado na praia. Os cadáveres estão insepultos desde o dia 27».
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 2 de Novembro de 1892)
O naufrágio do vapor “Roumania”
Peniche, 1 de Novembro – Chegou aqui o rev. Pope, capelão da igreja inglesa, que vem acompanhar e rezar os ofícios religiosos às vítimas, cujos cadáveres foram encontrados e vão ser enterrados em Óbidos.
Foi feita hoje autópsias aos cadáveres. O governo ordenou que se façam enterros decentes. Consta que serão feitos caixões funerários, sendo forrados internamente de zinco e por fora de paninho.
Dos náufragos sobreviventes o capitão Hamilton está enfermo e muito abatido, o tenente Rooke ferido e coxo, e dois indianos gravemente feridos e com muita febre. Um dos indianos salvos é natural de Salsete, Índia portuguesa.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 2 de Novembro de 1892)
Foi feita hoje autópsias aos cadáveres. O governo ordenou que se façam enterros decentes. Consta que serão feitos caixões funerários, sendo forrados internamente de zinco e por fora de paninho.
Dos náufragos sobreviventes o capitão Hamilton está enfermo e muito abatido, o tenente Rooke ferido e coxo, e dois indianos gravemente feridos e com muita febre. Um dos indianos salvos é natural de Salsete, Índia portuguesa.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 2 de Novembro de 1892)
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