terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Efeméride


O naufrágio do paquete “Veronese”
1906 - 1913

Cumprem-se nesta data (16 de Janeiro de 1913) exactamente 100 anos sobre aquele que é considerado o segundo maior naufrágio ocorrido na costa portuguesa – o mais grave terá sido o naufrágio do vapor “Porto”, na barra do rio Douro a 28 de Março de 1852, no qual resultou a morte de 37 passageiros e 29 tripulantes.

Anúncio da companhia - As carreiras para a América do Sul

O paquete “Veronese” era um navio inglês pertencente à companhia Lamport & Holt Line, construído nos estaleiros de Workman, Clark & Co., Ltd., de Belfast, durante o ano de 1906 e representado em Leixões pela agência Garland, Laidley & Cª., Lda. Posicionado inicialmente nas carreiras que a empresa mantinha para o extremo oriente, estava esperado entrar no porto de Leixões numa segunda escala, com destino aos portos do Rio de Janeiro, Santos, Buenos Aires e Montevideu, para onde devia receber alguma carga e completar o embarque de mais alguns passageiros para o Brasil.

A comunicação com o navio através de sinais de bandeiras

O navio que navegava com uma equipagem composta por 93 tripulantes, tinha 7.039 toneladas de arqueação bruta, quase 142 metros de comprimento, 18 metros de largura, um motor de tripla-expansão que lhe assegurava uma capacidade para navegar a 12 milhas por hora e dispunha de camarotes para 1ª., 2ª. e 3ª. classes, já parcialmente ocupados por 20 passageiros embarcados em Liverpool e ainda 119 passageiros, na sua maioria espanhóis, entrados a bordo na antevéspera do sinistro, no porto de Vigo.

Fotos dos patrões Aveiro e Lagoa dos salva-vidas
de Leixões e da Póvoa de Varzim

As causas do encalhe repartem-se por diversos aspectos; o mau tempo que se fazia sentir, com chuva intensa, vento forte do quadrante oeste, algum nevoeiro dificultando em larga medida as condições de visibilidade e a completa ausência de iluminação no litoral. Daí que a aproximação à costa, durante a noite (o navio encalhou às 4 horas da madrugada), enfrentando a referida adversidade climatérica a que se junta vaga alterosa, propiciaram o acidente, levando o navio a cair sobre o fundo rochoso do baixo do “Lenho”, a cerca de 250 metros da praia, um pouco a norte do local onde está actualmente instalado o farol de Leça.

O paquete "Veronese" condenado à destruição pelo mar

Todas estas condicionantes levaram até à praia da Boa Nova, uma enorme quantidade de meios de salvamento, com largo contingente de bombeiros ali colocados pelas Corporações da Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Leça da Palmeira, Matosinhos, Porto e Vila Nova de Gaia, forças militares (com destaque para a Marinha) e paramilitares (Polícia de Segurança, Guarda-Republicana e Guarda-Fiscal). Além destes participantes, revelaram-se fundamentais para o sucesso das operações de salvamento os salva-vidas “Porto”, de Leixões e o “Cego do Maio” da Póvoa de Varzim, bem como um considerável número de populares.
Resta acrescentar da importância da Cruz Vermelha no apoio aos náufragos, tendo igualmente estado presentes no local do naufrágio três equipas médicas em permanência, apoiados por grupos de enfermeiros e assistidos por diversas senhoras da melhor sociedade local, cujos sentimentos altruístas foram grandemente elogiados.
No rescaldo do naufrágio, apesar de todos os esforços registaram-se 40 vítimas mortais, 5 das quais pertenciam à tripulação do navio. Do paquete que se encontrava seguro no Lloyds em 100 mil libras e o carregamento em 150 mil, pouco foi possível salvar. Apenas nalguns casos foi recuperada parte da bagagem dos passageiros e alguns equipamentos de bordo, transportados de regresso a Inglaterra num outro paquete da companhia, vindo a Leixões para esse efeito.

Os interessados que pretendam visualizar um pequeno filme deste sinistro através da internet, poderão fazê-lo acedendo ao sítio «Cinemateca- Naufrágio Veronese».

2 comentários:

Rui Amaro disse...

Ahoy
Ao reler o teu texto sobre o naufrágio do Lamport & Holt liner VERONESE, veio-me à ideia um episódio passado com o meu pai, então com 13 anos de idade e já com cédula marítima, de pescador e moço das embarcações dos pilotos.
Acontece que o menino Zé Fernandes, soube do naufrágio, e foi até à praia da Boa Nova juntamente com a carreta do material de socorros a náufragos da respectiva estação da Foz do Douro, e por lá andou três dias e três noites perdido e ao Deus dará, alimentando-se do que alguém lhe pudesse ter dado. Chegado a casa na Cantareira, tinha-o à espera o pai, que não era para brincadeiras, e levou umas "boas cinturadas", que nunca mais as esqueceu.
Há época do naufrágio a razão social da firma consignatária,era Garland, Laidley & Co., Ltd., na qual tive o prazer de trabalhar ainda com esse nome, e a escrita era em Inglês, isto ainda nos anos 60.
Saudações marítimo-entusiásticas
Rui Amaro

Rui Amaro disse...

Ahoy
A carreta era puxada por populares voluntários
Rui Amaro