sábado, 12 de junho de 2021

História trágico-marítima (CCCXV)


O encalhe do vapor “Sofala”, em Leixões

O vapor “Sofala” embateu nas pedras do esporão de Leixões,
sofrendo um rombo à proa, daí resultando ficar sem governo e
com os porões alagados
Mais um sinistro à entrada do porto de Leixões, que não teve, felizmente, consequências trágicas, mas a verdade é que provocou alarme. Se bem que, de momento, não é conhecido a quem atribuir responsabilidades, a realidade é que, cerca das 6 horas e meia da manhã, o “Sofala”, da Companhia Nacional de Navegação, embateu contra as pedras do esporão no molhe norte de Leixões, sofrendo um enorme rombo à proa, que o impossibilitou de entrar no porto.
É certo que o navio, que saíra de Lisboa pelas 16 horas de ontem, sob o comando do sr. Gustavo Peixe e tendo como oficial imediato o sr. Francisco Ramos Gonçalves, não perdeu a nevegabilidade, mas o primeiro e o segundo porões ficaram inundados, e devido ao sinistro abincou de proa, perdendo o governo, visto que o leme e a hélice ficaram fora da água.
Perante a impossibilidade de navegar e enquanto na capitania eram tomadas providências, o comandante do navio ordenou que fosse lançado um ferro no local, até que chegassem socorros. Entretanto, a bordo – e por ordem das autoridades marítimas – apareciam os bombeiros locais, que trabalharam no sentido de evitar que os outros porões fossem atingidos.
O “Sofala” que tinha previsto carregar em Leixões, três mil toneladas de carga diversa, contava dentro de breves dias largar com destino a Luanda. Construído na Alemanha e adquirido pela companhia proprietária, em 1942, desloca 12.000 toneladas. A fim de seguirem, de perto, os trabalhos de escoamento da água no navio sinistrado, que deve ser comboiado até ao Tejo pelos rebocadores “D. Luís” e “Aveiro”, vieram de Lisboa os srs. comandantes Celestino Ramos e Noronha de Andrade, administradores da Companhia Nacional de Navegação. O rombo, segundo consta, é de fácil reparação, pelo que o “Sofala”, em breve, seguirá viagem.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 15 de Outubro de 1950
Foto do vapor "Sofala - Postal ilustrado
 
Características do vapor “Sofala”
Armador: Companhia Nacional de Navegação, Lisboa
Nº oficial: G-456 - Iic: C.S.K.E. - Porto de registo: Lisboa 4.9.1943
Construtor: Bremer Vulkan, Vegesack, Alemanha, 1927
ex “Aller”, Norddeutscher Lloyd, Bremen, 1927-1942
Arqueação: Tab 7.820,83 tons - Tal 4.777,44 tons
Dimensões: Ff 160,92 mt - Pp 154,06 mt - Boca 19,24 mt - Ptl 8,62 mt
Propulsão: Bremer Vulkan, 1:Te - 4:Ci - 5500 Ihp - Veloc. 13 nós

O “Sofala” chega hoje, a Lisboa, a fim de reparar o rombo que sofreu
Os rebocadores de alto mar “Aveiro” e “D. Luís”, que eram esperados durante a madrugada, de ontem, para rebocarem o navio da marinha mercante “Sofala” para Lisboa, só chegaram ao largo do porto de Leixões por volta das 7 horas e meia, depois de terem feito a viagem na máxima velocidade.
Entretanto, o pessoal de bordo, sob a orientação superior dos engenheiros e técnicos da companhia armadora, procederam ao reforço, por meio de barrotes, da diversa carga que transportava nos porões, enquanto as corporações dos bombeiros, continuavam na tarefa de escoar a água que entrava nos porões um e dois, pelo rombo que o navio sofrera, na proa, abaixo da linha de flutuação.
Os referidos rebocadores depois de passaram amarras ao “Sofala”, seguiram viagem para o porto de Lisboa, às 9 horas e meia, levando a bordo algum pessoal dos bombeiros, bem como o piloto da barra, sr. Luiz Ventura. Segundo notícias recebidas, ao final da tarde, da empresa proprietária do navio, o “Sofala” estava a navegar a uma milha por hora, estando prevista a chegada a Lisboa, ao meio dia, de hoje, desde que a viagem continue a decorrer normalmente, durante a noite.
Fonte: Jornal “Comércio do Porto”, segunda, 16 de Outubro de 1950

Pelo trabalho que realizou, porque a ele se deve o salvamento do navio, venho lembrar o piloto Luiz Ventura, amigo da família, um notável Figueirense, com carreira feita, tal como o capitão do navio, muitos anos na pesca do bacalhau. Ainda, para dizer o que não ficou dito, a melhor forma, senão única, para rebocar o navio, foi ter sido puxado pela ré, o que explica o largo tempo utilizado para chegar a Lisboa.

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