terça-feira, 1 de junho de 2021

História trágico-marítima (CCCXII)


O encalhe do vapor “Almanzora”, ao norte do Cabo Espichel
Pouco depois da 1 hora da tarde, no Arsenal de Marinha foi recebido um telegrama de S. Julião da Barra, participando que se encontrava encalhado ao norte do Cabo Espichel o paquete inglês “Almanzora”. O agente da Mala Real Inglesa, a que o “Almanzora” pertence, deu ordens no sentido de que fossem prestados os indispensáveis socorros, partindo para o local do sinistro.
Até à presente hora, apenas se sabe que o paquete encalhou em frente da lagoa de Albufeira. Para ali partiram oito barcos, a fim de prestar socorros, tendo também acorrido ao local o aviso “5 de Outubro”, que anda em viagem de instrução.
O “Almanzora” é um dos melhores navios da Mala Real Inglesa, tendo mais de 15.000 toneladas. A bordo vêm cerca de 1.200 passageiros, de nacionalidade espanhola, inglesa, brasileira e portuguesa. Esperam que, na maré da madrugada, o vapor seja salvo.
Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 8 de Setembro de 1921
O paquete “Almanzora” continua encalhado,
tendo desembarcado os passageiros
Desembarcaram hoje, pela 1 hora da tarde, no Posto de Desinfecção 308 passageiros, que com destino aos portos de Lisboa, Vigo, Cherbourg e Southampton seguiam viagem a bordo do paquete “Almanzora”, da Mala real Inglesa, que ontem encalhou na areia, ao norte do Cabo Espichel, entre o sítio da Fonte Velha e Cabo Malha.
Esta manhã, cerca das 10 horas, foram realizadas novas tentativas para safar o navio, tendo sido todas inuteis. Foi depois disso que resolveram tratar do desembarque dos passageiros e respectivas bagagens. O transporte foi efectuado pelos rebocadores “Júpiter”, “Tejo” e “Josefina”, logo a seguir às 10 horas. Junto ao “Almanzora” estão vários rebocadores, entre os quais o “Minho”, o “Castor”, o “Ferra”, o “Bico”, o “Argentina” e o “Pátria”.
Ainda não estão perdidas de todo as esperanças de que o paquete se consiga salvar, visto que apesar do “Almanzora” se encontrar profundamente enterrado na areia, o mar não tem sido muito violento nestes últimos dias, pelo que é possível que os rebocadores consigam desencalhá-lo.
Além dos rebocadores encontram-se no local do sinistro quatro fragatas, que para ali seguiram às 9 horas de hoje, a reboque do vapor “Milhafre” da agência, a fim de para elas ser baldeada a carga, contribuindo para aliviar o navio.
Para Lisboa vinham apenas 85 passageiros, sendo que a maioria veio com destino a Vigo, procedentes de Montevideu, Buenos Aires, Baía e Pernambuco. Os passageiros para Lisboa são na sua maioria trabalhadores, que regressam dadas as dificuldades encontradas no Brasil para conseguirem empregos. Entre eles notam-se muitas mulheres, quase todas das províncias do Minho, Beira e Trás-os-Montes.
Os passageiros em transito foram hospedados em vários hoteis por conta da agência e amanhã seguirão por terra todos os passageiros que se destinam a Vigo. Os outros vão esperar que o “Almazora” se safe, e, em caso contrário embarcarão noutro navio da Mala Real Inglesa, ou em alternativa seguirão também por terra. Todos os passageiros se mostram muito reconhecidos para com a oficialidade do paquete e em especial ao comandante Frigge, o qual é o segundo em antiguidade na escala dos capitães da Mala Real Inglesa. Um dos passageiros disse que a viagem foi sempre excelente, não se tendo registado o mais pequeno incidente a bordo, de tal forma que o encalhe do “Almanzora” passou despercebido, pois quase todos os viajantes se encontravam ainda nos seus camarotes.
O dia havia amanhecido bastante claro e só perto do Cabo Espichel um denso nevoeiro rodeou o navio, a ponto do piloto não distinguir sequer a proa do navio. Quando o choque se deu, para a maioria dos passageiros, as sereias de bordo do “Almanzora” deram o sinal de alarme, e, mesmo muito tempo depois do sinistro era desconhecido a bordo o ponto em que o acidente se dera, não tendo sido interrompida a vida normal dos passageiros, que permaneciam entregues às suas diversões habituais.
Para essa tranquilidade contribuiu a atitude da oficialidade do navio e a serenidade do mar. Na noite passada, ainda o «bar» do “Almanzora” esteve repleto, reinando sempre a maior animação. Espera-se que o navio consiga safar-se esta noite ou amanhã de manhã.
Entretanto, a descarga dos porões foi iniciada ontem à tarde, sendo o carregamento constituido, em grande parte, por sacos com milho.
O capitão do porto de Cascais comunicou às autoridades de marinha que o capitão do paquete “Almanzora” não aceitou o oferecimento do navio “5 de Outubro” para puxar e desembarcar os passageiros, a fim de conduzi-los para Cascais. São esperados amanhã em Lisboa três rebocadores ingleses, que vem tratar dee salvar o “Almanzora”.
Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 9 de Setembro de 1921
O paquete “Almanzora” continua encalhado
Os seus passageiros
Não se modificou ainda a situação do paquete inglês “Almanzora”, encalhado nos bancos de areia junto ao Cabo Espichel, estando a ser aguardada a chegada de quatro poderosos rebocadores ingleses, que vem tentar salvá-lo. Hoje continuaram a descarga das mercadoria que conduzia.
O inspector dos serviços de Socorros a Náufragos fez constar à Mala Real Inglesa, que tinha todo o material de salvamento pronto a seguir, caso fosse necessário. Todos os serviços que estão a ser efectuados correm por conta e responsabilidade da companhia.
Esta noite seguiram, por terra, os passageiros que se destinavam ao Porto, Vigo e França. Os restantes aguardam a chegada de outro navio da Mala Real Inglesa, para seguirem aos seus destinos, caso o “Almanzora” não se salve.
Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 10 de Setembro de 1921

O paquete “Almanzora”
Não se modificou a sua situação
No dia de hoje fizeram várias tentativas para desencalhá-lo, mas ainda sem resultado. Para libertar o navio aguardam uma preia-mar mais forte, havendo esperança que os dois poderosos rebocabores ingleses, que chegaram de Gibraltar, o consigam.
De bordo do navio foi hoje atirado ao mar carga de açucar e milho, que se destinava a Lisboa.
Os passageiros que não seguiram por terra, embarcaram esta tarde no “Orcana” (?), da Mala Real Inglesa, que deve saiu poucas horas depois de entrar no Tejo.
Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 11 de Setembro de 1921
O paquete “Almanzora”
Não mudou de situação
Continua encalhado o paquete inglês “Almanzora”, sendo esperado que dentro de breves dias, as marés vivas sejam o melhor auxílio para retirar aquele vapor da posição em que se encontra. Aguardam também a chegada do terceiro rebocador inglês, para auxiliar no trabalho dos outros dois que já cá estão.
Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 13 de Setembro de 1921

O paquete “Almanzora”
Foi hoje salvo, tendo entrado no Tejo
Foi hoje posto a flutuar o paquete “Almanzora”, da Mala Real Inglesa, que há vários dias esteve encalhado próximo de Cascais, entrando hoje mesmo no Tejo.
O desencalhe deve-se aos esforços do grande rebocador inglês “Salvater”, conjugados com os dos outros dois da mesma nacionalidade e os dois portugueses, que desde o princípio se encontravam no local onde o “Almanzora” encalhou.
Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 14 de Setembro de 1921

O “Almanzora” levantou ferro hoje
Às 17 horas levantou ferro o paquete “Almanzora”, da Mala Real Inglesa, que esteve encalhado ao norte do Cabo Espichel.
Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 15 de Setembro de 1921

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