segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A decadência da Marinha Mercante


Ontem, tal como hoje, com um "Despacho 100" pelo meio!...

Lisboa, 6 de Fevereiro – Uma comissão composta pelos srs. Joaquim Antunes Ferreira, armador de Lisboa; Antero Ferreira de Araújo e Silva, presidente do Conselho Regional da Liga Naval do Porto; António Eduardo Glama e Bernardino Vareta, armadores da praça do Porto, conferenciou com o sr. ministro da Marinha, expondo a situação decadente em que se encontra a marinha mercante, reduzida a amarrar os seus navios por não poder suportar a concorrência estrangeira nos seus próprios portos.

Foto do vapor "Loanda" da Empresa Nacional
Imagem retirada do blog "Restos de colecção"

Verificada a lista de navios portugueses relativa a 1903, apenas constam 14 vapores, todos eles paquetes para transporte de carga e passageiros, a operar para destinos diversos. Dois dos armadores estavam sediados em Lisboa; a Empresa Nacional tinha uma frota de navios utilizados na ligação com as colónias em África, enquanto a Empresa Insulana cobria o tráfego para os arquipélagos dos Açores e da Madeira. Dois outros armadores tinham sede no Porto; a Companhia Progresso Marítimo, apenas com um navio nesta altura, realizava durante um pequeno período de tempo viagens para o Brasil e a casa Andresen, com dois vapores, mantinha com alguma regularidade a ligação com portos nos Estados Unidos. Depois, há uma quantidade de outros navios de dimensão média, tais como barcas, galeras, lugres, patachos, escunas, iates, etc., etc., privilegiando a navegação à vela. Os vapores de ferro e aço eram construídos na sua maioria em Inglaterra. Por cá e ainda por muitos anos a construção de navios continuou a ser feita em madeira. Porque o carvão era caro, o vento barato e o atraso em relação aos países do norte da Europa, enorme!...

Ponderou a comissão que, sendo a marinha mercante uma das indústrias mais importantes e protegidas em todos os países, é a única que não tem protecção entre nós. A sua perda acarretará enormes prejuízos para a economia nacional e para as muitas famílias que vivem desta indústria.
Além das medidas a adoptar, que exigem largo e demorado estudo, alguma coisa se deve fazer já, imediatamente, sendo a primeira medida que a comissão julga absolutamente necessária a abolição completa dos direitos de carga para navios portugueses, que já foi reduzida a 50 p.c., por decreto de 21 de Maio de 1897, e que não pode subsistir de maneira alguma para a navegação nacional.
Expôs ainda a comissão que a navegação estrangeira, nos nossos portos, paga uma insignificância para o Estado, relativamente ao que se paga lá fora, onde os nossos navios são sobrecarregados com despesas extraordinárias, não havendo, portanto, reciprocidade entre os encargos que a navegação tem em portos estrangeiros e os encargos que a navegação estrangeira tem em portos nacionais.
O sr. ministro da Marinha patenteou à comissão o grande interesse que lhe inspira a marinha mercante nacional, a favor da qual fará quanto esteja na medida das suas forças.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 7 de Fevereiro de 1903)

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