sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Histórias de outros tempos


O direito de resposta…
2ª Parte

Barra do porto de Viana do Castelo, imagem actual
Foto de autor desconhecido - «wordpress.com»

As insinuações que foram divulgadas publicamente, quanto à ineficácia da pilotagem no porto de Viana do Castelo, são plenamente injustas e inexactas e não devem ser deixadas passar em claro e sem reparo, porque há testemunhos presenciais de tudo o que se passou na manhã de 7 de Novembro de 1873, por ocasião de aparecer ao norte da barra um vapor com bandeira encarnada à proa, encontrando-se todos os pilotos disponíveis para o desempenho das suas missões.
Numa carta assinada por João José de Castro, datada de Viana a 20 de Novembro, nela refere discordar dos termos relatados previamente, passando a comentar com rigor a ocorrência, com o seguinte teor:
«Aparecendo ao norte da barra um vapor com bandeira encarnada à proa, fui indagado pelos pilotos se havia alguma previsão de chegada de algum vapor, destinado àquela praça. Como nada constasse a esse respeito, foi-lhes transmitida uma resposta negativa, mas ainda assim dirigi-me à estação semafórica, onde se encontravam alguns pilotos. Confirmada a existência de bandeira vermelha na proa do vapor, foi perguntado aos pilotos o que tencionavam fazer, ao que me foi dito que iriam içar a bandeira de chamar à barra, aguardar a vinda do navio mais para sul e fazer sair ao seu encontro a respectiva catraia da pilotagem.
Na dúvida de saber se o sinal transmitido pela bandeira de «chamar à barra» tinha sido entendido, foi nessa ocasião solicitado ao sr. Conceição, digno encarregado da estação, para que içasse os sinais do novo código (que, segundo o respectivo tratado internacional, devem trazer todos os navios de longo curso), indicando ao vapor que devia seguir para sul, onde estaria a esperá-lo a catraia dos pilotos.
Para que a indicação feita fosse religiosamente cumprida, foi aconselhado aos pilotos para fazerem sair sem demora uma catraia devidamente tripulada, o que foi feito de imediato, indo a catraia tripulada por vinte e tantas pessoas, entre as quais me incluo, pois decidi acompanhá-los na eventualidade de ser necessário um interprete, até 2 milhas ao mar da barra, levando arvorada numa vara uma bandeira encarnada, a fim de bordo do dito vapor podermos ser vistos. E decerto viram-nos, porém, quanto mais nos dirigíamos na sua direcção, mais o vapor se afastava para sudoeste, pelo que analisada a situação, e devido ao mar de vagalhão e correnteza de água ao norte, entendi juntamente com os pilotos, que, para se evitar alguma desgraça era melhor voltarmos para terra, porque o vapor não precisava de nada, nem se importou connosco, caso contrário teria içado as bandeiras dos sinais do novo código e respondia para a estação semafórica.
Da mesma forma podia ter aproado na direcção da catraia, ou aproximava-se mais da barra, pois ainda que fosse de 800 toneladas ou até mesmo se fosse o “Great Eastern”, chegava-se à barra como fazem os vapores-paquetes sem perigo algum; mas não, este vapor desprezou os sinais da estação semafórica e os da catraia, e quis assim decerto fazer o mesmo que ele ou outro da mesma companhia fez em frente ao forte da Ínsua de Caminha neste ano.
Foram vinte ou vinte e tantas pessoas na catraia, porque, estando o mar agitado e não tendo saído os pescadores para o mar, apareceu por isso toda aquela tripulação, pois que, quando há pescaria, é preciso andar a pedir a uns e a outros para guarnecerem as catraias dos pilotos, isto em razão do comércio da cidade ainda não ter podido conseguir uma tripulação permanente para duas catraias a usar em casos idênticos.
O serviço foi remunerado unicamente por mim, porque eles tripulantes e pilotos nenhuma recompensa podiam esperar, mas entendo que, dando-lhes uma gratificação, fazia um serviço ao porto (porque quem trabalha, quer que se lhe pague), e foi como um estímulo para que em situações semelhantes fossem igualmente solícitos e isto lhes servisse de incentivo. Eis pois reposta a verdade como as coisas se passaram e não como o boato que corre, e, pelo que damos a apreciar, os pilotos cumpriram o dever do seu cargo, sendo por esse motivo injustamente sentenciados».

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