segunda-feira, 10 de abril de 2017

História trágico-marítima (CCXI)


O encalhe do navio "Nashaba"

Encalhou na Ericeira, devido ao nevoeiro,
o navio de carga americano “Nashaba”
Ericeira, 17 – Na madrugada de hoje foram ouvidos nesta vila sucessivos apitos da sirene de um vapor, que deveria estar em perigo muito próximo de terra. Havia muita cerração e nada se via para o mar.
No posto da Guarda Fiscal de S. Julião soube-se a breve trecho do que se tratava. O navio de carga americano “Nashaba”, encalhara devido ao nevoeiro, pelas 4 horas, perpendicularmente à praia de S. Julião, que fica imediatamente ao Sul da praia da Baleia.
No momento do encalhe, o comandante do navio expedira um rádio para Lisboa a comunicar o sinistro e a solicitar assistência, visto o navio encontrar-se em situação difícil. Da administração do porto de Lisboa foi mandado seguir para o local o rebocador “Cabo Espichel”, apetrechado para trabalhos de salvamento e com técnicos a bordo.
Compareceu também no local um outro rebocador vindo de Lisboa, mas as primeiras tentativas de salvamento não deram qualquer resultado. O navio encontra-se muito enterrado na areia e não se sabe mesmo se em rocha, mas o mar, em compensação, não está muito agitado. Até agora os tripulantes não correm qualquer risco.
Muitos veraneantes dirigiram-se em pequenos barcos para próximo do navio sinistrado, a fim de assistirem às tentativas de desencalhe.
Na preia-mar das 14 horas e quarenta minutos, os rebocadores deram alguns esticões violentos, mas o navio não cedeu e manteve-se na mesma posição. Está a ser encarada a hipótese de aliviar o navio de parte da carga. Os trabalhos de salvamento continuam.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 18 de Julho de 1940)

Foto do navio "Nashaba" - imagem de autor desconhecido
www.armed-guard.com/sunk.html

Características do navio “Nashaba”
Nº Oficial: N/a - Iic: K.D.S.M. - Porto de registo: Houston, Texas
Armador: Lykes Bros Steamship Co. Inc., Houston, Texas
Construtor: Pacific Coast Shipbuilding Co., Bay Point, California
Arqueação: Tab 6.062,00 tons - Tal 3.776,00 tons
Dimensões: Pp 122,66 mts - Boca 16,15 mts - Pontal 9,75 mts
Propulsão: 1:Tvapor de Kerr Turbine Co., Wellsville, Nova York
Equipagem: 27 tripulantes

O vapor norte-americano “Nashaba” que havia
encalhado na Ericeira seguiu para Lisboa
Ericeira, 18 – O navio americano “Nashaba” que desde ontem se encontrava encalhado na praia de S. Julião, foi esta tarde desencalhado e seguiu para Lisboa, acompanhado pelos rebocadores que intervieram no seu salvamento.
As tentativas de desencalhe feitas durante a noite e a manhã de hoje não deram resultado, mas os técnicos mantinham-se convencidos de que seria possível salvar o navio. Devido ao encalhe ter ocorrido muito próximo de terra, os rebocadores tiveram grande dificuldade em estabelecer as espias de aço com as quais tentariam proceder ao salvamento.
Uma pequena embarcação foi empregada por fim com exito no estabelecimento das espias e, durante a noite, o rebocador “Cabo Espichel” manteve-se ligado por duas espias ao “Nashaba”.
Próximo, manteve-se sempre o vapor dos Pilotos “Comandante Pedro Rodrigues”, cujos serviços de assistência foram também muito importantes, especialmente na fase final dos trabalhos.
Durante a enchente da manhã, foram feitos os últimos preparativos para uma nova tentativa na preia-mar das 15 horas. Numerosas pessoas acorreram ao local para assistir aos trabalhos, fazendo-se transportar em automóveis e em carroças. Os rochedos próximos apresentavam, pelo meio-dia, um curioso aspecto. Muitos banhistas levaram o farnel para ali passarem a tarde.
Pelas 14 horas, quando a maré já estava bastante alta, foram tomadas disposições para nova tentativa. O “Cabo Espichel” pegou numa espia e o “Comandante Pedro Rodrigues” pegou em outra.
Eram 14 horas e dez minutos, quando os dois rebocadores deram, num esforço simultâneo, o primeiro esticão. O vapor cedeu, ligeiramente, e, cinco minutos depois, a um novo esticão, moveu-se sobre a areia. Os navios de salvação insistiram no esforço e o “Nashaba” ficou a flutuar francamente. As sirenes dos vapores silvaram e os tripulantes acenavam com os bonés numa grande manifestação de alegria.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 19 de Julho de 1940)

Nota: Este navio naufragou em 26 de Fevereiro de 1945, quando integrado no comboio «TAM91», seguindo viagem para Ghent, na Bélgica, colidiu com uma mina no estuário do Schelde, posição 51º22’18”N 02º55’25”E. A tripulação salvou-se.

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