quarta-feira, 29 de março de 2017

História trágico-marítima (CCVII)


A lancha Nº 1 dos Pilotos encalhou na barra do Douro

No cais velho da barra do Douro, no local denominado «Touro», encalhou, ontem, ao princípio da tarde, a lancha Nº 1 dos Pilotos, que regressava ao ancoradouro, depois de ir buscar o piloto, que dava saída ao navio de gás dinamarquês “Rasmus Tholtrup”. O sinistro foi provocado por um forte estoque de água, que a fez desgovernar e seguidamente embater nos rochedos, onde encalhou.
Quando a maré começou a descer, a lancha adernou ficando em situação difícil, pois tem um rombo na proa, havendo poucas possibilidades de safá-la.
Compareceu no local a Secção de Socorros a Náufragos dos Bombeiros Voluntários Portuenses, aquartelada na Foz, que lanço alguns cabos à lancha, no sentido de tentar mantê-la equilibrada e, à noite, seguiu para ali o carro projector da mesma corporação, para iluminá-la, enquanto prosseguiam os trabalhos de salvamento.
Se a embarcação se perder, como tudo indica possa vir a acontecer, os prejuízos ascendem a algumas centenas de contos. Não há, felizmente, desastres pessoais a registar, pois a tripulação conseguiu chegar a terra sã e salva.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 22 de Outubro de 1965)

Foto da lancha-piloteira P1 no porto de serviço de Leixões
Imagem de autor desconhecido

Características da lancha-piloteira Nº. 1
Armador: Corp. Pilotos da barra do Douro e porto Artificial de Leixões
Nº Oficial: L42EST - Iic: C.U.D.F. - Porto de registo: Leixões
Construtor: Estaleiro de Verak, Vegesack, Alemanha, 1925
Arqueação: Tab 12,23 tons - Tal -,- tons
Dimensões: Pp 13,94 mts - Boca 3,00 mts - Pontal 1,34 mts
Propulsão: Crossley Brothers, Ltd. - 1:Di - 85 Bhp
Equipagem: 3 tripulantes

Na madrugada de ontem afundou-se a lancha dos
Pilotos da barra, que encalhara na tarde anterior
A lancha-piloteira Nº 1, dos Pilotos da barra do Douro, quando regressava ao ancoradouro ao princípio da tarde de ante-ontem, para desembarcar o prático que pilotara um navio dinamarquês, foi arrastada para cima das pedras no «Cais Velho», onde encalhou.
Durante a tarde e noite, as lanchas Nºs 5 e 9 dos pilotos tentaram safar o barco sinistrado, com o auxílio da Secção de Socorros a Náufragos dos Bombeiros Voluntários Portuenses, com quartel na Foz, que para o local fez deslocar diverso material e pessoal, bem como o seu carro-projector, a fim de facilitar os trabalhos.
Esperava-se que a praia-mar das 1,12 horas de ontem permitisse o salvamento da lancha, no sentido de safá-la das referidas pedras. Porém, a lancha estava mesmo condenada a soçobrar, embora se encontrasse espiada com dois cabos que os bombeiros lhe haviam lançado e a prendiam a terra, porquanto sofrera dois rombos à proa, a bombordo e a estibordo, e tivesse partido a quilha.
Inundada, quando o mar cresceu na praia-mar, os cabos foram rebentando e a lancha acabou por se afundar, às 2,20 horas, arrastando consigo todos os apetrechos que continha, como os de fonia, morse-eléctrico - ou «pisca-pisca» - e as bandeiras de sinais.
Os prejuízos foram, portanto, totais e ascendem a algumas centenas de milhares de escudos. O sota-piloto-mor, sr. Aristides Ramalheira, esteve sempre no local, orientando os trabalhos que haveriam de resultar infrutíferos, como referido.
A lancha «P-1», fabricada na Alemanha, foi a primeira lancha a motor adquirida pela Corporação de Pilotos da barra do Douro.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 23 de Outubro de 1965)

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