domingo, 31 de maio de 2015

Pesca do bacalhau


Conversas improváveis! (II)

O “Santa Regina” chegou dos mares da Gronelândia
No cais de Massarelos, tem estado, à descarga, o “Santa Regina”, lugre da frota bacalhoeira, pertencente à praça de Aveiro. Comanda-o o capitão António dos Santos, oficial sabedor, enérgico, decidido, arcaboiço de lutador dos mares, homem experimentado nas lides da pesca do bacalhau, que aos bancos conta já uma boa dezena de viagens.
É na amurada de bombordo do seu navio, que o capitão Santos descreve, com a maior simplicidade, em conversa, a sua viagem deste ano à pesca do fiel amigo.
- O “Santa Regina” entrou a barra do Douro, carregado, até à cinta, em princípio de Outubro, tendo saído em Abril para os bancos da Terra Nova – diz o capitão Santos. Mas, como o peixe ali falhasse, levantei ferro para a Gronelândia, onde me demorei até completar o carregamento.
- E a pesca na Gronelândia é abundante como na Terra Nova?
- A pesca, no geral, abunda, mas também falha, quando desaparece o sandilho, peixe parecido com o nosso lingueirão, de que o bacalhau se alimenta e que nós aproveitamos para o isco dos anzóis. A pesca é pelo mesmo processo, nos dóris, à linha e à zagaia, sendo trazido o peixe para bordo, onde é escalado e salgado.
- E tem horas certas de trabalho, os homens?
- Têm, mas, quando é preciso aproveitar a maré, aproveita-se. É para benefício de todos…
- E demais, como é sempre dia…
- Assim é, mas, em meados de Agosto, já se acende o farol do tope e luz na câmara. E, depois, as noites vão aumentando, gradualmente. Uma faina de mil diabos, esta vida! Ninguém imagina os trabalhos que a gente passa, quando comem, regaladamente, uma posta de bacalhau assado ou um prato de bacalhau à Gomes de Sá…
- As montanhas de gelo não são lá frequentes, capitão?
- São, sim, senhor. Os icebergues.
- E são grandes?
- Às vezes são maiores e bem maiores do que um grande edifício. Outros são rasos à água, e formam o que nós chamamos “campos de gelo”. A parte submergida é, também, grande e funda, pois chegam a encalhar. E o mar, ali, tem umas quarenta braças de profundidade…
- São perigosos, decerto, os icebergues?
- Vê acolá aquela racha? - e aponta uma enorme fenda aberta no cobre do casco. Aquilo foi, só, de roçar por um campo de gelo. Uma manobra demorada demais para o evitar.
- E como procurar evitar esse perigo?
- É conforme. Se o navio tem motor levanta-se ferro e cava-se. Se não tem como este, então suspende-se e deixa-se ir à rola, ao sabor da corrente, até que, a reboque dos dóris, se vai fugindo obliquamente e se dá passagem ao bicho. Outras vezes, é como Deus quer. Olhe, em 11 de Agosto, estivemos nós na iminência duma grande catástrofe. Estava uma tarde de temporal desfeito. A neblina a custo nos deixava ver as montanhas de gelo que, ao largo, se deslocavam. O vento arrancava-lhes blocos enormes de gelo, verdadeiras avalanches! Se, por fatalidade, o vento virasse a nordeste, dos doze navios fundeados nem um só escapava! Seria a maior tragédia a registar, nesta vida malfadada!...
- E nessas circunstâncias em último recurso…
- Entregamo-nos à Providência - concluiu o capitão - que desta vez, como de tantas outras, foi a nossa boa protectora.
- É certo os esquimós visitarem os vossos navios?
- Eu não os vi, pois pesquei a 64 graus. Mas, aos que fundeiam mais para o Norte, a 68 graus, têm aparecido, a trocar peles de animais por aguardente. O meu colega do “Viajante 2º”, que pescou pelas alturas da ilha de Disko, teve este ano, a bordo, a visita de seis mulheres esquimós.
E, num olhar malicioso, num desabafo de inveja, o capitão rematou:
- Que rico dia de pesca! Uma marésada assim, não a apanha cá o velho…
- É toda de Ílhavo, a tripulação do “Santa Regina”?
- Não. Trago também homens da Figueira, da Afurada e da Póvoa.
- Todos pescadores?
- Todos! Mas, acabada a faina, em viagem, os ílhavos passam a ser os homens da manobra. Quando o temporal se desencadeia, nas horas de luta com as tempestades - e tantas vezes com a morte! - é com eles que contamos para safar a rascada. Grandes marinheiros, os homens da minha terra!
Verdadeiros heróis! – exclamou, entusiasmado e orgulhoso, o capitão. E, depois com desalento, concluiu:
- Heroísmo ainda tão desconhecido e mal avaliado, quando o Mar lhes não abre a sepultura, espera-os uma velhice cheia de necessidades e misérias…
- E nos dias bonançosos e noites serenas, que fazem os seus marinheiros?
O capitão não responde. Fica pensativo, olhos fitos para além da barra. Mas, compreendendo-lhe o seu pensar, ouvimo-lo dizer:
- Nas noites luarentas almas resignadas dedilham a guitarra, a recordar a sua terrinha tão longe adormecida, tantas milhas distante dos seus olhos saudosos… Nas horas vagas de brisa fagueira, ou calmaria podre, dão largas ao seu instinto artístico. E à revessa do castelo da proa, pegam num madeiro, num canivete, modelam um casco, aparelham-no num requinte de gosto e apuro, sem a mínima falta dum pormenor e das suas mãos, cortadas da linha da zagaia, gretadas da salga e dos ventos glaciais, saem essas embarcações miniaturas, verdadeiras maravilhas de arte, que são o pasmo e encanto de quem visita a sala marítima do Museu de Ílhavo.
Estava terminada a visita. Que os trabalhos da descarga exigiam a presença do capitão. E, já na prancha do cais ainda lhe ouvimos dizer, com aquela franqueza rude, característica da gente do mar:
- Apareça mais vezes. Os amigos são sempre bem-vindos.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 7 de Novembro de 1934)

sábado, 23 de maio de 2015

Pesca do bacalhau


O "Gil Eannes" no Grémio dos Armadores da Pesca do Bacalhau
A primeira viagem na marinha mercante aos grandes bancos

O transporte “Gil Eannes” deixa de pertencer à Marinha de Guerra
Foi ontem publicado na folha oficial um decreto que autoriza o Ministério da Marinha a entregar a utilização, ao serviço da economia nacional, de qualquer navio da sua esquadra naval a uma entidade oficial, corporativa ou armadora de carácter privado, mas portuguesa, conforme fôr julgado mais conveniente.
O primeiro navio cuja transferência para a Marinha Mercante será feita, ao abrigo deste decreto, é o transporte de guerra “Gil Eannes”, que passa para o serviço do Grémio dos Armadores da Pesca do Bacalhau.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 4 de Fevereiro de 1942)

Foto do "Gil Eannes" à chegada ao porto de Leixões
Imagem da Fotomar, Matosinhos - Minha colecção

A fim de prestar assistência aos pescadores do bacalhau vai
partir, em breve, para a Terra Nova e Gronelândia, o “Gil Eannes”
Pelo Ministério da Marinha, vai ser nomeado para embarcar no transporte “Gil Eannes”, ao serviço do Grémio dos Armadores dos Navios de Pesca do Bacalhau, o sr. capitão-de-fragata António José Martins, que vai com as atribuições de capitão de porto.
Este navio segue, brevemente, para os mares da Terra Nova e Gronelândia a prestar assistência aos pescadores empregados na pesca do bacalhau.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 17 de Junho de 1942)

O navio-hospital “Gil Eannes”, entrou, ontem, em Leixões, com
15 feridos e com o carregamento de 35 mil quintais de bacalhau
Procedente dos bancos da Gronelândia e da Terra Nova, aonde esteve a prestar assistência aos pescadores do bacalhau, durante a safra deste ano, entrou, ontem, de manhã, em Leixões o navio-hospital “Gil Eannes”.
Este vapor trás a bordo 15 tripulantes pertencentes a vários navios que estiveram na pesca.
Além disso, conduz um carregamento de cerca de 35 mil quintais de bacalhau, adquiridos na Terra Nova para o Grémio dos Armazenistas do Bacalhau e que será descarregado em Leixões.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 10 de Novembro de 1942)

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Dia da Marinha 2015


A "Briosa" este ano homenageia a capital


Afastados pela distância não nos é possível estar presentes nas comemorações do Dia da Marinha, este ano a decorrer em Lisboa, tanto quanto gostaríamos.
Mais uma vez é recordado um dos principais navegadores portugueses, o lendário Vasco da Gama, e a extraordinária façanha que foi ter chegado à Índia, neste mesmo dia 20 de Maio, mas em 1498.

Quadro relativo ao acontecimento de autor não identificado
A chegada de Vasco da Gama à Índia - Imagem Wikipedia

Bem a propósito, recordo com especial carinho a visita há alguns anos a um navio, cujo nome não me ocorre, de transporte de gás (LGP), no terminal do porto petrolífero de Sines, por sugestão do respectivo comandante de origem indiana, residente em Bombaim.
Conversa de amigos durante algum tempo, com alguns negócios à mistura e naturalmente o convite para jantar com ele, num restaurante no centro da cidade, onde foi servido uma iguaria local, um assado de carne de porco preto, regado a rigor com uma excelente reserva alentejana.
Durante o percurso passamos por uma estátua e noto um ligeiro lacrimejar nos olhos do meu amigo indiano, que me indaga se estava na terra onde nasceu Vasco da Gama.
Respondi afirmativamente e reparo nas lágrimas, que lhe cobrem o rosto. E comenta:
"Que orgulho tenho em estar aqui, na terra que o viu nascer!
Enquanto viver, este é um dia que nunca irei esquecer..."

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Navios nos portos do Douro e Leixões


Escalas verificadas nos últimos dias

Navio de passageiros "Prinsendam"
Dia 13, chegou procedente da Corunha, saiu para Lisboa
Foto do distinto colega José Modesto

Navio de passageiros "Mein Schiff I"
Dia 13, chegou procedente de Lisboa, saiu para a Corunha

Navio de passageiros "Empress"
Dia 14, chegou procedente de Lisboa, saiu para a Corunha

Navio hidrográfico português "D. Carlos I"
Dia 14, chegou procedente de Lisboa, saiu de regresso à capital
Presente no porto para participar no exercício Anémona 2015

Lugre português "Santa Maria Manuela"
Dia 15, no rio Douro em viagem redonda de/ e para Aveiro

Navio de passageiros "Seabourne Quest"
Dia 17, chegou procedente da Corunha, saiu para Lisboa

Navio de passageiros "Costa Favolosa"
Dia 17, eventualmente na sua primeira visita a Leixões

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Memorativo da Armada


O navio tanque "Sam Braz"

O navio “Sam Braz” construído no Arsenal do Alfeite
é lançado à água na próxima terça-feira
Com a assistência dos membros do Governo e altos comandos militares e navais, efectua-se no próximo dia 17, pelas 17 horas, no Arsenal do Alfeite, a cerimónia do lançamento à água do primeiro petroleiro português, que é também o maior navio até hoje construído no nosso País, pois desloca 7 mil toneladas e mede cerca de 109 metros de comprimento por 15,5 de largura.
Começado a construir em Fevereiro do ano passado, o ritmo da sua construção atesta bem as possibilidades industriais do Arsenal, apesar das inevitáveis dificuldades que a guerra tem trazido ao problema dos transportes e da aquisição de materiais.
Dentro de cinco meses o novo navio deve estar em condições de empreender a sua primeira viagem. Foi-lhe dado o nome de “Sam Braz” – a pequena baía à qual aportou Bartolomeu Dias para fazer aguada, depois de ter dobrado o Cabo das Tormentas.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 14 de Março de 1942)

O lançamento à água do petroleiro “Sam Brás”,
que se realiza depois de amanhã
Foram convidados os oficiais da Armada a assistir ao lançamento do petroleiro “Sam Braz”, que se realiza depois de amanhã, às 16 e 50, no Arsenal do Alfeite, com a assistência do sr. ministro da Marinha.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 15 de Março de 1942)

Foto do navio "Sam Braz" por Roiz, Lda., Lisboa
Imagem da minha colecção

O petroleiro português “Sam Brás”, construído no Arsenal
do Alfeite, foi ontem lançado à água, tendo presidido à
cerimónia o sr. Ministro da Marinha
O Arsenal do Alfeite lançou ontem à água a quarta unidade naval ali construída, desde o começo da sua apreciável laboração: primeiro, um navio hidrográfico, depois duas vedetas de fiscalização da costa e, agora, um petroleiro – o “Sam Braz”.
Incluído na segunda fase do programa de reconstrução naval, a sua quilha foi assente em Fevereiro de 1941, pelo que o belo navio foi para a água com pouco mais de um ano de permanência na carreira.
O lançamento deste navio – o primeiro petroleiro construído em Portugal – reveste-se de uma importância especial se fôr considerado o problema dos transportes de combustível depois da eclosão da guerra e, especialmente, depois da entrada dos Estados Unidos no conflito.
Como é sabido, a nossa importação de gasolina tem diminuído consideravelmente. A média anual de importação desse produto no triénio 1937-38-39 andou à volta de 73.000 toneladas, baixando no ano de 1940 para menos de metade, ou seja para 35.000 toneladas. Quanto ao fim de 1941, não há ainda números que permitam avaliar a nova percentagem de redução, mas é conhecido que ela se acentuou muito mais.
A entrada deste novo navio em serviço, dentro de quatro a cinco meses, vem contribuir para aliviar a escassez de gasolina, ao mesmo tempo que dota a Armada com uma nova e utilíssima unidade.
Trata-se de um navio que, deslocando 7.000 toneladas, tem tanques com capacidade para 3.500 toneladas de combustível. Accionado por um motor diesel a dois tempos, tem 2.700 cavalos de força e pode atingir a velocidade de 12 milhas horárias.
À cerimónia do lançamento presidiu o sr. Ministro da Marinha que chegou ao Arsenal do Alfeite acompanhado pelo seu chefe de gabinete, sr. capitão de mar-e-guerra Américo Tomaz, também presidente da Junta Nacional da Marinha Mercante e pelos seus ajudantes srs. comandante Jerónimo Jorge e 2º tenente Evaristo Gonçalves.
O chefe da Armada foi recebido pelos almirantes com funções de comando, pelo comodoro comandante da Força Naval da Metrópole e pelos srs. engenheiro Perestrelo de Vasconcelos, administrador do Arsenal; dr. Pereira Coutinho, director comercial; engenheiro Moniz Vargas, director técnico e por outros engenheiros civis e navais, bem como por diversos convidados.
Estavam também presentes deputações de oficiais dos navios de guerra actualmente em beneficiação no Arsenal do Alfeite, da esquadrilha de submersíveis, do Corpo de Marinheiros da Armada e da Escola Naval.
O sr. Ministro da Marinha, acompanhado por todos os presentes, dirigiu-se para a tribuna de honra erguida junto à proa do novo navio, na qual tomou lugar também o rev. Dr. Tomaz de Aquino, prior da Armada, solicitado para dar a bênção ao “Sam Braz”. Para madrinha foi convidada a filha do operário-arvorado Salvador António Pacheco, um dos mais antigos operários de construção naval no nosso país.
O navio, embandeirado e muito bem pintado, oferecia, com os seus 108 metros de comprimento, um belo aspecto sobre a carreira onde foi construído e pela qual irá deslizar dentro de alguns minutos.
Dos dois lados da carreira faziam a guarda de honra uma companhia de Marinha com bandeira e banda, e uma lança da Brigada Naval, constituída por pessoal arsenalista.
Logo que o sr. Ministro da Marinha chegou à tribuna, foram retiradas as últimas escoras que auxiliavam a manutenção do navio na carreira, após o que o representante da igreja lançou a bênção ao novo navio, precedido da oração do ritual.
O sr. engenheiro Perestrelo de Vasconcelos convidou então a madrinha a proceder à cerimónia simbólica, enquanto a guarda de honra apresentava armas e a banda da Armada executava o hino Nacional. Uma assistência constituída por centenas de pessoas sublinhou a entrada do navio nas águas do Tejo com entusiásticas manifestações.
O sr. Ministro da Marinha, antes de se retirar, transmitiu ao sr. engenheiro Perestrelo de Vasconcelos as suas felicitações, extensivas a todo o pessoal do Arsenal, pela nova e importante construção, que acabavam de realizar.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 18 de Março de 1942)

segunda-feira, 11 de maio de 2015

História trágico-marítima (CL)


O incêndio a bordo do "Inhambane"

Na doca de Leixões
Um violento incêndio pôs em perigo o vapor português
“Inhambane” tendo sido empregadas 25 agulhetas para
dominar as chamas alterosas e ameaçadoras
A bordo do “Inhambane”, magnifico vapor de dez mil toneladas, que acostou, ante-ontem de manhã na doca nº 1 de Leixões, declarou-se incêndio, violento, com proporções inicialmente assustadoras. O “Inhambane” viera de Lisboa com 1.900 toneladas de nitrato de sódio e 250 toneladas de carga diversa, pertença da Companhia União Fabril, que é, também, proprietária do navio.
Após a entrada na doca, amarrado no lado Sul, começaram os trabalhos de descarga. Os porões da ré foram os primeiros a ser aliviados. Quando a descarga estava bastante adiantada é que o incêndio se manifestou.
Pouco passava das treze horas. O pessoal retomava o serviço, suspenso pouco antes – foi quando o encarregado dos estivadores encontrou um saco de nitrato de sódio a arder. Dado o alarme, recorreram aos extintores de bordo. Mas o fogo não cedeu. Pelo contrário – propagou-se a toda a mercadoria, e, dentro em pouco, o porão nº 5 era, igualmente, pasto das chamas.
Mesmo antes de serem pedidos os socorros, compareceram, no local, os Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça. O serviço de ataque ao fogo foi montado sob a direcção do Inspector de Incêndios do concelho de Matosinhos sr. Coronel Alberto Laura Moreira. Entretanto chegaram ao local do sinistro os corpos activos dos Bombeiros Voluntários de Leixões, de S. Mamede de Infesta e Moreira da Maia.
As chamas, crepitantes, saíam dos porões e elevavam-se a alguns metros, enquanto nuvens de fumo, compactas, subiam no espaço e – pode afirmar-se sem exagero – cobriam e escureciam o céu em Leixões e Matosinhos.

Foto do vapor "Inhambane" a chegar a Leixões
Imagem da Fotomar, Matosinhos

Características do vapor "Inhambane"
Armador: Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes
Nº Oficial: 446-E - Iic: H.I.N.B. - Registo: Lisboa, 21.07.1925
Construtor: J. C. Tecklemborg, Geestemunde, Alemanha, 08.1912
ex “Essen”, Deutsch-Australische D.G., Hamburgo, 1912-1916
ex “Inhambane”, Transp. Marítimos do Estado, Lisboa, 1916-1925
Propulsão: J.C. Tecklemborg, 1912 - 1:Te - 3.600 Ihp - 12,5 m/h
2º Registo
Nº Oficial: 446-E - Iic: C.S.A.V. - Porto de Registo: Lisboa, 1933
Arqueação: Tab 5.943,84 tons - Tal 3.684,48 tons
Dimensões: Ff 142,92 mt - Pp 137,57 mt - Bc 17,44 mt - Ptl 8,14 mt
Equipagem: 45 tripulantes - 9 passageiros
Vendido ao armador Grego A. Frangistas Manessis em 1955, alterando-lhe o nome para “Vassiliki”, passando a navegar com registo Costa-riquenho. Foi finalmente vendido para demolição em Hong-Kong, em 23 de Maio de 1959.

Do local e dos lugares distantes acorreu gente. Nas imediações da doca, contidas à distância pela guarda, viam-se milhares de pessoas. O espectáculo, sinistro, trágico, chamava a atenção de todos. Aos olhos dos assistentes e até aos olhos dos bombeiros, afigurou-se tragédia de gravíssimas consequências. O fumo e o cheiro intoxicava os abnegados bombeiros, mas eles, heroicamente, obedecendo, disciplinados, ao comando do coronel Laura Moreira, com mascaras contra gás ou sem elas, combatiam, de agulheta em punho, as chamas, e desciam aos porões, resolutamente, sem medirem o perigo ameaçador que os envolvia.
Se não fosse a inteligência posta à prova no ataque ao incêndio e o heroísmo dos bombeiros, talvez o vapor se tivesse perdido.
Felizmente o fogo pôde considerar-se extinto duas horas após o seu início, tendo ficado limitado aos dois porões, parcialmente inundados com a água das dezassete agulhetas empregadas pelos bombeiros das quatro corporações atrás referidas, duas do rebocador “Tritão”, uma do “Manolito”, e quatro de duas barcaças da Administração dos Portos do Douro e Leixões, no total de vinte e cinco agulhetas, alimentadas por uma auto-bomba e doze moto-bombas.
Durante o incêndio ficaram ligeiramente feridos alguns bombeiros e trabalhadores. Entre outros, receberam curativo na ambulância dos Voluntários de Leixões, dirigida pelos enfermeiros Enio Sampaio Batista e José Beleza de Pinho: Carlos Ribeiro Moreira, de 52 anos, 2º maquinista da Administração dos Portos, com escoriações nas mãos e dedos; Manuel Marques, de 43 anos, motorista da Administração dos Portos, com contusão nos dedos da mão esquerda, e o guarda-fiscal nº 284, da 2ª Companhia, com escoriações no joelho esquerdo e nos cotovelos.
Estiveram no local do incêndio o presidente da Câmara de Matosinhos e o Delegado Policial, srs. dr. Fernando Aroso e Sá Lima; o capitão do porto sr. comandante João Pais e o gerente da Companhia União Fabril, no Porto, sr. engenheiro Manuel Domingues dos Santos.
À noite começaram os trabalhos para estancamento dos porões inundados. Os prejuízos são importantes, sendo ainda desconhecidas as causas que deram origem ao incêndio.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 6 de Junho de 1942)

domingo, 10 de maio de 2015

Dia dos cruzeiros 2015


Leixões na rota do turismo!

Aproveitando a ideia surgida na capital, de celebrar o dia dos cruzeiros, na defesa de um substancial futuro aumento de passageiros nos navios de cruzeiros, com as enormes vantagens económicas que daí advém, também o porto de Leixões tem dado passos de gigante na concretização dos mesmos objectivos.

Gare marítima no terminal para navios de passageiros

E, como referido acima, no caso de Leixões, a gare marítima já se encontra concluída, tendo sido criadas condições para acolher no terminal uma satisfatória quantidade de navios, alguns dos quais que pelas suas dimensões, sem essa nova estrutura, não o poderiam fazer.
Convém lembrar que o porto continua a utilizar com regularidade, a gare marítima existente na doca nº 1 norte, onde amarram os paquetes mais pequenos, tal foi o caso verificado com os últimos navios de passageiros entrados em Leixões.

Foto do navio "Silver Explorer",
vindo procedente de Lisboa, tendo saído com destino a Vigo

Foto do navio "Corinthian",
também procedente de Lisboa, e saído para Vigo
Imagem do distinto colega José Modesto

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Leixões na rota do turismo!


Navios de passageiros

Durante o mês de Junho, se não houver alterações às escalas previstas e considerando que o estado do tempo promete ajudar, o porto de Leixões deverá receber 17 navios de passageiros, o que não é inédito, ficando desde já muito próximo dos melhores valores alcançados em anos anteriores.

O navio "Rotterdam"
Procedente de Cadiz saiu com destino a Roterdão

Não há ainda surpresas, nem grandes novidades no rol de navios que nos vem visitar, pois que a maior parte repete escalas anteriores, porém deve ser sublinhada a escolha do porto por companhias europeias de relevo, casos da Holland America e da Costa Cruises.
Como é óbvio, ficará para data posterior a análise das quantidades de passageiros embarcados nesses navios, muito embora se possa antecipar a continuação do avolumar de turistas, que optaram por cruzeiros com passagem pela capital e pelo norte da península.

Navio "Serenissima"
Procedente de Lisboa saiu com destino à Corunha

No dia de hoje, estiveram em porto os navios “Rotterdam” e “Serenissima”. A partir da próxima sexta-feira e dias seguintes estão contempladas as escalas dos navios “Rijndam”, “Silver Explorer”, “Corinthian”, “Prinsendam”, “Mein Schiff I”, “Empress”, “Costa Favolosa”, “Seabourne Quest”, “Island Sky”, “Horizon”, “Sea Cloud II”, “Bremen”, “Costa Fortuna”, “Silver Cloud” e o “Seven Seas Voyager”.

terça-feira, 5 de maio de 2015

Memorativo da Armada


O contra-torpedeiro "Dão"

O lançamento do “Dão” será radiodifundido
pela Emissora Nacional
É depois de amanhã que se realiza, pelas 17 horas, nos estaleiros da Sociedade de Construções Navais, a cerimónia do lançamento à água do novo contra-torpedeiro “Dão”. A partir das 16 e 30 a Emissora Nacional estará ligada aos estaleiros para fazer a transmissão dos discursos e de toda a cerimónia.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 27 de Julho de 1934)

Foto do contra-torpedeiro "Dão" de autor desconhecido
Minha colecção

Ressurgimento da Marinha de Guerra Portuguesa
Foi hoje lançado à água o contra-torpedeiro “Dão”
Revestiu-se de grande brilhantismo a cerimónia, que hoje se realizou para o lançamento à água do contra-torpedeiro “Dão”, nos estaleiros da Sociedade de Construções Navais.
Milhares de pessoas acorreram ao vasto recinto, que se encheu completamente, sendo rigoroso o serviço de Polícia, em face do grande número de convidados.
A partir das 15 horas, a multidão começou a entrar nos estaleiros. Ao longo da carreira onde o novo navio de guerra aguardava embandeirado em arco, à hora do lançamento, formou uma companhia do Corpo de Marinheiros da Armada, com a banda da Marinha, para prestar honras. Em outros locais viam-se as bandas de Caçadores 5, de Sapadores de Caminho-de-ferro e da Escola Profissional D. Maria Pia.
Em talhões reservados agrupavam-se delegações de vanguardistas e o Orfeão Académico de Lisboa, bem como outros estudantes.
As entidades estiveram presentes em grande número; Oficiais Generais da Armada e do Exército, funcionalismo superior, União Nacional, organismos económicos, etc. Entre a assistência viam-se centenas de senhoras e muitos oficias uniformizados.
Pouco depois das 16 horas foram encerrados os portões dos estaleiros, a fim de ser feita a conveniente arrumação do povo nos recintos disponíveis.
Nessa altura já se encontravam presentes os membros do governo, que aguardavam junto da tribuna de honra a chegada do sr. presidente do ministério. Com o governo estavam também os srs. engenheiro Maurício Tabar, director da Sociedade de Construções Navais e António Ferro, director do Secretariado da Propaganda, departamento que organizou a cerimónia.
O sr. dr. Oliveira Salazar chegou pouco antes das 17 horas, recebendo as honras da ordenança e subindo imediatamente para a tribuna de honra a fim de dar ao “Dão” o tradicional impulso.
O chefe do Governo fez, nesta altura, ao microfone da Emissora Nacional, o seguinte discurso:
A oferta do Governo à Nação, presente de operários portugueses aos seus irmãos marinheiros, mais um navio da Armada que vai começar a sua vida de mar, não deixemos que as águas o beijem sem que algumas gotas de vinho do Dão, de que leva o nome e o sentimento bem portugueses, correm em sinal de alegria e sinceridade, por onde um ano de árduo trabalho já fez correr o suor de portugueses também. Assim, pouco a pouco, a pano lento mas firme reentramos dentro do possível para bem da tradição.
Antes que enfunassem com o vento, rasgassem as águas patrióticas, vicejaram na nossa terra, cresceram pelos vales e encostas as velas, os mastros, as quilhas das naus que deram voltas ao mundo.
Glória ao Trabalho Nacional! Glória à Armada Portuguesa! Glória a Portugal!
Em seguida quebrou uma garrafa de vinho do Dão e o navio deslizou pela carreira, por entre manifestações de regozijo.
O “Carvalho Araújo”, que seguiu para o Porto, salvou com 21 tiros a nova unidade da Marinha de Guerra. O Orfeão Académico cantou no final uma estrofe dos «Lusíadas».

Telegramas de saudação

A propósito do lançamento ao mar do contra-torpedeiro “Dão”, o sr. presidente do Conselho recebeu hoje o seguinte telegrama:
Santa Comba – Ao ser lançado à água o contra-torpedeiro “Dão”, a Câmara Municipal de Santa Comba Dão, saúda em Vª.Exª. o português ilustre, a quem a Pátria tanto deve e faz votos para que a obra de ressurgimento integral à qual Vª.Exª. consagra todo o esforço da sua vida tenha plena realização.
O presidente da Câmara (a) Alfredo Ferrão

Santa Comba Dão – No dia jubiloso do lançamento ao mar do contra-torpedeiro “Dão”, nome que lhe foi dado como justa homenagem aos altos méritos, virtudes, serviços patrióticos e relevantes de Vª.Exª. – A bem da Nação, a Associação Comercial e Industrial de Santa Comba Dão tem a honra de apresentar a Vª.Exª. as suas respeitosas saudações e cumprimentos.
Pela direcção (a) Caetano Figueiredo

Viseu – Excelência - Na ocasião em que é lançada ao mar a nova unidade da nossa marinha, que ostentará o nome de um rio da nossa Beira, a Associação Comercial e Industrial de Viseu congratula-se por tal facto e apresenta a Vª.Exª. os seus melhores cumprimentos de homenagem.
Pela direcção (a) Mário Marques, presidente
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 29 de Julho de 1934)

Nova unidade naval - O contra-torpedeiro "Dão"
Deve efectuar-se no fim da corrente semana, possívelmente no sábado, a cerimónia da entrega do navio ao governo e da incorporação na esquadra do novo contra-torpedeiro "Dão".
A bordo haverá a formatura regulamentar à leitura dos documentos oficiais respeitantes ao acto e no final será içada, com todas as honras militares a bandeira nacional, seguindo depois o navio da muralha dos estaleiros para o quadro dos navios de guerra.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 18 de Dezembro de 1934)

Nova unidade naval
O contra-torpedeiro “Dão”
Foi assinada uma portaria que manda passar a completo armamento com lotação provisória o novo contra-torpedeiro “Dão”, a qual se compõe de um comandante, capitão-de-fragata Moura Braz; imediato, capitão-tenente Galião Roma; chefe de maquinistas, 1º tenente engenheiro maquinista Vitor Feio; 4 tenentes, 1 oficial de administração naval, 9 sargentos condutores de máquinas, um sargento de manobra, 1 sargento enfermeiro, 3 sargentos de artilharia, 1 sargento torpedeiro, 1 sargento eletricista, 1 sargento radio-telegrafista e 82 praças.
Este navio é entregue ao Governo no próximo sábado, pelas 15 horas, assistindo ao acto os srs. ministro da Marinha, comandante geral da Armada e demais autoridades de marinha, não assistindo o sr. Presidente do Ministério, como tencionava, devido ao seu estado de saúde.
A guarnição do navio embarca na sexta-feira à tarde.
Para solenizar a entrega, foram mandados comparecer a banda de música da Armada, uma força e um terno de clarins.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 3 de Janeiro de 1935)

O contra-torpedeiro “Dão”
Foram convidados os oficiais da Armada a assistir ao acto de entrega do novo contra-torpedeiro “Dão”.
Este navio depois de entregue à comissão de recepção presidida pelo sr. capitão-de-fragata Azevedo França, irá amarrar à boia em frente do Arsenal, sendo a partir daí incorporado na esquadrilha de torpedeiros e contra-torpedeiros.
Findo este acto, a casa construtora oferece ao sr. ministro da Marinha um “Porto de Honra”.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 5 de Janeiro de 1935)

Marinha de Guerra
Foi hoje incorporado na esquadra portuguesa
o contra-torpedeiro “Dão”
Mais um belo navio de guerra foi hoje incorporado na Armada: o contra-torpedeiro “Dão”, entregue esta tarde ao governo português.
Pouco antes da hora marcada para a cerimónia oficial da entrega, juntaram-se no cais da Sociedade de Construções Navais, onde a nova unidade se encontra atracada, alguns oficiais da Armada, entre os quais figuravam os srs. comandante Carvalho Crato, director do Material de Guerra; Santos Fradique, chefe do Estado Maior do Comando Geral da Armada; Afonso de Carvalho, comandante do contra-torpedeiro “Vouga”; Rodrigues, chefe do Departamento Marítimo do Centro e Botelho de Sousa, comandante da flotilha ligeira.
Às 15 e 15 horas chegou ao cais o sr. comandante Mesquita Guimarães, acompanhado pelos srs. almirante Muzanty, chefe do Estado Maior Naval e Castro Ferreira, intendente do Arsenal, Pinto Basto, Maurice Tabar, director dos estaleiros e outras individualidades.
Recebido ao portaló pelo comandante da nova unidade, sr. capitão-de-fragata Moura Braz, pelo imediato sr. capitão-tenente Galeão Roma e por toda a restante oficialidade, o sr. comandante Mesquita Guimarães passou em seguida revista à guarnição, alinhada no convés de bombordo.
Na câmara do navio procederam, em seguida, à leitura dos autos de entrega e recepção do navio, que foram assinados respectivamente pelos srs. Marriner, da casa Yarrow, e Pinto Basto, e comandante Azevedo Franco, presidente da comissão de recepção da nova unidade.
Depois de assinados estes documentos usou da palavra o sr. ministro da Marinha, que afirmou que o dia de hoje é de duplo regozijo para o governo, por receber um navio novo e todo ele feito por operários portugueses. O sr. comandante Mesquita Guimarães terminou por pedir ao director dos estaleiros, sr. Maurice Tabar, que transmitisse a todas as pessoas que trabalharam na construção do navio as saudações da Armada Portuguesa.
Usou depois da palavra o sr. Marriner, que em inglês, saudou o governo português e se congratulou com a entrega do contra-torpedeiro “Dão”.
Por fim, o sr. Maurice Tabar recordou a dedicação com que todos os operários portugueses trabalharam na construção do novo contra-torpedeiro enaltecendo as qualidades dos novos trabalhadores. Ao concluir, afirmou que toda a guarnição do navio vai ter certamente em conta o facto de ele ter sido construído inteiramente em Portugal, pois que isso deve constituir um estímulo para melhor cumprirem ainda o seu dever.
Finda a pequena série de discursos, o sr. Pinto Basto ofereceu um lindo centro de mesa, para o navio e o sr. Marriner ergueu um «viva» ao sr. ministro da Marinha, que foi correspondido pela oficialidade.
O sr. comandante Mesquita Guimarães, acompanhado por todos os oficiais presentes, dirigiu-se em seguida para a popa do “Dão”, a fim de assistir à cerimónia do içar da bandeira, pela primeira vez, no mastro da ré.
O imediato da nova unidade, sr. capitão-tenente Galeão Roma procedeu aí à leitura das portarias que mandam passar o navio ao estado de completo armamento e nomear o respectivo comandante.
Finda a leitura, o sr. comandante Santos Fradique, chefe do Estado Maior do Comando Geral da Armada, pronunciou um breve discurso, em que enalteceu as vantagens que para a Armada advirão da execução do programa naval, elogiou as qualidades do oficial escolhido para comandar o “Dão” e afirmou que aos esforços da nação para realizar a obra do ressurgimento da Marinha saberão os marinheiros corresponder, tirando o maior rendimento do material que lhes é confiado.
O sr. capitão-de-fragata Moura Braz, comandante do navio, proferiu também algumas palavras dizendo que procurará corresponder inteiramente à confiança nele depositada. Afirmou ter absoluta confiança na guarnição do “Dão” e que esta unidade é a última palavra da técnica naval. Dirigindo-se ao ministro da Marinha, declarou que o governo e a Nação podem confiar em que o “Dão” será aproveitado com a maior eficiência.
Voltando-se para a guarnição acrescentou:
- E tomemos todos o compromisso formal de que honraremos sempre o símbolo sagrado da bandeira que vai ser içada pela primeira vez, neste navio.
Entretanto, ao som da «portuguesa» e do toque de sentido, um sargento procedeu ao içar da bandeira nacional, que fôra conduzida numa salva de prata.
Terminada esta cerimónia, o sr. comandante Mesquita Guimarães ergueu dois vibrantes «vivas» à Pátria e à República, ao chefe de Estado, ministro das Finanças e ao trabalho nacional, que foram calorosamente correspondidos pelas pessoas que se encontravam a bordo e no cais, entre os quais figuravam os operários que construíram a nova unidade naval.
O “Dão”, com o sr. ministro da Marinha a bordo e alguns convidados, abandonou em seguida o cais em direcção ao quadro de marinha de guerra, onde todos os navios estavam embandeirados no tope.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 6 de Janeiro de 1935)

A nova esquadra
Cumprimentos do comandante do contra-torpedeiro “Dão”
O comandante do novo contra-torpedeiro “Dão”, sr. capitão-de-fragata Moura Braz foi hoje apresentar-se e cumprimentar o sr. ministro da Marinha, comandante Geral da Armada, chefe do Estado Maior Naval, intendente do Arsenal, comandante superior das Forças Navais surtas no Tejo e comandante em chefe da esquadrilha de contra-torpedeiros, em cuja unidade fica incorporado.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 8 de Janeiro de 1935)

A nova esquadra
O contra-torpedeiro “Dão”
O sr. ministro da Marinha conferenciou hoje com o sr. Marriner, engenheiro representante do estaleiro construtor Yarrow. Também o sr. engenheiro Sir Arald Yarrow enviou àquele titular um telegrama felicitando-o pela construção do nosso contra-torpedeiro “Dão”.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 9 de Janeiro de 1935)

domingo, 3 de maio de 2015

História trágico-marítima (CXLIX)


O naufrágio da canhoneira “Liberal”

Naufragou a canhoneira “Liberal”
Lisboa, 25 de Junho – Foram recebidos telegramas de Luanda informando que a canhoneira “Liberal” foi a pique, no Ambriz, no dia 22 do corrente, em consequência de ter batido nuns cachopos. Por felicidade a catástrofe não causou vítimas.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 26 de Junho de 1910)

A canhoneira "Liberal" - Pintura de autor desconhecido
Imagem da colecção do Arqtº. António Meneres

O naufrágio da canhoneira “Liberal”
Poucos dias depois do lançamento ao mar de um novo navio da armada portuguesa, era recebido em Lisboa um telegrama por via de Londres, dando notícia de ter ido a pique, no Ambriz, a canhoneira “Liberal”, em consequência de ter batido nuns cachopos. Triste coincidência.
Felizmente a perda foi só material, pois conforme o mesmo telegrama, salvaram-se todas as vidas que iam a bordo. A “Liberal”, além da sua guarnição, de cerca de cem pessoas entre oficialidade e praças, levava a bordo o governador geral de Angola, sr. tenente coronel Roçadas, o herói do Cuamato, e uma força militar que ia fazer a ocupação de alguns postos ao sul do Ambriz, visando principalmente as regiões dos cuamatos e dos cuanhamas.
Os náufragos foram todos salvos pelo vapor “Vilhena” e conduzidos para bordo do transporte “África”, que há tempos se encontra no porto de Luanda, servindo de depósito de guerra.
A “Liberal” era ainda um navio válido, pois fora construída em 1884, em Inglaterra, nos estaleiros de Laydrs, conjuntamente com a “Zaire”, do mesmo tipo e muito elegante em suas linhas gerais. Armava em lugre-barca, com mastreação e velame, além da máquina de força de 500 cavalos. Media em comprimento 42,60 metros, com 7,50 metros de boca e 5,20 metros de pontal. A sua deslocação era de 604 toneladas. Armava duas peças Armstrong, duas Hotckiss de tiro rápido e duas metralhadoras.
À construção destas canhoneiras assim como a da corveta “Afonso de Albuquerque” e rebocador “Lidador”, tudo feito na mesma ocasião, assistiram o tenente sr. Alfredo Maia, que com os srs. Carlos Testa e Alfredo Diniz compunha a missão nomeada para esse fim.
O sinistro que acaba de destruir a canhoneira “Liberal” e que tão abruptamente pôs termo à sua existência, não foi o primeiro no género sucedido àquele vaso de guerra, que parecia fadado para os encalhes. De entre os vários encalhes por ela sofridos, embora sem graves consequências, dois deles devemos recordar; um, que deve estar ainda na memória dos leitores, foi o sucedido no Baixo de Pinda, na costa norte de Moçambique, em Março de 1902, devendo-se então o salvamento do navio ao bom estado do mar e aos infatigáveis esforços da sua guarnição; o outro, sucedido nesse mesmo ano, em Outubro, foi no Geyserbank, a noroeste de Madagáscar, quando o navio seguia viagem da Ilha Maurícia, onde tinha ido limpar o fundo e sofrer reparações de que carecia, para Majunga, tendo sido arrastado pelas violentas correntes marítimas, que existem naquelas paragens; desta vez o navio apenas bateu num banco de coral, não encalhando e não tendo felizmente resultado do choque qualquer consequência funesta, que a dar-se um naufrágio naquelas paragens, pela distância que fica de terra, toda a guarnição seria vitimada.
Não é conhecido em que circunstâncias se deu o actual sinistro, mas pelo conhecimento, embora imperfeito, que temos da costa de Angola, supomos que o navio, quando em viagem entre alguns dos portos do norte daquela província, tenha batido, muito provavelmente, no baixo conhecido pelo nome de “Cabeça de Cobra” e que fica mais ao norte do Ambriz.
Foi aí que se deu o sinistro? Não temos dados para o afirmar!
A existência da canhoneira “Liberal” como navio de guerra, só se podia explicar actualmente pela pobreza do nosso material naval, pois não possuía nenhum dos requisitos requeridos para navios destinados àquele fim. Outro tanto diremos das suas condições de habitabilidade, que eram muito precárias.
Parece mesmo que as estações superiores de marinha já tinham resolvido não autorizar grandes fabricos, de que por ventura o navio viesse a necessitar, atentas ao seu nenhum valor militar, e, pela força das circunstâncias, dentro de poucos anos devia ser riscado da lista dos nossos navios de guerra, como forçosamente tem de suceder à maior parte do nosso velho e gasto material naval, que tem de ser renovado, se quisermos possuir marinha de guerra, que mereça esse nome.
In Revista “O Ocidente”, nº 1134, de 30 de Junho de 1910
(Reis, A. Estácio dos, Os Navios d’O Occidente, Edições Culturais de Marinha, Gradiva Publicações, Lda., Lisboa, 2001)

sexta-feira, 1 de maio de 2015

História trágico-marítima (CXLVIII)


O afundamento do vapor "Alpha"

O vapor de carga português “Alpha” foi afundado
Lisboa, 24 – A Sociedade Luso-Marítima recebeu comunicação telegráfica de que o seu vapor de carga “Alpha” se perdeu em viagem para o Norte, ignorando a causa do naufrágio.
Depois de ter recebido aquela informação a empresa armadora do “Alpha” foi informada que 23 dos náufragos tinham seguido ontem de manhã, em comboio, de S. Sebastião para Lisboa.
A tripulação chegou a Vilar Formoso, ontem, às 23 e 30, chegando hoje no correio do Norte, às 7 e 50, à estação do Rossio.
O “Alpha” seguia para Liverpool, com um carregamento de bananas. Perto do porto de Brest foi afundado. A tripulação salvou-se em duas baleeiras, que andaram à deriva durante dois dias, até que avistaram a costa da Bretanha, desembarcando os náufragos num porto francês, de onde seguiram para S. Sebastião.
O “Alpha é o antigo vapor “Ibo”, da Companhia Nacional de Navegação, fazendo carreiras costeiras como navio de carga entre o Porto e Lisboa.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 25 de Julho de 1940)

Imagem do vapor "Ibo", da Companhia Nacional de Navegação
Pormenor em postal ilustrado, sobre a Ribeira no Rio Douro

Características do vapor “Ibo”, em Dezembro de 1939
anteriores à venda do navio, que ocorreu em Fevereiro de 1940
Armador: Sociedade Luso-Marítima, Lda., Lisboa
Construtor: Raylton Dixon & Co. Ltd., Middleborough, 1907
Arqueação: Tab 852,84 tons - Tal 421,55 tons
Dimensões: Ff 63,88 mt - Pp 60,97 mt - Bc 9,16 mt - Ptl 4,93 mt
Propulsão: Marine Engines, Newcastle - 1:Te - 3:Ci - 584 Ihp
Equipagem: 23 tripulantes

Ocorrência
No dia 15, pelas 6 horas e 40 minutos, foi avistado uma avião militar, vindo de sueste, voando na direcção do navio, situação entendida face à passagem por uma área identificada como teatro de guerra. Mais tarde às 08 horas e 20 minutos dois aviões semelhantes sobrevoaram o navio e às 10 horas e 15 minutos outros dois aviões passaram na área e desapareceram.
Os aviões em questão eram trimotores, pintados de verde-escuro, ostentando uma cruz preta sobre fundo branco. Todos eles limitaram-se a observar o vapor português, até que pelas 13 horas e 10 minutos, foi avistada uma esquadrilha composta por oito aviões, idênticos aos anteriores, que, sem aviso prévio, deram início a um ataque planeado, lançando bombas, enquanto simultaneamente disparavam rajadas de metralhadora.
Por força do ataque, e na firme convicção de que o navio estava seriamente danificado, a tripulação não teve alternativa senão tratar de abandonar o navio, pelas 15 horas, quando se encontravam na posição 48º51’N e 06º43’W.
Verificando que o navio submergia-se, os aviões retiraram e por sua vez os náufragos acondicionados nas respectivas baleeiras rumaram em direcção a terra, até encontrarem uma chalupa de pesca francesa, que os rebocou para o porto francês de Audierne.

Os náufragos do vapor português “Alpha”
chegaram ontem a Lisboa
Lisboa, 25 – Chegaram esta manhã a Lisboa, num dos comboios correios da noite, os náufragos do vapor português “Alpha”, que se perdeu quando navegava para Inglaterra com um carregamento de bananas.
Na estação do Rossio eram os náufragos aguardados por familiares e por um funcionário superior da empresa Luso-Marítima, proprietária do navio.
Os náufragos são os seguintes: José Ferreira de Oliveira, comandante; José Dias Laranjeira, imediato; Francisco Silvestre, 2º piloto; Cândido Cruz, contra-mestre; José Cageira, António de Oliveira e Pedro Lopes, marinheiros; João Charrão e Renato Ricardo, moços; António Cruz Paiva, 1º maquinista; Horácio Santos Simões, 2º maquinista; Álvaro Santos Alves, 3º maquinista; António Pedroso, António Cunha e José Santos, fogueiros; Francisco Beato e António Silva, chegadores; João Brito Namorado, cozinheiro; José Maria, ajudante de cozinheiro; Henrique dos Reis e João Silva, criados.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 26 de Julho de 1940)

Aos náufragos do vapor “Alpha” foram concedidas passagens
para as suas terras e um subsídio pecuniário
No Instituto de Socorros a Náufragos apresentaram-se, ontem, os náufragos do vapor “Alpha” que se afundou no mar do Norte, em 15 do corrente. Foram-lhes dadas passagens para as suas terras e um subsídio pecuniário.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 28 de Julho de 1940)