domingo, 30 de janeiro de 2011

Noblesse oblige (II)


Os senhores donos dos gabinetes!

Os cujos ditos senhores que ocasionalmente ocupam cargos nos gabinetes ministeriais, por suposta apatia ou distracção, ignoram da sua capacidade destrutiva nos sectores onde foram colocados. Acredito que as circunstâncias obriguem os senhores a pedir apoio e conselho aos respectivos secretários, que por sua vez confiam no julgamento dos adjuntos, face à sua permanência e longa experiência no exercício da ocupação de outros tantos gabinetes.
Se o exemplo citado no artigo anterior é disso testemunho, resta-nos pelo menos a consolação de saber, que por muito que mudem os tempos e os governantes, esta questão permanece sem resolução. Daí ser passível concluir-se, que os iluminados do presente afinal são vitimas de doença cognoscível hereditária, através de cujos actos ou acções nunca serão responsabilizados, porque lhes é permitido desfazer ou reinventar as decisões previamente e orgulhosamente decididas.
Senão, vejamos:

A importação de bacalhau
O decreto que altera a pauta dos direitos vai ser suspenso
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Uma numerosa comissão delegada dos armadores de pesca do bacalhau de todo o país, acompanhada pelo Sr. Dr. Barbosa de Magalhães, procurou hoje (29 de Outubro de 1925) o Sr. Ministro das Finanças, a quem pediu a revogação do decreto 11.147, que introduziu algumas alterações na pauta de direitos de importação de bacalhau fresco, em salmoura, ou simplesmente salgado, por considerar neste momento lesivo aos interesses da sua indústria.
Depois de uma larga conferência com o Sr. Dr. Torres Garcia, este prometeu suspender o referido decreto até que uma comissão constituída por um representante do ministério das finanças e da marinha e outro dos interessados, estude devidamente o assunto e apresente o respectivo parecer.
In (Jornal “O Comércio do Porto, de 30 de Outubro de 1925)

Moral da história:
Decorridos 86 anos sobre mais um infeliz incidente ocorrido em ocasião remota, de decretos presos por fios de teias de aranha, nem chegados à era das novas tecnologias foi possível alterar as praticas usadas pelos nossos antepassados. Ontem como hoje decreta-se porque a situação a isso obriga, depois anula-se e cria-se uma comissão para estudar o assunto. Repete-se a cada passo o colocar da carroça à frente dos bois! Não seria porventura mais fácil para os governantes agendar reuniões, com os potenciais interessados e em conjunto definir estratégias de comum acordo?
Evoluir é essencialmente evitar perder tempo. Principalmente porque é hora de descobrir gente capaz de vislumbrar um pouco mais de horizonte, além dos habituais dois palmos à frente do nariz…

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