sábado, 22 de setembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXXIII)


O naufrágio do paquete “Lisboa”
1910 - 1910

Lisboa, 24 de Outubro – Encalhou, ontem, na enseada do norte do Cabo da Boa Esperança o paquete “Lisboa”, da Empresa Nacional de Navegação, do comando do capitão sr. Meneses, tido como um dos melhores oficiais na marinha mercante de Lisboa. A notícia deste sinistro correu por toda a cidade, afluindo centenas de pessoas ao escritório daquela Empresa, visto que o paquete saíra em 1 do corrente do Tejo com grande número de passageiros e um importante carregamento. Corriam boatos terroristas.
O telegrama dali recebido dizia que o encalhe produzira tal rombo, que o paquete corria risco de ir a pique por todo o dia.
Era a segunda viagem que o paquete fazia, sendo o melhor navio da Empresa Nacional de Navegação. Morreram três indivíduos que se não sabe se eram tripulantes ou passageiros. É considerado perdido.
O navio tinha custado aproximadamente 130.000 libras. Estava seguro em 80.000. Partiram para o local do sinistro os agentes do Lloyds.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 25 de Outubro de 1910)

Imagem do paquete "Lisboa" na Ilustração Porutuguesa,
Nº 227 de 27 de Junho de 1910, com a seguinte legenda:
O vapor "Lisboa"
O paquete "Lisboa", da Empresa Nacional de Navegação, que chegou ao Tejo em 18 de Junho, atracando ao cais da Fundição, tem 130 metros de comprimento, desloca 7.200 toneladas e pode comportar 3.000 de carga. É seu comandante o sr. Baltasar de Meneses.

O naufrágio do vapor “Lisboa”
Cidade do Cabo, 25 de Outubro – Morreram os seguintes indivíduos: o engenheiro Brown, os criados Azevedo Ferreira e Lúcio, os sargentos Nascimento e Braz e o passageiro Lambert.
A comunicação entre o local do sinistro do vapor “Lisboa” e este porto é muito má. Não se pode comunicar com o comandante.
Os passageiros são aqui esperados amanhã e seguirão no primeiro vapor. A tripulação seguirá para Lisboa.
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Cidade do Cabo, 25 de Outubro – As vitimas do naufrágio são o 1º engenheiro Brown, o 3º engenheiro Maclalon, os sargentos Nascimento e Braz, os criados Ferreira e Lúcio e os passageiro Lambert.
O sr. Finsel, vice-cônsul inglês em Lobito, que era passageiro do “Lisboa”, disse ao correspondente da Agência Reuter, que o navio encontrara ao principio fortes ventos, mas que depois o tempo abrandara e não havia nevoeiro.
Durante o trajecto o “Lisboa”, bateu no rochedo, às dez horas e 45 minutos da noite de Domingo. O choque foi forte, produzindo grande alarme nas mulheres e nas crianças, mas não houve pânico. Só apenas alguma confusão, no momento em que os passageiros desciam para as lanchas. Estas ficaram perto do navio até à aurora, que foi quando se chegou à costa, sem dificuldade.
(Jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 27 de Outubro de 1910)

O vapor “Lisboa”
Lisboa, 27 de Outubro – A Empresa Nacional de Navegação recebeu hoje da Cidade do Cabo um telegrama, confirmando as notícias já conhecidas sobre os mortos do naufrágio do paquete “Lisboa”, acrescentando não haver notícias do comandante pela má comunicação entre aquele porto e o local do sinistro e que os passageiros eram ali esperados amanhã, seguindo viagem no primeiro vapor, regressando a tripulação a Lisboa. Os prejuízos do vapor são totais.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 28 de Outubro de 1910)

O naufrágio do “Lisboa”
Cidade do Cabo, 27 de Outubro – Chegou aqui o vapor “Burton Port”, com os passageiros do vapor português “Lisboa”.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 29 de Outubro de 1910)

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